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ISBN 978-85-62480-96-6 versão impressa

Sem. de Saúde do Trabalhador de Franca Set. 2010

 

ACIDENTES, DOENÇAS E ADOECIMENTOS DO TRABALHO CONTEMPORÂNEO

 

Violência estrutural e a interlocução com insuficiência renal crônica na classe trabalhadora

 

 

Márcia Cristina Freitas Silva

Assistente Social no Educandário Menino Jesus de Praga; Docente no Curso de Serviço Social da UNIUBE Universidade de Uberaba; Mestranda em Serviço Social pelo Programa de Pós Graduação em Serviço Social da UNESP Campus Franca. Contato:  e-mail: mcfsas@yahoo.com.br

 

 


RESUMO

Trata-se de um estudo bibliográfico acerca da violência, em especial na forma estrutural, que tem como principal objetivo relacionar suas manifestações com o objeto de pesquisa sobre os impactos da hemodiálise para a classe trabalhadora, articulada aos desafios do exercício profissional do assistente social na área da saúde. Neste sentido o texto inicia a discussão considerando o trabalho como base social, a Questão Social e as políticas públicas sociais no Brasil como base para implantação do Serviço Social, a Violência Estrutural no Setor da Saúde e seus reflexos como determinantes de saúde na vida dos renais crônica em hemodiálise.

Palavras-chave: Violência Estrutural. Serviço Social. Saúde. Hemodiálise.


 

 

1 INTRODUÇÃO

Trata-se de um estudo bibliográfico sobre a violência e suas expressões particulares, que tem como objetivo relacionar a temática desenvolvida na disciplina: Violência, Ideologia e Sociedade, do Programa de Pós-graduação em Serviço Social da UNESP/Franca, com a pesquisa para dissertação de mestrado sob o título: o Impacto da hemodiálise para classe trabalhadora, articulada a atuação do assistente social.

Para iniciar as reflexões que estabelecem relação com a proposta de pesquisa, faz-se necessário uma breve contextualização do surgimento da profissão do assistente social e seu objeto de trabalho, os objetivos da pesquisa proposta e suas conexões com o estudo do fenômeno da violência, em especial em sua forma estrutural.

Ao priorizar sobre a matéria em que se incide a ação do assistente social, tentamos resgatar brevemente na trajetória da sociedade brasileira como se engendra a Questão Social, o início da profissão do assistente social, o papel do Estado no estabelecimento das políticas sociais públicas e relação destes com o complexo e desafiante fenômeno da violência estrutural, e suas formas variadas de expressão na vida social e como se relacionam na área da saúde, seus reflexos como determinantes de saúde e em especial na vida do renal crônico em hemodiálise.

O fio condutor do estudo tem como pressuposto o processo histórico que segundo Marx, tem no trabalho o ato fundante do homem enquanto ser social, o trabalho e que faz a interação entre o homem e a natureza, onde este transforma esta última, para satisfazer suas necessidades. Ao transformar a natureza, o homem também se transforma a si mesmo. O ato do trabalho, por sua vez, é o resultado da síntese de dois elementos essenciais: a capacidade de projetar a atividade e de objetivar sua idealização.

Desta forma, o trabalho é o ato a partir do qual o homem se cria a si mesmo, o ato que estabelece uma ruptura com o ser natural e dá origem ao ser social, e é na sociabilidade, na interatividade social (forma própria de existência do homem), e no processo de apropriação do acúmulo histórico e socialmente, que ele se constitui como humano.

 

2 TRABALHO, QUESTÃO SOCIAL, POLÍTICAS SOCIAIS E SERVIÇO SOCIAL

O homem enquanto ser social e histórico produz e reproduz a vida social, e passa a criar novas necessidades, que passam a requerer novos modos de produção para satisfazê-las, sendo este o eixo propulsor do homem, impulsionado desta forma a superar a si mesmo, desenvolvendo a práxis, transformando o mundo e a si mesmo, gerando as transformações da realidade social desenvolvendo novas relações sociais, econômicas e os aspectos que constituem a cultura humana. O processo de desenvolvimento dos modos de produção resultante das relações de produção e das forças produtivas determina as sociedades.

Desta forma a relações de produção se institui como base na qual se estrutura a economia, fundando a sociedade de classes. Formada em sua base pelas forças produtivas: instrumentos, técnicas de produção e a força de trabalho, constituindo a infra-estrutura econômica e sobre esta a superestrutura, jurídica-política e ideológica.

