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ISBN 978-85-62480-96-6 versión impresa

Sem. de Saúde do Trabalhador de Franca Sep. 2010

 

ACIDENTES, DOENÇAS E ADOECIMENTOS DO TRABALHO CONTEMPORÂNEO

 

Marcas de resistência e assujeitamento: os corpos e o cotidiano de mulheres que trabalham na costura de sapatos1

 

 

Talita Bertanha de FreitaI; Daniela de Figueiredo RibeiroII

IPsicóloga Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Franca- Uni-FACEF. E-mail: talitabertanha@hotmail.com
IIMestra e Doutora na área de Psicologia e Educação. Docente do curso de Psicologia do Centro Universitário de Franca Uni-FACEF. E-mail: ribares@netside.com.br

 

 


RESUMO

Através de um trabalho etnográfico foram feitos três estudos de caso problematizando a vivência de assujeitamento e resistência em três mulheres que trabalham na costura de sapato. Este estudo buscou compreender como se dá o processo de produção de subjetividade de trabalhadores de fábrica de calçado, de bancas de pesponto e de costura manual. Inicialmente foram feitas observações participantes, em seguida, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com três trabalhadoras. Os dados passaram por uma análise de conteúdo. Foram observadas, para além do assujeitamento, micro potências de criação e desejo, possíveis formas de resistência que emergem pela via corporal.

Palavras chave: Trabalho. Saúde. Etnografia. Produção de Subjetividade


 

 

1 INTRODUÇÃO

Seguindo pela linha de pensamento de Michel Foucault, Guilles Deleuze e Félix Guattari a tentativa é problematizar, procurar pelas tramas e texturas da organização social, mental e ambiental dos indivíduos novas formas de resistência, de políticas de vida, de alteridade e de invenção no campo da produção de subjetividades.

A passagem da modernidade para a contemporaneidade ocasionou a mudança de modelo de sociedade, passando de uma sociedade vista por Foucault como "Disciplinar", para um modelo de sociedade identificada por Gilles Deleuze (1992) como de "controle". Hoje, encontramo-nos em um momento de transmutação entre um modelo e outro. O que acontece é a intensificação deste controle disciplinar ao ponto de se abolir o tempo e o espaço. Estamos saindo de uma forma de encarceramento completo para uma espécie de controle aberto, contínuo e instantâneo.

O espaço do trabalho se sobrepôs ao espaço da casa, muitas vezes não sendo preciso se deslocar para vivenciar as duas esferas. Atualmente, frente ao computador ou a televisão aprende-se, viaja-se e trabalha-se em qualquer espaço, no próprio território estático do corpo em seu repouso na cadeira. "Abolição do tempo e espaço em favor de um vetor velocidade desmaterializante" (PELBART, 1993: 41).

O controle contínuo substitui o exame das técnicas disciplinares de modo que ultrapassando o confinamento, o controle se dá em espaço aberto e a comunicação é instantânea. Na fábrica, o que acontece é uma mutação, o modo de produção ultrapassa o espaço fabril, surgem o trabalho temporário e o trabalho a domicílio (DELEUZE,1992).

Antes o foco era elevar cada vez mais a produção e reduzir ao máximo os salários, mas o que acontece hoje é uma transformação da lógica, o espírito da empresa substitui a da fábrica. A empresa, por excelência, tem conhecimento sobre os mecanismos de premiações e de motivação, por exemplo, os desafios, as dinâmicas e os colóquios extremamente cômicos pelos quais passam os funcionários. Antes a fábrica se compunha por uma dupla: patrão e um só corpo de funcionários. A vigilância era unilateral, do patrão à massa de funcionários. Atualmente, a empresa introduz uma rivalidade constante camuflada dentro do corpo de funcionários, o olhar vigilante está impregnado em todos, e cada um está encerrado em si mesmo para uma corrida "sagrada" de superar o outro.

Diante desta realidade minuciosamente apresentada por Deleuze (1992), entre outros autores contemporâneos, Guattari (1987) coloca que o fato mais cruel e massacrante que está em jogo é o desejo, que neste contexto está sendo "esmagado", com exceção de suas formas residuais e "normalizadas". Para o autor, o caminho que o desejo2 encontra é o refúgio, em meio ao deserto de "produções desejantes", nas drogas, na neurose, na psicose, na violência e/ou na imperceptibilidade dos "micro suicídios". "Quem estabelecerá a porcentagem de "acidentes de trabalho" que, em realidade, não eram senão suicídios inconscientes?" (GUATTARI,1987:14).

Pelbart (2003) questiona a própria noção de vida, definindo-a a partir das temporalidades não orgânicas, ou seja, a vida não se reduz aos processos biológicos, mas amplia-se ao contexto de produção material e imaterial (inteligência, percepção, sensiblidade, afetividade, criatividade, imaginação). "O bios é redefinido intensamente, no interior de um caldo semiótico e maquínico, molecular e coletivo, afetivo e econômico. Aquém da divisão corpo/mente, individual/coletivo, humano/inumano [...]" (PELBART,2003:26). Tal perspectiva possibilita enxergar a vida em seu processo de mutação, em seu incessante movimento de criação, cristalização e volta a diluição, morte e transformação.

