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An. 1 Congr. Intern. Pedagogia Social Mar. 2006
A função da educação social e a intervenção sócio comunitária a partir da formação do professor
Inês Olinda Botelho de Araujo1
RESUMO
Os movimentos populares, através da educação popular e da educação comunitária, muito têm fortalecido a atuação social do 3º Setor no Brasil. Paulo Freire foi e tem sido o grande inspirador destas ações, deixou um legado sócio pedagógico inestimável para os educadores desenvolverem seus trabalhos de atenção e atendimento às camadas mais carentes do país. Esta comunicação demonstrará algumas ações na área da educação social, que vêm sendo desenvolvidas pelos proponentes da apresentação, nos locais onde atuam: instituições sociais, ONGs ou programas de educação publica voltados para a educação não formal; visando auxiliar a criança, o jovem, o trabalhador e o idoso. Os objetivos deste desempenho, é sempre direcionado pelas atividades que complementam e consolidam a formação integral destes sujeitos de direito, desenvolvendo-lhes uma consciência crítica e, compreensão à prática da cidadania e da participação sóciopolítica na sociedade em que vivem e atuam.
Palavras-chave: educação popular; educação comunitária; movimentos populares; Paulo Freire; terceiro setor.
O professor não consegue atender hoje, as solicitações dos jovens no ambiente escolar, pois estes jovens têm uma convivência difícil na sociedade em que vivem, não são respeitados ou ouvidos, principalmente os que vêm sendo excluídos do sistema de ensino regular (ensino fundamental e médio) ou mesmo os freqüentam atualmente as salas de EJA (Educação de Jovens e Adultos).
Muitas vezes evadem, ficam na rua e assumem um papel que não escolheram: a delinqüência. Um outro grupo prioriza o trabalho e a sobrevivência material individual ou da família, ao invés da freqüência à escola e ao estudo. Outro grupo ainda a freqüenta apenas por um diploma (exigência externa) ou por já estar obrigado, devido alguma medida sócio educativa.
Todos estes grupos têm anseios de estudar, aperfeiçoar conhecimentos e desenvolver-se socialmente para aprimorar sua existência, também para se capacitarem e obterem aceitação na sociedade se inserindo no mercado de trabalho.
No entanto, todos se frustram igualmente, pois não encontram significância ou cuidado em seus ambientes pois as pessoas que os atendem não estão capacitadas ou não se disponibilizam a educá-los de uma nova maneira: a da solidariedade, cuidado e ética.
Também a escolarização formal não lhe oferece conhecimento integral e significativo que os transformem em sujeitos de direito e cidadãos críticos e participativos.
É necessário construirmos diretrizes educacionais para atingirmos determinados objetivos sociais, principalmente com os jovens. Algumas propostas para ações afirmativas são:
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formar e conscientizar o aluno adolescente, de acordo com a sua cronologia e as reações psicológicas próprias de suas realidades sociais, culturais; de sua idade e contemporaneidade;
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transformar a educação do Jovem numa educação voltada ao exercício da exigência de seus direitos; da cidadania e dos valores humanos por meio da cultura do cuidar, enquanto ser social-político, que não conseguiu cumprir sua escolaridade e por isto sente-se excluídos socialmente e do sistema organizacional vigente na educação e na sociedade;
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conduzir o jovem a ser líder, militante humanista e, participante das causas sociais estabelecendo relações saudáveis com seus grupos comunitários, de forma a ser respeitado como cidadão integrante de sua e de outras questões sociais e assim resgatar sua auto-estima e respeitar seus pares.
A escola formal e os professores devem intervir para que este trabalho seja eficaz, eficiente e aceito pelos jovens nestes ambientes (LDBEN – Lei 9394/96 - art.1º, §2º), mas de forma a encantar os alunos com seus desempenhos, assim, alunos e professores deveriam participar de cursos de formação em psicologia do adolescente em situação de risco com referenciais para a prevenção; participar de grupos de estudos sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e as formas de defesa; participar de oficinas de elaboração de trabalhos com a característica de educação não formal (arte, esporte, etc.); elaborar material didático – pedagógico, alternativo para as práticas dentro e fora da sala de aula; organizar reuniões com os jovens com dinâmicas de grupo, de interações sociais ou ofertas de cursos que enriqueçam os conteúdos escolares, como literatura, comunicações (jornal comunitário), música, teatro e dança; reunirem-se com os pais e responsáveis com dinâmicas de interações sociais e formações sócio-políticas; efetuar um maior contacto e conhecimentos das realidades dos jovens e suas famílias, através de visitas domiciliares, entrevistas, questionários e observações comparativas.
