3, v.1Mercocidades e governança multinível no processo de integração regional sulamericanoA lógica de segurança no projeto de América do Sul:componentes do regionalismo brasileiro author indexsubject indexsearch form
Home Pagealphabetic event listing  




Print ISBN 2236-7381

3° Encontro Nacional ABRI 2011 2011

 

Uso de visualização de informações para o estudo de relações internacionais

 

 

Arthur Welle

 

 


RESUMO

O trabalho visa discutir a construção e o uso de uma ferramenta de visualização de informações aplicada ao conjunto de tratados e acordos internacionais organizados pelo Secretariado das Nações Unidas. A ferramenta pretende servir de suporte para a manipulação das variáveis de interesse de um olhar das relações internacionais por sobre esta grande base de dados (dezenas de milhares de tratados). A opção de utilização de representação através de uma visualização de informações oferece vantagens nesta tarefa: reduzindo a complexidade do conjunto de dados; permitindo a apreensão de padrões e desvios de padrões no conjunto de dados; possibilitando a análise multidimensional dos dados. Discutiremos também os limites que as características dos dados e das escolhas na construção da ferramenta impõem sobre os seus possíveis usos.

Palavras-chave: Visualização de Informação; Tratados; Acordos Internacionais; Mineração de Dados; ONU


 

 

1. O uso de visualizações nas Ciências Humanas e, em especial, em Relações Internacionais

Um estudo sobre a documentação visual proveniente da ciência pode ter abordagens muito variadas. Pode ser efetuado seja a partir da história da ciência, da arte ou da tecnologia, seja através de reflexões filosóficas, sociológicas ou cognitivas que tenham como objeto estes mesmos campos (PENNA-FORTE, 2006). Mapas, diagramas, gráficos, visualizações, notações musicais, fotos, croquis, e outras formas de representação visual perfazem tarefas muito variadas na ciência e fora dela.

Do ponto de vista cognitivo, muitos autores enfatizam as vantagens que uma representação visual pode acarretar. Argumentam que os seres humanos desenvolveram ao longo de sua longa história evolutiva aguçada capacidade visual de percepção, e assim heuristicamente as ferramentas visuais adquiriram amplo uso. Aliadas a tecnologias e artefatos externos parte da carga cognitiva foi retirada do observador (GREEN, 2008; DROR & HARNAD, 2009) facilitando tarefas e por vezes as tornando executáveis pela primeira vez (DROR, 2007). Argumenta-se ainda que algumas representações visuais podem ajudar na processabilidade ao limitar a abstração (STENNING & OBERLANDER, 1995), ou ainda guiar o raciocínio ao restringir as inferências possíveis (PRICE, 2002). Podem ainda, ao reduzir a complexidade, ajudar grupos e indivíduos no processo de pensamento em situações complexas demais para serem encaradas exclusivamente pela cognição interna (HOFFMANN, 2007; EBERT et al., 2009).

Podemos dividir grosseiramente em três tipos os usos das representações visuais: a) geração / descoberta de conhecimento; b) comunicação / explanação; e c) sistema de prova.

Devido às vantagens cognitivas já mencionadas, em certos casos as representações visuais são ferramentas de geração de conhecimento. Elas fazem isso de diversas maneiras. Primeiro, ao externalizar uma representação há a possibilidade de explorar os dados de uma maneira distinta, viabilizando a descoberta de novos fatores, relações possíveis, padrões e interações entre variáveis. (FRIENDLY, 2009; GREEN, 2008; HOFFMANN, 2007). O observador pode ainda ser levado a ter insights, ou a criativamente formular novas hipóteses, novas perguntas, ou melhorar velhas perguntas (WIJK, 2005).

Representações visuais têm ainda amplo uso na comunicação de conhecimento, ou, do ponto de vista do receptor, na aquisição de conhecimento já construído. Há tipos de saberes cuja comunicação é muito mais fácil ou simples através de representações visuais se comparado com descrições usando linguagem comum ou matemática (HALLISEY, 2005); exemplos clássicos são mapas para transmitir grande quantidade de informação espacial. Desta forma, representações visuais se aproximam também de uma melhor didática, servindo como facilitadores para transmissão de conhecimento (BURKHARD, 2004; GILBERT & REINER & NAKHLEH, 2008).