Utilizando-se das intuições de Michel Foucault e mais tarde os desdobramentos de Guilles Deleuze, Pelbart (2003) situa alguns acontecimentos sociais que sinalizam a vida singular, nua e marginal, sendo a própria potência de resistência frente ao poder sobre ela. A vida, o corpo como força de subversão na medida em que ele faz variar as suas formas, ao modo de um vírus dentro do sistema de produção e consumo na sociedade do capital. De maneira mais ampla, a vida "menor"3 como resistência, o corpo como protesto,  equivale precisamente à biopotencia da multidão.

Baseando-se em Negri e Cocco (2005), que refletiram sobre as condições sociais e políticas dos países da América Latina, analisando o processo de construção da identidade destes países, compreende-se que o Brasil tem como marca registrada um Estado que governa com o assujeitamento das populações exploradas, sendo incapaz de agir sobre a usinagem de subjetividade que produz a sociedade. O que se delineia é um horizonte tão-somente de poder e relações de capital. Para os autores citados acima, tal conjectura produz na camada da população explorada uma possibilidade marginal de sobrevivência, uma selvagem liberdade da força de trabalho, que os autores denominaram como "potência brasileira". "A liberdade do êxodo não é menos liberdade porque se dá em situações desesperadas (...). A fuga do escravo era, e continua sendo, mais livre do que a luta contratual do operário fordista." (NEGRI & COCCO, 2005:71).

Portanto, a luta atual implica na necessidade de se problematizar os padrões dominantes de subjetividade. Ao lado das lutas tradicionais contra a dominação (de um povo sobre o outro, do patrão sobre o empregado, do professor sobre o aluno, do homem sobre a mulher) e contra a exploração (do rico sobre o pobre) é a luta contra as formas de assujeitamento, de massificação, isto é, de submissão das subjetividades, o que faz prevalecer o atual modelo biopolítico (PELBART, 2003).

Partindo desta perspectiva teórica, a pesquisa tratada neste artigo foi realizada na cidade de Franca, interior de São Paulo, durante o período de 2007 a 2009. Tal pesquisa teve como objetivo compreender a modelização dos corpos de trabalhadores da indústria calçadista nos três ambientes de trabalho: domiciliar, bancas de pesponto e fábricas. A cidade-cenário, Franca, tem como principal atividade econômica a produção de calçado masculino. Por ser uma atividade de baixo nível tecnológico, ainda nos dias atuais, apresenta características que a vinculam à manufatura e em certos casos até ao artesanato (BARBOSA; MENDES, 2003).

Observa-se que o trabalho com a costura de sapato, como decorrência de uma conjuntura econômica, torna-se cada vez mais informal e precário. Ao mesmo tempo em que este trabalho compõe-se em territórios "marginais", há ao lado de uma exploração cruel, possibilidades de se encontrar novos modos de organização e alternativas criativas, despontando-se aqui novas micro-políticas de vida.

Este artigo traz como tema três estudos de caso com mulheres imersas no cenário de fabricação de sapato. Uma delas é trabalhadora de costura manual, outra de banca de pesponto e a terceira é trabalhadora de fábrica de calçado. O objetivo foi mapear algumas nuances de suas trajetórias de vida, imbricadas com processos de subjetivação em cada ambiente de trabalho, buscando compreender as políticas de vida e detectar os movimentos de assujeitamento e resistência, partindo do território primário, o corpo.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1   Método

A pesquisa seguiu o método qualitativo e etnográfico que, de acordo com Minayo (1996), baseia-se na busca de diferentes significados de experiências vividas, proporcionando uma fiel compreensão do indivíduo em seu contexto.

2.1.1   Participantes

Na primeira etapa desta pesquisa, foram realizadas observações participantes em dez residências de trabalhadores, sendo que em sete acontecia a costura manual do sapato e em três havia bancas de pesponto. Foram feitas ainda observações em duas fábricas de sapatos, uma delas de médio porte e a outra de grande porte. Na segunda etapa da pesquisa foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, de profundidade, com três mulheres: uma trabalhadora de fábrica, uma trabalhadora de banca de pesponto e uma costureira de sapatos na própria residência. Segue abaixo a descrição de cada uma delas:

1) No cenário da costura manual - Maia4 é uma mulher de quarenta e oito anos, casada, mãe de seis filhos. Maia passou pela experiência de trabalho em algumas fábricas desde a adolescência. Porém, com a gravidez de sua segunda filha, parou de trabalhar fora e começou a costurar sapato dentro de sua própria casa. E assim ficou por vinte e oito anos. Há dois meses, Maia deixou o trabalho de costura de sapato e está trabalhando como coletora de lixo reciclável.

2) No cenário da banca de pesponto - Benta é uma mulher de quarenta e um anos, casada e mãe de dois filhos. Benta começou a trabalhar na costura de sapato aos seis anos de idade para ajudar a mãe. Quando Benta teve o seu primeiro filho, parou de trabalhar fora de casa e começou a costurar sapato na banca de pesponto de sua irmã. Há cinco anos Benta e o marido possuem a própria banca de pesponto no fundo de sua casa.

