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Congr. Intern. Pedagogia Social Mar. 2010

 

O Educador Social: relato de uma experiência na comunidade

 

 

Wagner de Oliveira Thomaz1

 

 


RESUMO

A partir do contato do grupo de Pedagogia Social da USP, comecei a refletir minha prática enquanto educador social em diversos trabalhos que já realizei ao longo dos meus 10 anos de militância. Este presente trabalho é uma destas reflexões. Sob a luz de questões levantadas por Paulo Freire e Estela Graciane, reflito uma experiência com crianças e adolescentes na comunidade da Vila Paloma, no município de Jandira, Grande São Paulo. Nesta reflexão, trago três pontos que foram cruciais para o acontecimento da prática nesta comunidade. O primeiro, as habilidades, meu desdobramento histórico. O segundo, o encontro do meu ser histórico com o grupo de crianças e adolescentes e, o terceiro, a construção da práxis a partir destes dois mundos. Este refletir que construo entre o teórico e a prática me possibilita pensar com mais amplitude no campo de atuação do educador social na comunidade, nas perspectivas de Paulo Freire, na identidade de quem é este educador e como se constrói um projeto em determinadas comunidades como a de Vila Paloma. O método que utilizo se refere a um estudo de caso através dos registros que tenho desta experiência.

Palavras-chaves: prática, reflexão, educador social, comunidade.


ABSTRACT

From the Contact Group for Social Education at USP began to reflect my practice as a social educator in several works that have already realized during my 10 years of militancy. This present study is one of these reflections on the light of questions raised by Paulo Freire and Graciane reflect experience with children and adolescents in the community of Paloma Ville, Jandira City, São Paulo Estate. In this paper i bring three points that were crucial to the event in this community of practice, the first skills, my historical development, the second meeting of my historical being with a group of children and adolescents and the third, building the practice from these two worlds. This reflect that build between the theoretical and practical makes me think more breadth in the field of action of the educator in the community from the perspectives of Paulo Freire, the identity of who is this teacher and how to build a project in certain communities such as Villa Paloma . The method I use refers to a case study through the records that I have this experience.

Keywords: practice, reflection, social educator, community.


 

 

Introdução.

Neste momento de construção do corpo teórico da Pedagogia Social, torna-se de fundamental importância pensar sobre quem é este educador Social. Não só do ponto de vista teórico, mas também do ponto de vista prático. Uma vez que no Brasil esses educadores atuam em dimensões de projetos nos mais diversos contextos, pelas suas experiências para contrapor a desigualdade, a exclusão, as mais diversas situações de riscos.

Estes educadores em sua maior parte trazem nas suas práticas as experiências e as vivências de suas próprias histórias e, destas, se esforçam em suas práticas para o desenvolvimento de uma educação libertadora. Possivelmente muitos não conheçam as ideias de Paulo Freire, não imaginam que no Brasil se articula a construção de um novo campo do saber, como a Pedagogia Social, porém são os elementos chaves do campo de pesquisa da construção deste saber.

Em uma das minhas experiências numa oficina, na qual fui convidado a ministrar aulas para educadores sociais da área da cultura, no município de Carapicuíba, sobre o trabalho com a comunidade, descobri, por meio de relatos, que as habilidades e as ferramentas utilizadas por eles haviam sido construídas pelo rumo de suas vidas. O mais interessante é que suas práticas como educadores estavam permeadas por um sentido de existência, onde o pressuposto destas práticas estava marcado pela indignação, pela exclusão, pela incompreensão, pela superação da própria situação de vida, pela produção de sentido de suas marcas vividas nas suas práticas como educadores sociais.

Percebi isto, do professor de teatro ao oficineiro de cestaria. Este contato me colocou para refletir a minha própria prática sobre quais motivos fui buscar desenvolver num trabalho com crianças e adolescentes em uma comunidade. Quais eram, naquele momento, as ferramentas que tinham em mãos para construir um projeto na prática e como faria uso delas no espaço com o educando.

