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Congr. Intern. Pedagogia Social Mar. 2010

 

Perfil dos profissionais do social de Fortaleza: condições e aspirações no seu trabalho

 

Social profissional's profile from Fortaleza: labor conditions and labor aspirations

 

 

Domingos Sávio Abreu; Natália Pinheiro Xavier; Roberto dos Santos da Silva1

 

 


RESUMO

Pesquisamos o perfil, condições e aspirações trabalhistas dos educadores sociais de rua da Equipe Interinstitucional de Abordagem de Rua de Fortaleza (EI) com o intuito de entender melhor o funcionamento do atendimento direto a crianças e adolescentes categorizados como em situação de moradia nas ruas e de contribuir para o aprimoramento das condições de trabalho desses profissionais e do trabalho de suas instituições. Realizamos grupos focais e aplicamos questionários abrangendo 113 educadores, que representam suma maioria desses profissionais na capital cearense. Tabulamos e cruzamos os dados qualitativos e quantitativos para análise e reflexão posterior. Verificamos grande desproteção trabalhista como a ausência de apoio psicológico, plano de saúde, benefícios trabalhistas como insalubridade, risco de vida, jornada de trabalho por vezes extenuante, exposição a problemas de saúde, insegurança e grande insatisfação e perda de perspectiva de continuidade na profissão entre esses profissionais, mesmo existindo identificação com seu ofício. Mapeamos outras demandas para a melhoria do seu trabalho além dos itens já citados referentes ao reconhecimento legal e social, a flexibilidade por parte da entidade empregadora e liberdade de ação na sua prática profissional. Também identificamos entre os educadores do programa do Governo do Estado os mais desestimulados e entre os educadores comunitários de uma das entidades não-governamentais da EI os mais realizados profissionalmente. E identificamos a ligação entre o tipo de ingresso e trajetória passada do educador com o seu nível de persistência em seguir na profissão, esta relacionada a uma concepção mais militante. Assim os profissionais oriundos de movimentos sociais se destacam em relação àqueles que ingressaram nesse trabalho movidos por necessidade econômica.

Palavras-chaves: educadores sociais de rua, perfil pessoal e profissional, condições de trabalho, aspirações de trabalho.


ABSTRACT

We investigated the profile, labor conditions and aspirations of street social educators from Equipe Interinstitucional de Abordagem de Rua from Fortaleza (EI) in order to better understand the functioning of direct care to children and adolescents categorized as street-dwelling individuals and contribute to the improvement of working conditions of these professionals and the service of their institutions. We conducted focal groups and applied questionnaires involving 113 educators, which represent the majority of these professionals in Ceará's capital. The qualitative and quantitative data were tallied and crossed for later analysis and reflection. Large unprotected labor was observed, such as the lack of psychological support, health insurance, employee benefits like insalubrity, lifethreatening conditions, sometimes strenuous work shifts, exposure to health problems, insecurity and great dissatisfaction and lack of continuity perspective in the career among these professionals even if there is identification with their craft. We characterized other demands for the improvement of their work beyond the items already mentioned regarding the legal and social recognition, the flexibility for the employer and freedom of action in their professional practice. We also identified among educators from the State Government program the most discouraged ones and among community educators from non-governmental organizations of EI's those who had achieved greater professional satisfaction. And we identified a connection between the type of admission and trajectory related by educators and their level of persistence in pursuing the profession, this associated to a more activist conception. Then professionals originated in social movements outstand in relation to those who enrolled in this work driven by economic necessity.

Keywords: street social educators, personal and professional profile, labor conditions, labor aspirations.


 

 

Há alguns anos nos dedicamos a estudos sobre a rede de atendimento a crianças e jovens em situação de risco2 em Fortaleza. Em nossas pesquisas nos defrontamos com uma categoria de profissionais que compõe o foco deste estudo: o educador social que atende a crianças e adolescentes em situação de moradia nas ruas3. Este trabalho em particular é resultado de uma pesquisa do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV-UFC) a partir de uma demanda do UNICEF4 e da Equipe Interinstitucional de Abordagem de Rua (EI)5, que nos solicitou que focalizássemos esse tipo de educador presente nas entidades que compõem essa Equipe.

Hoje a EI, campo de nosso objeto de estudo, é composta por instituições públicas e privadas: como organizações governamentais (OGs) Governo Estadual - Programa Fora da Rua Dentro da Escola, Espaço Viva Gente; Prefeitura Municipal de Fortaleza (PMF) - FUNCI/ Ponte de Encontro; organizações não-governamentais (ONGs) - ACAMP, Associação O Pequeno Nazareno, Associação Barraca da Amizade, Associação Curumins, Casa do Menor São Miguel Arcanjo, Pastoral do Menor da Arquidiocese Fortaleza/Regional, Sociedade da Redenção, Movimento de Saúde Mental do Bom Jardim.

Estes educadores sociais exercem trabalho pedagógico destinado a crianças e adolescentes que tornam as ruas e logradouros públicos lugar de moradia e de seu sustento. Tais profissionais desenvolvem atividades educativas não-formais6, multidisciplinares em espaço extra-escolar.

