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Congr. Intern. Pedagogia Social Mar. 2010

 

A educação social e a contribuição das famílias em Angola

 

Social education and the contribution of the families in Angola

 

 

Carlos Pedro Cláver YobaI; Francisco António Macongo ChocolateII

IPró-Reitor para Cooperação Internacional da Universidade Lueji A'Nkonde-Lunda Norte. E-mail: caryoba@hotmail.com
IILicenciado em Psicologia da Educação pelo Instituto Superior de Ciências da Educação de Cabinda (Angola), Mestrando em Psicologia Educacional pelo Centro Universitário Fieo (UNIFIEO) Osasco, São Paulo (Brasil). E-mail: fchocolate@hotmail.com

 

 


RESUMO

Presente trabalho teve como espaço de pesquisa a região de Cabinda, República de Angola. Com um olhar voltado para as iniciativas desenvolvidas no campo social, o objetivo do mesmo foi analisar a contribuição da instituição "família" como parceira ativa da pedagogia social na educação dos filhos, a partir do ponto de vista do trabalho social. Na sua centralidade, aborda a contribuição das famílias no processo de educação e orientação educativa dos filhos/educandos na sociedade angolana. Nessa perspectiva, a discussão voltou-se em torno da seguinte questão: "Como os pais contribuem na educação dos filhos/educandos"? Direccionou-se a reflexão sobre os dados obtidos através da aplicação de um questionário a 36 crianças da 4ª classe do ensino primário (4ª série do ensino fundamental no Brasil) de uma escola particular e, numa pesquisa descritiva com ênfase na abordagem qualitativa. Constatou-se no final do presente trabalho, que as crianças apresentavam dificuldades de aprendizagem, apatia, desânimo e extroversão como conseqüência de pouco acompanhamento dos pais/tutores nas suas atividades escolares e na observância de uma convivência conflituosa nos seus lares. Situação contrária a esta, deveu-se ao acompanhamento dos pais/tutores nas suas jornadas educativas e na observância de uma convivência harmoniosa no lar. Fica evidente, a partir dos resultados que para o desenvolvimento e aproveitamento escolar satisfatório das crianças é extremamente importante que os país/tutores dêem uma atenção particular através de um acompanhamento constante e sistemático na educação dos filhos. O diálogo, as visitas na escola, a ajuda na solução das dificuldades escolares são entre outros os meios essenciais para se alcançar esse desiderato.

Palavras-chave: Educação, família, pais/tutores, filhos/educandos.


ABSTRACT

The present paper has had as the researching space the region of Cabinda, Republic of Angola. Having the view on the efforts developed in the social field, the aim of the paper is to analyze the contribution of the "family" institution as an active partner of social pedagogy on the children's education, from the point of view of social work. In its central part, it addresses the contribution of the families for the processes of children's/pupils' education and educational guidance in the Angolan society. Under this perspective, the discussion has been based on the following issue: "How do the countries contribute to the children's/pupils' education?" It has been directed to the observation on the data obtained through the applying of a questionnaire to 36 children from the 4th grade of primary school (4th grade of basic education in Brazil) in a private school, and on a descriptive research emphasizing the qualitative approach. It has been found, in the end of present paper, that the children showed learning difficulties, apathy, discouragement and outgoing disposition as a consequence of little parents/tutors attendance on their school activities and on the observation of cohabitation full of conflicts in their homes. Due to parents/tutors attendance on their educational journey and on the observation of harmonious cohabitation, there was an opposing situation. It's obvious, from the results, that for the children's satisfactory scholar's development and benefit, it is extremely important that the parents/tutors give constant and methodical attention to their children's education. Dialogs, visits to school and help on the difficulties from school are, among others, the essential ways to reach this wish.

Keywords: education, family, parents/tutors, children/pupils


 

 

Introdução

O presente trabalho tem como objetivo analisar a contribuição da instituição "família" como parceira ativa da pedagogia social na educação dos filhos a partir do ponto de vista do trabalho social, no âmbito da pedagogia social.