Para dar respostas a estas perguntas me remeti numa busca pela minha própria história enquanto criança, enquanto adolescente. Pois nestas duas fazes se faziam presentes as molas propulsoras para a construção de minha prática, bem como a influência da minha identificação com o campo de atuação que eu havia escolhido. Muitos dos pontos de vista da teoria de Paulo Freire tiveram como base a sua própria história de vida. O próprio conceito de leitura de mundo, palavras geradoras, possui uma ligação fortíssima com a forma que ele foi alfabetizado.

Refletindo a minha própria prática na comunidade da Vila Paloma, cheguei a conclusão da minha escolha no campo de atuação nas comunidades, bem como de onde vieram as minhas ferramentas para a construção da prática.

As ferramentas lúdicas como o próprio corpo, a sucata, os livros infantis, entre outros, fazem parte de momentos cruciais em minha história de vida. Minha busca no campo da comunidade parte das minhas vivências. Da necessidade de transformação da desigualdade, da superação da pobreza, das dores da discriminação e do preconceito, parte da indignação, da humilhação, da aniquilação do meu ponto de referência enquanto sujeito que existe e vive em uma determinada comunidade, indiferente de ser uma favela.

Pode ser que muitas das habilidades dos educadores sociais nasçam de uma educação no contexto da escola, de um curso, do contato do aluno com seu professor, seja ele de teatro, música, alfabetizador, mãe ou pai. As minhas ferramentas, assim como as deles, nascem da infância, da animação, das brincadeiras de rodas e cantigas.

Minha capacidade criadora no espaço da comunidade nasce de tudo isto com o contato com o lugar e com os educandos.

Através do grupo de pedagogia social da USP e pelos autores, Freire e Graciane, começo fazer a reflexão desta prática, buscando refletir o campo de atuação do educador social, a sua identidade enquanto educador e como se constrói um projeto em determinadas comunidades, como a de Vila Paloma, no encontro com o educando.

 

A história de vida, a experiência e a formação do educador como subsídios para a construção da práxis.

Nenhum projeto parte do vazio. Todo educador necessita de uma habilidade, de uma ferramenta para iniciar seu trabalho no contexto da comunidade. E essa ferramenta sempre é permeada pela história de vida do educador, das habilidades que o mesmo constrói em seu processo histórico. ( Freire, 1987,p.73) "O movimento permanente em que se acham inscrito os homens, como seres que se sabem inconclusos; movimento que é histórico e que tem o seu ponto de partida, o seu jeito, o seu objetivo"

O educador está no mundo e sua presença no mundo não é mera coincidência, nem mesmo cópia. Não é possível estar no mundo, como confirma Paulo Freire (2005, p. 58), sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazer cultura, sem musicar, sem pintar, sem aprender, sem ensinar, sem idéias de formação, sem politizar não é possível.

Portanto este educador, antes de qualquer trabalho ou projeto, tem como elementos fundantes sua presença, sua existência rica em historicidade. Tal riqueza que o faz ideológico enquanto homem transformador, "criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva, capaz de amar" (2005). Esta riqueza, enquanto prática, vivencia, marca a identidade do mesmo, bem como a sua autonomia na atuação de um projeto.

Por isto o educador social deve se ater a tua própria riqueza enquanto ser histórico, pois como Paulo Freire nos afirma (2005, p.39): "Quanto mais me assumo como estou sendo e percebo a ou as razões de ser porque estou sendo assim, mais me torno capaz de mudar, de promover-me, no caso do estado de curiosidade ingênua para o de curiosidade espistomológica.

Percebendo enquanto sujeito histórico, o educador se torna capaz de pensar o concreto, em ação crítica, criativa da tua própria ação, pensando a tua própria ação o mesmo prepara o teu ato de educar em práxis.

 

O encontro do educador e suas habilidades com o educando.

O educador permeado de historicidade sem dúvida possui elementos para construção da práxis do projeto no espaço da comunidade. Seja por meio da arte, da educação de jovens e adultos, ou qualquer outro projeto. Porém, o que estará presente como mediadoras enquanto ferramentas serão as habilidades ou competências do educador.