3) No cenário da fábrica Diva é uma mulher de quarenta e dois anos, casada e mãe de duas meninas. Ela foi criada em uma cidade do interior do estado do Paraná, em um sítio, onde trabalhava desde criança nas lavouras de café. Com treze anos de idade, Diva e sua família se mudaram para o interior do estado de São Paulo. Aos quinze anos de idade Diva passou a trabalhar em uma fábrica de sapatos, o que faz até os dias atuais.

2.1.3  Procedimentos

Os dados e impressões colhidos durante os sete dias a campo de observações participantes, realizadas na primeira fase da pesquisa, foram registrados, rigorosamente, em diários de campo.

As entrevistas, feitas em um segundo momento, foram realizadas de forma prolongada, durante sete encontros individuais com cada participante, com duração média de uma hora à uma hora e meia. Todos os entrevistados assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, em que afirmavam estar cientes do que se tratava a pesquisa, do sigilo sobre os dados, exceto para finalidade científica, e do anonimato, consentindo em participarem.

2.1.4  Análise dos Dados

A análise dos dados recolhidos foi feita por meio de uma análise de conteúdo, segundo os moldes propostos por Bardin (1977) e Minayo (1996). Em adição, a forma de compreensão e escrita dos resultados baseou-se no conceito de Rizoma, descrito por Deleuze & Guattari (1995). Para os autores o sistema rizomático tem como natureza a descentralização dos fatos e objetos não havendo um ponto principal, mas sim um movimento de multiplicidade e heterogeneidade. "Todo rizoma compreende linhas de segmentaridade segundo as quais ele é estratificado, territorializado, organizado, significado, atribuído, etc; mas compreende também linhas de desterritorialização pelas quais ele foge sem parar" (DELEUZE; GUATTARI, 1995:16).

2.2  Resultados e Discussão

A narrativa inicia com um breve relato sobre: Maia, Benta e Diva, seguindo com um questionamento sobre as vias que cada uma das três mulheres toma para si no processo de produção de saúde e de vida.

Três trilhas que se desdobram em infinitos caminhos

Cada uma das três mulheres: Maia, Benta e Diva é um campo de imanência com suas dobras, um universo infinito de dimensões, onde linhas rizomáticas tanto horizontais (de desvios, de desejo, de resistência) quanto verticais (de moralidade, de heranças cultural, sociais e históricas) se acoplam, se pressionam, se proliferam, se cruzam, se ramificam, enfim devém.

As três narrativas passam por um ponto comum: a infância de deveres, a submissão, o trabalho e as heranças patriarcais e moralizantes. Todavia, também há muitos desvios durante o trajeto das três histórias.

Maia

Maia, com o seu corpo-passarinho, apesar do longo período de trabalho com a costura de sapato dentro de sua casa, foi se diferenciando a ponto de abandonar este serviço e "encontrar" a "rua" como espaço de trabalho, e sobre esta relação, Maia e a rua, há diferentes aspectos que se acoplam.

O corpo de Maia e sua extensão pela rua, o seu trabalho como viandante que recolhe, "cata", enxerga os vestígios, o lixo, a riqueza, os objetos, as pessoas da rua. Maia segue o dia pelas calçadas do bairro e seus filhos também a ajudam neste trabalho de recolher o lixo reciclável. Neste itinerário, como não conhecer todos, a vizinhança, as famílias, as fofocas? Enfim, pode-se ver Maia numa zona limítrofe em relação à maioria das trabalhadoras daquele bairro. O cotidiano de Maia, a todo o momento, a impele para uma diferenciação, é como se tivesse que reinventar o ser mulher, o ser estrangeira, o ser trabalhadora dentro da atividade de "catar lixo".

No inicio da pesquisa a casa de Maia foi escolhida entre outras pela grande quantidade de filhos que a ajudavam no serviço de costura de sapato e nos afazeres domésticos e por ser uma família "aberta" a receber "convidados". A paradoxal família de Maia é vista por muitos vizinhos como marginalizada, sendo a casa da desordem, da sujeita. A casa de Maia é, ao mesmo tempo, caótica, ou seja, onde transitam cachorros, cheiros fortes, papelão, papel, plástico, pó, terra, lixo, restos, mas também é bonita: espaço reformado por quatro mãos (dela e do marido), ampliada, há uma grande varanda, paredes pintadas, armários reformados, quartos grandes, um cor de rosa, outro azul; além de que a casa é um espaço de encontro, "sem cerimônias", encontros informais, local sem "barreiras", casa sem limites que propicia conversas, amizades e trocas.

Durante as conversas com a pesquisadora, Maias não se aquietava, ora fazendo sabão caseiro, cozinhando, ora conversando com a vizinha, ou concentrada na conversa com a pesquisadora. Maia, sem amarras no pensamento, dizia o que lhe vinha no momento.