No entanto, as representações visuais não se encontram fora do mundo social em que são produzidas e utilizadas. Isso significa que relações sociais e relações de poder devem sempre ser levadas em conta quando este tema é tratado (PENNA-FORTE, 2006, pp.105-115; LATOUR, 1986). Por exemplo, muitas vezes usa-se uma representação visual na comunicação pelo seu valor de convencimento, ou pelo valor simbólico que carrega, numa clara opção retórica (WIJK, 2005; HALLISEY, 2005 pp.358). E há casos em que intencionalmente se tenta enganar o interlocutor através do uso destas ferramentas. (TUFTE, 1990, 1997, 2001; MONMONIER, 1996). Neste caso, as mesmas vantagens cognitivas das representações visuais que fortalecem seu uso em diferentes tipos de comunicação são usadas contra uma boa comunicação. A cultura e o poder estão na base de qualquer construção ou uso de representações, inclusas as visuais. Fugir totalmente disso parece impossível, mas grande parte do perigo pode ser evitado explicitando e tomando consciência dessas relações (HOFFMANN, 2007 pp.21).

É um fenômeno espantoso na contemporaneidade o enorme aumento dos registros de informações sobre quase tudo, variáveis econômicas, demográficas,  sociais, de saúde, e inúmeras outras são medidas, avaliadas e estudadas, desempenhando por vezes papel central em certas áreas de estudos. Parte dos motivos para tanto se devem aos desenvolvimentos tecnológicos recentes que facilitaram muito a coleta, processamento e armazenamento destes dados.

Mas em alguns casos os dados tem características ou sua quantidade é tão grande que é preciso criar novas ferramentas para analisá-los. As visualizações de informação (ou de dados) vêm justamente neste propósito, se aproveitando das capacidades visuais e cognitivas dos seres humanos e das capacidades de modelagem das novas tecnologias, especialmente de computação. As técnicas de representação visual de dados têm vantagens de acordo com os dados a serem representados, mas vale lembrar que há também desvantagens associadas. O clássico exemplo desta balança entre vantagens e desvantagens se vê na comparação entre gráficos e tabelas, o primeiro permite a comparação rápida e verificação de tendências com muita facilidade, o segundo no entanto retêm uma precisão dos dados consideravelmente maior. A escolha do método para lidar com um grupo de dados deve considerar os objetivos desta manipulação. Embora um simples gráfico de barras possa ser considerado uma visualização de informação, convencionou-se usar o termo para métodos alternativos de representação especializados em tentar resolver problemas onde os métodos tradicionais encontram dificuldades (por exemplo: multidimensionalidade dos dados, quantidade muito grande de dados, dados dinâmicos).

Dentro da disciplina de Relações Internacionais não é diferente, temos uma grande geração de informações que podem se beneficiar muito destes métodos. Exemplos bastante interessantes já existem, quer seja na contagem de palavras de discursos de política externa, mapas temáticos, ou análises de redes de ligações terroristas ou de fluxos econômicos.

 

2. Ferramenta de visualização do conjunto de tratados internacionais do banco de dados da ONU

Quando os Estados e outros atores internacionais se relacionam no âmbito internacional eles deixam alguns rastros de suas atividades, quer sejam números de mortos em guerras, quantidade de bens trocados, ou discursos proferidos. Estes rastros podem ser analisados de diferentes formas e pontos de vista pelas relações internacionais como disciplina. De acordo com o tema, com o ponto de vista teórico, com o contexto, e com a qualidade das informações disponíveis, o estudioso coloca um peso distinto em cada tipo de informação de um fenômeno internacional que quer entender. Alguns darão peso maior às variáveis geopolíticas, outros às econômicas. Um destes rastros pouco analisados, especialmente por um ponto de vista distante, são os tratados e acordos internacionais.

Tratados são uma prática ritualizada de ação de Estados e outros atores internacionais cujo histórico de construção social pode ser traçado (DENEMARK et al., 2008). Os fatores mais importantes no processo de construção desta prática estão sem dúvida associados à ascensão dos Estados-Nação como agente políticos internacionais, à tentativa de criar algo semelhante ao direito interno no âmbito internacional, e ao próprio avanço desta prática entre os seus pares (quanto mais esta prática é usada mais ela dá retorno, até o ponto em que ela se torna a norma geral, quando ficar fora dela poderia ser até custoso).