No modo de produção capitalista, o processo de trabalho também produz por meio da dominação do homem sobre os outros homens: a alienação, a exploração e as desigualdades sociais. Tais situações denotam as contraditórias e antagônicas classes sociais, destaca-se nestas: aquela onde os donos dos meios de produção, enriquecem por meio da exploração, da apropriação do excedente mais valia -, a acumulação do capital, resultando no poder (econômico-político-social) e o controle dos recursos, tais condições revertem-se na garantia do processo cíclico e contínuo da manutenção e expansão do capital. Ao trabalhador, não resta alternativa neste processo, que sujeitar-se a vender sua força de trabalho para poder sobreviver.

O conjunto das desigualdades sociais geradas nas relações sociais divergentes leva os trabalhadores a partir de interesses comuns a conscientizar-se da crescente exploração e do agravamento dos problemas sociais a que estavam sujeitos, passando a se organizar e lutar por melhores condições de vida e de trabalho.

O Estado constituído pelos governos, aqui na instância jurídico-político-ideologica, representando os interesses da classe detentora do capital, passa a implantar estratégias que garantam a ordem e o controle social, como resposta as reivindicações da classe trabalhadora.

Nesse contexto os trabalhadores conscientes se reconhecem como classe, submetida à exploração e as condições degradantes de miséria, se organizam em movimentos que se constituiu em força política, pressionam a classe hegemônica a adotar medidas em face à realidade, exigindo respostas de regulação social, como a legislação trabalhista. Segundo Iamamoto (2003, p.66) "Foram as lutas sociais que romperam o domínio privado nas relações entre capital e trabalho, extrapolando a Questão Social para a esfera pública, exigindo a interferência do Estado para o reconhecimento e a legalização de direitos e deveres dos sujeitos sociais envolvidos".

A realidade apresentada decorrente da relação capital trabalho, da exploração e desigualdade social que vivenciam os setores pauperizados da classe trabalhadores, instaura a Questão Social, quanto esta é inserida no rol do Estado.

A 'questão social' não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e da repressão (IAMAMOTO e CARVALHO, 2000, p.77).

Ao contextualizar brevemente a Questão Social, apontamos para as bases que deram origem a profissão do assistente social, assim como seu objeto de trabalho e a necessidade da permanente construção e reconstrução da realidade social.

Segundo Castell (1997), desde o século XVI, o social se objetiva por meio de ações públicas, através de intervenções de assistência aos indigentes e ainda pela regulação do Estado na organização do trabalho. A assistência pública se restringia as situações de indigência, através da assistência religiosa.

As expressões reivindicatórias dos trabalhadores foram impulsionadas pela violência e exploração praticada pelos capitalistas contra eles, o que tornava evidente a desigualdade em relação à classe trabalhadora na luta pela sobrevivência.

A Questão Social no Brasil se inscreve de forma peculiar, em decorrência da trajetória sócio-histórica, que tem início no sistema colonial, baseado no trabalho escravo, na monocultura e no latifúndio de exportação, este conforma a vida econômica, política, social e cultural do país.

Na atualidade, as propostas imediatas para enfrentar a questão social no Brasil, atualizam a articulação assistência focalizada e fragmentada, atrelada ao papel coercitivo do Estado, em detrimento da construção do consenso necessário ao regime democrático.

O fortalecimento do desenvolvimento industrial no país se deu na região sudeste, com concentração nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Neste caso presencia-se o agravamento da questão social, devido à concentração da população ocorrido naquelas metrópoles, com a deterioração das condições de vida da população da área rural como: desemprego, fome, sem infra-estrutura, seca, negação do acesso à saúde e educação, principalmente aquelas da região nordestina. Os pauperizados indivíduos que movimentavam suas máquinas foram expelidos para os morros e periferias, onde a única política pública que atuava constantemente era a da repressão policial e do clientelismo. O desenvolvimento das políticas sociais nas áreas de educação, saúde, assistência social, eram voltadas para a classe trabalhadora inserida no mercado de trabalho, não contemplando os desempregados trabalhadores rurais e aqueles na informalidade.

Neste cenário o Serviço Social é implantado no Brasil, e tem suas origens no contexto do desenvolvimento capitalista e do agravamento da questão social. Sua atuação se desenvolve com base nas ações do Estado, como na criação das instituições assistenciais (LBA, SESI, SENAI, Fundação Leão XIII e outras), significativo espaço ocupacional do assistente social e/ou na execução das políticas sociais públicas de proteção social básica destinada à classe operária e seus familiares.