[...] Para começar eu não gosto de muro... Não gosto nada fechado, me abafa, me deixa doida, menina! Me entristece! Quer abafar eu, é me por num murão!  Eu gosto de ver gente sabe, eu gosto de falar oi para um... Eu brinco com o outro... Sabe, converso com todo mundo [...] . Eu gosto de trabalhar num lugar assim livre [...] Eu gosto de ter a minha vida livre sabe... Igualzinho passarinho, eu gosto de ser igual um passarinho... Bater asas assim... Voar... É tão gostoso sabe... Ao ar livre [...]  (SIC) (Maia).

Para a pesquisadora há uma multiplicidade de acontecimentos na vida de Maia que não a deixa "fechar" em um estigma. Foram presenciados cenas e discursos de Maia, nos quais ora se mostrava autoritária e conservadora perante os filhos, ora mostrava atitudes de companheirismo, sem hierarquia e coerções. Os filhos de Maia estavam mesmo à deriva, em contato com os contrastes da rua, drogas, jogos, capoeira, futebol, brigas e gangues. No entanto, na casa de Maia cada filho tinha a sua tarefa de trabalho, o dever de uma das meninas era limpar a casa e separar os materiais (o lixo) recolhido e que ficava no quintal de casa, os meninos dividiam com a mãe o percurso de recolher os materiais pelo bairro, o marido trabalhava em outro serviço, como empreiteiro de obras (pedreiro).  Ao mesmo tempo, os filhos de Maia tinham a porta de casa sempre aberta, ela não os vigiava ou os controlava, após cada um fazer a sua parte dos afazeres domésticos, eles estavam "livres" para fazer o que desejassem.

Benta

Já a trajetória de Benta pode ser vista como um bordado de linhas duras, porém, com suas fissuras, os pequenos desvios. Passando por uma educação religiosa rígida, encerrada em discursos que afirmam a obediência e o temor, Benta se colocava geralmente calada, temerosa, extremamente tímida, respondia às indagações da pesquisadora como se estivesse ameaçada, sempre afirmando suas qualidades. Somente depois que a pesquisadora conquistou um pouco de sua confiança, Benta começou a soltar alguns sorrisos e algumas falas reveladoras escaparam, mas rapidamente foram recapturadas por algum discurso moralizante.

Nos últimos encontros, Benta desabafa à pesquisadora dizendo que há muito tempo quer trabalhar com alimentos, montar uma cantina ou um restaurante, pois se sente realizada em preparar pratos, e observar as pessoas saboreando a sua comida. Mas rapidamente, ela se reiterou e disse que não há possibilidade para realizar seu anseio, pois deve antes de tudo pensar nos filhos. Justifica, ainda, dizendo que houve muito esforço por parte dela e do marido para montarem sua atual banca de pesponto, além de que o seu marido não concordaria. Neste breve momento de "confissão" de seus pequenos e mais ínfimos anseios notou-se o atravessamento de uma alegria em sua face, um entusiasmo, o seu corpo começava a comunicar, a sair da inércia, mas foram instantes, e são realmente assim estes momentos, pequenas escapadelas, linhas flexíveis, desvios.

Ficou claro para a pesquisadora que a linha de flexibilidade mais potente em Benta era a sua relação com a casa, com a cozinha, com os familiares. O espaço da casa que mais lhe dava prazer era a cozinha externa, que ela e seu marido haviam construído com todo o cuidado. Outro aspecto relevante que se soma a estas observações aconteceu durante um estágio de psicologia, onde a pesquisadora juntamente com um grupo de colegas realizou intervenções no bairro onde mora Benta, e foi a sua casa o espaço para o encontro de algumas mulheres da comunidade para a realização de oficinas de culinária.

Diva

A terceira mulher, Diva, apesar do corpo "cansado", se apresentava desde o primeiro encontro com um sorriso de menina, sinalizando "vontade".

Durante a adolescência viveu de forma sofrida a adaptação ao trabalho mecânico e modelar na banca de pesponto. Diva revela uma trajetória de crescimento encarcerada pelo trabalho "disciplinar"; um corpo inchado pela herança de deveres, autoritarismo e medo, mas, ao mesmo tempo, um corpo que escapa pelos encontros alegres na relação com o seu marido, com as suas filhas, com as amizades que fizera durante a sua trajetória de trabalho.

Saltaram aos olhos algumas cenas alegres relembradas por Diva: a liberdade que a "roça" proporcionava ao seu corpo de criança. Apesar do excesso de preocupação da mãe na limpeza, não deixando as crianças brincarem no quintal para não sujarem os pés, Diva escapava com sua irmã pelo quintal, pela fantasia, não havia televisão, mas sim um campo de árvores onde se podia experimentar, brincar, sem o "olho" dos pais a vigiar. Além disso, as histórias da mãe contadas no fim do dia, quando todas se amontoavam em cima da cama, "A gente sentava tudo na cama em volta dela [...]  ela contava que quando ela era criança, onde ela morava, tinha uma arvore [...] Esses dias eu estava lembrando... Eu estava pensando [...] Às vezes era uma história que ela inventou, né?! Sei lá [...]" (SIC).

Mais tarde, quando Diva já morava na cidade, ela vivenciou outros contrastes, a sua adaptação ao trabalho de costurar sapato em um espaço vigiado e encerrado, "[...]  Eu lembro que eu não tinha experiência de trabalhar perto de muita gente... Às vezes o chefe chegava para conversar com a menina (outra funcionária), eu parava de trabalhar e ficava olhando! Ele danava comigo e falava assim, _ "Ou, trabalha! Presta atenção no seu serviço aí! [...]" (SIC).

