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Print ISBN 2236-7381

3° Encontro Nacional ABRI 2011 2011

 

Potências emergentes e hegemonias em crise: uma análise das relações causais no passado e possíveis analogias com o presente

 

 

Bruno Hendler

Mestrando em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (IREL-UnB) e bolsista da CAPES

 

 


RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo compreender a relação causal entre a crise de uma hegemonia mundial e a ascensão de potências emergentes sob a perspectiva do sistema-mundo.
Para tanto, faz-se uma apresentação teórica preliminar dos conceitos de hegemonia segundo Antonio Gramsci e caos sistêmico segundo Giovanni Arrighi. Para Arrighi, o sistema internacional oscila entre momentos de governança e caos, sendo que o último significa o aumento da instabilidade causada pela corrosão do tripé hegemônico (centralidade econômica; poder brando - soft power, e; poder coercitivo - hard power) frente a contradições internas e desafios externos representados pelas potências emergentes.
Assim, parte-se das seguintes premissas, que são complementares e ocorrem simultaneamente: a) a hegemonia só entra em crise porque surgem concorrentes externos que estão além do controle de suas instituições, forças armadas e superioridade econômica, e; b) os emergentes só conseguem contrabalancear a superioridade hegemônica porque as estruturas deste poder entram em contradição interna e expõem seus limites.
Em seguida analisa-se a interação entre hegemonias em crise e potências emergentes, ao longo da história moderna e contemporânea, à luz dos conceitos previamente debatidos. Para fins didáticos, há três subtópicos relativos, cada um, a um dos pilares em crise do poder hegemônico.
Por fim, pretende-se trazer para a realidade atual os conceitos apresentados e verificados empiricamente pelos fatos históricos. Seguindo a divisão didática nos três pilares hegemônicos, busca-se relacionar o enfraquecimento do poder norte-americano frente às suas próprias contradições internas e ao crescente protagonismo internacional das potências emergentes.
Nas considerações finais são apontadas semelhanças e diferenças do atual caos sistêmico com os do passado. As semelhanças são relativas à interação da hegemonia com os emergentes, enquanto as novidades ficam por conta da interdependência complexa que impossibilita um choque bélico entre ambos os pólos mas traz temas inéditos como o terrorismo e as mudanças climáticas.

Palavras-chave: crise hegemônica; potências emergentes; caos e governança


 

 

1 Introdução

A primeira década do século XXI pode ser definida pela palavra transição. Estamos longe de conhecer o porto de chegada deste processo, mas é inegável que as transformações que tomaram curso nos últimos anos são profundas e encontram raro paralelo na história. A suposta crise da hegemonia norte-americana e a crescente projeção dos chamados "emergentes" no cenário internacional são temas que têm aquecido o debate acadêmico, empresarial e midiático, mas ainda que ambos os temas ganhem espaço para debate, é importante ressaltar sua influência mútua, por vezes despercebida entre os especialistas.

Nos meios de comunicação, a sigla BRIC (composta por Brasil, Rússia, Índia e China) ganhou destaque graças às altas taxas de crescimento da economia de seus integrantes. Embora haja mais diferenças do que convergência de interesses, juntos eles representam 21% do PIB mundial e sua participação na economia global tem aumentado qualitativamente.

Em contrapartida, a cobertura da mídia nos países desenvolvidos (em especial nos Estados Unidos e União Européia) relata crises econômicas e tensões sociais ligadas à exaustão de dois modelos de capitalismo que vigoraram desde o pós-guerra. A repercussão destes acontecimentos tem gerado uma noção de declínio das estruturas que garantiam poder e riqueza a estas sociedades, sugerindo que a hegemonia norte-americana em particular e a supremacia ocidental de forma geral estariam caminhando para uma crise terminal.