Durante o exercício das nossas atividades profissionais como dirigentes escolares, pesquisadores de problemas sociais e professores, em cerca de dois meses de aulas numa classe da 4ª série do ensino fundamental, verificamos que um grupo de crianças apresentava-se mais expressivo, descontraído, alegre e conseqüentemente com melhores resultados em termos de aproveitamento escolar. Porém, na mesma classe e sala de aula, outro grupo1, se demonstrava mais apático, triste, desinteressado e, com os resultados escolares menos satisfatórios.

Em conversas preliminares com as referidas crianças (as que apresentavam resultados menos satisfatórios), e numa observação do material didático de apoio (cadernos, livros etc.) constatou-se que o problema não residia na professora e nem tão pouco na escola, pois na sua maioria apresentavam as matérias desorganizadas, trabalhos de casa não realizados, entre outros aspectos.

Durante um trabalho ainda preliminar, a descrição da sua família (das crianças) sempre era feita com certa timidez e apatia, com pouco sentimento de pertença e participação no seio da mesma. Estas constatações, induziram para um trabalho mais profundo e pormenorizado em relação ao problema que se apresentava, na escola, em busca de uma solução consentânea.

Partindo do principio de que os pais/tutores são os "primeiros educadores" e, tendo em conta a necessária "parceria entre família e escola" colocou-se a seguinte questão: Como se avalia a contribuição dos pais na educação dos filhos? Esta questão será abordada sob o prisma da educação social numa perspectiva de fortalecimento dos vínculos familiares e sociais de crianças e adolescentes em idade escolar em Cabinda-Angola.

Está claro que primeiro é na família e posteriormente na escola onde se adquirem, desenvolvem e se fortalecem os vínculos sociais, entendidos fundamentais para o processo de emancipação, de autonomia, promoção de direitos de cidadania, bem como na formação da personalidade do sujeito.

É de realçar que o aprimoramento e fortalecimento deste vínculo tornam-se de suma importância para o aperfeiçoamento das políticas iniciais da educação e no desenvolvimento da cidadania, que por sua vez, desempenha um valioso papel no processo de transformação dos indivíduos e da sociedade no geral.

Nas suas discussões teóricas, Afonso (2001) sustenta que historicamente, existem três tipos de educação: Educação formal, Educação Informal ou familiar e educação não-formal. Assim sendo, a educação formal é aquela que é proporcionada pela escola, onde os conteúdos são sistematizados, organizados e obedecendo a uma seqüência lógica.

Para abundar mais dados sobre o assunto, Caro & Guzzo (2004) e Brandão (1981), defenderam que o surgimento da instituição escolar, trouxe consigo o saber elitizado e a exclusão de segmentos já marginalizados pela sociedade.

A educação informal é caracterizada por um processo permanente e não sistematizado, sendo determinado pelas várias formas de aprendizagem que ocorrem nas diversas experiências da vida das pessoas no seio familiar. Este tipo de educação desenvolve-se em diferentes ambientes como, a família, igrejas, grupo de trabalho e de amigos, entre outros.

Finalmente, a educação não-formal ou ainda "educação social" postulado e defendido no âmbito da "pedagogia social", 2 sendo um tipo de educação que ocorre fora dos marcos da escola e que se preocupa no resgate dos valores e idéias do segmento da população excluída e desfavorecida.

Para o presente trabalho é assumida a segunda forma de educação citado por Afonso, ou seja, a educação informal ou familiar. A família como primeira instância da educação, exerce um papel importante no processo de socialização e desenvolvimento dos indivíduos que dela fazem parte. Na sua vertente restrita, ela apresenta aos indivíduos as concepções, objetivos e finalidades educativas essenciais para a vida.

É fundamental abordar (justificativa), este tema para se entender o ritmo de aprendizagem e desenvolvimento do indivíduo, sua inserção e convivência com os outros, pois permite conhecer a história de vida do indivíduo a partir da família, porque é nela onde se começa a dar os primeiros passos para o aprendizado.