Supostamente estas competências do educador são os elementos para a construção da práxis. Possivelmente o educador, pelas suas habilidades, permeará o enfoque do projeto em uma base para a metodologia.

A metodologia da práxis é, por um lado, um conjunto de procedimentos gerais abstratos capazes de instrumentalizar o sujeito -individual ou coletivo -para realizar essa articulação no plano específico (Graciane, 2009, p. 219)

Desta forma as habilidades e as ferramentas são parte da construção da metodologia do trabalho do educador social para a construção do projeto pedagógico. Porém, tais ferramentas não são o projeto em si, o projeto deve vir a ser na relação e no contato com a realidade e com educando. Pois se for somente, negará a relação com educando e ocorrerá o que Paulo Freire diz ser prescrição". Precisamente ninguém pode dizer a palavra verdadeira sozinho, ou dizê-la para os outros, num ato de prescrição, com o qual rouba a palavra aos demais". (Freire, 1987,p. 44)

O educador social orientado somente pelas suas habilidades em um projeto sem considerar o encontro com o educando, rouba a palavra, e não constitui a possibilidade da pratica educativo-critica.

Uma destas tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar (Freire, 2005,p.41)

No educando estão presentes os mesmos movimentos que no educador: ser social, pensante, comunicante, transformador, criador e histórico. Desta forma, como afirma Freire, dizer a palavra não é privilégio de alguns homens, mas direito de todos os homens. (1987, p.44)

O educador deve abrir espaço para as crianças e adolescentes dizerem a sua palavra no contexto da comunidade, como afirma Arruda (apud. Graciane, 2009, p. 219) na visão de mundo da práxis. A visão de mundo é a que concebe um mundo em processo de construção por estes sujeitos que estão se construindo. Desta forma a riqueza de uma metodologia se articularia na dialética entre as ferramentas construídas no processo histórico do educador social com o mundo das crianças e dos adolescentes, resultando a construção de um mundo como base para se chegar à práxis.

 

O diálogo como ferramenta para construção da práxis.

Qual a importância de se construir o diálogo na construção da práxis no espaço da comunidade no trabalho de um educador social? É o diálogo que possibilitará o encontro e a relação do educador social com as crianças e os adolescentes, no que se refere ao mundo que se está construindo. Mas que mundo é este? As distintas realidades do educador e dos educandos não mais, e sim o mundo do vir a ser a partir do encontro.

O diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de um sujeito no outro, nem tão pouco tornar-se simples trocas de ideias a serem consumidas pelos permutantes. (FREIRE, 1987 p. 79).

O educador necessita estar aberto para o diálogo, sem desconsiderar sua historicidade e a historicidade do educando, uas ferramentas e habilidades.

Este novo encontro se dará num outro território, onde se formaram novas relações de aprendizagem. Não há o professor da escola, nem mesmo uma prática pronta e sim habilidades e ferramentas que constituíram os requisitos para o projeto pedagógico.

O educador social precisa desterritorializar-se e partir para o encontro com os educandos e com eles elaborar o novo projeto educativo do cotidiano da aprendizagem, em que ambos são protagonistas e atores sociais. (Gracine, 2009, p. 221)

Tal encontro na sua totalidade é dialético completamente pautado no diálogo, na presença. Neste universo há um rico conteúdo como elemento de construção da práxis, o território, a exploração do espaço, o corpo, o movimento, as relações de amizade, o contexto, as expressões, a palavra. Todos estes elementos pertencem ao diálogo. (Graciane, 2009) corrobora dizendo que o educador, antes de falar, precisa ouvir. Transcendendo a fala, deve captar o mundo simbólico (signos, códigos) gestual (comunicação não verbal) e mágico -lúdico do mundo infanto-juvenil. Para Paulo Freire (1987, p.8). O diálogo fenomeniza e historiciza a essencial intersubjetividade humana; ele é relacional e; nele, ninguém tem iniciativa absoluta.