O presente artigo tem como objetivo compreender a relação causal entre a crise de uma hegemonia e a ascensão de potências emergentes, apoiando-se no conceito de caos sistêmico de Giovanni Arrighi. Muito se fala da emergência dos BRICs e da crise da ordem mundial centrada nos Estados Unidos, mas pouco se escreve sobre a relação entre ambas. Portanto, pretende-se buscar na abordagem do sistema-mundo e na comparação com processos semelhantes no passado algumas ferramentas que facilitem a compreensão do atual momento das relações internacionais.

 

2 O caos sistêmico

Desde seu surgimento em fins da Idade Média, o sistema-mundo moderno passou por fases de reorganização profunda de suas bases econômicas, políticas e sociais. Em sua trilogia1, Giovanni Arrighi nota a oscilação entre duas tendências do sistema-mundo moderno2: o caos e a governabilidade. Esta decorre da capacidade de um poder hegemônico em garantir ordem e estabilidade sistêmica, minimizando o "estado de natureza" hobbesiano, ou seja, a insegurança que predomina na relação entre Estados soberanos.

Quando esta ordem entra em crise, abre-se um leque de oportunidades para novos players, que se lançam na concorrência empresarial e competição estatal para "abocanhar" o vácuo deixado pela hegemonia, acentuando a instabilidade e a insegurança entre nações. Arrighi define o caos sistêmico como3:

(...) uma situação de desorganização sistêmica aguda e aparentemente irremediável. Quando há uma escalada da competição e dos conflitos que ultrapassa a capacidade reguladora das estruturas existentes, surgem nos interstícios novas estruturas que desestabilizam ainda mais a configuração dominante de poder. A perturbação tende a reforçar a si mesma, ameaçando provocar, ou de fato provocando, um colapso completo na organização do sistema (Arrighi; Silver, 2001, p. 42).

Portanto, a crise e o colapso de uma ordem mundial decorrem tanto do enfraquecimento das "estruturas existentes" - alicerçadas no poder hegemônico - quanto da ascensão de "novas estruturas" que buscam, através da competição econômica e/ou da contestação política e militar, um rearranjo sistêmico, com uma nova divisão do trabalho, da riqueza e do poder.

A questão que permanece é: há uma relação de causalidade entre crise hegemônica e ascensão de novas potências? As "estruturas existentes" perdem sua capacidade reguladora porque já nascem com contradições internas que se manifestam em determinado momento? Ou entram em declínio porque não são capazes de dar respostas sistêmicas aos desafios impostos por forças externas (as "novas estruturas")?

A premissa deste trabalho é que as duas variáveis são complementares e só existem juntas. Assim, o mesmo raciocínio pode ser expresso de duas formas: a) a hegemonia sempre enfrenta desafios, mas só entra em crise porque surgem concorrentes que estão além do controle de suas instituições, forças armadas e superioridade econômica, ou; b) os emergentes só conseguem contrabalancear a superioridade hegemônica porque as estruturas deste poder entram em contradição interna e expõem seus limites.

 

3 A crise do tripé hegemônico e o caos sistêmico

Baseando-se em Antonio Gramsci, autores de diversas correntes como Giovanni Arrighi, Robert Cox e Joseph Nye adotam o conceito de hegemonia como um poder que exerce, em termos de Maquiavel, amor e temor em relação a seus subalternos. Com diferentes interpretações e metáforas, estes autores contemporâneos admitem que uma hegemonia é calcada em três pilares: centralidade econômica; capacidade de gerar consenso e ser vista como benéfica para o coletivo (soft power); e a posse de um poder de coerção que está acima dos demais (hard power).

Os autores do sistema-mundo e da teoria crítica vão mais longe na história e afirmam que desde o advento da modernidade surgiram três hegemonias mundiais: a holandesa na segunda metade do século XVII, a britânica em meados do século XIX e a norte-americana na segunda metade do século XX. Quando o mundo passava por guerras prolongadas e caos sistêmico, estes países inovaram e souberam aproveitar a oportunidade de fraqueza de seus concorrentes para reorganizar o mundo à sua imagem e semelhança.