Destarte, traçamos o perfil do educador social de rua em Fortaleza (sexo, idade, instrução, etc.), mapeamos suas condições de trabalho e suas aspirações de melhoria dessas condições. Esta pesquisa busca dar subsídios para o aprimoramento das políticas voltadas ao público citado; desvendar o universo dos educadores sociais de rua, elo entre os meninos nas ruas e as instituições que os atendem; produzir suporte às reivindicações desses trabalhadores e; devolver a todos eles seu retrato frente ao cotidiano de execução da política de atendimento a crianças e adolescentes em situação de moradia nas ruas.

Entender as condições em que se efetiva o atendimento direto ao público do sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente, principalmente quanto a uma das clientelas mais complexas, pode contribuir para lançar um olhar não apenas para aspectos institucionais, mas também para questões que abrangem seus profissionais como peça fundamental para assegurar a qualidade dos serviços e políticas que hoje envolvem investimentos de capital econômico e social, públicos e privados, nacionais e internacionais e disputas de projetos ideológicos acerca de concepções de país e de sociedade.

 

METODOLOGIA E APORTE TEÓRICO

A metodologia desta pesquisa teve duas etapas. A primeira tratou da montagem de quatro grupos focais: um primeiro com educadores de ONGs; um segundo com educadores de OGs; outro de educadores de ONGs e OGs e por fim, um com gestores das instituições que compõem a Equipe Interinstitucional. Esta etapa aconteceu em novembro de 2008 e teve a intenção de ouvir esses profissionais, nos proporcionar uma base de dados mais qualitativos e conhecimento prévio para auxiliar na elaboração de um questionário a ser entregue a todos os educadores sociais de rua da Equipe. Foram distribuídos 113 questionários - para 97 das 10 entidades da EI - que compuseram nosso material de análise juntamente com as transcrições dos grupos focais.

Interpretamos as referidas transcrições e cruzamos seu conteúdo com os dados quantitativos extraídos das respostas nos questionários. De acordo com a constatação de Maria Isaura Pereira de Queiroz: "O conhecimento qualitativo traça os contornos externos e internos da coletividade estudada, em seguida a abordagem quantitativa desvenda o número de vezes em que ocorre o fenômeno e sua intensidade (...)" (1992, p. 21). Os dois tipos de abordagem são interessantes e se mostram complementares, pois convergem para maior aproximação com o objeto em estudo.

Estaremos nos referindo a representações tal como esta idéia é apresentada por Durkheim, também nos apropriaremos da definição de desvio social de Goffman (1980), que o concebe como particularidade de indivíduos, que dentro de um conjunto de valores e normas sociais relativos à conduta e atributos individuais, não seguem às normas, sendo "destoantes" dentro do grupo em que se encontram. Também dialogaremos com trabalhos de Rizinni & Rizinni, Dos Santos (2007), Queiroz (1992) e Ribeiro (2006).

 

De onde falam

Verificamos que dos pesquisados, 96% estão exercendo a sua função nas organizações governamentais. A maioria desse contingente, 65%, está a serviço do Governo do Estado, seguida por 31% da PMF. E ainda 75% são funcionários de entidades não-estatais e terceirizados em instituições públicas. Isso denota uma contradição: ao mesmo tempo em que é o Poder Público é quem mais emprega esses profissionais (96% dos pesquisados), entre eles quase não existem servidores públicos.

A terceirização aqui encontrada revela a flexibilização e precarização das relações de trabalho em grande escala no poder público em um cenário de crise da oferta de empregos e sucessivas crises econômicas do processo de produção e acumulação capitalista nas últimas décadas.

Tal condição empregatícia no caso do poder público tende a eliminar a margem de autonomia do empregado estando esse sob constante risco de demissão. Esses elementos concorrem negativamente no processo de identificação e atribuição de sentido ao seu trabalho e conseqüentemente no alcance de plena auto-realização em sua profissão.

Para a situação de precarização, neste caso, contribui em parte o fato da constituição dessa profissão em nosso país ser recente e ainda não gozar de reconhecimento pleno pela lei.

Mas há uma outra questão que pode contrabalancear esse problema: a noção de militância. Esse elemento tende a tornar realidade o excedente de tempo trabalhado pelo profissional para além da sua jornada estipulada, na medida em que se mobiliza por outras razões além das obrigações contratuais formais e explícitas, razões tais como valores, convicção e identificação ideológicas definidas e vínculos com a própria instituição empregadora.

De toda forma, o atendimento a crianças e a adolescentes de grupos tidos como desviantes, sob as diferentes formas que se apresentou em sua história, remonta desde a colonização do Brasil8, passando a possuir uma ação do Estado desde as primeiras décadas da República9 (RIZINNI & RIZINNI, 2004). Educadores sociais de rua atuam desde o início da década de oitenta em várias partes do país e desde então Fortaleza já possuía instituições privadas que foram pioneiras no tipo de atendimento cujas linhas gerais o Estatuto da Criança e do Adolescente vai consagrar como parâmetro. Estas instituições já contavam com o trabalho de educadores sociais, assim como o Estatuto já completa duas décadas de sua aprovação. Portanto hoje já podem estar mais maduras as condições para que o Poder Público olhe para esses profissionais não como uma novidade, mas como elo relevante da cadeia de atendimento à infância e juventude em situação de vulnerabilidade social.

