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Congr. Intern. Pedagogia Social Mar. 2009

 

Imagens sobre o trabalho: notas para uma pedagogia juvenil

 

 

Daniela Longoni1; Karine Santos2; Rute Baquero (Orientadora3.)

 

 


RESUMO

A construção da cidadania juvenil é um tema estratégico nas sociedades latino-americanas de nosso tempo. Nessa perspectiva, um conjunto de práticas está sendo direcionado a este segmento da população visando atuar na contramão dos processos de exclusão social. Destas práticas podemos destacar os projetos de qualificação profissional, os quais vislumbram o acesso à profissionalização e ao emprego formal e que, envolvidos em espaços de educação não-formal, são formados, deformados e transformados em futuros trabalhadores. Que imagens constroem sobre trabalho e seus ofícios? Que profissões os jovens percebem como mais valorizadas pela sociedade? Que saberes os jovens entendem como necessários para a formação de determinadas profissões? Nas representações sobre o trabalho entre populações de baixa renda é muito forte a idéia do trabalho como elemento que confere a dignidade pessoal. Desse modo, o indivíduo alcança a sua dignidade ao corresponder ao papel social de trabalhador (ZALUAR, 1994, p. 234). A presente reflexão apresenta construções de imagens sobre o mundo do trabalho e seus ofícios, presentes na falas de jovens participantes de projetos de qualificação profissional desenvolvidos por ONGs das cidades de São Leopoldo e Novo Hamburgo/RS. Como referencial teórico trabalhamos com Moscovici (1978), a respeito das representações sociais, Graciani (2001) e Costa (1999), sobre a educação social, Dayrell (2003) e suas reflexões sobre juventude contemporânea, além de estudos de Marilena Nakano (2007) sobre as relações entre juventude, escolarização e trabalho. Resultados revelam, entre outros, a importância de se considerar as imagens construídas pelos jovens, como elementos que nos ajudam a desenhar uma pedagogia com os jovens.

Palavras-chave: juventude - trabalho - educação social - projetos de qualificação profissional


 

 

O MUNDO DO TRABALHO E SUAS TRANSFORMAÇÕES

A gente vê, como já se disse,

"com o corpo inteiro", porém,

muito mais ainda,com a visão de

muitos outros.

(Flávio Motta)

Na Grécia antiga trabalho era coisa de escravo, possuía uma noção de fardo, punição. Os cidadãos gregos dedicavam-se prioritariamente à política e à filosofia, desse modo, nenhum deles poderia moldar metais, cerzir ou cuidar de afazeres domésticos.

A idade média atribuiu a labuta aos servos. Senhores feudais, nobreza e clero usufruíam os frutos desse trabalho. De forma semelhante à antiguidade, o trabalho carregava uma conotação pejorativa e era concebido como uma pena, à qual o homem estava condenado pelo pecado.

No século XV, com o Renascimento, o trabalho passa a ser uma forma de auto-expressão. A arte é patrocinada por ricos e pela igreja e passa a ser legitimada como profissão. É na Modernidade que o trabalho passa a ser reconhecido como condição de realização humana.

A revolução industrial no século XVIII levou muita gente para dentro das indústrias. trabalhando em jornadas de trabalho de até 16 horas por dia e recebendo salários muito baixos, sobretudo mulheres e crianças, que, por receberem menos que os homens, acabaram compondo um número significativo nas fábricas.

A sedimentação do capitalismo consolidou de um novo processo de exploração social - o modo de produção capitalista, no qual os não-proprietários dos meios de produção forneciam sua força de trabalho aos proprietários dos meios de produção, que acumulavam capital a partir do lucro advindo da diferença entre os baixos custos de produção (trabalho humano contido na mercadoria e não pago) e os valores de venda. Segundo Frigotto (2002), o trabalho assalariado passa a ser a pedra de toque, o manancial de onde se torna possível a acumulação e a riqueza de poucos, mediante a exploração e alienação do trabalhador (p. 17).

No sistema fordista de linha de montagem, controle, produtividade, qualidade e lucro, não há espaço para atividades diferenciadas, apenas operação especializada e mecânica. Cada trabalhador entenderá apenas de um minúsculo ponto do processo. Na indústria a especialização chega a um ponto absurdo, em que ninguém percebe o conjunto da atividade em que o seu esforço se insere.

Segundo Albornoz (2002), este momento da história do trabalho, é entendido como uma fase onde todas as atividades são feitas como labores pela sobrevivência. "Tem-se como utopia, no sentido de impossível, que o trabalho seja expressão, ou que se possa ter um trabalho criativo e que dê prazer" (p. 41).