O estudo de tratados na disciplina de Relações Internacionais é mais comum de um ponto de vista particular. Não são infreqüentes os estudos que procuram analisar os motivos e conseqüências de um tratado ou pequeno conjunto de tratados para certos atores políticos internacionais. Também é fácil nos depararmos com várias menções dos tratados assinados por certo governo numa dada análise de política externa. Menos comum, e isto é aproximadamente o caminho que proporemos aqui, é estudar o conjunto de tratados internacionais de um ponto de vista distante, tomando um tratado não por suas implicações políticas particulares para alguns dos atores envolvidos, mas como um evento no conjunto de tratados como um todo.

A qualificação é, portanto, importante: não faremos um estudo de tratados, mas sim de um conjunto de tratados. Propomos a construção de uma ferramenta para análise deste conjunto, usando técnicas de visualização de informação. Para promover uma análise destes dados é preciso em primeiro lugar tornar claro como foi formado e quais as características deste conjunto de dados. Em segundo lugar é preciso explicitar quais as transformações que a ferramenta opera nos dados ao representá-la. Com este objetivo as próximas sessões são dedicadas à descrição dos dados e da visualização respectivamente.

2.1 Os dados

O conjunto de dados escolhido é o banco de dados formado pelo Secretariado das Nações Unidas seguindo as provisões do Artigo 102 da sua Carta:

Every treaty and every international agreement entered into by any Member of the United Nations after the present Charter comes into force shall as soon as possible be registered with the Secretariat and published by it.(ONU[a], 1945. Artigo 102(1))

A motivação para a existência de tal artigo pode ser encontrada em artigo paralelo da Liga das Nações (Artigo 18) e no primeiro dos famosos pontos de Woodrow Wilson: o fim da diplomacia secreta. Esta era entendida como fator importante na persistente desconfiança entre as Nações. Um mundo onde não existisse diplomacia secreta deveria ser um mundo com chances de paz muito maiores.

A publicação dos tratados ocorre na íntegra no United Nation Treaty Series, que em mais de sessenta anos ONU já contabiliza 2400 volumes e mais de um milhão de páginas de tratados. A quantidade de tratados também é muito grande, aproximadamente 50 mil.

Primeiramente os atores presentes no Banco de dados não são de maneira nenhuma constantes, dos atuais 192 Estados-Membros da ONU (e portanto obrigados pelo Artigo 102) só 51 foram membros fundadores e podemos esperar que seus tratados estejam presentes desde 1946 (ONU[f]). Mesmo este conjunto inicial sofreu mudanças consideráveis. Muitos países entraram na ONU depois de se tornarem independentes do colonialismo europeu, assim temos um grande aumento no total de atores nas décadas de 1960 e 1970. Alguns países se juntaram, ou se separaram, formando dois atores distintos (por exemplo, a URSS se dissolveu em 1991). Esta dinâmica coloca dificuldades para a análise do conjunto e especialmente para a representação visual desta, que é obrigada a ser também dinâmica para representar estas mudanças e se manter fiel ao conjunto estudado.

Em segundo lugar estão características formadoras dos tratados em si. De acordo com a definição do que é um tratado o conjunto de dados será composto de uma forma diferente, o grande problema é que não há uma definição na Carta para 'tratado'. O Secretariado deixa para os Estados-Membros o poder de decidir se este ou aquele documento é um tratado de acordo com o significado do Artigo 102 (ONU[e], Anexo). Isto só desloca o problema da definição para os Estados. Assim o entendimento que um Estado tem de seus documentos define quais são aqueles que este considerará um 'tratado' a ser submetido ao Secretariado da ONU, e isto por sua vez define quais os documentos presentes neste banco de dados para aquele país.

É impraticável tentar asseverar para cada ator em cada período qual foi sua prática com relação aos tratados, mas podemos perceber facilmente que as ações destes não são aleatórias, estão cercadas pelas normas gerais de ação, dadas pelo direito internacional, pela prática dos outros atores, e no caso particular pela regras de registro do Secretariado da ONU. De todo modo temos que levar em conta que em situações particulares os atores podem querer burlar estes padrões de ação se isto lhes for benéfico. De maneira geral podemos dizer que tratado é um documento de contrato feito sob o direito internacional, concluído entre atores internacionais com poder de fazê-lo, normalmente na forma escrita (ONU[h], 1999, p.3).

Um tratado se distingue de um mero acordo político por estar amarrado ao direito internacional, quando gera direitos e deveres para as partes conforme as regras do direito internacional.