 

Perfil dos educadores

A maioria desses profissionais são: mulheres (58%); são jovens, 56% possuem de 18 até 35 anos; 92% possui o ensino básico completo e 42% passaram pelo ensino superior, desde os que interromperam seu curso àqueles que chegaram a fazer pós-graduação (3%, especialização).

Desse modo, conclui-se que o perfil etário do educador é de jovens adultos a pessoas maduras em idade para plena atividade possível em tarefas mais exigentes. O que encontramos sugere que a combinação, praticamente equânime, entre renovação e maior experiência é um traço do quadro dos pesquisados.

Também se vê que os pesquisados têm em sua maioria formação acadêmica predominantemente intermediária, aparentemente inclinada para a continuação dos estudos.

Sobre o tempo de trabalho com crianças e adolescentes o maior grupo, 30%, trabalha há mais de dez anos, já o segundo, 15%, trabalha há menos de um ano e o terceiro grupo, 11%, trabalha há três anos com essa clientela.

Logo predomina uma heterogeneidade de tempos de experiências que leva a supor que os programas dos pesquisados alcançam um equilíbrio entre os movimentos de renovação e de conservação de pessoal, mesmo que seja por contingência. A profissão de educador de rua mostra-se freqüentemente como uma ocupação transitória para muitos dos que a exercem e constatamos certa rotatividade de profissionais dentro dos programas.

Nas entrevistas muitos educadores demonstraram que já visavam trabalhar com crianças e adolescentes antes mesmo de iniciarem seu atual trabalho, inclusive, alguns já desenvolviam trabalho semelhante como voluntários, em sua comunidade ou dentro de sua igreja.

"Eu sempre quis ser educadora social, mas eu não sabia como."(Educadora de ONG)

Encontramos então um perfil dominante de educadores com vasta experiência de atendimento que não condiz com os reduzidos tempos de casa10 onde estão empregados, portanto essa experiência se constitui muitas vezes numa rotatividade entre as entidades.

A maioria dos pesquisados, 36%, veio de movimentos sociais. 21% optaram pelo ofício atual por necessidade financeira e 10% atribuem sua entrada na função ao fato de pertencerem a áreas acadêmicas vinculadas à profissão.

Nas entrevistas os educadores citaram o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua e sobremaneira a ligação com a Igreja Católica como porta de entrada para a atuação que desenvolvem.

"Eu, foi justamente quando eu participava de um grupo de jovens da Igreja Católica. Isso me despertou o interesse de procurar este tipo de trabalho." (Educadora de OG)

Esses dados levam a crer que a proveniência de educadores de dentro dos movimentos religiosos seja algo considerável, como de fato nosso contato com o meio deles atesta tal fato.

Muitos também afirmaram que somente no exercício do trabalho é que desenvolveram interesse por sua atual ocupação e que este passou então a influir sobre continuarem na profissão.

"Eu vim pra cá passar uma chuva, acabei arrumando um desafio e continuei." (Educadora de OG)

Particularmente entre os educadores do programa estadual foi muito comum nas entrevistas tanto a afirmação do ingresso na função por necessidade financeira quanto pela perspectiva então alimentada de que se constituiria um curso de graduação para a profissão em que estes que então participavam de formações teriam acesso, logo acesso a uma profissão e instrução de nível superior.

Ainda, 23% responderam que ingressaram na sua atual ocupação por outro motivo. As entrevistas nos dão pistas de outros caminhos que tenham levado essas pessoas ao seu ofício.

"É, era da rua e também se tornou educador. É interessante, no programa (municipal) tem muitos outros educadores sociais que vivenciaram a rua como meninos de rua, moradores de rua e hoje são educadores sociais. Excelentes educadores sociais." (Educador de OG)

Não apenas no programa municipal, mas nas ONGs se sabe que ocorre de ex-assistidos se tornarem educadores da instituição que os atendeu.

Os pesquisados responderam que são motivados a exercer seu atual ofício pelas seguintes razões na seguinte ordem: gosto do que faço, poder mudar a vida das crianças e adolescentes, devido a instituição em que trabalho, o salário, meu engajamento religioso e não ter a possibilidade de mudar de emprego.

Os educadores demonstraram possuir sentimento de identificação com a profissão e este ser sua principal motivação no trabalho, apesar de exporem nas entrevistas sua insatisfação com as condições de trabalho.

Os educadores se dividiram em suas falas entre os que já pensavam em atuar no que fazem e entre os que se identificaram já no exercício da profissão. A esse respeito apontaram como elementos desse processo a idéia de desafio, superação como marca de seu ofício e a sua sensibilização quanto aos seus assistidos. E esse último elemento se liga a segunda motivação mais apontada, mudar a vida dos assistidos.