Surge a idéia de trabalho como valor social - "pessoa confiável é aquela que não é vadia, que trabalha e que não fica à toa" (FRIGOTTO, 2002). Essa idéia é uma maneira de forçar o trabalhador a empregar-se a submeter-se à exploração e alienação.

No mesmo estágio de desenvolvimento capitalista que consolidou o paradigma de produção fordista, que pode ser denominado capitalismo organizado, em seu aspecto social reconheceu uma sociedade constituída por classes sociais desiguais. Neste momento, a partir de uma reconfiguração da racionalidade jurídica, surgiu o direito do trabalho com sua lógica de preservação do trabalhador. No entanto, segundo Dorneles (2002), "o direito do trabalho surgiu no contexto de um sistema capitalista e na tentativa de preservá-lo. A garantia de direitos mínimos limitou-se ao máximo permitido, de forma a não subverter o sistema". (p. 174)

No final do século XX a informática, a microeletrônica e a robótica, no contexto de um processo de globalização mudaram, de forma decisiva o mundo e as relações de trabalho. Entra em cena a automação dos processos produtivos industriais e com ele o crescimento do desemprego e das flexibilizações dos direitos. A transição do século XX para XXI marca um período de incertezas.

No Brasil, como em todo o mundo, há uma modificação radical quanto ao modelo tradicional de trabalho. Nunca houveram tantas profissões e tão pouco emprego. Desse modo, o trabalho vem perdendo algumas de suas características socialmente construídas: industrial, assalariado, estável, masculino. Surgem novas exigências para a inserção no mundo do trabalho, entre elas a necessidade de novas competências profissionais e domínio das novas tecnologias de informática e comunicação. No mercado global, a discussão sobre a exploração do trabalho vem sendo substituída pela discussão sobre a exploração do conhecimento, posse do controle das produções intelectuais, científicas e tecnológicas.

As transformações têm se tornado cada vez mais intensas. As relações, o sentido, as formas de inserção, entre outras. No entanto, mesmo com as intensas mudanças no mundo do trabalho identificar-se como trabalhador segundo Leite (2002), é ainda um valor básico em nossas sociedades, pois no imaginário popular esta categoria - inclusive dos jovens - é a condição que distingue o "cidadão" do "marginal". Nas representações sobre o trabalho entre populações de baixa renda é muito forte a idéia do trabalho como elemento que confere a dignidade pessoal. Desse modo, o indivíduo alcança a sua dignidade ao corresponder ao papel social de trabalhador. (ZALUAR, 1994, p. 234)

 

JUVENTUDE E MUNDO DO TRABALHO

A construção da cidadania juvenil é um tema estratégico nas sociedades latino-americanas de nosso tempo, face à explosão demográfica global da juventude. Considerando sua expressão numérica no Brasil (cerca da 27,8% da população brasileira) e no mundo (cerca de 2 bilhões), a juventude se constitui hoje um grupo expressivo.

No mundo todo, a juventude é o segmento da população de maior vulnerabilidade no mercado de trabalho. Dados do IBGE apontam que dos 8,9 milhões de desempregados no País em 2005, quase metade tinham entre 15 até 24 anos.

A heterogeneidade das condições de vida e de trabalho dos jovens que vivem no meio urbano brasileiro resulta em diferentes inserções produtivas, de acesso a serviços públicos e diferentes padrões de sociabilidade, gerando demandas, que foram incorporadas pelo Estado e pelos movimentos sociais, no bojo de um processo em que novas dimensões - como participação social; inserção no mercado de trabalho; escolarização, entre outras, passaram a ser consideradas como estruturantes da dinâmica social.

Entretanto, não se trata apenas em entender os processos de exclusão pelos quais os jovens são submetidos, em especial com relação ao mundo do trabalho, mas concentrar esforços em entender trabalho como direito, como componente essencial da formação do jovem, como sujeito e como cidadão.

Nessa perspectiva, um conjunto de práticas está sendo direcionado a este segmento da população visando atuar na contramão dos processos de exclusão social. Destas práticas podemos destacar os projetos de qualificação profissional oferecidos a jovens pertencentes a famílias com baixa renda, os quais vislumbram o acesso à profissionalização e ao emprego formal e que, envolvidos em espaços de educação não-formal, são formados, deformados e/ou transformados em "futuros" trabalhadores.