As formas como se organiza a sociedade, apresenta em seu cotidiano situações que para serem compreendidas, requerem dos profissionais do serviço social, a pesquisar nos diferentes espaços ocupacionais do assistente social, para conhecer a realidade da vida social, possibilitando a construção de bases de dados sobre a população usuária e as expressões da questão social que vivenciam, podendo ser este subsídio para inovadoras propostas de ação.

As transformações em nível mundial e globalizado fortalecem o Estado neoliberal, que repassa para o mercado o papel de regular as relações econômicas, assim as relações de trabalho seguem a tendência do mercado, onde o trabalhador sofre com os impactos da flexibilização dos direitos e condições trabalhistas e, por outro lado, tem-se o investimento do Estado na valorização do capital financeiro. Tais alterações refletem a política pública de privatizações (ampliando o espaço privado daquilo que é público), trazendo como conseqüências o acirramento da questão social sob novas roupagens. (IAMAMOTO, 2007)

Os reflexos da questão social incidem diretamente sobre o trabalho do assistente social, "[...] chamado a implementar e viabilizar direitos sociais e os meios de exercê-los, vê-se tolhido em suas ações, que dependem de recursos, condições e meios de trabalho cada vez mais escassos para operar as políticas sociais" (IAMAMOTO, 2007, p.149), com o aumento das necessidades sociais da população que recorrem aos serviços públicos para terem atendidos seus direitos, garantidos na legislação do aparato do Estado, que prioriza grupos específicos com investimentos, perpetrando a população violências como à fome, a miséria e a exclusão social.

Assim, o Estado tem como aliado a ideologia que reforça no indivíduo (novas) necessidades, que podem ser satisfeitas com o poder do capital, ainda que estas sejam direito. Neste processo o indivíduo é objeto de exploração, de mais valia e suas condições de sujeito sociais são atrofiadas, impossibilitando-lhe de exercer a cidadania legitimada pela participação democrática.

 

3 VIOLÊNCIA ESTRUTURAL E AS CONEXÕES COM O SETOR DA SAÚDE

Iniciamos a reflexão, a partir da etimologia da palavra violência e dos conceitos de vários autores, sem a pretensão de simplificar a temática, ou defini - lá, mas de estabelecer um ponto de partida para sua compreensão e de como ela se expressa e conecta, neste caso, com o objeto de estudo do Assistente Social.

Ao abordar o tema da violência, este nos remete a importância do resgate sócio-histórico, onde se constrói a vida social, materializada no cotidiano da realidade social, sob determinadas condições, tempo histórico e sociedade. As relações sociais que se estabelecem neste contexto expressam os aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais, elementos essenciais para estudo da violência.

Na etimologia da palavra violência, esta deriva do latim violentia, do verbo violare que significa tratar com violência, profanar, transgredir. Tais termos devem ser referidos a vis - ação, que quer dizer força, vigor, potência, força física empregada, mas também intensidade, quantidade, essência ou caráter essencial de algo. Desta forma, pode-se dizer que a palavra tem como significado a ação que transgride o limite, do que é moralmente aceito. Teria então este um fenômeno uma ligação com o debate da questão ética, do valor, da moral, do que é aceito/correto pelos indivíduos e grupos enquanto normas e costumes de um povo, construído na trajetória história de uma determinada sociedade, tempo e circunstância.

Ao tentar compreender a violência, deve-se considerar sua complexidade, pois são muitos e diversificados os fios que compõe o tecido social que envolve o fenômeno, interligam-se, interagem, (re)alimentam-se e se fortalecem. Nesta perspectiva a violência pode se apresentar de múltiplas formas e diferentes apreensões, próprias das interações e características particulares dos indivíduos/coletivo, tanto no âmbito político, social, cultural e histórico, resultante da dinâmica social, por vezes naturalizada enquanto componente cultural.

Apontamos alguns conceitos pesquisados, para Marilena Chauí, a palavra violência denota uma ação que é contra a natureza do ser; coagir, constranger, torturar e brutalizar, pois impede a expressão natural e a liberdade dos indivíduos, [...]a violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psicológico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão, intimidação, pelo medo e pelo terror (CHAUÍ, 1998. p. 2). 