"Eu tenho conseguido contribuir, me identifico, gosto muito da ação na rua, direto com o menino, tá ali, a minha maior gratificação é quando eu consigo colocar um menino num lugar melhor, que é melhor que a rua, que eu posso tirar da rua. Então assim eu me identifico muito, eu gosto muito." (Educadora de OG)

Outra questão importante é que as opções mais direcionadas aos interesses do profissional ("salário", "não ter a possibilidade de mudar de emprego") parecem ser postas de lado se comparadas com as que possuem um interesse direcionado para além de si, para o assistido, por exemplo, ou para a instituição, a não ser quando se trata, justamente da satisfação pela profissão em si, único item de caráter mais individual supervalorizado no questionário. Mas os itens de interesse mais pessoal do educador como salário ou falta de possibilidade de encontrar outro trabalho concentraram muitas marcações, mesmo que com notas baixas e medianas11 o que mostra que esses fatores são considerados por conta de sua concretude e caráter imediato para o profissional.

"Tão dizendo aí que o salário não paga, paga muito." (Educadora de OG)

Essa linha desinteressada dos educadores que emerge dessa questão pode estar estreitamente relacionada com o processo de modelamento técnico e moral pelo qual passam quando ingressam na profissão e mesmo antes pelos caminhos que os levam a essa escolha, como engajamento religioso, político ou filantrópico. Muitas falas dos educadores nas entrevistas denotaram isso.

Não há escolas de formação de educador social no Brasil, o profissional se torna educador muitas vezes dentro das instituições (RIBEIRO, 2006) já no processo de imersão ao meio dos educandos, de seus dramas e histórias de vida, aprendendo principalmente pelo fazer, e recebendo os saberes que vão constituir seu ofício a partir das instituições pelas quais passa prestando seu trabalho. Essa questão é importante para entendermos porque a instituição em que trabalham aparece com razoável importância como motivação.

 

Condições de trabalho

A maioria desses profissionais, 86%, recebe entre um e dois salários mínimos e 44% consideram a remuneração entre dois e três salários mínimos adequada para si. Educadores consideram a sua remuneração atual desproporcional à importância e às vicissitudes inerentes ao trabalho desempenhado por eles. O nível de escolaridade da maioria pode contribuir para que muitos não vislumbrem ganhos maiores. Por outro lado, pode ser que acreditem que, independente do nível de formação e das condições de trabalho, para um educador é adequado receber até três salários, uma vez que este foi o valor que os mais antigos encontraram quando de seu ingresso e falam desse tempo e condições com grande aprovação. Representantes de entidades empregadoras entrevistados também concordam que o que é pago para os educadores é pouco:

"Mesmo pagando isso por 40 horas acho pouco. Como ela vai criar uma família com esse dinheiro?" (Representante de entidade empregadora)

A questão salarial pode ser determinante para se fixar um contingente mais estável de profissionais com maior experiência e até mesmo formalmente mais credenciada (como com formação acadêmica), além de também possibilitar períodos de transição para uma renovação de pessoal com processo de transmissão de saberes entre os próprios executores diretos do atendimento de diferentes gerações, o que em parte pode ser comprometido pela interrupção da atuação dos mais experientes devido a outras oportunidades melhores que possam surgir para esses.

71% dos investigados, recebem os benefícios vale-transporte e valerefeição e apenas 1% recebe a combinação vale-transporte, vale-refeição e assistência médica. 48% trabalham numa jornada de 40 horas semanais. 69%, ainda ultrapassam a sua carga horária oficial. E 47% julgam 40 horas semanais como a jornada de trabalho adequada para o seu trabalho. Apesar de parecerem estar satisfeitos com sua jornada atual, ao observarmos qual a jornada exercida por cada educador que marcou no questionário qual carga horária considera adequada percebemos que em geral trabalham mais do que o que consideram ideal.

Os educadores asseveram que jornadas de trabalho que para outros trabalhadores são comuns para eles se tornam extenuantes, devido à particularidade de seu ofício e das condições em que têm que exercê-lo, como exposição a problemas de saúde, desgaste físico e psicológico e insegurança.

"(...) É um trabalho estressante, é muito tempo pra um educador social, estar na rua, a poluição sonora, poluição auditiva, (tem) a poluição ambiental, o stress, então dessa pessoa (...)." (Educador de OG).

Pelas entrevistas considera-se que ainda assim alguns educadores ultrapassam sua jornada por vontade própria, como parte de sua militância. Contudo algumas entidades são flexíveis quanto à execução da jornada no cotidiano, mediante eventuais necessidades de seus educadores, o que estes, aparentemente, consideram recompensar, entre outros pontos, e contrabalancear a militância enquanto fator de dedicação extra-profissional.

"Há casos em que eu, às vezes, vou no sábado pela manhã, ou acompanhar alguma família ou um menino, alguma atividade extra, se tiver. Eu não me recuso, porque, também, quando há necessidade de eu resolver um problema pessoal dentro desse horário de trabalho eu comunico antes e tem toda essa flexibilidade." (Educador de ONG)

Ao passo em que o programa do Estado apareceu como sendo extremamente rígido no aspecto do cumprimento do expediente tal como estipulado (você tem que avisar até pra ir ao banheiro) e como aquele em que não seria comum precisar ultrapassar a carga horária normal.