Trata-se de programas governamentais executados por instituições sociais e projetos institucionais voltados ao público juvenil que focalizam uma contribuição, ainda que inicial, no processo de inserção ao mundo do trabalho. Esses programas atendem a um grande número de jovens e adolescentes das camadas populares, em situação de risco social, com baixa escolaridade e dificuldades de inserção ocupacional.

Neste sentido, percebemos a relevância de se considerar as imagens que os jovens constroem sobre o trabalho na construção de tal pedagogia, pois segundo Peralva (1997):

(...) enquanto o adulto vive ainda sob o impacto de um modelo de sociedade que se decompõe, o jovem ainda vive em um mundo radicalmente novo, cujas categorias de inteligibilidade ele ajuda a construir. Interrogar essas categorias permite não somente uma melhor compreensão do universo de referências de um grupo etário particular, como também da nova sociedade transformada pela mutação. (p. 23)

Entendemos juventude como sendo uma condição social e um tipo de representação. De um lado há um caráter universal dado pelas transformações do indivíduo numa determinada faixa etária. De outro, há diferentes construções históricas e sociais relacionadas a esse tempo/ciclo da vida. Segundo Dayrell (2008), não podemos esquecer de uma tarefa fundamental dos espaços educativos para jovens que é a aprendizagem da escolha. E a escolha também é objeto de aprendizagem: aprendemos a escolher assim como aprendemos a assumir a responsabilidade pelas nossas escolhas. Este processo é importantíssimo para a fase em que os jovens precisam definir-se quanto as escolhas profissionais.

Face o exposto, compreender a relação entre juventude e mundo do trabalho, vislumbrando a construção de uma pedagogia juvenil que contemple tal relação, como nos sugere Nakano (2007), poderá vislumbrar outros modos ou formas de jovens viverem a juventude, combinando experiências simultâneas de educação e trabalho, como um direito e não como negação. Isto exigirá de nós, adultos, a capacidade de, juntamente com os jovens, fazer aflorar tensões que existem entre as noções de futuro postuladas pelas diferentes gerações para, a partir delas, construir o novo.

 

IMAGENS JUVENIS SOBRE O TRABALHO

Com o objetivo de contribuir na construção de uma pedagogia para a juventude, esta investigação buscou identificar e refletir sobre imagens que os jovens constroem sobre o mundo do trabalho, com um recorte no que tange às profissões, propondo a compreensão das seguintes questões: Que imagens os jovens constroem sobre o trabalho e seus ofícios? Que profissões os jovens percebem como mais valorizadas pela sociedade? Que saberes os jovens entendem como necessários para a formação de determinadas profissões? Além disso, procuramos saber quais profissões os jovens consideram de difícil acesso, ou seja, mais distantes da possibilidade de tornarem-se esses profissionais.

Buscamos respostas para tais questões nas falas de jovens participantes de programas governamentais executados por instituições sociais e projetos institucionais voltados ao público juvenil, que buscam construir alternativas de inserção profissional e de integração social da juventude.

Propomos a dois grupos de jovens provenientes das cidades situadas na região do Vale do Rio dos Sinos - São Leopoldo e Novo Hamburgo/RS a realização de um questionário semi-estruturado seguido por entrevistas individuais. Ao todo foram entrevistados 10 jovens com idades entre 15 e 19 anos, sendo 05 meninas e 05 meninos.

Lendo imagens

As questões propostas na entrevista tinham como objetivo visualizar o entendimento do jovem a respeito de remuneração, formação, valorização e dificuldade de acesso de determinadas profissões. As questões abriam espaço para que os jovens indicassem, segundo sua percepção, os ofícios com maior e menor remuneração, valorização, bem como aqueles que teriam maior dificuldade de acesso. Os resultados revelaram a indicação de um número expressivo de ofícios por parte dos jovens, optando-se, para fins de análise, considerar os três ofícios mais citados.

No levantamento dos dados percebemos que 60% dos jovens entrevistados indicaram o jogador de futebol como a profissão de maior remuneração, seguido do advogado, com 40% de respostas, e do administrador, que recebeu 30% das indicações. Na contramão, os jovens sugeriram, também, as atividades profissionais que, segundo eles, têm a menor remuneração. Neste caso, foram apontados: o professor, com 60% das indicações, seguido do pedreiro, com 30% e, logo em seguida, vendedor, faxineiro e reciclador, com 20% das indicações.