Para a autora, a violência se manifesta nas ações humanas realizadas por indivíduos, grupos, classes, numa dinâmica de relações, ocasionando prejuízo a outrem, expressando as especificidades dos conflitos sociais. Nesta concepção sua origem se dá "nas estruturas sociais, econômicas e políticas, assim como num movimento entre condições objetivas e subjetividades, como algo que é externo a sociedade, porém, permeia todas as camadas que constituem a sociedade sob o signo das mais diversas manifestações" (MINAYO E SOUZA apud MINAYO et. al, 1998. p.14). 

A violência para Yves Michaud (2001) pode assumir duas formas distintas: os estados de violência e os atos de violência. Os atos de violência seriam aqueles que o sujeito exerce a outrem, causando-lhe dano das mais variadas dimensões, com ações que ultrapassam as normas (morais ou jurídica), individuais ou da sociedade. Enquanto nos estados modo de ser ou estar - de violência os indivíduos, grupos ou populações ficam expostos a situações de sobrevivência em que suas necessidades básicas não são providas, excluídos dos direitos inerentes ao ser humano. Neste modo a violência deriva do Estado e seus representantes sobre todos aqueles que se opõem a um governo antidemocrático. Esta última abordagem de violência parece contemplar alguns dos aspectos que ganham visibilidade nas situações vivenciadas no cotidiano de trabalho do Assistente Social.

As reflexões aqui apontadas demonstram os vários significados e papeis atribuídos à violência e sobre tudo a importância de se considerar este fenômeno nos diferentes aspectos da realidade social. Na concepção de Marx y Engels a violência sempre desempenhou "o papel de parteira da história", cada vez que uma nova sociedade vem ao mundo. (FERNANDES apud PAULO NETTO, 1981). De acordo com Baierl (2004), a violência sempre existiu na trajetória histórica da humanidade, onde algumas atrocidades foram e são legitimadas pelos padrões éticos, como aceitáveis. Engels (1981) destaca a violência como impulsora do desenvolvimento econômico. Ianni (2004, p. 168), "[...] como a destruição do 'outro', 'diferente', 'estranho', que busca a purificação da sociedade, a sublimação do absurdo embutido nas formas de sociabilidade e nos jogos das forças sociais […]. Para Hannah Arendt (l994) a violência é um instrumento, que se diferencia do poder, vigor, força e autoridade, necessário nas relações humanas, seria um meio, utilizado como ferramenta para coerção e destruição direta ou indireta nos âmbitos econômico, político, jurídico, com fins de manter o poder sob outros indivíduos, grupos, instituições, aponta ainda para reflexão no sentido político, que quando o - estado - poder se ausenta, predomina a violência, também utilizada para manutenção deste (poder) e o controle social.

Na dinâmica da sociedade brasileira, se engendra a raiz do fenômeno da violência estrutural, materializada no cotidiano por meio da opressão, dominação e poder, onde as grandes mazelas sociais representam o resultado, na consolidação da hegemonia do capital, que na busca por mais lucros, se apropria também das políticas públicas.

Atualmente, a Questão Social e suas múltiplas expressões "[...] passam a tendência ser naturalizada, acompanhada da transformação de suas manifestações em objetos de programas assistenciais focalizados de combate a pobreza ou em expressões da violência dos pobres, cuja reposta é a segurança e a repressão policial" (IAMAMOTO, 2007, p. 163).

Destacamos o sistema societário, como aquele em que se engendra uma das formas de violência a do tipo estrutural, para melhor compreensão recorremos ao seu significado, conforme aponta Silva (2008, p.3):

Trata-se do uso da força, não necessariamente física (ainda que não se abdique dela quando necessário), capaz de impor simultaneamente regras, valores e propostas, quase sempre consideradas naturais, normais e necessárias, que fazem parte da essência da ordem burguesa, ou seja, formam sua natureza. A violência estrutural se materializa envolvendo, ao mesmo tempo, a base econômica por onde se organiza o modelo societário (a estrutura) e sua sustentação ideológica (a superestrutura).

Se a estrutura e superestrutura compõem a sociedade, este sistema necessita de mecanismos que coloquem em prática os objetivos do capitalismo, onde a hegemonia é representada pelo Estado, que tem o papel de sustentar a estrutura de classes e as relações de produção, cria as condições para a produção, através da ação coercitiva e repressiva garantindo a difusão de sua ideologia.  O Estado lança mão das políticas para atender aos interesses de uma determinada classe, em detrimento da outra, neste caso refere-se às condições de exclusão de direitos a que população fica sujeita.