Os pesquisados ao responderam "o que é mais importante para melhorar a sua condição de trabalho" demonstraram considerar que tal investimento deve ser feito abrangendo os diversos aspectos que envolvem sua profissão, pois de acordo com as respostas dadas, parecem ser as questões de segurança, formação técnica específica e apoio pessoal, tão relevantes quanto a redução da jornada de trabalho e o reajuste salarial.

Nas entrevistas apareceram entre salário, jornada de trabalho, salubridade, risco de vida as seguintes demandas: a) reconhecimento profissional, com tratamento digno partindo da instituição e da sociedade, e mais que legal, a ser construído simbolicamente nas redes sociais de sua atuação; b) flexibilidade, já citada, referente a existir abertura para diálogo e negociação na instituição empregadora quanto às necessidades institucionais e eventuais necessidades do educador opondo-se a uma rigidez em que este não identifica eficácia, nem confiança ou valorização de si; c) liberdade de ação, de criação e condução de sua ação educativa em campo, relativa autonomia e canal de diálogo dentro do programa. Esta última deriva em parte da flexibilidade mencionada.

Muitos educadores reclamaram por trabalharem nos finais de semana e feriados, o que consideram desnecessário. Alguns educadores de OGs, porém, fizeram a ressalva de que por trabalharem atendendo a denúncias, o seu trabalho se torna necessário também nesses dias.

Caso não se reveja essa questão da jornada de trabalho excessiva se corre o perigo de poder acarretar, em um curto espaço de tempo, problemas de saúde a esses profissionais que podem forçar a uma renovação de quadros sem a devida transmissão da vivência de campo do profissional mais experiente para outro mais novo. Isto pode se dar, inclusive, pelo simples fato do educador concluir que necessita de um trabalho que considere mais vantajoso para seu bem estar.

 

Problemas de saúde

A questão "sua profissão o expõe a algum problema de saúde?" revelou que 87% dos educadores adquiriram algum problema de saúde devido ao exercício de seu ofício o que comprova o quanto o seu trabalho os expõem a este tipo de risco. Destes 55% responderam que adquiriram doenças de pele; 43% contraíram infecções; 28% contraíram doenças de pele/Infecções; 14% problemas psicológicos.

"Tem educador com problema de pele, a outra já teve pneumonia três vezes esse ano." (Educador de OG)

A partir das falas dos educadores de rua podemos agrupar assim os riscos à saúde a que estes profissionais estão mais expostos e os seus fatores: a) doenças e problemas de saúde contagiosos devido ao contato sem proteção com assistidos enfermos, o que denuncia falta de cuidado para preservar os profissionais por parte das instituições; b) doenças causadas por exposição excessiva a situações de desgaste físico e mental, intelectual e emocional, decorrência de jornadas de trabalho extenuantes em sua extensão e forma de aplicação e falta de apoio psicológico e de retaguarda, o que pode levar esses profissionais a acumularem preocupações extras ao seu trabalho, por exemplo, devido a lacunas na rede, como a falta de serviço clínico-terapêutico a dependentes químicos; c) possíveis complicações resultantes do contínuo desgaste físico e emocional e da paulatina e silenciosa agressão à saúde dos profissionais pelo contato com substâncias tóxicas como fuligem ou os entorpecentes consumidos pelos dependentes químicos.

Os educadores de OGs poderiam talvez estar mais expostos a sofrer uma carga extra de problemas derivados de situações de maior estresse devido atenderem a denúncias. E essa situação, mais a falta de cobertura de plano de saúde e de pagamento de insalubridade pelo seu empregador, contribuem para corroer o salário desses trabalhadores Sabemos que algumas empresas locadoras financiam parcialmente planos odontológicos para seus empregados nas organizações públicas.

Cotidianamente os educadores sociais lidam com situações e histórias de extrema violação de direitos, por isso, a pergunta sobre "como lidam com as emoções" torna-se contundente dentro desse contexto. Destarte, percebe-se que são profissionais que não procuram ajuda de um especialista, pois o percentual dos que o fazem é de apenas 1%.

Isto se deve principalmente a falta de condições financeiras, haja vista a remuneração que estes profissionais recebem ser modesta para custear consultas a psicólogos ou planos de saúde de ampla cobertura de serviços.

Outro fator seria o fato das instituições em geral não oferecerem esse serviço, exceto uma e outra, além do fato de atendimento psicológico não ser um serviço acessível no sistema público de saúde.

"Há uma necessidade gritante de que o educador tenha um acompanhamento psicológico. Eu estou sentindo na pele qual é a necessidade. Já passamos por n situações em que eu chegar em casa e não conseg...três horas da manhã, cinco horas a mais do que o meu horário e não conseguir dormir pensando no que ocorreu, tá entendendo. No outro dia tem que vir blindado." (Educador de OG)

É possível que as próprias entidades assumam esse tipo de atendimento, afinal muitas já possuem psicólogos para atendimento dos educandos. Algumas já o fazem e já o fizeram, foi citado neste último caso o Espaço Viva Gente do Governo Estadual e a realização de uma "terapia comunitária" promovida pela própria Equipe Interinstitucional.