O Secretariado baseado nas suas provisões (ONU[c]; ONU[d], 2006; ONU[e], 1999; ONU[g]) e também nas Convenções de Viena de 1969 e 1986 sobre os direitos dos tratados define ainda outros limites para o registro dos tratados no seu banco de dados, dos quais seleciono os mais importantes: a) só são registrados tratados já em vigor para pelo menos duas das partes; b) as partes tem de ter "capacidade de celebrar tratados", assumida para os Estados e concedida para Organizações Internacionais de acordo com as provisões de cada organização; c) todas as ações que modifiquem o primeiro documento deverão ser também levadas a registro (aproximadamente 50 mil atos subseqüentes estão também registrados); d) o Secretariado age como depositante de um lista de acordos multilaterais (mais de 500), e mantém o status dos participantes destes atualizado.

Os registros são feitos junto à Seção dos Tratados do Office of Legal Affairs (OLA), departamento do Secretariado. Estes são traduzidos e preparados para publicação no Treaty Series, num índice cumulativo, e na Internet. Há uma série de dados associados a cada um destes documentos, tais como datas, local de assinatura, tópico de assunto do tratado, lateralidade. É uma compilação destes dados que utilizaremos como base para fazer nosso próprio banco de dados. Este banco de dados é posteriormente transformado em uma representação visual através da ferramenta que veremos a seguir.

2.2 Construindo a ferramenta de visualização de dados

Ao construir a ferramenta inúmeros objetivos foram levados em conta, preparando-a para ser útil para uma análise sob o olhar das relações internacionais. Isto é, o resultado final reflete duas perguntas: quais informações eram fornecidas pelos dados; quais dados poderiam ser requisitados por um olhar das relações internacionais. Finalmente ao decidir que a melhor forma de manipular estes dados seria através de uma visualização de dados também os limites da ferramenta escolhida foram determinantes para definir as variáveis escolhidas para análise.

O primeiro objetivo da ferramenta é dar ao observador um aspecto geral dos padrões, estrutura e características do conjunto de dados. O segundo objetivo é reduzir a complexidade do conjunto ao ponto que essa grande quantidade de informações seja expressa e ainda assim seja possível sua compreensão. O terceiro objetivo é o de permitir ao observador manipular as variáveis contidas no conjunto da melhor maneira de acordo com seu interesse.

De acordo com o primeiro e segundo objetivos escolhemos uma visualização que representasse através de linhas os tratados ligando dois pontos que representariam os atores. Essa opção se assemelha a uma análise de rede, muitas vezes presente nos estudos políticos. A diferença crucial é dada pela forma de representar a rede, fixando a posição dos atores num círculo (e excluindo com isso a possibilidade de usar proximidade entre atores para representar uma variável) dando total ênfase nas ligações feitas, permitindo uma disposição destes de forma mais clara.

Para o terceiro objetivo mapeamos as variáveis passíveis de manipulação, que possivelmente fossem de interesse de um olhar das relações internacionais e que pudessem ser representadas da forma como escolhemos. São basicamente: quantidades, distribuição, lateralidade, diferenças nos assuntos dos tratados, diferentes datas de assinatura e entrada em vigor, e diferentes tipos de atores envolvidos (Estados, Organizações Internacionais).

Vejamos alguns usos potenciais. Poderia ser interessante para um analista ver somente os tratados bilaterais, ou somente os multilaterais, ou a soma dos dois. Poderia ser interessante para o analista ver a quantidade de tratados que um dado ator faz com os outros, e comparar estas quantidades com a de outros países ou outras épocas. Poderia ser interessante para alguns ver somente as quantidade e distribuição dos tratados associados com o meio ambiente, ou com a questão militar. Poderia ser interessante pra outros escolher representar somente os tratados de um dado período que lhe interessasse (ex. o período de governo de um dado presidente) para comparações com outros períodos. Para um pesquisador que começa uma pesquisa e tem pouco conhecimento sobre um dado ator internacional o uso da ferramenta pode servir como ponto de partida. Para o pesquisador que tem uma idéia já bem formada sobre as ações internacionais de um ator internacional a ferramenta poderia ser usada para saber se esta idéia está refletida nos padrões de tratados e acordos internacionais, em outras palavras o pesquisador pode construir uma hipótese para ser testada pelo contraste com a representação destes dados empíricos (ex. imagina-se que a política externa do governo Lula para com a África seja de aproximação, será que isso se reflete na quantidade e distribuição de tratados?).