Nesta relação pautada no diálogo não existe dono do saber, fechado no seu conhecimento, mas sim histórias e experiências diferentes que se encontram mutuamente. Crianças e adolescentes e educador social estão tecendo a historicização como em Freire (1987, p.8) "O diálogo não é um produto histórico, é a própria historicização".

Desta historicização é que resultará o projeto pedagógico que se entrelaçará constituíndo a metodologia da práxis capaz de instrumentalizar o sujeito - individual ou coletivo - na articulação do projeto. Tal possibilidade contribui (Marx, apud. Graciane, 2009, p. 219). O importante está em reconstruir o pensamento e/ou a percepção da unidade do real e transformar essa compreensão em práxis, ou seja, em ação crítica-criativa, partindo do "concreto pensado". O encontro e o diálogo são as ferramentas do educador. Nesta relação consolidará as atividades entre o educador e o educando, no projeto no espaço da comunidade.

 

Situando a Vila Paloma.

A vila Paloma é uma área livre localizada na divisa entre os municípios de Jandira e Itapevi na região oeste da grande São Paulo. A região onde se situa a Vila Paloma é na extrema periferia destes dois municípios.

A infra-estrutura é precária, pois na vila não há ruas e nem asfalto somente pequenas vielas que separam as casas umas das outras, além de dar acesso aos bairros vizinhos.

Água encanada e energia elétrica foram instaladas oficialmente para cada morador somente nos anos de 2006 e 2007, anterior a isto as instalações eram em sua maior parte clandestinas.

A maior parte da área onde se localiza a vila anterior a invasão eram composta por vegetação brejeira, o terreno era alagado por água, desta forma os moradores tiveram que aterrar uma boa parte.

A existência de um córrego que corta a vila praticamente inteira, o mesmo é extremamente poluído por esgotos, sua nascente se localiza no município de Itapevi cortando pela divisa entre Jandira até desaguar no rio Barueri Mirim na altura do bairro do Sagrado Coração. O córrego, antes de cortar pela Vila Paloma, passa por diversos bairros, onde a maioria deles possui esgotos clandestinos que desembocam dentro dele.

As casas na vila Paloma, em sua maior parte, são de alvenaria. Barracos, atualmente são poucos. O espaço entre as casas é bastante tumultuado devido a sua má distribuição territorial, e o número de residências que foram construídas sem planejamento está além da capacidade que o espaço proporciona.

Não há áreas de lazer para as crianças e adolescentes, como quadras, praças, parquinhos, os quintais das casas geralmente possuem espaços muito pequenos. As vielas são um dos poucos espaços para o desenvolvimento de brincadeiras e atividades para as crianças e os adolescentes.

Na vila não há posto de saúde nem escola. Os existentes, para atender os moradores, se localizam em outros bairros, no município de Jandira, "Jd. Gabriela", ou no município de Itapevi, " Jd. Brinquet".

Há problemas graves como consumo e trafico de drogas, violências domésticas entre outros tipos, a situações de roubo e furtos entre outros problemas de ordem relacional.

Atualmente a vila possui uma creche, construída por meio da Associação Caritas, amigos da Itália em parceria com a Prefeitura de Jandira.

Cerca de 50% do córrego na parte que corta a vila foi canalizado por meio de um mutirão realizado entre a Prefeitura de Jandira e os moradores. Em uma parte dele, após a canalização os adolescentes criaram um campinho de futebol, com uns 5 m2.

Nos bairros próximos a comércios pequenos como mercado, farmácia,açougue, padaria, locadora entre outros. Na vila possui pequenos bares que vendem bebidas alcoólicas em sua maioria e alguns produtos como: açúcar, café, farinha de trigo, bolacha, óleo, leite, cigarro e mais alguns produtos .

 

Recorte da historia na Vila Paloma.