Nesse cenário, a "velha questão social" metamorfoseia-se, assumindo novas roupagens. Ela evidencia hoje a imensa fratura entre o desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social e as relações sociais que o impulsionam. Fratura esta que vem se traduzindo na banalização da vida humana, na violência escondida no fetiche do dinheiro e da mistificação do capital ao impregnar todos os espaços e esferas da vida social. Violência que tem na aparato do Estado, capturado pelas finanças e colocado a serviço da propriedade e do poder dos que dominam, o seu escudo de proteção e de disseminação. O alvo principal são aqueles que dispõem apenas de sua força de trabalho para sobreviver, além do segmento masculino adulto de trabalhadores urbanos rurais, penalizam-se os velhos trabalhadores, as mulheres e as novas gerações de filhos da classe trabalhadora, jovens e crianças, em especial negros e mestiços (IAMAMOTO, 2007, p.144-145).

A violência estrutural se expressa pelo quadro de miséria, má distribuição de renda, exploração dos trabalhadores, desigualdade social, ausência de condições mínimas para a vida digna, falta de investimentos em setores como educação, saúde, habitação, assistência social e outros.

A relação da saúde com a violência estrutural, para melhor fundamentação teórica deste complexo de mediações, utilizou também como referencial algumas obras de Minayo, que abordam a temática: violências e saúde. A violência estrutural conforme conceitua Minayo (1994, p.8), "[...] violência gerada por estruturas organizadas e institucionalizadas, naturalizada e oculta em estruturas sociais, que se expressa na injustiça e na exploração e que conduz à opressão dos indivíduos". Assim, dá ênfase nesta forma de violência como aquela que embasa as demais configurações da violência. Por ser exercida através das instituições tradicionais da sociedade que representam os interesses das classes dominantes, dificilmente apreendidas pelos indivíduos, em decorrência do processo de alienação a que são submetidos.

A autora assinala que a violência, constituindo "[...] um problema histórico, um termômetro social e um indicador de qualidade de vida" (MINAYO, 2005, p.55). Tal afirmação também presente nos estudos de Chesnais (1981), que aponta a violência  como importante indicador para se avaliar a qualidade de vida, pois retratam as condições de existência, trabalho, sociabilidade, os direitos e os deveres dos sujeitos. Sendo assim, a violência pode mostrar como se desenvolve a vida em determinada sociedade, quais os mecanismos utilizados historicamente no enfrentamento ao fenômeno que afeta os indivíduos, grupos ou classes, quais os fatores que incidem sobre a (re) produção do fenômeno a violência e como este se apresenta, cerceando as possibilidades de vida digna.

Portanto, a violência estrutural expressa indicadores que refletem na saúde, entendida na atualidade em sentido amplo, como "[...] resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde" (BRASIL, 1990), tais fatores são considerados como determinantes e condicionantes e saúde. Diante destas considerações as violências estabelecem uma relação direta sobre as condições de saúde de uma determinada população, e nos remete as palavras de Arendt, "[...] a violência, sendo instrumental por natureza, é racional. Ela não promove causas, nem a história, nem a revolução, nem o progresso, nem o retrocesso; mas pode servir para dramatizar queixas e trazê-las à atenção pública" (ARENDT, 1994, p.58). A violência é reconhecida como problema de saúde pública em 2002 pela Organização Mundial de Saúde, ainda que não se configure somente na forma estrutural aqui apontada, encontra-se presente nas discussões organizadas da área da saúde.

Destacamos na violência estrutural algumas de suas manifestações que determinam as condições de saúde da população. Nas diferenças de distribuição de renda, que resultam na desigualdade social, iniqüidade de saúde, pois influenciam pela falta de recursos dos indivíduos, pela ausência de investimentos em infra-estrutura como saneamento básico, habitação, transporte, educação e serviços de promoção e atenção à saúde.

As desigualdades nas condições de vida e a forma como os indivíduos e grupos desenvolvem suas relações sociais, fragilizam os vínculos que compõem a rede de apoio social, fundamentais para a promoção e atenção a saúde.  Os comportamentos são entendidos como aqueles de responsabilidade individual, porém sofrem a influência dos fatores determinantes como informações, pressão pelo consumismo, acesso a alimentação e hábitos saudáveis, lazer e exposição a riscos que causam dano a saúde. As condições de vida e trabalho, acesso aos serviços essenciais como saúde e educação, alimentação, indicam que aqueles em situação de pobreza, expostos a exclusão social apresentam um maior risco em relação à saúde.