Com dados parciais, que englobam somente os tratados bilaterais registrados junto ao Secretariado da ONU de 1945 até 1987, podemos apresentar a ferramenta com algumas imagens. Estão presentes 158 Organizações Internacionais e 210 Estados, número maior do que o atual número de participantes da ONU pois alguns Estados que não existem mais estão presentes. O número de tratados neste banco de dados parcial é de aproximadamente 24 mil.

 

 

A visualização usa por base um gráfico de dependência radial (usando a biblioteca FLARE para Adobe Flash) modificando as linhas centrais com técnicas de aglomeração (HOLTEN, 2006). As imagens geradas são compostas por dois anéis concêntricos. O anel interno é dividido em várias sessões, cada uma delas representando um ator distinto. O tamanho de cada sessão é determinado pelo programa de acordo com a quantidade proporcional de tratados que cada ator tem no banco de dados (logo, atores com mais tratados registrados serão representados por uma sessão de anel maior). O anel externo representa o superior hierárquico dos atores do anel interno, o que chamamos de 'conglomerados'. Os conglomerados das imagens acima são os continentes e organizações internacionas, cada sessão do anel externo representa um deles. Assim, todos os países da África estão representados por sessões do anel interno logo abaixo de uma grande sessão do anel externo (o 'conglomerado') que representa a África. Ao gerar a visualização o usuário tem a possibilidade de clicar em uma das sessões dos anéis e com isso gerar uma nova visualização somente com os tratados do ator representado pela sessão clicada. A Figura 2 mostra os padrões de distribuição dos tratados de EUA. As Figuras 3 e 4 mostram  os tratados do Brasil de 1955 até a o golpe de 1964 e do golpe até a redemocratização respectivamente.

 

 

A ferramenta permite a análise geral da dinâmica histórica da prática social do uso de tratados pelos agentes internacionais. É possível observar o aumento desta prática, ou as difusões dos assuntos relativos aos tratados num dado momento histórico. A ferramenta permite ainda a manipulação dos dados e a rápida apreensão de padrões dentre as variáveis apresentadas para atores específicos ou para conjunto de atores.

No entanto, uma ligação, ou o conjunto de ligações, através de atos internacionais pode significar mais do que o seu termo jurídico explícito (obrigações e direitos entre atores internacionais sob leis internacionais)? Significa, por exemplo, amizade ou afinidade entre Nações? Se verificado, o grande aumento no total de atos internacionais significa mais interdependência? Atos internacionais são bons indicadores para a chamada globalização? O estudo do conjunto de atos internacionais é um bom indicador para integração entre Nações? Seria um bom indicador para regionalismo? O estudo do conjunto de atos internacionais gera um bom indicador para o sucesso ou insucesso de uma dada diplomacia? Seria um bom indicador para o sucesso de uma política externa, por exemplo, de aproximação entre duas Nações? O que o aumento de atos internacionais de um tipo (por exemplo, referidos ao meio ambiente) pode dizer sobre mudanças na forma de fazer política internacional? Há correlação entre quantidade de atos internacionais e fluxos econômicos? As mudanças históricas no conjunto de atos internacionais podem indicar ciclos de expansão e retração da diplomacia, de uma dada Nação, por exemplo, do Brasil? Há diferenças entre os padrões dos tratados entre épocas onde há uma hegemonia global dominante e épocas onde há ausência desta (DENEMARK[a], 2008 p.2)? A quantidade de ligações ou o tipo delas pode ter alguma correlação positiva ou negativa com a possibilidade de guerra entre Nações (SUGANAMI, 1996)? Estas são questões ainda por serem desenvolvidas.

A abordagem que utilizaremos traz consigo perigos e também boas oportunidades. Conscientemente adepto de um ponto de vista distante e pouco minucioso sobre cada tratado do conjunto estudado o perigo é sucumbir a esta tendência de reduzir atos internacionais a quantidades e disposição de conexões, quando estes têm importância, uso e significado diferente em seu contexto real particular. Por outro lado cremos que a organização e disposição destes atos internacionais ajudarão na compreensão geral destas relações no seu conjunto, e talvez permitam descobertas de novas características antes escondidas, que mereçam atenção minuciosa e particular.  A ferramenta proposta, por ser limitada pelas características dos dados e pelas capacidades da visualização, terá de ser acompanhada necessariamente de ressalvas e limites de uso. Ainda assim, pelo apresentado aqui cremos que ela pode ser relevante para alguns estudos das Relações Internacionais.