A Vila Paloma surgiu no ano de 1997 por migrantes de outras regiões da grande São Paulo e Nordeste, que na busca por uma moradia invadiram área pertencente a Prefeitura. Quando ocorreu a invasão os moradores se organizaram por meio de mutirões, onde as mulheres e os homens dividiam as tarefas para que a vegetação fosse cortada, as áreas de brejo enterradas e os barracos fossem construídos, no momento a Prefeitura não se manifestou pela área, desta forma a vila se perpetuou.

Combinamos a invasão, e erguemos o primeiro, o segundo barraco e foi assim, um ajudando o outro. Se não tinha a ferramenta emprestava. A comida um bando de mulher preparava e outro bando com os homens erguia as tabuas (relato de Rita moradora da Vila).

A população, por meio dos mutirões, aterrou o brejo e construiu suas moradias que, ao longo dos anos, de barracos foram se transformando em casas de alvenaria. A vila durante estes anos conviveu com diversos problemas, como desemprego e violência. Porém, os problemas que mais afetavam a vila eram advindos do córrego a céu aberto.

O córrego era o nosso inferno. À noite os pernilongos tomavam conta das nossas casas, quando chovia alagava tudo, as crianças ficavam doentes e a gente passava mais tempo no hospital do que em casa. (Nice, moradora da Vila Paloma)

As crianças brincavam dentro do córrego, as inundações provocavam grandes estragos e as pestes como ratos, pernilongos, baratas tomavam conta das casas. A violência era marcada pelo trafico de drogas, pelo confronto entre a policia e os traficantes.

" a polícia entra aqui, já vai batendo, dando tapa na cabeça da gente sem saber quem a gente é"

Porém no ano de 2004 com os trabalhos sociais da Paróquia São Francisco de Assis realizada em uma outra área invadida próxima da Vila Paloma através do Pároco Padre João Carlos ocorre uma mudança na dinâmica da Vila, pois o padre trás a associação Caritas, devido a aproximação da mesma com a paróquia. A proposta da Paróquia era de montar uma comunidade Católica na Vila Paloma, porém com as reclamações dos moradores da falta de creche escola á associação Caritas modifica a idéia de salão de igreja para construção de uma creche.

O padre como tinha uma parceria com a Itália comprou algumas casa dos moradores para fazer a creche. Antes do padre já havia por parte dos moradores varias tentativas de organização para melhorar a vila Paloma, porém os mesmos se esbarravam a falta de participação da maioria, conseqüentemente no desinteresse da Prefeitura.

" o povo aqui não é unido, só alguns que correm atrás e isto desanima. Não da para um ou dois fica levando o resto nas costas"

Somente a partir do contato dos moradores com o Padre é que surge uma mobilização na Vila Paloma, no inicio a construção do salão para mais uma comunidade da Paróquia, depois a associação Caritas da inicio no salão da paróquia em uma creche, com a influencia do padre e de um vereador a Prefeitura passa a se aproximar mais resultando em mutirão para canalização do córrego.

Com a canalização do córrego os adolescentes ganham um pequeno espaço para jogar bola, pois integram um pedaço de terreno com a parte canalizada do córrego criando um campinho. Entre a área da creche e o córrego canalizado surge um novo espaço de brincadeiras, de diálogo. Antes da canalização as crianças brincavam dentro do córrego.

Eu como mãe não agüentava mais pegar meu filho dentro, como não tinha quintal, nem espaços para brincar eles brincavam dentro do córrego.

Com a canalização a vila ganha um novo sentido, os problemas mais agravantes de ordem físico e estrutural estavam em partes sanados. No espaço havia uma pequena creche comunitária, os adolescentes e as crianças ganha um pequeno espaço para brincar. Porém alguns problemas históricos permaneciam e continuavam afetando a vida dos moradores.

A vila é muito violenta, não são todas as crianças que podem estudar na creche. Os adolescentes por exemplo não podem participar da creche. Aqui ainda continua sem nada para eles ( Josepha)

Aqui melhorou, mais ainda falta muita coisa, um curso para os adolescentes, atividades para as mulheres ganharem renda.

A gente precisa pensar em alguma coisa para os meninos, se não vão acabar se envolvendo nas drogas como os outros e até morrendo.