As OGs contam com mais recursos e um número maior de profissionais para prover esse serviço, já as ONGs além de disporem às vezes de apenas um psicólogo, quando possuem, chegam até a contar com voluntários de formação técnica o que denota sua maior dificuldade em garantir esse acompanhamento ao educador.

 

Perspectivas de permanência ou de outra oportunidade melhor?

Quando perguntados sobre "o que mais gostam no trabalho", as respostas marcadas demonstram grande mescla de alternativas, pois parece mais fácil apontarem o que não gostam, do que o que gostam. As alternativas (salário, rotina, retaguarda, reconhecimento etc.) foram enfaticamente apontadas como problemáticas anteriormente, não é, portanto, contraditório que as respostas tenham assim se apresentado. As escolhas das opções sugeridas se destacaram na seguinte ordem: "a rotina de trabalho"; "o reconhecimento da profissão"; "o salário" emparelhado com este último; "a retaguarda" - em que se registra o maior movimento de desaprovação na questão; "a perspectiva de crescer na profissão" e; "os equipamentos para as demandas cotidianas".

Evidenciou-se maior desaprovação a retaguarda, aos equipamentos para as demandas cotidianas e salário pelos critérios de (i) aplicação pequena de notas importantes, (ii) maior concentração de notas baixas e (iii) baixa pontuação geral. O inverso serve de critério para perceber os itens menos desaprovados.

"Equipamentos para as demandas cotidianas" podem ter sido lidos pelos educadores como similar à retaguarda o que pode ter desfavorecido o item na sua apreciação.

Apesar da profissão de educador social ainda aparentar conseguir despertar aspirações de continuidade esta não apresenta expectativas de crescimento do profissional por conta da falta de sua regulamentação e da impossibilidade de ascensão funcional a partir dela, situação que pode perdurar mesmo se conquistada a plena regulamentação da profissão, o que é constatado tanto pelos educadores antigos quanto pelos próprios representantes das instituições empregadoras.

"(...) E, assim, a gente tá pedindo que a gente prefere educador mesmo reconhecido, capacitado com formação universitária, técnica e tudo, agora uma pergunta: a gente conseguiu o reconhecimento, a gente conseguiu a formação, a gente conseguiu educador universitário, capacitado e tudo e ai? (...) O que vai ser desse educador social depois? (...) Aí depois a gente vai contratar esse educador e aí ele vai continuar a fazer isso por 20 anos sem poder pensar em outra coisa, porque ele vai ter feito formação universitária de educador, ele não vai ter feito pedagogia, ele não vai ter feito serviço social, ele não vai poder vencer na vida. A gente vai manter ele preso sempre como educador? (Dirigente de ONG)

Sobre este problema DOS SANTOS partindo da conceituação de GRACIANI sobre uma provisoriedade da pedagogia social de rua provoca nova questão:

Graciani (2001, p. 285) afirma que a "Pedagogia Social de Rua - desenvolvida pelos Educadores de Rua - é uma pedagogia especial e tenderá a desaparecer quando não mais existirem crianças e adolescentes nas ruas do Brasil". Percebe-se a humildade da autora e o seu sonho de não mais existir crianças e adolescentes em situação de rua, porém num país onde há uma grande concentração de renda e, paradoxalmente, a ampliação da miséria, infelizmente parece que o fim dessa Pedagogia prolongar-se-á. Mesmo assim, indaga-se: ao desaparecer a Pedagogia que alicerça a prática do educador, este também desaparecerá? Se sim, até que ponto esse pensamento contribuiria para a profissionalização e a consolidação de uma categoria de educadores ainda emergentes? Se não, como ficará o trabalho desse profissional com o fim da Pedagogia que norteia a sua ação educativa? (DOS SANTOS p. 52: 2007)

Pensamos ser prematuro e perigoso separar Educação Social de Rua como especialidade de saber justamente quando a Educação Social é uma prática relativamente recente no Brasil e carece ainda de uma sistematização em formalização de suas experiências, num contexto conflitivo com outros campos de saber como os da Pedagogia e Assistência Social sob o risco de fragilizar tanto a Educação Social, como sua aplicação no contexto da rua. Sobre os questionamentos da representante de ONG citada, podemos refletir a partir da experiência européia, onde este campo profissional é mais antigo e mais consolidado em alguns dessas nações. O educador social desses países avançou sobre outros espaços e especialidades, hoje podendo ser professor universitário formando novos profissionais em sua área, sendo pesquisador em seu campo de saber, educador na escola formal, em instituições variadas em várias funções e para públicos diversos, como no setor da saúde, da animação social para idosos entre outros papéis. O avanço da profissão para novas especialidades já dá sinais de avanço no Brasil, que não comentarei aqui. Mas mesmo com as limitações que a educação social ainda possui como ofício alguns dos educadores estudados conseguem projetar perspectivas de continuidade e crescimento dentro da profissão.