 

Bibliografia

AUST, Anthony. The Theory And Practice Of Informal International Instruments. International and Comparative Law Quarterly. VOL. 35, pp. 787-812, 1986.

BAYER, Reşat. Diplomatic Exchange Data Set v2006.1, 2006, retirado de http://correlatesofwar.org/ (último acesso em 5 de maio de 2011).

BURKHARD, Remo A. Learning from Architects: The Difference between Knowledge Visualization and Information Visualization. Proc. Eigth International Conference on Information Visualization (IV04), Londres, Julho de 2004.

CARD, Stuart K. MACKINLAYU Jack D. SHNEIDERMAN, Ben. (Org.) "Readings in Information Visualization: Using Vision to Think". Editora Morgan Kaufman, São Francisco. 1999.

DENEMARK, Robert A. HOFFMANN, Matthew J. [b] Just Scraps of Paper?: The Dynamics of Multilateral Treaty-Making. Cooperation and Conflict; VOL. 43; p.185. 2008.

DROR, I. & HARNAD, S. Offloading Cognition onto Cognitive Technology. In Dror, I. &  Harnad, S. (Org): Cognition Distributed: How Cognitive Technology Extends Our Minds. Editora John Benjamins, Arsterdam, 2009.

DROR, I.E. Gold mines and land mines in cognitive technology. In DROR, I. E. (Org.). Cognitive Technologies and the Pragmatics of Cognition (pp.1-7). Editora John Benjamin. Amsterdam. 2007.

EBERT, Achim. DIX, Alan. GERSHON, Nahum. POHL, Margit.. Human Aspects of Visualization. In.  GROSS et al. (Org.): INTERACT 2009, Part II, LNCS 5727, pp. 965-966. 2009.

FLARE. Data Visualization for the Web http://flare.prefuse.org/ (acesso em 16 de setembro de 2009)

FRIENDLY, Michael & DENIS, D. Milestones in the history of thematic cartography, statistical graphics, and data visualization. York University. 2009.

GILBERT, John K.; REINER, Miriam; NAKHLEH, Mary. "Visualization: theory and practice in science education. Editora Springer. Dordrecht, Holanda. 2008.

GLEDITSCH, Kristian Skrede, WARD, Michael D. Visualization in International Relations. In. Alex Mintz and Bruce M. Russett, (Org). New Directions in International Relations, pp. 65-91. Lexington Books Press, Lexington, 2005.

GREEN, T. M.; RIBARSKY, W., e FISHER, B. Visual analytics for complex concepts using a human cognition model. Visual Analytics Science and Technology. IEEE Symposium , pp. 91 - 98, Novembro 2008.

HAFNER-BURTON, E. M., Kahler, M., Montgomery, A. H. : "Network Analysis for International Relations", International Organization, 2009.

HALLISEY, Elaine J. Cartographic Visualization: An Assessment and Epistemological Review. The Professional Geographer, 57(3), pp. 350-364. Blackwell. 2005.

HELD, David, MCGREW, Anthony, GOLDBLATT, David e PERRATON, Jonathan. "Global Transformations: Politics, Economics and Culture". Polity. 1999.

HOFFMANN, Michael H. G. Cognitive Conditions of Diagrammatic Reasoning. In SEMIOTICA - Special Issue On Peircean Diagrammatical Logic. Georgia Institute of Technology - School of Public Policy. Atlanta USA. Fevereiro de 2007.

HOLTEN, Danny. Hierarchical Edge Bundles: Visualization of Adjacency Relations in Hierarchical Data. IEEE Transactions on Visualization and Computer Graphics, VOL. 12, NO. 5, Setembro/Outubro 2006.

LATOUR, Bruno. Visualization and Cognition: Thinking with Eyes and Hands. H. Kuclick (Org.), "Knowledge and Society Studies in the Sociology of Culture Past and Present". Jai Press vol. 6, pp. 1-40. 1986.

MONMONIER, M. "How to lie with maps". (2º edição) University of Chicago Press. Chicago e Londres.1996.

NEUMAYER, Eric. Geography, Power and Ideology: Diplomatic Representation in a Spatial, Unequal and Divided World. Research Papers in Environmental and Spatial Analysis No. 122. The London School of Economics and Political Science. Londres. 2007.