Com a creche, o córrego canalizado fortalece nos moradores o desejo de mobilização da comunidade para resolver os diversos problemas que ainda afetavam a vila. Deste desejo ocorre diversas reuniões na Vila Paloma focados na construção de projetos para a criança e o adolescente.

 

Descrevendo a pratica.

Para a realização destes projetos a comunidade necessitava de pessoas voluntarias, doação de equipamentos entre outros. Desta forma começaram a buscar no município de Jandira pessoas como educadores interessados em desenvolver um projeto na Vila Paloma como voluntários. Quase que não encontraram, pois muitas pessoas não desenvolvia projetos sem cobrar, outras tinham preconceito com o lugar e outros não possuíam tempo.

Através de uma das coordenadoras que conhecia meu trabalho de contador de historia, me convidou no ano de 2005 como voluntario pela Associação Caritas para contar historia para as crianças no espaço da creche da Vila Paloma. Nesta época eu desenvolvia um projeto de contação de historia na biblioteca municipal de Jandira nas creches, EMEIs do município e sentia vontade de levar o projeto para uma comunidade carente na preferia, fora do espaço institucional da escola, da biblioteca.

Com o convite fui até a vila Paloma com alguns livros nas mãos realizar a primeira contação de historia. No primeiro dia as crianças foram convidadas a comparecer no espaço do salão onde funcionava a creche. A faixa etária era variada entre crianças de 03 á 10 anos de idade. Ao chegar à vila fui bem recebido pelas crianças, mais não pelos adolescentes.

Contar história como estava acostumado a fazer, foi uma tarefa nada fácil, pois as crianças não paravam para ouvir e eu estava sozinho com mais de 35 crianças. Os adolescentes não quiseram se envolver, somente observavam tudo do lado de fora, algumas vezes apontavam para mim e riam das minhas atividades, mais sempre mantendo uma grande distancia.

No primeiro dia fiquei por 03 horas com as crianças e só consegui contar apenas uma historia. Voltei outros finais de semana para contar as historias, porém não conseguia fazer naquele espaço como fazia na escola, por mais que tentasse trocando os livros, trazendo material diferenciado não havia o envolvimento de todos. Por diversas vezes fui embora para casa pensando o que poderia fazer, pois não conseguiria contar historia, a dinâmica se organizava de uma outra forma, e as histórias que eu tinha não cabia ali como atividade educativa ou cultural. Precisava de algo do próprio local.

Olhando para o campo formado pelo espaço canalizado do córrego e o terreno da creche me veio a idéia de ir até os adolescentes para ouvi-los, saber sobre o que eles achavam da vila, da canalização do córrego. O que eles estavam pensando referente ao lugar onde moravam, o que eles desejavam para o bairro, meu intuito era deixá-los livres para conversar, falando o que quisessem falar.

Eu necessitava encontrar algo através deles que modificasse meu trabalho, pois com 03 semanas que eu já estava-la contando historia e não tinha a participação deles, das crianças que participaram dês do inicio já não estavam comparecendo.

Para modificar o trabalho que eu estava desenvolvendo com livros, queria uma dinâmica, uma proposta pedagógica que pudesse envolve-los, se encaixando no contexto daquela comunidade, integrando no mesmo espaço aquelas crianças as quais eu contava historias, com os adolescentes que passavam o dia naquele campinho.

Aproximação no primeiro momento não foi fácil, o primeiro grupo de adolescentes que conversei foi 04 meninos que aguardavam a vez para jogar a partida. Num espaço como este devemos puxar a conversa com o próprio tema em questão, ou seja, o próprio futebol. Perguntei referente ao time que cada um torcia, nome de cada um. Aos poucos a conversa foi fluindo ele eles foram falando sobre a vila, e depois a vida deles.

Aqui na vila é legal de se morar, tem o nosso campinho, onde fazemos os nossos campeonatos. A gente joga todos os dias depois da escola. A tarde, de noite, estamos sempre jogando.