Como profissões valorizadas socialmente, os jovens destacaram o advogado, com 50% das indicações, mas também atriz/ator, médico e jogador de futebol, com 30% das respostas. Políticos, esportistas e gerentes, foram indicados com 20%.

Num primeiro momento, podemos perceber a influência da mídia na construção das representações juvenis. No ideário apresentado pela mídia ser jogador de futebol é trocar rapidamente de posição na pirâmide social, da base para o topo, obtendo uma remuneração excelente, ao mesmo tempo em que é valorizado socialmente. A trajetória de muitos jogadores de futebol no Brasil, que provêm de famílias de baixos recursos, moradores de favelas, com baixa escolaridade e que, no entanto, ao destacarem-se por suas habilidades com a bola, invertem suas condições sociais, afirmam este ideário. No entanto, há um contingente de jogadores que permanecem em clubes pequenos, com sérias dificuldades financeiras. Há ainda, embora em pequeno número, trajetórias de jogadores que provêm de famílias com elevados recursos financeiros.

De acordo com Moscovici (1978), a representação social é uma maneira de reprodução das "coisas reais", porém, cada pessoa que as representa o faz de uma maneira diferente, acrescentando ou retirando elementos, conforme a realidade social em que vive. Isto permite entender a construção da lógica de pensamento que envolve o imaginário das classes sociais marginalizadas, que encontram, em atividades como jogar bola, uma saída para a miserabilidade. Por isso, talvez, na análise dos dados, a profissão jogador de futebol, não tenha sido citada como de difícil acesso. Pois, dada a realidade, é lá nas classes marginalizadas onde encontram-se os principais protagonistas de histórias fantásticas de mudança de vida.

Outra questão interessante com relação a estas categorias apresentadas é a contradição nas representações sobre o professor. Três jovens referiram, ao mesmo tempo, o professor como um dos mais mal remunerados e como uma profissão de difícil acesso para eles. Ao mesmo tempo em que professor aparece em primeiro lugar em menor remuneração, ele aparece em segundo lugar em difícil acesso. Nas palavras de um dos jovens entrevistados: "É muito mal remunerado, mas é muito difícil tornar-se um professor".

O advogado é considerado o 2º melhor remunerado e o primeiro mais valorizado, no entanto não aparece indicado como profissão de difícil acesso. Os jovens fizeram uma leitura que estabelecia relação entre alta remuneração e valorização. Por outro lado eles não relacionam dificuldade de acesso a esta profissão, o que parece indicar que os mesmos percebem o número elevado de advogados que as faculdades estão formando anualmente. O que os jovens, no entanto, não percebem é a dificuldade de real inserção e sobrevivência neste mercado de trabalho. O que parece emergir da representação dos jovens em relação ao advogado, é a presença do senso comum e da tradição ao considerá-lo bem remunerado.

Quando o assunto é formação para o ofício, as seguintes opções de disciplinas foram apresentadas aos jovens: primeiros socorros, leis, lógico-matemática, português, cidadania, desenvolvimento humano, língua estrangeira e atendimento ao público. O desafio consistia em compor um quadro de formação para cada ofício apresentado (Enfermeiro, Vendedor, Diretor de Escola, Advogado, Técnico em Informática e Artesão). O objetivo era perceber a compreensão que tinham sobre possibilidades mais amplas de formação em qualquer área, ou se apenas consideravam a formação específica como importante para tornar-se um profissional de tais áreas.

Português, cidadania e atendimento ao público foram as disciplinas mais citadas e foram referidas como necessárias para todos os ofícios anteriormente elencados. Numa primeira análise estes dados parecem indicar a valorização de uma formação ampla e não apenas específica, por parte dos jovens. Desenvolvimento humano também teve resultados significativos neste sentido.

Contudo em relação à língua estrangeira, houve dificuldade em considerá-la como formação importante, tendo ficado entre as menos relacionadas. Nenhum jovem destacou língua estrangeira como importante ao processo de formação de todas as profissões. Além disso, três jovens não relacionaram a disciplina sequer uma vez a alguma profissão. Chama a atenção a baixa incidência de indicações da língua estrangeira, que com freqüência é relacionada pela mídia como indispensável a uma carreira de sucesso. Podemos supor que neste caso entram em jogo as considerações de Moscovici (1978) em relação à dinâmica das representações influenciada pela realidade social em que as pessoas vivem. O aprendizado de uma outra língua, por ser algo tão distante da realidade destes jovens e seus pares, pode estar influenciando sua forma de visualizá-lo no quadro das formações.