Mesmo diante deste cenário de disciplina, de linhas rígidas, Diva recorda de suas escapadas. Ela furava os blocos de silêncio e de movimento "robotizante" com suas risadas de menina, risada disparada, baixa e veloz, com seu corpo empolgante que conversava, "tricotava" junto com uma de suas amigas. A pesquisadora, interessada na história instiga, pergunta sobre as coerções do patrão diante destes desvios, frente aquele corpo que vibrava enquanto compunha com a amiga, ao invés de ser "produtivo", Diva responde, "Hihihi...Ele mandava eu calar a boca toda a hora! (risadas) [...]" (SIC).

A adolescência de Diva foi singrada pela educação autoritária do pai. Até ela se casar, quem recebia o seu salário de empregada doméstica e depois de pespontadora era ele. Pelo modo como Diva relata o seu casamento e pelas cenas que ela descreve, este foi um impulso potente de libertação frente aos cuidados coercivos do pai.

Pela percepção da pesquisadora, Diva mostrou ter vivido muita coerção, seja do pai, seja dos patrões, mas também vivenciou espaços importantes que perfuraram a rigidez, criando estratégias onde se podia ser alegre, vibrar, ter outros encontros. Entre muitas cenas que Diva relatou a pesquisadora, será descrita, brevemente, uma dessas que se aproxima muito bem deste movimento de captura e modelização, ou seja, de processo de subjetivação (as circunstancia do trabalho, os deveres, o tempo cronometrado, o patrão, a vigilância), e de soltura e flexibilização. Diva refere-se ao seu ultimo trabalho em uma pequena fábrica de sapato, que ainda conservava um cenário familiar, informal, o que lhe proporcionava a criação de novos espaços, mais flexíveis,

[...] Eu estava acostumada aqui (ela explica onde se localiza a pequena fábrica que antes trabalhava) que era bem diferente! (risadas) [...]. Porque ali (na pequena fábrica) no nosso horário de almoço a gente reunia, numa turminha de mulher, e a gente era assim: "Vamos jogar truco?! Então Vamos!" Ai a gente tinha aquela turminha de jogar truco sabe! Todos os dias no mesmo horário! Nós nem saíamos da fabrica! A gente ficava lá dentro jogando truco! (SIC).

Em contrapartida, o atual trabalho de Diva está sucateando suas forças, sua potência de escapar da rigidez. Ela está trabalhando em uma grande fábrica, intensamente fincada nas engrenagens empresariais, salário por produtividade, auto vigilância e vigilância realizada pelo próprios companheiros de trabalho. As sociedade disciplinares começam a se diluir no cenário contemporâneo e as disciplinas se transmutam em sutis coerções que ocorrem de todas as partes, por todos os lados. A subjetividade é produzida em série, de modo que a vida, despotencializada, é regulada e ordenada pelo capital. As modelizações acontecem pela imersão em um fluxo contínuo de poder sobre a vida.

A fala angustiante Diva encerra esta narrativa, mostrando intenso sofrimento, mas revela uma resistência, um descontentamento que pode germinar o desejo de encontrar outras formas de viver.

Mudou bastante... Porque antes na fábrica você tinha muita amizade, agora não! Agora na fábrica quanto mais eles puderem ferrar a gente, eles ferram... (pausa) [...] Menina! Segundo dia que eu trabalhei lá (na atual fábrica que Diva está) Eu passei mal! [...] Me deu um nervoso, uma coisa ruim... Nem água não parava no meu estomago! [...] (SIC).

O abandono da memória prodigiosa para uma afirmação da Vida

Ao contrário das atuais palavras de ordem - criatividade, invenção e arte, que são ditames e necessidades de uma modernidade tardia. Observa-se que as margens, os não lugares, espaços de sofrimento, abertura para o experimento são os campos ideais para as invenções, para os devires. Lins (2009) dirá que a potência de afirmação da vida é quando não se nega, justifica, acrescenta nada ao sofrimento, mas o "pega pelas mãos" e se utiliza dele na sua força, no que dele se pode extrair de liberdade e abertura. Ou seja, o sofrimento é visto como a própria natureza da vida. Mergulhar nele em seu esquecimento, soltar-se nestas águas é se abrir aos devires, pois este é da ordem da afirmação. Maia atravessa pela sua história filha adotiva, infância de trabalho, casa simples (uma construção pela metade, sem moveis, espaço, apenas o fogão de lenha, poucas cadeiras e camas), relações que não deram certo, filhos desde muito jovem, trabalho (muito!), doença (glaucoma nos olhos e tendinite), filhos e pai doentes (um dos filhos perdendo a audição). Ela não nega a memória e não entrega o seu destino passivamente a uma ordem transcendental, divina ou externa. Maia atravessa. Sai de sua casa como se libertasse de seus vinte oito anos de trabalho de costura de sapato. Realiza uma via sacra pelas ruas, vê o mundo pelos restos, produz um caminho de transformação, de transfiguração. Ela passa recolhendo materiais recicláveis, resgatando no "lixo", nos restos, novas possibilidades.