Nos momentos de reorganização sistêmica (oficializados em acordos de pós-guerra), estes países foram capazes de garantir nova rodada de governança global ao consolidar os pilares de sua hegemonia. As inovações empresariais lhes garantiram a centralidade na economia mundial, a participação decisiva mas pouco desgastante nas guerras lhes garantiu uma assimetria de poder coercitivo e as mudanças sociais internas lhes garantiram um apelo ideológico sobre seus subalternos.

Porém, em determinado momento as estruturas de poder e riqueza criadas pela hegemonia atingem um ponto de saturação, fazendo emergir contradições inerentes à sua própria lógica. Assim, pretende-se analisar cada uma das três variáveis e buscar indicadores que comprovem a interação dos emergentes com a hegemonia em crise.

3.1 A crise da centralidade econômica

Dos três pilares hegemônicos, a crise da centralidade econômica é a primeira a se manifestar e a mais difícil de ser combatida. A grande ironia do capitalismo verificada por Adam Smith (Arrighi; Silver, 2001, p. 40-41) é que a crise decorre do sucesso do modelo econômico vigente. De tão bem sucedida em difundir o seu modelo de acumulação, a hegemonia entra no processo irreversível de expansão financeira, quando há mais capital disponível do que "canais estabelecidos" de produção e comércio para reabsorvê-lo. Atividades "virtuais" como concessão de crédito, câmbio de moedas, agiotagem e especulação se tornam mais rentáveis do que os setores "reais" da economia, gerando uma hiperacumulação de capital - dentro e fora dos limites de poder hegemônico.

A acumulação que ocorre dentro do modelo hegemônico provoca uma "cegueira" ilusória nas elites, que acreditam estar vivendo o auge de seu modelo econômico. Porém, este "momento maravilhoso" é fruto de bolhas financeiras provocadas pela virtualização da economia e excesso de capital4.

Enquanto a economia da potência hegemônica sofre uma expansão financeira e suas empresas perdem lucratividade, do "lado de fora" alguns Estados semi-periféricos começam a atrair os capitais "encalhados" nos centros financeiros, reciclando-os por meio de inovações empresariais. Assim, as expansões financeiras tiveram como função histórica:

Aprofundar a crise do sistema, fazendo brotar estruturas regionais de acumulação que desestabilizaram ainda mais o antigo regime e anteciparam a emergência do novo. Uma vez desorganizados os antigos regimes, sob o peso de suas próprias contradições, estava preparado o terreno para que os novos regimes se tornassem dominantes, recompusessem a economia mundial em novas bases organizacionais e promovessem uma nova rodada de expansão material da economia mundial capitalista (Arrighi, 1996, p. 244-245).

Portanto, a hiperacumulação de capital tem dois efeitos que intensificam-se mutuamente. Do ponto de vista hegemônico, o excesso de liquidez faz cair a taxa de lucro dos empresários, que passam a vislumbrar no mercado financeiro, na especulação e no comércio de moedas, possibilidades de se obter lucros maiores do que os obtidos na produção e comércio. Já para os Estados semi-periféricos que logram atrair os capitais "encalhados" da hegemonia, a crise se transforma em oportunidade para desenvolver novos modelos empresariais, cujos produtos e serviços vão, gradativamente, criando novos mercados e conquistando clientes e fornecedores que outrora foram exclusivos das empresas do país hegemônico.

Não por acaso, durante sua expansão financeira (a partir de 1870) a Grã-Bretanha deixou de ser a "oficina do mundo" para se transformar no "banco do mundo". Sua balança comercial apresentou um déficit crescente, chegando a duplicar, de 62,2 para 124,5 milhões de Libras, em apenas uma década (1871-1880) (CURY, 2006, p. 29). Por outro lado, houve uma elevação dos rendimentos financeiros, através de serviços e juros líquidos.

 Com a lucratividade da "economia virtual", a queda dos lucros na "economia real", e o saldo sempre positivo do Balanço de Pagamentos, Londres testemunhou um acúmulo sem precedentes de capitais ociosos, que acabaram encontrando destinos variados, em especial, os emergentes do final do século XIX: EUA e Alemanha.