Primeiros socorros foi considerada a formação mais específica, menos ampla, tendo sido referenciada apenas ao enfermeiro e ao diretor de escola.

Observando estas duas situações acima, podemos perceber um contraponto significativo em relação ao que acontece com português, cidadania e atendimento ao público.

No que diz respeito a lógico-matemática, a disciplina foi atribuída a todas as categorias, no entanto, foi moderado o número de vezes em que foi indicada a cada profissão, revelando-se um meio termo em relação à amplitude ou especificidade considerada.

Todas as disciplinas obtiveram maior indicação com as áreas mais afins.

 

NOTAS PARA UMA PEDAGOGIA JUVENIL

A partir da análise dos dados nos atemos as dimensões que revelam, entre outros, a importância de se considerar as imagens construídas pelos jovens como elementos que nos ajudam a desenhar uma pedagogia com os jovens.

A primeira dimensão diz respeito a visão que, de maneira geral, os jovens têm sobre trabalho. O jovem entende a sua relação com o trabalho de forma utópica - bons rendimentos; ambiente limpo, organizado; horário flexível; sem muitos problemas para solucionar. Para grande parte dos jovens entrevistados é equacionado com alta remuneração, com dispêndio de pouco esforço e uma formação restrita.

Uma segunda dimensão está vinculada estritamente a relação do trabalho vinculado a renda, em especial os jovens de baixa renda consideram o trabalho estritamente como uma necessidade e fonte de lucro. Auto-realização, independência e crescimento pessoal não surgem como apontamentos dos jovens em sua relação com o trabalho.

Nesta direção, implica-nos a refletir sobre a dinâmica desenvolvida por projetos e programas que buscam lidar diretamente com esta dimensão - juventude e trabalho. Cabe aqui registrar a necessidade de entendimento da linguagem juvenil, assim como suas relações e formas de pensamento.

É considerado compromisso dos programas e projetos de qualificação profissional, voltados para jovens, desenvolver a criticidade em relação às políticas compensatórias ou de filantropia que, ampliando cada vez mais a faixa etária dos participantes dos programas, mascaram a falta de emprego e sub-emprego juvenil. Construir uma pedagogia que visa a formação do cidadão crítico, consciente de seus direitos, na contramão de uma pedagogia das competências, da empregabilidade. Trata-se de uma pedagogia, como afirma Frigotto (2002), plurilateral, tecnológica ou politécnica, formadora de sujeitos autônomos e protagonistas da emancipação humana.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBORNOZ, Suzana. O que é trabalho. São Paulo: Brasiliense, 2002.

DAYRELL, Juarez; GOMES, Nilma Lino. A juventude no Brasil. In: http://www.uff.br/obsjovem . Acesso em: 14/03/2008.

DORNELES, Leandro do Amaral D. de. A transformação do direito do trabalho: da lógica da preservação à lógica da flexibilidade. São Paulo: LTr, 2002. 191p.

FRIGOTTO, Gaudêncio. A dupla face do trabalho: criação e destruição da vida. In: CIAVATTA, Maria e FRIGOTTO, Gaudêncio. A experiência do trabalho e a educação básica. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

LEITE, E. M. Programas de capacitação para jovens desfavorecidos na América Latina: experiências de monitoramento e avaliação. Buenos Aires: UNESCO, 2001.

MOSCOVICI, Serge. A representação social da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

MOTTA, Flávio. Textos Informes. São Paulo: FAUUSP, 1973.

NAKANO, Marilena; ALMEIDA, Elmir de. Reflexões acerca da busca de uma nova qualidade da educação: relações entre juventude, educação e trabalho. In: Revista Educação e. Sociedade. Campinas, vol. 28, n. 100 - Especial p. 1085-1104, out. 2007.

PERALVA, A. O jovem como modelo cultural. In: PERALVA, A.; SPOSITO, M.P. (orgs). Revista Brasileira de Educação, n.5-6, 1997. Juventude e Contemporaneidade (número especial).

ZALUAR, ALBA. Cidadãos não vão ao paraíso: juventude e política social. São Paulo: Escuta, 1994.

 

 

1 Artista plástica, mestranda em educação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos/RS. Educadora Social do Círculo Operário Leopoldense/RS. dani.longoni@gmail.com.
2 Pedagoga, mestre em Educação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Coordenadora da Organização Social de atendimento a crianças e adolescentes - Fundação Semear/Centro de Vivência Redentora/RS. karine@redentora.org.br.
3 Doutora em Educação, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos/RS. rbaquero@unisinos.br.