Maia constrói para si uma nova política de território, de movimento, se contrapondo a estagnação e inércia comentada por Pelbart (1993) sobre a organização da vida contemporânea. Maia atravessa as dores de tendinite, causa pelo excesso de trabalho repetitivo (costura de sapato), atravessa o medo da perda da visão (devido os sintomas de glaucoma). Sobre a pergunta "Quais são as coisas que te fazem tirar o sono?" Maia responde, "Ah... Assim... O que mais me preocupa... O que mais me deixa assim... é só o olho! O olho!" (SIC). Questionando Maia sobre a situação de problemas de saúde que ela, os filhos e o seu pai estão atravessando, como ela se sente e o que fazer, ela diz,

Não... Isso aí até que não me prejudica tanto... Porque a gente não pode ficar dando muita bola para essas coisas... Fica nos cantos amuada... Pensando o que aconteceu... O que vai acontecer... Não vai resolver o problema! Então isso aí não me atinge! Eu faço que eu tenho que fazer, resolvo o que tenho que resolver... Então para mim a minha vida é normal... Para mim, é assim...  A vida certa ou não, não é por causa disso que eu vou me entregar... Vou ficar ai choramingando... Ficar pelos cantos... Ficar emburrada... Ficar sem viver... Não é por causa disso que eu não vou viver...  (SIC).

Lins (2009) trata de um sofrimento que não se assemelha ao culto da dor, da resignação moral, religiosa ou sadomasoquista, mas está ancorado em uma alegria e liberdade mínina, quando se olha de frente para desconhecido, para morte, para o acontecimento sem mesura ou estabilidade. Demanda de si uma capacidade de se deixar ser afetado pelos encontros e devires. Maia resgata em si um "esquecimento", como coloca o autor citado a cima, que não significa a negação, nem uma fuga niilista, mas é uma abertura, um sair do "passado", das prisões do ressentimento, da culpa, para olhar de frente a vida em sua capacidade de morte, sofrimento, criação e experimento.

Diante da doença nas mãos e nos olhos, que a impossibilita de continuar costurando sapatos, ela sai da clausura do trabalho encerrado na casa e encontra uma atividade ainda mais à margem, mais frágil. Defronta-se mais nua e mais excluída socialmente. Mas a partir deste extremo lugar, produz para si novas estéticas de existência. Ela consegue ainda reformar sua casa, ampliá-la, pintá-la, restaurar seus móveis. No caso de Maia esta reforma compreende uma produção de si. A casa e os móveis eram o seu desejo, o seu objetivo. Mas não um sonho de consumo, de ter. A necessidade da casa, tal como ela desejou, era o desejo se ser um território, de tornar ela mesma um espaço, tornar-se casa dos amigos, dos filhos, tornar-se mulher. O seu devir casa passa pela construção de um ser expandido, de um "eu" feito de vizinhos, filhos, pai, marido, lixo, plantas, crochê, sabão caseiro, gente, comida. "O único sonho que eu tinha mesmo era ter uma casa minha, porque naquela época... o povo antigamente era assim... não tinha nada né [...]" (SIC).

Maia recusa a memória prodigiosa do passado, que significa não negá-la, mas também não resgatá-la para justificar ou para entregar-lhe a vida.

Já Benta, trabalhadora de banca de pesponto, parece trazer esta memória pesada e, diante dela, reza e teme. Ela fica no limítrofe fio entre o presente rasgante que pede saída e o passado encarcerado e crucificado que lhe pede silêncio e obediência. Benta resgata o passado entre ressentimentos, agradecimentos e temores. Inicialmente ela diz, "Graças a Deus eu vivi uma infância boa com a minha mãe [...].. Mas ela não deixava gente sair pra rua pra brincar não... Mas eu sempre fui a Benta que sou hoje! (ela solta um pequeno sorriso) Obediente! (Risadas) Então eu sempre fui assim... Fiz tudo certinho" (SIC). Benta relembra de seu passado com muito incomodo, ora responde de prontidão agradecendo a Deus da forma que foi, mas às vezes escapa numa frase de angustia e reclamação e logo se reitera em agradecimento e benevolência. Nas últimas visitas na casa de Benta, falando sobre a adolescência, ela retoma a memória da infância dizendo que chorava para não trabalhar, mas não tinha outra saída.

Quando é criança o sonho era um monte de coisa... Desde os nove anos... Eu ajudava a minha mãe a costurar sapatos... Então não tinha nada...  A gente lutava... Logicamente eu sonhava né... Mas passava né... (ela abre um sorriso desconfortável). A gente vivia mais na realidade... Quando você  tem muito o pé no chão você não vive o sonho... Vive a realidade, né! A realidade é bem diferente... Então é isso (SIC).

Benta durante todo o tempo retoma com todo ardor e seriedade a palavra de ordem, "viver mais na realidade, pé no chão". Nota-se o seu corpo fincado nesta máxima, encerrado em trabalho e obediência. Benta tenta escapar quando diz preferir a fábrica pela menor responsabilidade que o trabalho contínuo da banca de pesponto. Produz sonhos, revelando o desejo de trabalhar com alimentos, mudar de ramo, pois gosta de ver e conhecer pessoas diferentes.