Fui tendo acesso das coisas que o grupo gostava e faziam sempre juntos.

Nós jogamos bola, escutamos rap, e trocar idéias.

Conforme conversávamos eles iam me colocando como se sentiam diante a vila onde eles mora, as perspectivas que tinha, as possibilidades de sonhos e medos. Toda está ação se deu em uma roda de conversa. Pelas realização das dinâmicas deles percebi grandes potencialidades que se revelavam por meio do jogar futebol, do rap e do tempo em que eles conversavam.

Nosso sonho é ser jogador de futebol.

Tais ações eram uma forma de demarcar a possibilidade de existir e de sonhar meio a tantas dificuldades do local. Porém no próprio espaço de conversa surgiram as fragilidades da vila.

O ruim de morar aqui é que as pessoas te enxergam como favelados. Na escola qualquer coisa que acontece a culpa cai sobre nós, e temos que agüentar a tirassão dos outros, com piadinhas ( Roberto, adolescente)

A policia quando entra, já vai dando revista na gente ( Paulo)

Com a roda de conversa já havia uma aproximidade entre eu eles, que aos poucos iam se aproximando das atividades de cotação de historia, até que um determinado momento havia cinco dos adolescentes no salão onde contava historia.

Aproveitei a presença deles e criei uma historia imediata sobre sonhos, envolvia, o futebol, a amizade, eles pararam para prestar atenção junto com as crianças. Após começaram a falar não só dos sonhos mais da dificuldade das famílias, da falta de recursos financeiros.

Aproveitei as conversas para sugerir a criação de uma historia com dramatização. Eles aceitaram a idéia e aos poucos fomos construindo uma peça de teatro. Eles iam falando os acontecimentos e eu ia coordenando em cenas, personagens até que estava pronto uma peça com participação de 25 pessoas entre crianças e adolescentes.

O espetáculo trazia questões envolvendo a família, sonho, infância, alcoolismo, e claro pobreza. Em três semanas ficou pronto e apresentamos uma semana antes do natal na missa da comunidade católica Santa Ana. O espetáculo trazia a vida de uma criança sonhadora, papai Noel, um pai alcoólatra e um tio que fazia de tudo para proteger os sonhos da criança.

O interessante que havia um entrelaçar entre o lúdico, a realidade cotidiana deles. Estávamos dramatizando um tema que não poderia ser explicitado diretamente naquele momento e ao perceber deixei que o lúdico conduzisse a situação. Apresentação foi um sucesso, muitos deles se emocionaram, comentando da apresentação por dias. Em fim estava constituído uma proposta pedagógica de trabalho fundada pela interação nas rodas de conversa entre o mundo apresentado por eles e o método trazido por mim das historias dos livros infantis.

Nos sábados depois da apresentação eu estava com um público que variava de 25 a 38 pessoas entre crianças e adolescentes.

A partir daí construímos um outro trabalho, onde articulava a historia de um livro infantil chamado Guilherme Augusto Araujo Fernandez, mais o campo de futebol, o sonho deles em se torna jogador, mas as promessa dos políticos e de outros que haviam prometidos a eles a construção de uma quadra, a família, o trafico, as drogas e as relações de amizade. Eu apresentei o livro e eles foram construindo a dramatização e aos poucos íamos mudando a história do livro acrescentando os dramas trazidos por eles.

O espetáculo foi apresentado no teatro Grande Hotelo em Osasco no dia do trabalhador do ano de 2006, foi a primeira apresentação deles em teatro de verdade.

O outro trabalho que construímos articulava com o segundo no que se referia aos espaços de lazer da vila, os dramas, o preconceito. Estes elementos serviu de base para mobilizar as questões da Vila Paloma, o preconceito da escola referente a favela, o sonho do futebol novamente, as blitiz duras da policia na comunidade, os óbitos que haviam ocorridos, mães que haviam perdidos seus filhos para as drogas. Criamos um grupo de rap.