NIEROP, Tom. Systems and regions in global politics : an empirical study of diplomacy, international organization, and trade, 1950-1991. New York: Jokn Wiley & Sons. 1994.

ONU[a]. "Carta da ONU", versão em português, retirado de http://www.un.org/spanish/Depts/dpi/portugues/charter/  (acesso em 16 de junho de 2011).

ONU[b]. United Nations Treaty Collection Overview. Acesso em 16 maio 2011. http://treaties.un.org/Pages/Overview.aspx?path=overview/overview/page1_en.xml.

ONU[c]. Registration and Publication of Treaties and International Agreements: Regulations to Give Effect to Article 102 of the Charter of the United Nations. (Adopted by the General Assembly on 14 December 1946 [Resolution 97 (1)], as modified by resolutions 364 B (IV), 482 (V) and 33/141 A, adopted by the General Assembly on 1 December 1949, 12 December 1950 and 18 December 1978, respectively)

ONU[d]. Treaty Handbook. Preparado pela Treaty Section of the Office of Legal Affairs. United Nations Publications No. E.02.V2, Nova York, 2006.

ONU[e] Treaty Reference Guide. (disponível em http://untreaty.un.org/ola-internet/assistance/guide.pdf ultimo acesso em 16 maio 2011). 1999

ONU[f].  Growth in United Nations Membership, 1945-Present.  http://www.un.org/members/growth.shtml (acesso em 16 de junho de 2011).

ONU[g]. Repertory of Practices of United Nations Organs: Extracts relating to Article 102 of the Charter of the United Nations. V. 5, 1955; Supplement Nº 1 (1954-1955) V.2, 1956; Supplement Nº 2 (1955-1959) V.3, 1960; Supplement Nº 3 (1959-1966) V.4, 1967; Supplement Nº 4 (1966-1969) V.2, 1970; Supplement Nº 5 (1970-1978) V.5, 1979; Supplement Nº 6 (1979-1984) V.6, 1985; Supplement Nº 7 (1985-1988) V.6, 1989; Supplement Nº 8 (1989-1994) V.6, 1995; Supplement Nº 9 (1995-1999) V.6, 2000; Supplement Nº 10 (2000-2009) V.6, 2010. Codification Division: Office of Legal Affairs. United Nations.

PENNA-FORTE, Marcelo do Amaral. Iconografia Científica: um estudo sobre as representações visuais na ciência. Tese de doutorado apresentado ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. Campinas. 2006.

PRICE, Sara Janet. "Diagram Representation: The Cognitive Basis for Understanding Animation in Education". Tese de doutorado em filosofia da Universidade de Sussex, Inglaterra. Cognitive Science Research Paper 553. 2002.

RUSSETT, B. M. and LAMB, W. C. Global patterns of diplomatic exchange, 1963-64. Journal of Peace Research VOL. 6, pp. 37-54. 1969.

SMALL, M. and SINGER, J. D. The diplomatic importance of states, 1816-1970: an extension and refinement of the indicator. World Politics VOL. 25, pp. 577-599. 1973.

STENNING, K. & OBERLANDER, J. A cognitive theory of graphical and linguistic reasoning: logic and implementation. Cognitive  Science , 19 , 97 - 140. 1995.

SUGANAMI, Hidemi. Correlates. In "On the causes of war". Oxford University Press. 1996

TUFTE, Edward. "Envisioning Information". Cheshire. Graphics Press. 1990.

-------------------- "Visual Explanations: Images and Quantities, Evidence and narrative". Cheshire. Graphics Press. 1997

-------------------- "The Visual Display of Quantitative Information". Cheshire, CT: Graphics Press, 2001.

VIENA CONVENTION ON THE LAW OF TREATIES 1969. Disponível em http://untreaty.un.org/ilc/texts/instruments/english/conventions/1_1_1969.pdf

WIJK, Jarke J. van. The Value of Visualization. Proceedings of IEEE on Visualization pp.79-86. 2005.

WUSTEN, Herman; DENEMARK, Robert A; HOFFMANN, Matthew; YONTEN, Hasan. The Map of Multilateral Treaty-Making 1600-2000: A contribution to the Historical Geography of Diplomacy. Tijdschrift voor economische en sociale geografie. (versão online; no prelo) 2011.