Família: "é considerada como a instituição básica e fundamental da sociedade. É o grupo nuclear e, ao mesmo tempo, o mais antigo e primitivo". Alves (1996).

O Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI citado por Jacques Delors (2006) sublinha que a família constitui o primeiro lugar de toda e qualquer educação e assegura, por isso, a ligação entre o afetivo e o cognitivo, assim como a transmissão das normas e valores.

A Lei Constitucional angolana (recentemente aprovada pela Assembléia Constituinte de Angola) consagra no seu Artigo 35.º (Família, casamento e filiação) o seguinte teor:

1. A família é o núcleo fundamental da organização da sociedade e é objeto de especial proteção do Estado, quer se funde em casamento, quer em união de fato, entre homem e mulher.

2. Todos têm o direito de livremente constituir família nos termos da Constituição e da lei.

3. O homem e a mulher são iguais no seio da família, da sociedade e do Estado, gozando dos mesmos direitos e cabendo-lhes os mesmos deveres.

4. A lei regula os requisitos e os efeitos do casamento e da união de fato, bem como os da sua dissolução.

5. Os filhos são iguais perante a lei sendo proibida a sua discriminação e a utilização de qualquer designação discriminatória relativa à filiação.

6. A proteção dos direitos da criança, nomeadamente, a sua educação integral e harmoniosa, a proteção da sua saúde, condições de vida e ensino, constituem absoluta prioridade da família, do Estado e da sociedade.

7. O Estado, com a colaboração da família e da sociedade, promove o desenvolvimento harmonioso e integral dos jovens e adolescentes, bem como a criação de condições para a efetivação dos seus direitos políticos, econômicos, sociais e culturais e estimula as organizações juvenis para a persecução de fins econômicos, culturais, artísticos, recreativos, desportivos, ambientais, científicos, educacionais, patrióticos e do intercâmbio juvenil internacional.

Referências sobre a família encontraram-se ainda, no código da família sob tutela do Ministério da Família e Promoção da Mulher no artigo 1º a 5º, destes, citamos o artigo 2º;

1. A família deve contribuir para a educação de todos os seus membros no espírito de amor ao trabalho, do respeito pelos valores culturais e do combate a concepções ultrapassados no seio do povo, da luta contra a exploração e a opressão e de fidelidade a pátria e revolução;

2. A família deve contribuir para o desenvolvimento harmonioso e equilibrado de todos os seus membros para que cada um possa realizar plenamente a sua personalidade e as suas aptidões no interesse de toda a sociedade.

Para a realidade angolana e de acordo com a legislação em vigor, a família configura o núcleo da sociedade. Isto quer dizer que a família constitui o ponto de partida e chegada de toda a sociedade. Ela pode ser tomada como sendo o sustentáculo da sociedade porque sem a procriação que se efectua no seio familiar, não se pode construir uma sociedade.

Nesta base de concepções, destaca-se que o homem e a mulher (progenitores), são elementos fundamentais, sendo os mesmos iguais no seio da família, gozando dos mesmos direitos e assumindo os mesmos deveres. Os pais já não são os senhores absolutos da lei e da ordem, nem os únicos cuidadores dos bens da família. Por seu turno, as mães não são unicamente as protetoras do lar e zeladoras da educação e formação dos filhos, pois hoje esta tarefa deve ser realizada em conjunto.

É profunda a convicção, de que toda a estrutura existencial do país passa através da organização e funcionamento consentâneos da família. A existência de uma família "endêmica" transfere "endemia" à sociedade, afetando a funcionalidade deste "macro meio" com conseqüências imprevisíveis.

Está evidente que é no seio familiar onde nasce e cresce o sujeito, recebendo dela as primeiras influências educativas e instrutivas, porque é através dela (família) como meio de socialização que o homem penetra na sociedade e estabelece contactos com outros grupos sociais.

Tudo quanto se pode entender, é que a família, tem a elevada responsabilidade de contribuir para o desenvolvimento harmonioso e equilibrado de todos os seus membros, no sentido de que cada um possa formar adequadamente a sua personalidade e participar ativamente na transformação da sociedade na qual está inserido.