"(...) Como é a área em que eu estou querendo entrar, né, já tô fazendo pedagogia, terminando, e to querendo investir cada vez mais na área (...)." (Educadora de OG)

Todo o potencial que essa nova profissão tem e o desenvolvimento que vem alcançando em alhures novamente nos leva a um elemento - também dos mais marcados pelos profissionais - que necessariamente precede a possibilidade desse avanço maior se dar aqui: a questão do reconhecimento. Por todas as razões apresentadas até aqui o reconhecimento foi uma das opções mais marcadas, dele pode depender o futuro do educador social. E por não existir hoje é que pode não ter sido mais marcado, pois a pergunta da questão foi sobre o que os investigados gostam mais na sua profissão. Mas como poderia todos responderem sim a esse reconhecimento se ele ainda não existe na sua integralidade? Principalmente se é tal profissão desconhecida por parte da população em geral.

Sobre a rotina de trabalho, também muito marcada, esta aparece com ambigüidade nos relatos dos educadores, como se pode notar nas citações e dados trazidos aqui.

"Eu fantasiava muito, que era totalmente diferente. 'Ah, vou ajudar aquelas crianças, meninos que precisam, que estão ali, coitadinhos, que são muito sofridos e coisa e tal.' Quando fui vivenciar a realidade foi outra história, foram seis meses de muito sofrimento." (Educadora de OG sobre sua primeira experiência na profissão antes de mudar de emprego)

"É o seguinte, enfrentamo (riscos na rua e nas comunidades), mas isso não desmotiva o nosso trabalho não. Fica mais desmotivado por questão de questões administrativas, burocrática, de eu não me preocupar com a integridade do educador, quer saber se você está lá na área, se você tá lá dando satisfação." (Educador de ONG falando de um Programa de abordagem de uma OG do qual participou)

Durante grande parte deste relatório apresentamos várias pautas que reforçam esta leitura: os profissionais gostam da profissão, mas muitos que estão há muito tempo e mesmo alguns que estão há pouco enumeram muitos fatores de desestímulo. O tom de satisfação com a profissão foi modificando-se durante o curso das entrevistas, na medida em que os entrevistados iam narrando suas dificuldades e demandas, iniciando seus relatos demonstrando contentamento com sua profissão, contudo no fim admitindo sua insatisfação com a realidade de seu ofício, excetuando poucos casos.

As respostas à questão você trocaria de profissão para ganhar mais apresentam algo interessante, pois apesar dos problemas anteriormente citados, da ínfima resposta sobre o que mais gostam na profissão de educador, 41% dos investigados disseram que não trocariam de ofício caso aparecesse uma oportunidade salarial melhor. Isso pode ter se apresentado assim, por conta de que para esses profissionais as melhorias nas condições de trabalho não estão vinculadas somente a questão salarial, não sendo, portanto, o exercício de suas atividades o que mais os importuna, e sim as condições que lhes são oferecidas para tal.

Todavia 53% dos investigados responderam que sim, mudariam de profissão, e isso pode refletir tal insatisfação com outras condições para a efetivação de seu serviço que não os satisfazem conduzindo a essa resposta, na medida em que algumas das questões reclamadas por eles assumiram uma forma monetarizada: insalubridade, risco de vida, não possuir condição de pagar plano de saúde e ter gastos com problemas de saúde, dias de trabalho que não são remunerados etc.

Nos grupos focais esta pergunta apareceu como "uma oportunidade melhor" ou se "pretende se aposentar nessa profissão" e a maior parte das respostas foram desde mostrar desejo de mudar de profissão a apego a ela, mas não a ponto de continuar sem a melhoria das condições de trabalho ou de perder uma oportunidade de trabalho melhor. Uma minoria afirmou que permaneceria mesmo nas condições atuais, outra minoria não soube afirmar se permaneceria.

"Eu gosto de fazer o que eu faço, hoje, gosto. Mas tá pesando muito, com a idade a gente vai começando a sentir o peso do desgaste emocional, muito maior do que o físico. Se realmente tivesse melhores condições de trabalho, se fosse oferecido hoje melhores condições de trabalho para realizar outra coisa... mas eu teria que pensar bastante. Aí eu não sei, eu não sei, mas poderia mudar." (Educadora da Prefeitura)

"Eu, não deixaria. Eu não deixaria de ser educadora social. Logo por que... eu também tenho o apoio do meu marido... Então ele mantém a minha casa. Mas eu mesmo, por vocação..." (Educadora de ONG)

Tal contradição entre gostar do que faz e o já citado sofrimento presente no seu dia dia profissional, presente nas falas desses profissionais reforça a idéia de que a função do educador social conquista aqueles que nela ingressam, mas podemos perceber que nem todos adquirem um perfil mais militante no sentido não apenas de aderir a um causa, mas de se sacrificar por ela, já que tratamos aqui de uma profissão cujo exercício no seu cotidiano se dá em condições de trabalho precárias, como diagnosticamos. Alguns educadores admitiram mesmo que ingressaram nessa área para passar uma chuva, por necessidade econômica e são estes mesmos que declararam com mais veemência seu descontentamento em permanecer nessa função pelas condições de trabalho dadas.

Aqueles que ingressaram na profissão devido a uma trajetória em movimentos sociais, religiosos ou não e que já queriam exercer ou exerciam um tipo de militância semelhante ao seu atual trabalho demonstram menos insatisfação e é entre estes que permaneceu até o fim das entrevistas o tom positivo de falar da profissão de educador e entre eles estão os que ainda pensam em se manter nesse ofício. Logo percebemos que a trajetória anterior do educador liga-se à sua motivação ou desencanto com a sua função e a (o) condiciona.