A casa de Benta parece ser sua prisão, encerrando um corpo preenchido pela memória da falta, pelo temor e passividade.  Benta cultiva suas perdas e dificuldades financeiras, trazendo para o presente uma crença religiosa temerosa, apesar de não freqüentar nenhuma igreja.

Porque daqui eu não vou mudar! Aqui vai sempre ser o meu endereço, eu posso ganhar na mega sena... Mas daqui eu jamais vou dispor, porque eu demorarei quinze anos para ter (...) Ah!(pausa) então Deus me deu! Foi um presente de Deus! Presente de Deus você não troca... Porque eu lutei muito, mas ele nunca deu a hora que eu quis sabe... Foi na hora dele (...). Na hora que ele quis... Do jeitinho que ele quis! Do jeitinho que eu sonhei, e ele me deu! Só que aí eu cheguei aqui um dia, sentei numa porta e pensei: "Meu deus, queria tanto uma cozinha grande, para caber todo mundo, todo mundo junto" Aí eu consegui (...). (SIC)

Benta tem o seu papel social comandado pela passividade, buscando uma imagem para si sem rasuras e sem mudanças. A sua casa, o seu papel de esposa e de mãe encaixado nos padrões majoritários5, e sua resignação ao trabalho que não lhe agrada. Benta vive uma luta entre a conservação e o impulso pelo novo, que pede dela "agressividade", no sentido de uma ação, de um "não" para o determinismo do passado infantil e da realidade molar das condições socioeconômicas, um apelo ao desconhecido. A vida pede entrada, o corpo pede voz. Na luta travada, o corpo torna-se o próprio objeto e território de protesto. Benta relata sobre as dores, sobre os sintomas de gastrite nervosa, sobre a cirurgia a que se submeteu há pouco tempo, sobre cólicas e enxaquecas que lhe tomam de assalto. Vive tudo de forma resignada. No entanto, o corpo de Benta inventa protestos diários, pedidos de socorro, de reinvenção de vida.

Mas Benta reluta, busca suas fugas, vagarosamente entra na batalha. No seio familiar busca a sua juventude, as músicas, os jovens com quem gosta de conversar, as festas e os encontros que gosta de promover.

Como trazem Pelbart (2003) e Guattari (2007) a subjetividade humana se constitui de composições de territórios, vivências do passado, de relações atuais com o trabalho, de vizinhança, de ondas midiáticas, de fluxos urbanos e rurais. Enfim, infinitos territórios que se atravessam e se somam.

Diva, trabalhadora de fábrica, traz consigo os fluxos rurais, memórias de uma infância no sitio, juntamente com os fluxos urbanos atuais, do trabalho na cidade, nas bancas de pesponto e na grande fábrica onde trabalha atualmente. Somam-se também as lutas de gênero na singularidade de sua história. Ela traz no corpo esta batalha. Diva recorda com ardor a história de submissão de sua mãe, como mulher, frente ao seu pai, como homem. Ela traz na fala a violência, traz no corpo a contração, o peso. Durante os encontros com Diva ela recorda as cenas de violência física de seu pai sobre sua mãe, de violência subjetiva pela condição de trabalho que sua mãe se submetia. É assim que Diva reconta esta história e refaz sua memória. Ela diz que o seu maior desejo é ir à busca da família de sua mãe e de seu pai, conhecê-los, refazer essa trilha, reinventar essa história, ao mesmo tempo em que se considera reinventando, saindo dos trilhos vivenciados na infância, apontando o que significa para ela trabalhar fora: uma maneira de preservar sua autonomia. No entanto, observa-se que o trabalho lhe toma todo o tempo e espaço. Ao mesmo tempo em que se queixa, Diva exalta a vivência de outro território que não a casa.

Que forças de vida pedem passagem em Diva? O tempo, a criação e a brincadeira, talvez. Diva cria momentos de desejo e intensidade através das amizades. Porém, o controle e a pressão vivenciados em seu atual trabalho constituem um grande desafio.  A máquina molar do capital e da produção lhe engole. A insatisfação lhe ataca o corpo: surgem-lhe sintomas somáticos, enxaquecas, e sintomas psíquicos: insegurança no trabalho, o silêncio, a submissão. O seu corpo termina por se calar, aceitando de forma submissa as marcas à ferro de um cotidiano opressor. Mas sua voz e sua risada encontram vias de expressão. Ela pode brincar ora ou outra. A brincadeira aprendida e vivida em outro tempo e espaço, aquele da cama de sua mãe, repleta de crianças, em um ambiente rural, lhe restou. Através dela, Diva resiste.