Outros valores assumidos como morais, culturais, resumidos no amor ao trabalho, o respeito ao próximo, o amor à Pátria, têm o seu início formativo no seio da família, sendo esta, responsável pela sua educação, desenvolvimento e consolidação.

Do ponto de vista moral, este procedimento constituiu um verdadeiro desafio, dadas dificuldades de ordem política, econômica, social e cultural, a crise de valores que os núcleos familiares em Angola enfrentam no contexto das grandes mudanças da sociedade contemporânea.

No mundo atual, e em conseqüência das transformações velozes que se assistem, muitas sociedades, desde as chamadas desenvolvidas às designadas menos desenvolvidas, declararam a existência de crise de valores.

Inicialmente, se poderia assumir que a crise de valores somente se verificasse na influência das culturas e sociedades desenvolvidas sobre aquelas em vias de desenvolvimento, no entanto, este conceito tomou outras proporções, passando a influência ser em ambas as culturas.

Em estudos realizados, defende-se que para a formação dos valores "é muito importante que a alternativa didática que se assuma possua coerência entre os seus fundamentos filosóficos, sociológicos e psicológicos, e que se detenham também na história do legítimo pensamento educativo de cada país, que se interessou em diferentes momentos históricos em formar valores para a conservação e defesa das identidades nacionais e educativas, mesmo quando não exista um sustento teórico apropriado para tal", (Justo Rodrigues, 2007. P. 1).

Nesse sentido, e ainda segundo o referido autor, "corresponde ao professor atual recriar e reinventar a teoria de acordo com as novas circunstâncias históricas.

Mas de uma coisa estamos seguros, é necessário fortalecer a formação dos valores na sociedade e em especial na escola"

Embora adotando os valores positivos do modernismo, as famílias de Cabinda enfrentam grande dilema neste aspecto porque possuem usos e costumes que se traduzem em rituais tradicionais fortemente enraizados.

Deste modo, os pais jogam um papel importante no processo da formação e da educação dos filhos, proporcionando a estes as oportunidades que lhes permitirão obter uma visão clara sobre o mundo. O contacto com as informações e a observação de hábitos e valores dignos no lar, habilita a criança/adolescente a aprofundar e eliminar o que não tem grande importância par si, na base das oportunidades de obtenção de conhecimentos consentâneos.

Os pais/tutores e a educação dos filhos/educandos.

A criança ao nascer não tem a noção do bem e do mal, mas leva consigo as predisposições que podem desenvolver-se como virtudes ou como defeitos. Para o efeito, Colombo (2000: 85) afirma que "o exercício e o exemplo dos pais no lar, é fundamental para a criação e o desenvolvimento da virtude da temperança o que conduz no futuro a prática do bem e do mal" e no desenvolvimento harmonioso de sua personalidade.

Diversos estudos comprovam de forma fiel que as atitudes dos pais têm influências decisivas nas características sociais das crianças. Segundo Ruiz (2002), país com traços "anti-sociais da personalidade," além de não transmitirem uma imagem positiva aos filhos, podem ter dificuldades para dar mostras de aprovação e incentivo para as boas atitudes de seus filhos, não respeitam sua autonomia e espaço social, além de disciplinarem inadequadamente, com excesso de permissividade quando devem ser mais fortes e exageradamente agressivos quando não precisam.

Por seu turno, muitas mães confundem o papel materno com a permissividade extrema em busca da simpatia dos seus filhos. Outras, por vezes, pretendem com essa absoluta falta de limites para seus filhos, serem tidas por moderas e joviais. Nos primeiros períodos de vida, a mãe trata basicamente de satisfazer as necessidades vitais da criança como a alimentação e o afeto. Paralelamente a isto, vão se formando comportamentos em correspondência a manifestação da agressividade, da dependência ou independência do indivíduo em relação aos objetos ou seres que lhe rodeiam.

À medida que a criança vai mudando, as relações com que os seus pais vão se tornando mais intensas, complexas e subtis, porque a própria vida lhe proporciona novos conhecimentos e experiências.