Assim a violência estrutural, se manifesta no descaso das autoridades; cortes no orçamento das políticas públicas de saúde; investimentos priorizando a medicina curativa em detrimento da preventiva; reduzido número de profissionais de saúde; não atendendo as necessidades da população; dificuldade de acesso aos serviços (em relação à falta de recursos materiais, humanos, a burocracia, a localização); não implementação de programas específicos de atenção à promoção a saúde. Estes problemas afligem a população, ocasionando prejuízos às condições de vida, além de exercer grande peso sobre a dinâmica da violência estrutural.

O Setor da saúde, diante deste contexto pode desempenhar um papel importante, de enfrentamento às violências, através de suas intervenções de prevenção e promoção na atenção à saúde. Ao pensar em intervenção de prevenção e promoção no caso da violência é importante prever as necessidades de cada população, e conhecer as características sociais, políticas e culturas, propiciando a integralidade como mecanismos de participação e cidadania. No entanto tais estratégias de equidade em saúde, e enfrentamento as violências, requerem investimentos nas políticas públicas, não só do setor da saúde, mas dos demais setores que compõem a sociedade incorporam a integralidade e intersetorialidade para efetivação da equidade e justiça social da população em situação de desigualdade e exclusão social.

Na atuação na área da saúde, em especial no serviço de hemodiálise do Instituto de Hemodiálise e Transplante Renal de Uberaba/MG1, despertou o interesse em pesquisar sobre as implicações sociais que incidem na vida do trabalhador com insuficiência renal crônica em programa de hemodiálise.

O assistente social atua diretamente com os usuários em programa regular de hemodiálise por meio das demandas, em consonância com o projeto ético-político da categoria profissional do serviço social, disponibilizando as informações necessárias à adesão ao tratamento, à garantia do acesso a saúde e a efetivação dos direitos e cidadania.

E nesta realidade que o assistente social é um profissional indispensável na atenção à saúde e que conforme a legislação vigente deverá compor a equipe mínima de atendimento nos serviços de diálise visto que o usuário deve ser compreendido como um ser humano em sua totalidade. Neste universo apresentamos nosso objeto de estudo e seus objetivos: (re)conhecer e analisar o impacto decorrentes no processo de tratamento em hemodiálise para os trabalhadores, desvelar as demandas existentes e as emergentes que envolvem as particularidades deste processo de saúde-doença como subsidio para propor alternativas de mediação profissional do assistente social.

Desta forma faz-se necessário uma breve apresentação sobre a insuficiência renal crônica e o tratamento com ênfase na Hemodiálise. Os rins desenvolvem um trabalho importante no corpo humano, nossa sobrevivência depende do funcionamento normal destes órgãos vitais, que são responsáveis pela eliminação de toxinas do sangue por um sistema de filtração, regulam a formação do sangue e a produção dos glóbulos vermelhos, regulam nossa pressão sanguínea e controlam o balanço químico e de líquidos do organismo e da produção de hormônios. Quando os rins não funcionam apropriadamente, as toxinas se acumulam no sangue, instalando-se enfermidades podendo ser aguda ou crônica.

A insuficiência renal pode ser aguda ou crônica, sendo que no caso da crônica significa a perda lenta progressiva e irreversível das funções renais, o que pode levar o risco de vida, nesta situação a pessoa apresenta vários sintomas e é preciso, então, substituir as funções dos rins de alguma maneira, o que pode ser feito através do tratamento dialítico ou o transplante renal.

Os métodos do tratamento dialítico não substituem a função renal normal, exigem procedimentos em unidades de caráter ambulatorial que tenha recursos físicos e humanos que possibilitam o desenvolvimento adequado às atividades inerentes ao serviço; tal tratamento corresponde em hemodiálise e diálise peritonial. Esses tratamentos substituem parcialmente a função renal, aliviam os sintomas da doença e preservam a vida do usuário, porém, nenhum deles é curativo.