Para isto, os professores devem ser preparados a atuarem com relação a estes jovens de forma a entender as causas que os levam a agirem ou não de determinadas maneiras em seus grupos, levantando propostas de estudos e trabalhos. Estas propostas seriam discutidas coletivamente com os professores e com estes jovens encontrando soluções para conduzir seus alunos a aprender e a apreenderem os conteúdos de suas séries de escolarização formal alem de orientá-los para participarem da nossa sociedade, dentro dos parâmetros de exigência de seus direitos e o cumprimento de seus deveres.
O professor, com sua postura servirá de modelo com suas ações na comunidade escolar e entorno demonstrando com seus exemplos de honestidade, solidariedade, participação, justiça social e cuidado, os resultados eficientes e realizáveis no desempenho de suas funções como professor como educador social.
Apesar das dificuldades de especificar as funções dos educadores sociais, considerando as diferentes realidades sociais e as competências administrativas que advém de instituições tanto publicas como privadas, de âmbito municipal, estadual, federal, ONGs, etc. é possível apresentar idéias sobre as funções dos educadores sociais como este decálogo: (A. Petrus, 1993, p.206 apud Profissão Educador Social - de - Romans, Petrus, Trilla):
1- Detectar e analisar os problemas sociais e suas causas;
2- Orientação e de relação institucional;
3- Diálogo com os educandos;
4- Função reeducativa no sentido mais amplo;
5- Organização e participação da vida cotidiana e comunitária;
6- Animar os grupos comunitários;
7- Promoção de atividades socioculturais;
8- Formar, informar e orientar a comunidade escolar;
9- Função docente social;
10- Função econômica e profissional.
Também não podemos perder de vista, que o professor em sua prática escolar deve trabalhar a conjuntura brasileira e analisá-la para buscar as justificativas das atitudes de seu próprio povo, deve conhecer as políticas sociais implantadas, a aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente e realizar um trabalho de reflexão do fenômeno educativo atual.Isto deve gerar uma discussão sobre os fundamentos essenciais para a prática de um educador social, será também um instrumento para o exercício da profissão.Problematizar a formação pessoal e assumir o compromisso com o desenvolvimento pleno do educando é assim a maior proposta de um professor para enfrentar os desafios do século XXI e transformar as realidades negativas que já estão postas.
Finalmente, o professor, como educador social deve atualizar seus conhecimentos formais e teóricos continuadamente e desenvolver novas formas de ensinar .Deve ser mediador de todas as ações planejadas que envolvam principalmente a prevenção primária, incorporar em seu trabalho os valores construtivos para o resgate da auto-estima; orientar na resistência às pressões sociais e ao risco envolvendo os alunos de tal forma, para que sejam sujeitos de uma nova história. Desta forma decisiva e afirmativa, todos serão a rigor, agentes transformadores de uma nova Sociedade: a do Direito inerente, a da comunicação e informação, a da educação e a da participação social crítica e solidária.
Falando em participação crítica e solidária, no Brasil, podemos falar das ONGs cidadãs e militantes estiveram por traz da maioria dos movimentos sociais populares urbanos que delinearam um cenário de participação na sociedade civil, contribuindo até para a queda do regime militar e para a transição democrática do país.
Nos anos 90, o cenário das ONGs se alterou completamente. A mudança das formas de financiamento, a escassez de recursos e as mudanças internas em seus critérios e diretrizes criaram um cenário que levou às organizações a necessidade de gerarem recursos próprios e lutarem pelo acesso aos fundos públicos. Passaram a buscar auto-suficiência financeira e a economia informal passou a ser uma das principais saídas. Com isso as atividades de militância política, via pressões sociais passaram para segundo plano e as atividades produtivas ganharam centralidade no dia-a-dia das ONGs.
Outro resultado das mudanças da conjuntura sobre as ONGs foi a necessidade de qualificação de seus quadros. Os antigos militantes foram procurar programas de especialização e pós-graduação. Ter pessoal qualificado para gerir projetos com gabarito passou a ser a diretriz central, uma vez que eficiência e produtividade na gestão de projetos sociais garantem a sobrevivência das próprias entidades.
Neste contexto, novas entidades próximas ao modelo norte-americano articuladas às políticas sociais neoliberais, dentro do espírito da filantropia empresarial, emergiram atuando em problemas cruciais da realidade nacional, como as crianças em situação de risco, alfabetização de jovens e adultos, atendimento a idosos,drogaditos etc. Essas entidades já não se colocam contra o Estado, como as da fase anterior. Ao contrário, elas querem e buscam a parceria com o Estado.