 

Método

Caracterização do estudo.

O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva com ênfase na abordagem qualitativa. A escolha desta área deve-se ao fato de que os estudos descritivos procuram descrever com a maior exatidão possível os fatos e fenômenos de uma determinada realidade sociocultural.

A abordagem qualitativa atua em níveis de realidade e tem como objetivo trazer a luz dados, indicadores e tendências observáveis de um determinado fato (SERAPIONI, 2000). Com esta abordagem trabalharam-se as informações obtidas, por meio do questionário aplicado com descrições detalhadas de situações em confronto com a literatura, que dá sustentação à análise deste tema.

População e amostra.

A população deste estudo constituiu-se em alunos da 4ª Classe (4ª Série do Ensino fundamental no Brasil), do Colégio Dom Domingos Franque, Instituição sita na Rua das Forças Armadas Bairro Povo Grande, vulgarmente conhecido como Aeroporto na cidade de Cabinda-Angola. O Colégio Dom Domingos Franque é uma Instituição de Ensino particular, criado sob Decreto nº 43/02 de 03 de Setembro por meio do Despacho de 08 de Outubro do Ministério da Educação da República de Angola tendo como Alvará (licença) nº 45/08. A mesma ministra aulas do Ensino Primário e Iº Ciclo do Ensino Secundário.

Dados obtidos junto da direção da referida escola, dão conta que estavam matriculados no ano Acadêmico 2009, um total de 1.268 alunos desde a Iniciação a 12ª Classe. Desse número 98 alunos, sendo 54 masculinos e 44 femininos freqüentavam a 4ª Série do Ensino fundamental.

A amostra foi constituída por 36 alunos sendo 22 (61%) meninos 14 (39%) meninas que correspondem a uma turma das três existentes nesta Instituição. As idades dos alunos variam entre 9 a 12 anos, cuja escolha deveu-se ao fato de ser nela onde se apresentavam maiores problemas de aprendizagem dos alunos, relativamente às outras duas existentes no mesmo período em análise.

 

Instrumento de Coleta de dados

As informações foram coletadas por meio de um questionário construído especificamente para este estudo. O mesmo foi formulado a partir de referencial empírico, cuja validade e confiabilidade foram asseguradas por uma linguagem clara, direta, simples e sem ambigüidade em torno do assunto pesquisado. Portanto, considera-se que o questionário apresenta um instrumento cientificamente utilizável para este tipo de pesquisa, tendo em conta os objetivos preconizados e as características dos elementos envolvidos na mesma.

O questionário foi conduzido duma forma direta pelo fato as perguntas serem respondidas diretamente pelas próprias crianças/adolescentes, sem qualquer interferência ou ajuda. Considerando a idade das mesmas e o seu nível de escolaridade, foram elaboradas perguntas com alternativas de múltipla escolha onde os mesmos limitaram-se apenas a escolher as alternativas que melhor se adequava a sua situação de vida.

Procedimentos de estudo.

A coleta de dados foi realizada no período de Fevereiro-Março de 2009. No decorrer do mesmo, a equipa da pesquisa, junto com a direção da escola e a professora da classe, realizou vários encontros com os alunos, com os pais e encarregados de educação das crianças a fim de esclarecer sobre a intenção da realização da referida pesquisa. A equipa assegurou aos pais e encarregados de educação sobre os objetivos da realização da pesquisa e, de igual modo, assegurou o sigilo relativamente às informações que seriam colidas na referida pesquisa, sendo usadas apenas para fins acadêmicos. Depois de apresentação do questionário aos pais, os mesmos consentiram que os seus filhos respondessem assinalando a alternativa que melhor lhes convinha.

A aplicação do instrumento aos participantes foi realizada na sala de aula por meio de um instrumento auto-explicativo realizado para o efeito. Antes da aplicação do referido instrumento, foi realizada uma dinâmica com os alunos, como meio de familiarizar os mesmos e de assegurar um ambiente harmonioso.