A Hemodiálise é uma das modalidades de diálise também é atualmente segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia (2009) o método mais utilizado de diálise no Brasil (90%). Assim, os avanços tecnológicos e terapêuticos na área de diálise contribuíram para o aumento da sobrevida dos renais crônicos. Este procedimento traz mudanças significativas na vida do usuário, uma vez que sua sobrevida depende de meios artificiais, diante deste novo fato passam por situações de vulnerabilidade, que expõem os sujeitos às violências, como: a desinformação; a dificuldade de acesso aos inúmeros medicamentos de uso contínuo (garantidos em legislação e nem sempre efetivados) e procedimentos como exames complementares; o preconceito em relação às alterações físicas (em decorrência das cirurgias para implantação de cateter e confecção das fistulas, além das modificações em relação à coloração e viso da pele), restrições dietéticas e hídricas, em que os sujeitos devem ter acesso a uma alimentação saudável, específica para este grupo, rica em frutas, verduras e legumes; implicações físicas (diminuição da força física, hipotensão severa, fraqueza, câimbras, enjôos e outros), sexuais (impotência e/ou diminuição da libido); fragilização dos vínculos familiares e sociais; ausência de lazer.

Assim sendo, o usuário terá que se submeter a uma série de mudanças de hábitos de vida, na maioria das vezes com a inevitável interrupção de sua atividade profissional, o que pode acarretar dependendo da situação social, consequências como impacto sobre a situação sócio-econômica; as percepções e experiências quanto à doença crônica, este processo de tratamento é marcado por um período de dependência da máquina e sofrimento, segundo relatado pelos usuários.

Compreender as perdas e/ou interrupções na vida profissional, implica perpassar os campos sociais, econômico, político, cultural, pois se o trabalho satisfaz as necessidades, e é onde o indivíduo vivencia suas experiências de estabelecer suas relações sociais e reproduzi-las, a incapacidade ainda que temporária ou definitiva traz danos pessoais e sociais complexos para a vida deste trabalhador, trazendo uma série e implicações sociais, objeto de estudo da pesquisa.

Segundo Patrícia Ferreira Abreu nefrologista e secretária da SBN - Sociedade Brasileira de Nefrologia, a população de renais crônicos deve dobrar em 10 anos, as principais patologias que levam à diálise ou ao transplante renal são hipertensão e diabetes causas da insuficiência renal crônica - de responsabilidade da saúde básica, podendo se evitar a doença renal crônica, com uma prevenção mais eficaz em geral um exame clínico geral  através da promoção básica de saúde.

A prevenção e o tratamento de doenças renais é uma das que mais sofre com a falta de investimentos, uma as manifestações da violência estrutural. Segundo dados do Ministério da Saúde (2007), cerca de 1,6 milhões de habitantes apresentam algum grau de disfunção renal. O mais preocupante é que as previsões em 2008 apontam que 90% dessas pessoas não sabem de sua doença, afirmam membros da SBN- Sociedade Brasileira de Nefrologia.

 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os apontamentos e reflexões desenvolvidos no decorrer deste artigo nos fazem reconhecer a importância de se compreender a violência e suas formas de expressão, diluído na realidade social presente no cotidiano da prática profissional do assistente social, assim como das demais profissões.

Assim, a violência se apresenta como desafio ao exercício profissional do assistente social, o que requer estudo, análise e discussão para seu enfrentamento e prevenção, frente à complexidade em que o fenômeno se engendra.

Ao estabelecer a relação do estudo da violência com o objeto de pesquisa que busca compreender e analisar as implicações sociais decorrentes da terapia renal substitutiva em hemodiálise a que as pessoas com insuficiência renal se submetem nos remete a refletir sobre suas necessidades e especificidades, possibilitando intervenções destinadas aos grupos vulneráveis, com maior risco de desenvolver a insuficiência renal crônica, através do desenvolvimento de práticas sócio-educativas permanente com foco na prevenção e promoção em saúde, constituindo-se em estratégias "criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano" (IAMAMOTO, 1998, p.20), onde o desafio é transformar a informação em ação com a finalidade de atender as necessidades de saúde da população com resultados efetivos de implementação da política pública de saúde.

Nesse sentido os fatores determinantes e condicionantes em saúde, indicam a realidade objetiva resultante da violência estrutural, e seu enfrentamento se incide sobre contínua reconstrução do objeto, rompendo com a fragmentação e isolamento da prática profissional fortalecendo novas formas resistências à violência. Neste cenário de contradições, se faz necessário assumir nossa participação, compromisso ético-político, "posicionamentos e ações que possam criar reafirmar ou inibir processos violentos" (SILVA, 2008, p.266).

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1 Período de agosto de 2007 a junho de 2010.