Enquanto os emergentes investiam em setores de ponta da 2ª revolução industrial (química, eletricidade e petróleo) e apoiavam grandes corporações, o modelo de indústria familiar inglês, extrovertido e liberal, estava obsoleto e incapaz de acompanhar o ritmo de seus novos concorrentes, mais eficazes e protegidos por seus governos. Assim,

A Grã-Bretanha passou a integrar um grupo de grandes potências industriais, mas deixou de ter a liderança da industrialização. Na verdade, entre as nações industrializadas era a mais lenta e aquela que revelava sinais mais óbvios de declínio relativo (Hobsbawm, 2003, p. 123-125).

Os reflexos destas transformações econômicas logo seriam sentidos nos outros dois pilares hegemônicos.

3.2 A crise do soft power hegemônico

Antes de se tornarem hegemonias mundiais, os três exemplos históricos inovaram não apenas em termos econômicos, mas também através de rupturas sócio-políticas internas que contestaram regimes obsoletos. Após assumirem o controle do Estado, os grupos que lideravam estes movimentos de rompimento mudaram radicalmente a forma de inserção internacional de seus países. Assim ocorreu com a Holanda após a obtenção da independência e luta contra o medievalismo dos Habsburgo espanhóis, com a Inglaterra após a Revolução Gloriosa do século XVII que contestava o absolutismo, e com os Estados Unidos após a Guerra de Secessão, contestando o modelo econômico escravagista e liberal dos estados do sul.

Após longos períodos de caos sistêmico, estes Estados chegaram ao final dos conflitos com condições de reorganizar o mundo à sua imagem e semelhança. Nos acordos de pós-guerra, o seu peso econômico lhes conferia um alto poder de barganha, possibilitando à elite destes Estados difundir, para o resto do sistema, sua lógica econômica e sua visão de mundo (de acordo com seus interesses, é claro). Assim a Holanda foi determinante na elaboração dos acordos de Westfália (1648), a Inglaterra no Congresso de Viena (1815) e os EUA em Bretton-Woods (1944) e na criação da ONU (1945). Mais do que determinantes, estes países se tornaram referência para os demais, irradiando sua cultura, crenças e sendo alvos de inveja e admiração.

Não obstante, afetado pela crise da centralidade econômica, o poder "soft" da hegemonia também entra em declínio. A expansão financeira obriga o Estado a agir contra as instituições que criara anteriormente para proteger seus próprios interesses. Fiori (2007, p. 105) enfatiza a ação desestabilizadora da hegemonia ao afirmar que "é a própria potência vencedora que desestrutura sua 'situação hegemônica' porque só ela tem condições de se desfazer das regras e instituições que construiu em algum momento". Já Arrighi enfatiza o poder desestabilizador dos emergentes, pois conforme estes aproveitam a expansão financeira para desenvolver novos modelos de acumulação, também passam a contestar as convenções que mantém a rigidez do sistema. Logo, a visão de ambos os autores não é contraditória mas complementar pois tanto hegemonia quanto emergentes acabam, de uma forma ou de outra, desfazendo-se de convenções antiquadas à nova realidade.

Em fins do século XIX, a idéia de um mundo unificado pela lógica liberal inglesa era contestada com o protecionismo dos emergentes, e o conceito de equilíbrio de poder europeu fora abalado com a unificação de uma Alemanha revisionista em 1870. Para manter o status quo, a Grã-Bretanha entrou numa corrida armamentista naval com a Alemanha e deixou de lado seu tradicional isolamento das querelas políticas na Europa, unindo-se a França e Rússia na Entente Cordiale.

Ao final da Primeira Guerra Mundial, o fracasso da Liga das Nações e a situação econômica do entre-guerras sacramentaram a extinção do soft power britânico. A crise das democracias liberais (e do liberalismo econômico inglês) gerou modelos de governo muito diferentes e até politicamente antagônicos nas décadas de 1920 e 1930. Mas todos tinham em comum a intervenção do Estado na economia, como os EUA do New Deal, a União Soviética dos planos qüinqüenais, e as economias centralizadas e autárquicas de Alemanha, Itália e Japão.