Para se evitar interpretações inadequadas e como forma de suprir as possíveis dúvidas por parte dos alunos, os aplicadores leram as perguntas uma por uma sem, no entanto, interferir na resposta do aluno, pelo que, só passava para outra quando todos tivessem terminado de assinalar a alternativa que mais lhes convinha. Os aplicadores procuraram deixar claras as crianças que só poderiam escolher uma das alternativas e que não tivessem medo de responder, pois, os seus pais não saberiam das suas respostas. Após assinarem as alternativas, terminado as perguntas os aplicadores recolheram os questionários.

Resultados.

Em função das questões formuladas a partir do questionário elaborado para esta pesquisa, os referidos resultados foram apresentados em tabelas que ao mesmo tempo representam as categorias de análise criadas em relação a cada uma das perguntas do questionário aplicado, com as suas respectivas freqüências e percentagens. As freqüências indicam o número de respostas ou o parecer dado pelos alunos alvos da pesquisa em relação à pergunta.

A tabela 1 que configura a primeira categoria em análise neste estudo, apresenta os dados referentes a distribuição das crianças em lares.

Os dados relativos à categoria dois "visita a escola" por parte dos país/encarregados de educação, podem ser visualizados na tabela 2:

A ajuda ou não dos pais/encarregados de educação na solução das dificuldades que os alunos encontram durante as aulas pode ser observada na tabela três (3) que ao mesmo tempo se configura na categoria três "Colaboração dos pais"

Na categoria quatro (4) e por meio da tabela com o mesmo número, podem ser visualizados os dados relativos às pessoas que prestam "auxilio" na solução das dificuldades que os alunos apresentam relativamente ao conteúdo apresentado em sala de aula.

 

Tabela 4

 

A forma como os pais ou encarregados de educação gerem/solucionam os conflitos dentro do lar é apresentado na tabela cinco (5), categoria 5-"Solução de conflito" no seio familiar.

 

Discussão

Relativamente à categoria "tutoria", as percentagens nos mostram que apenas 33% das crianças vivem com os seus pais e comutativamente 67% das mesmas convivem apenas com um dos progenitores e em outras circunstâncias com membros familiares diretos (Tio, Tia, irmã ou irmão).

Atendendo a situação de instabilidade sociopolítica a que esteve mergulhado o país, esta situação em parte pode ser compreendida. Ainda sim, não deixas de ser preocupante, pois, muitos desses parentes não têm dado um acompanhamento devido a estes menores.

Estudos comprovam que as crianças e os adolescentes referem muito pior entendimento no geral com o elemento oposto dos educadores (padrasto, madrasta, tio, tia, etc.) Ruiz (2002), Fernandes (1998). O ambiente de conflito entre estes e os adolescentes, cria nos mesmos sentimentos de revolta que reduz a vontade de estudar, de continuar a viver, o que resulta muitas vezes na fuga de casa, numa tentativa de chamar atenção os seus educadores.

Relativamente à categoria "visita a escola", os resultados observam que apenas 47% dos pais/encarregados de educação visitam a escola dos seus educando participando, desse modo, na vida e nos problemas atinentes a educação dos mesmos. Os outros 53%, reconhecem a importância da escola, e mantêm os seus educando nela, esperando lamentavelmente que a escola faça tudo cabendo aos mesmos apenas esperar pelo resultado final.

Constata-se que fruto das alterações sociais e as mudanças sucessivas dos próprios sistemas ou regimes políticos dos estados, a família sofre grandes transformações. Diminuiu o número de filhos por casal, o casamento tornou-se mais instável com um número crescente de divórcios, aumentando as famílias mono parentais e reconstruídas, as mulheres passaram a ter uma atividade profissional, estudarem até mais tarde, auferindo de independência econômica e relegando muitas vezes a maternidade para segundo plano. Tudo isso, faz com que os pais fossem mais ausentes do que presentes no lar e na participação direta sobre a vida escolar dos filhos, remetendo esta tarefa a terceiros.