Este terceiro setor em expansão, clama hoje por uma forma de desenvolvimento sustentável, cria e desenvolve frentes de trabalho, estrutura-se como uma empresa que se autodenomina cidadã.
É importante salientar que a partir dos anos 90 o Banco Mundial2, enquanto agência financiadora, adotou uma postura de diálogo e privilegiamento de ações e parcerias com as ONGs e o terceiro setor já tem sido caracterizado como um novo setor da economia, o da economia social.
O eixo articulatório que passou a fundamentar a participação nos anos 90 é dado pelo princípio da identidade e da solidariedade. Causas humanitárias também passaram a agregar as pessoas em entidades, como: organização pela paz, contra fome, contra violência em geral, etc.
Estamos numa nova era econômica, política e social na qual os conflitos sociais não são apenas pela distribuição de trabalho e renda, são fundamentalmente conflitos de interpretação sobre o sentido de justiça. Isto confere um importante papel a todos os processos de gestão social e política. Deve-se então,fazer um esforço para buscar um consenso entre o justo e o injusto. Assim, a questão da cidadania ganha centralidade e transforma quando quer.
A transformação de nossa sociedade então, deve basear-se no conhecimento, na politização consciente e articulada, com a vontade do professor de mudar a sua pratica e procurar especializações, capacitações, formações, observações aliadas aos Valores Humanos em defesa da vida...
Em nosso país, a construção da cidadania ocorre de forma inversa àquela que se dá nos países do chamado Primeiro Mundo, porque as leis são insuficientes e inoperantes. A cidadania surge então como resultado de um processo histórico de lutas no qual as leis são apenas uns de seus momentos. A mudança gradual e lenta da cultura política é fator e resultado do exercício da cidadania, sob a forma ativa, que interfere, intervém,interage e influencia na construção dos processos democráticos em curso, segundo os princípios da eqüidade e da justiça.
Em suma, diariamente são criadas fundações e associações para promover o desenvolvimento econômico local, impedir a degradação ambiental, defender direitos civis e atuar em áreas onde o Estado é incipiente ou não consegue penetrar.
Concluindo, a proposta de criação de uma nova economia atrelada à educação, de caráter misto, e um Estado democrático, isto é, uma nação cosmopolita na qual o Estado seja o principal investidor social e impeça que a classe trabalhadora seja alvo de grandes desigualdades, deverá ser o sistema dominante no século XXI e o professor a escola e o sistema de ensino têm .grandes responsabilidades neste processo de trabalho e cobrança mútuos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARO, S. M. P. e Guzzo, R. S. L. Educação social e psicologia. Campinas: Alínea, 2004.
GOHN, M. da G. Educação não-formal e cultura política. Campinas: Cortez, 2001.
NORONHA, O. M. Políticas neoliberais, conhecimento e educação. Campinas: Alínea, 2002.
PEREIRA, I. FRANCO. "ONGS, O Novo Terceiro Setor". (Art.mestrado/ UNISAL, Americana, 2004).
ROMANS,PETRUS,TRILLA. "Profissão Educador Social". Porto Alegre: Artmed, 2003.
SITES CONSULTADOS
Banco Mundial: http://www.obancomundial.org/index.php
Filantropia.org: http://www.filantropia.org/comocriar_ong.htm
1 Professora de Educação de Jovens e Adultos/ Profissionalizante/ FUMEC (Fundação Municipal de Educação Comunitária de Campinas). Mestranda em Educação Social pela UNISAL/ Americana, orientada pela Profa. Dra. Suely Maria Passagno Caro. E-mail: iobote@ig.com.br
2 O Banco Mundial, concebido durante a Segunda Guerra Mundial, em Bretton Woods, Estado de Novo Hampshire (EUA), inicialmente ajudou a reconstruir a Europa pós-guerra. È a maior fonte mundial de assistência para o desenvolvimento, proporcionando cerca de US$30 bilhões anuais em empréstimos para os seus países clientes. O Banco usa os seus recursos financeiros, o seu pessoal altamente treinado e a sua ampla base de conhecimentos para ajudar cada país em desenvolvimento numa trilha de crescimento estável, sustentável e eqüitativo. Atualmente a principal meta do trabalho do Banco Mundial é a redução da pobreza no mundo em desenvolvimento.