A proposta articulava musica, dança composição de letra e ritmo e a dramatização do teatro. Na elaboração da proposta eles falavam para mim que não era possível por que não havia instrumento e nem letra para música. Para os instrumentos fui com eles até uma casa demolida peguei balde e latinhas e fiz barulho dizendo este vai ser os instrumentos e eles disseram que não servia, novamente bati duas latinhas de alumínio, depois duas barras de ferros dizendo a eles que o som de uma música é aquele que permite nos levar a descobertas.

Eles entenderam o recado por que pegaram o cd de rap, ouviram e depois os instrumentos de sucata e como tínhamos feito com o livro no segundo trabalho eles fizeram com a música. Por incrível que parece criaram o ritmo, faltava só a letra. E na conversa articulando o campo, a historia dramatizada, os dramas, todos os trabalhos que havíamos apresentado surge a composição da letra por eles.

Campos de sonho e concentração, tempos de guerra e de realização

De dia futebol e a mulecada em ação. A noite o choro e a escuridão.

A se não fosse favela. O que o que.

A se não fosse favela ( letra da musica)

Derepente passa pela mente que mora na favela, me faz ser homem.

O ultimo trabalho, foi a tentativa de construção de um documentário sobre a historia e as coisas que aconteciam na Vila Paloma, pois todos os trabalhos anteriores nos remeteu ao desejo de trabalhar a existência daquele lugar, suas entrelinhas, o cotidiano, as relações existentes e ao mesmo tempo fazer a critica a desigualdade social, mostrar a produção de sentido, de expressão, de sonhos.

Para este trabalho fomos a campo entrevistando as pessoas da vila, indo a cada local da vila com a finalidade resgatar o significado de cada canto, de reconstruir o drama do córrego quando ainda não era canalizado, de refazer o sentimento de conseguir um local para morar, de mostrar a transformação a partir da interação das pessoas. Em fim resgatar a bibliografia da comunidade, a trajetórias histórica. Montamos o trabalho e apresentamos para os próprios moradores da Vila e do outros bairros, foi extremamente importante reconstruir a historia da Vila, os personagens estavam se vendo diante da própria historia.

Em fim este foi ultimo trabalho, pois fui obrigado por alguns problemas de ordem particular a deixar o trabalho voluntario na Vila Paloma. Os adolescente começaram a trabalhar. Algumas das crianças mudaram de bairro.

A estrutura da creche aumentou por meio do apoio da Itália e novos projetos começaram acontecer lá.

 

Conclusão

Neste presente trabalho por meio do estudo de caso compreendemos que a identidade do educador enquanto ser histórico é fundamental para a compreensão de sua prática, bem como elemento para a construção de sua visão critica do seu objetivo no determinado contexto.

As habilidade possuem uma riqueza fundamental para a construção da prática. E somente estas habilidades historicidade do educador sem os elementos presentes na comunidade não torna possível a construção de um projeto pautado na práxis, uma vez que o educador se constrói em contato com o educando e o educando com o educador e assim se transformam, se constroem mutuamente transformando a comunidade.

Sendo por natureza a comunidade é um espaço de resistência social, embates de lutas simbólicas, de reafirmação da identidade, da pronuncia da palavra do encontro dos educandos com o educador possibilita-se então a constituição de campo de atuação na práxis para o educador social.

Os elementos presentes como possibilidade na comunidade como ferramentas neste campo de atuação estão presentes no diálogo nas expressões, gestos, territorialidade, na historicidade dos educandos, advindas como ponto de partida as suas vivencias, suas visões de mundo enquanto mundo que habitam, existem e representam. Desta forma o educador social deve partir deste ponto proporcionado pelo encontro como prática para a construção de um projeto de educação libertadora.

 

Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1987

______. Pedagogia. Pedagogia da autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

SILVA. Roberto. SOUZA NETO e MOURA. R. ( org). Pedagogia Social. São Paulo: Expressão e Arte, 2009.

 

 

1 Trabalho desenvolvido junto ao Programa de Pós Graduação em Psicologia do Centro Universitário FIEO sob orientação do Prof. Dr. João Clemente de Souza Neto.