Sendo os pais os primeiros educadores, os mesmos precisam colaborar com os professores, supervisionando nas tarefas escolares dos filhos, exigindo a realização das tarefas e dos estudos, não permitindo que dêem trabalho na sala de aula ou faltem por qualquer coisa. Devem os pais ser presentes à escola, acompanhando de perto o desempenho dos filhos/educando. A criança deve sentir-se sempre acolhida nas suas preocupações pelos seus tutores, e nunca sentir-se largada dentro da escola. Para uma educação compartilhada, é preciso que os pais sejam mais participativos na vida escolar de seus filhos, conhecerem os seus professores e em conjunto traçarem atividades para a evolução do filho. (Direitos da criança, 2008)

O mais importante é o diálogo. Apesar dessa correria desenfreada em busca de melhores condições de vida para as famílias, mesmo chegando tarde do trabalho, é importante que observe o material escolar do filho, estar atento sobre a maneira como escreve e resolve as atividades escolares. Se for ausente durante a semana recompense essa ausência no final de semanal, ouvindo o seu filho, pois o seu apoio é muito importante para o futuro do mesmo. Dessa forma, estaremos a colaborar na educação das nossas crianças.

A missão educativa dos pais é uma tarefa de extrema importância e de vital da transcendência, por se constituir numa missão essencial de todo pai. Porém, apesar de ser uma atividade tão fundamental, muitos pais, por comodismo ou negligência, perderam a consciência dessa grande responsabilidade de serem os primeiros e os principais educadores dos filhos.

Os resultados expressam que poucos, ou seja, apenas 25% dos pais/tutores, prestam auxílio aos filhos/educandos na resolução das dificuldades que os mesmos encontram na escola, comportamento que em nada ajuda o crescimento dos filhos.

Deve-se mostrar um verdadeiro interesse pelo aprendizado dos filhos, participando das reuniões escolares, acompanhando os deveres de casa, indagar sobre as suas aulas e o que teria aprendido, por se configurar em algo extremamente importante para a criança, porque percebe a preocupação dos pais para com ela, o que incentiva a sua participação na escola.

Enquanto crianças, o lazer e o convívio com os colegas têm uma importância primordial no processo de socialização e formação. PAIS (1993:123) refere "que as culturas juvenis são fortemente viradas para o lazer, de certa forma em oposição ao saber tradicional da escola e da família, que privilegia a ordem e a certeza, o ensino e a transmissão de conhecimentos e experiências entre pares."

Embora haja certa continuidade na transmissão de valores de pais para filhos, a verdade é que as crianças de hoje adquirem a sua identidade não só dentro, mas também fora da família, através de discursos variados que a escola e a família nem sempre integram. Todavia, a família não se pode demitir do seu papel e atribuir responsabilidades aos outros agentes educativos na formação dos seus descendentes.

Os pais e encarregados de educação como tutores e mentores de todas as formas educativas dos filhos, devem estar dotados de conhecimentos aprofundados e reconhecidos que conferem aos mesmos, o direito de julgar e decidir sobre determinadas situações conflituosas que ocorrem no seio da família.

Não obstante que historicamente e em todas as culturas a família sempre soube como educar os seus filhos, "é preciso considerar que especialmente em ambiente de extrema pobreza, constata-se uma perda de identidade da família e conseqüentemente muito baixo o nível de informação existente sobre o mundo das crianças, adolescentes e jovens", segundo ALVES (1996:224). É imprescindível que se observem os princípios de uma convivência salutar no seio familiar onde a participação dos pais deve-se fazer sentir de maneira efetiva na vida das crianças.

Observa-se pelos dados da tabela cinco que muitos pais para buscar a autoridade e o respeito na família com praticam atos que comprometem o relacionamento com os restantes membros da família, esquecendo-se que " ... o homem como agente e sujeito das transformações sociais, culturais, políticos econômicos, tem um papel de extrema importância no processo de desenvolvimento e assentamento humano" YOBA (2003:1).

O ambiente democrático no lar deve caracterizar-se por uma permissividade geral muito associada ao afeto. "Os pais proporcionam os filhos um sólido apoio emocional, evitam tomar decisões arbitrárias, e mantém muito contacto com a criança" Ruiz (2002: 76).