Assim, a postura de emergentes revisionistas e/ou protecionistas aliada a atitudes inglesas agressivas extinguiram a Pax Britannica. Logo, a crise do poder brando desta hegemonia foi resultado tanto das próprias ações (cada vez mais agressivas) quanto das contestações levadas a cabo pelas novas potências.

3.3 A crise do hard power hegemônico

O soft power tende a predominar quando a hegemonia está em seu auge, o que garante maior grau de governança ao sistema. Porém, com sua economia perdendo fôlego (para si mesma e para os concorrentes emergentes) e suas convenções sendo anuladas (por novas visões de mundo e por suas próprias ações unilaterais), a superioridade bélica da hegemonia tende a ser enaltecida para intimidar rivais e compensar derrotas políticas e desvantagens econômicas.

Por outro lado, conforme os novos players ganham espaço na economia mundial, precisam garantir a segurança de suas fontes de riqueza, desenvolvendo tecnologias de guerra que façam frente aos outros emergentes e à própria hegemonia. Por ser o jogador que mais tem a perder, este poder é impelido a aumentar seus gastos com defesa, comprometendo sua economia (em processo de financeirização) e deteriorando a imagem de liderança consensual e benéfica ao coletivo.  Como conseqüência, o sistema se distancia da governança e se aproxima do estado de natureza hobbesiano, ou seja, do caos.

Historicamente, é possível identificar dois tipos de poderes emergentes. O modelo autônomo, representado pela França do século XVIII (monárquica e revolucionária) e pela Alemanha, desde sua unificação até a Segunda Guerra Mundial (com a breve exceção do período da República de Weimar). Estes regimes buscaram difundir a força sua visão de mundo e construir uma nova ordem através da contestação política e da conquista militar. Foram os catalisadores das guerras do caos sistêmico.

Como resposta a estas ameaças expansionistas, surgiram coalizões formadas pelos demais países ameaçados, que foram liderados pelo outro modelo emergente: o integrado à hegemonia em declínio. Este é o caso da Grã-Bretanha, cuja revolução industrial foi fermentada pelo capital "encalhado" em Amsterdã e que teve papel central na luta contra a França de Napoleão. E também o caso dos EUA, cuja industrialização atraiu capitais financeiros da bolsa de Londres e que teve papel importante nas duas guerras mundiais contra a Alemanha.

É importante salientar que a potência emergente que surge integrada à hegemonia também contribui para o declínio da ordem vigente, pois ao transformar os capitais "encalhados" em novos modelos empresariais, supera a lógica capitalista anterior, na qual estão calcadas as empresas da hegemonia. Porém, ao contrário do modelo autônomo, o integrado não transfere a concorrência empresarial para o plano político-militar, seja por razões de afinidade cultural, localização geográfica ou interdependência econômica. Assim se justifica a aliança dos holandeses e ingleses contra a França (monárquica e napoleônica) no século XVIII e a aliança dos norte-americanos com os ingleses nos dois conflitos mundiais contra a Alemanha.

 

4 A crise hegemônica norte-americana e os emergentes do século XXI

A reacomodação de forças que ora testemunhamos não é novidade na história do sistema-mundo moderno. Suas raízes encontram semelhanças no declínio de outras hegemonias mundiais e na ascensão de potências concorrentes, umas mais agressivas e revisionistas, outras mais integradas à ordem mundial.

A divisão do artigo nas três linhas do tripé hegemônico tem a função didática de analisar o processo abrangente pelas partes que o compõem sem ignorar a estreita relação entre elas. Seguindo este raciocínio, busca-se a seguir, examinar os três pilares da hegemonia norte-americana e sua relação com as forças emergentes.