 

CONCLUSÃO

As novas formas de controle são transmitidas via informação/formação, sendo o processo de subjetivação o novo corpo deste sistema. Assim, "resistir" diante da velocidade deste controle atual é mobilizar micro-ações, novas políticas de vida, vidas "minoritárias", produzir novas subjetividades (GUATTARI,1987). Criar formas híbridas para o escoamento do desejo, corpo-passarinho de Maia, cozinha-coletiva de Beta, corpo-brincadeira de Diva. Resistência (CHEVITARESE, 2003) não é negar o controle, ou ir contra suas potências geradoras, mas estando imerso nele, utilizando de suas próprias engrenagens, pervertê-lo, transmutá-lo, descodificando-o.

O trabalho de Maia transborda-se pelas ruas, pois não há local que não haja trabalho para ela, enquanto está em casa há o trabalho doméstico e a venda informal de cigarros para a vizinhança. Portanto, "resistir", dentro de sua própria realidade, "marginal" e precária, é criar para si um corpo em devir, abrindo frestas na sua própria organicidade para produzir outras estéticas, um "corpo sem órgãos" que atravessa a sua própria memória e cria, no presente, outras possibilidades. O seu corpo-passarinho voa e encontra outros territórios.

"Resistir" está no âmbito do "menor", nos pequenos encontros, como Diva soube fazer para si enquanto trabalhava em banca de pesponto e depois em pequenas fábricas, através da costura de olhares entre ela e o "namorado", depois com as jogadas de truco entre ela e as amigas no espaço de trabalho. Porém, "resistir" é sempre uma ação para o presente e o instantâneo, Diva, atualmente, sobrevive pela resistência orgânica à opressão vivida na fábrica, pois o desejo pede urgência, procura saídas.

Os encontros da pesquisadora com Benta se configuraram em campos de potencialização. Através de um tipo de agenciamento em que a criação fosse permitida, em que as linhas de fuga, massacradas no cotidiano, tivessem espaço para existir, o seu "corpo-servil" fez-se "vazar": emanaram veios de seu corpo-desejante.

O corpo é o ultimo protesto, objeto/máquina mais potente frente a investida do poder sobre a vida. Maia, Benta e Diva resistem por suas linhas de fuga, porém, quando não há outras escapatórias, outras políticas de vida para se criar, o corpo se torna máquina orgânica de resistência. Como coloca Guattari (1987), não é possível presumir ao certo quantos "suicídios" inconscientes do corpo acontecem no cotidiano frente à espoliação da vida no trabalho, no seio familiar, na vida urbana e nas instituições em geral.

 

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Agnaldo de Sousa; FILHO, Hélio Braga; MENDES, Alexandre Marques. A idéia de classe em tempos de reestruturação capitalista: reflexões entre a teoria e a experiência. In: Anais do Seminário Internacional de História. Maringá: DHI/UEM, 2005.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições70, 1977.

CHEVITARESE, L.; PEDRO, R.: "A questão da "liberdade" na Sociedade Tecnológica, por uma alegoria de Kafka e Dick". In: 27º Encontro anual da ANPOCS, CD-ROM, 2003. p.22-24.

DELEUZE, Gilles. Conversações. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.

DELEUZE, Gilles, GUATTARI, Félix. Mil Platôs Capitalismo e Esquizofrenia. Vol.1. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995.

GUATTARI, F. As três ecologias. Trad. Maria Cristina F. Bittencourt. São Paulo: Papirus, 18. ed., 2007.

GUATTARI, F. Revolução molecular: pulsões políticas do desejo. São Paulo: Editora Brasiliense, 3.ed., 1987.

LINS, Daniel (Org.). O devir-criança do pensamento. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O Desafio do Conhecimento: Pesquisa qualitativa em saúde. 4. ed. São Paulo: Afiliada, 1996. p.105 -147; 218 -220.

NEGRI, A. Cinco lições sobre o império. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

NEGRI, A. Exílio. São Paulo: Iluminuras, 2001.

NEGRI, A.; COCCO. G. Glob(Al): Biopoder e luta em uma América Latina globalizada. Rio de Janeiro: Record, 2005.

PELBART, P. P. A nau do tempo-rei: sete ensaios sobre o tempo da loucura. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1993.

PELBART, P. P. Vida capital: ensaios de biopolítica. São Paulo: Editora Iluminuras, 2003.

 

 

1 A pesquisa apresentada no atual artigo foi subsidiada pelo CNPq/PIBIC.
2 O conceito de "desejo" para Gilles Deleuze e Féliz Guattari segue na contramão do sentido psicanalítico de "falta". Para os autores "desejo" refere-se a uma multiplicidade de forças potentes e imanentes que não pertencem a nenhum sujeito ou objeto, porém os atravessam. O caminho do "desejo" é o arrebatamento do corpo para confluir em singularizações e com isso promover a desestratificação.
3 A palavra "menor" é utilizada como contrário ao modelo hegemômico, majoritário, e sim situado na potência da margem como Deleuze & Guattari (1977) propõe em "Kafka por uma literatura menor".
4 Os nomes de todos os participantes da pesquisa são fictícios.
5 Utiliza-se da palavra "majoritário" não em seu sentido quantitativo. Refere-se à predominância de certas condutas, padrões, comportamentos que são predominantes socialmente. A o contrário do sentido da palavra "minoria" referindo-se as políticas de vida, grupos sociais, pessoas que estão à margem, fora do padrão, até excluídos.