O grupo mais descontente concentra-se no programa estadual que é o menos integrado à Equipe Interinstitucional, conforme os educadores e representantes das instituições da EI, e que também é onde os elementos já citados reconhecimento, liberdade e flexibilidade, aspirados pelos educadores são, segundo eles, menos presentes ou problemáticos. O único grupo de educadores sociais, considerando os vários tipos presentes nas instituições da EI - educador de rua, de abrigo, de trabalho em comunidade12 - que se mostraram contentes com o que fazem foi o grupo de educadores que trabalham em sua comunidade e com metodologias que envolvem técnicas terapêuticas que são todos de uma mesma instituição da Equipe.

Esperamos que este trabalho possa servir para outros estudos que busquem diagnosticar as questões que podem impedir a auto-realização de profissionais no exercício de suas funções, contribuindo para o aprimoramento de políticas públicas e trabalhistas a partir do exame de como esses trabalhadores vivenciam seu ofício e que também auxiliem aos educadores sociais e às entidades que os empregam a entender melhor como podem aprimorar sua ação junto ao seu público assistido.

 

Referências

SANTOS, Pedro Pereira. Educador Social: análise das representações sociais sobre a criança e o adolescente em situação de rua. São Paulo, 2007. Dissertação (Mestrado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP, 2007.

DURKHEIM, Émile. Representações Individuais e Representações Coletivas. In: Sociologia e Filosofia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1970.

GOFFMAN, Erving, Estigma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. Brasil, Zahar. Editores, 1980.

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de N. O pesquisador, o problema da pesquisa, a escolha de técnicas: algumas reflexões. In: LANG, Alice Beatriz da S.G (org). Reflexões sobre a vida sociológica, São Paulo: CERU,1992

RIBEIRO, Marlene. Uma Educação Social Faz Sentido? Alguns Apontamentos. Disponível em: http://www.educacaosocial.site50.net/forum2/viewtopic.php?f=5&t=6. Acesso em: 22 jan.2009.

RIZZINI, Irene; RIZZINI, Irma. A institucionalização de crianças no Brasil. São Paulo: Loyola. Rio de Janeiro: PUC-RIO/ CIESPI; Brasília: UNICEF, 2004.

 

 

1 Trabalho desenvolvido junto ao Laboratório de Estudos da Violência do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará. E-mail: robertosdasilva@gmail.com
2 A definição de situação de risco é muito ampla. No Plano Nacional de Política Pública de Assistência Social ela aparece junto com a situação de vulnerabilidade social para designar as seguintes situações: perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnicos, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências, exclusão pela pobreza e, ou, no acesso às demais políticas públicas; uso de substância psicoativas; diferentes formas de violência advindas do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que possam representar risco pessoal e social.
3 Situação de rua refere-se a situações em que esses sujeitos se encontram de morar ou permanecer muito tempo e pernoitar nas ruas e logradouros públicos, podendo nesses espaços desenvolver estratégias de sobrevivência (furto, mendicância, trabalho, prostituição), se entreter e estabelecer laços sociais.
4 The United Nations Children's Fund, Fundo das Nações Unidas para a Infância.
5 A Equipe Interinstitucional de Abordagem de Rua é uma articulação que agrega os poderes públicos estadual e municipal e organizações não-governamentais (ONGs) que realizam trabalho sócio-assistencial junto a crianças e jovens moradores de rua
6 Entenda-se como atividade educativa não formal aquela que é desenvolvida sem os marcos da atividade escolar formal, no caso seu tipo de parâmetros curriculares ou mesmo um currículo no sentido que este tem nessa atividade, a sua vinculação com o tipo de espaço institucional da qual é inseparável - a escola - entre outros elementos que partem de seu contexto e configuração específicos.
7 A Sociedade da Redenção não foi contemplada por não fazer abordagem de rua.
8 As Rodas dos Enjeitados ou Rodas dos Expostos criadas e mantidas pelas Santas Casas de Misericórdia, surgidas na época colonial e fechadas já após a República estão entre essas primeiras instituições (DA SILVA, 2007). Também cabe como exemplo o trabalho jesuítico junto aos curumins, crianças indígenas, no início da colonização portuguesa.
9 Em 1924 surge o primeiro Juizado de Menores. Em 1927 é aprovado o 1.º Código de Menores, que vai se tornar conhecido também como Código Mello Matos, seu idealizador.
10 Tempo de casa possui aqui o mesmo sentido usual, tempo de permanência numa instituição.
11 Utilizamos neste e em outros itens do questionário opções de múltiplas escolha e notas de 1 a 5 para serem atribuídas às alternativas, sendo a importância das notas maior conforme a ordem crescente entre elas. Nota 5, por exemplo, significaria a nota para aquilo a que o educador mais dá importância.
12 Chegamos a entrevistar educadores comunitários e apresentar questionários a todas as instituições da EI que possuem educadores de abrigos, dos quais recolhemos e sistematizamos dados.