Nestes tipos de lares, as crianças são recompensadas pela sua curiosidade, sua atitude independente, sua capacidade de expressar opiniões, idéias e sentimentos, se lhes permite participar em discussões e decisões da família, e isto garante que as crianças se tornem ativas, competitivas, extrovertidas e criativas.

Nos lares com caráter autoritário, os pais são controladores e restringem o comportamento dos filhos, pelo que o modelo de educação não permite que sejam "... gratificadas e, inclusive costumam ser castigadas quando mostram curiosidade, naturalidade ou quando tentam fazer os seus direito". Ruiz (2002:79)

Aparentemente, nos lares onde reina o conformismo se eliminou na criança a possibilidade de expressar abertamente o que faz delas, extrovertidas e sem qualquer espírito de iniciativa.

Pelo exposto, deve-se garantir que cada família assegura a todos a possibilidade de se auto realizar em termos de acesso aos bens econômicos e socioculturais disponíveis. É necessário que se elabore uma política que garanta o exercício da cidadania no seio familiar, como por exemplo, leis que estimulam o registro do nascimento dos filhos, que habilitam a formação intelectual e profissional, a obrigatoriedade do um acompanhamento na educação dos filhos/educandos por parte dos pais/tutores.

É extremamente importante que as famílias ofereçam incentivos sobre a educação no respeito da coisa pública assumida como bem comum, no cultivo de valores cívicos socialmente aceites por todos e que assentam nos bons valores culturais e tradicionais de que são originários.

 

Conclusão

Os resultados encontrados dão conta:

1. As crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem, apatia, desânimo e introversão, evidenciam o pouco acompanhamento dos pais/tutores nas suas atividades escolares e na observância de uma convivência conflituosa nos seus lares, contrariamente àquelas que beneficiam de acompanhamento dos pais/tutores nas suas jornadas educativas, com observância de uma convivência de harmonia no lar;

2. Os pais/tutores devem prestar uma atenção particular no acompanhamento da educação dos filhos, com recurso ao diálogo, as visitas a escola, a ajuda na solução das dificuldades escolares;

3. Os sinais de desestruturação observados nas famílias são conseqüência dos divórcios e as ausências constantes dos pais/tutores em casa, o que conduz um número considerável de crianças viver apenas com um dos progenitores e/ou outros parentes próximos;

4. As ausências dos pais nos lares fazem com que as crianças se sintam abandonadas e procurem ajuda nos grupos mais próximos, o que compromete a estabilidade necessária ao pleno desenvolvimento das mesmas;

5. A falta de uma habitação condigna, de rendimento suficiente para a educação dos filhos, faz com que muitos pais/tutores estejam ausentes de casa e com isso distante do acompanhamento da educação dos seus filhos remetendo essa missão para terceiros;

6. Ante a crise de valores generalizada no mundo atual e na família o Governo de Angola em estreita cooperação com os seus parceiros nacionais e internacionais, tem encetado iniciativas tendentes a refletir sobre a relação conjugal e a educação das crianças, assim como a assistência na saúde;

7. A família em colaboração com o Estado deve assegurar a proteção e igualdade para que as crianças atinjam o seu integral desenvolvimento físico e psíquico, garantindo um futuro desenvolvimento sustentável da sociedade;

8. A família em Cabinda-Angola em colaboração com o estado deve educar as crianças dentro da cidadania, respeitando os preceitos culturais e sociais da sua população.

 

Referencias

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YOBA, Carlos Pedro Cláver. Reflexão sobre a Família, Juventude e Sociedade. Centro Universitário de Cabinda. Angobefa. Outubro-2003.

 

 

1 Cerca de metade da turma
2 Este é um pensamento fortemente defendido no Brasil e alguns países da América Latina, sustentado pelo "Pedagogia do oprimido" de Paulo Freire. Ressalta-se que este postulado embora seja referência pedagógica em Angola, não é assumido o termo "oprimido" ou "excluído" dentro do processo educativo actual, salvo numa relação ao período colonial.