4.1 A crise da centralidade econômica norte-americana e a emergência de novos modelos de acumulação

As instituições criadas em Bretton-Woods5 ao final da Segunda Guerra Mundial e seus programas de reconstrução e desenvolvimento garantiram duas décadas de pujança econômica mundial - a "era de ouro do capitalismo" segundo Hobsbawm (1995) - tendo os EUA (e suas empresas transnacionais ou ETN's) como força motriz. "A ajuda militar a governos estrangeiros e os gastos militares diretos dos Estados Unidos no exterior (...) forneceram à economia mundial toda a liquidez de que ela precisava para se expandir. (...) o comércio e a produção mundiais se expandiram, de fato, numa velocidade sem precedentes" (ARRIGHI, 1996, p. 307).

Porém, em princípios da década de 1970 a contradição de Adam Smith apareceu mais uma vez: os anos de desenvolvimento econômico resultaram em excesso de capitais especulativos nas economias centrais de então (EUA, Alemanha e Japão). Visando manter a competitividade de suas empresas frente às concorrentes européias e japonesas, o governo norte-americano desfez-se das instituições de Bretton-Woods, acabando com o padrão ouro-dólar para controlar as finanças mundiais através da emissão de sua própria moeda (ARRIHI, 1996, p. 319). Assim, o sucesso de Bretton-Woods acelerou seu próprio fim (FRIEDEN, 2008, p. 368), pois tal como as companhias de comércio para a Holanda e as indústrias familiares para a Grã-Bretanha, as ETN's norte-americanas geraram um excedente de capitais que ganharam "vida própria".

Como conseqüência, houve uma liberalização dos fluxos de capital mundo afora e a ação das empresas transnacionais fugiu do controle dos governos, ou seja, a iniciativa privada passou a controlar as finanças mundiais, que adquiriram uma dinâmica própria.

Em meados da década de 1970 o volume das transações puramente monetárias realizadas nos mercados monetários offshore já ultrapassava em muitas vezes o valor do comércio mundial. A partir daí, tornou-se impossível deter a expansão financeira (ARRIGHI, 1996, p. 309).

Com a expansão financeira, houve uma escalada da competição entre empresas que, para sobreviver, deslocaram suas bases produtivas para regiões periféricas do mundo, inaugurando um padrão de acumulação flexível (HARVEY, 1992) baseado na subcontratação ou terceirização multiestratificada (ARRIGHI; SILVER, 2001, p. 156). Nesta lógica, as grandes corporações se ligam a uma série de pequenas empresas especializadas, livres de burocracia ou hierarquia e com mão-de-obra intensiva e de baixa remuneração, dinamizando o setor produtivo e visando os mercados globais.

Neste processo se destacaram as nações do Leste da Ásia. Frieden (2008, p. 447) aponta os elementos que favoreceram a rápida industrialização dos tigres asiáticos (Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Cingapura) a partir da década de 1970: produção para exportação; atração de capital estrangeiro; investimentos pesados em capacitação da força de trabalho local; e desenvolvimento da infra-estrutura.

Não obstante, o caso da China é o que mais chama a atenção. As reformas implementadas pelo Partido Comunista Chinês a partir de 1978 na agricultura, indústria, tecnologia e forças armadas, tiveram o objetivo de preparar o país para uma inserção decisiva na economia mundial. A criação das Zonas Econômicas Especiais (ZEEs) e a desvalorização do yuan foram fundamentais para o aumento dos Investimentos Diretos Estrangeiros na China (RIBEIRO, p. 18), que se transformou no pólo mundial da produção industrial, exercendo grande influência sobre seus vizinhos asiáticos e inundando os mercados de todo o mundo.

Portanto, as últimas décadas testemunharam um deslocamento do centro de produção mundial semelhante ao ocorrido em fins do século XIX. A economia hegemônica (EUA) afunda em sua própria "virtualização" financeira enquanto uma região não-central atrai boa parte dos capitais ociosos para desenvolver uma nova lógica de acumulação. E este fenômeno prossegue até hoje, pois boa parte das centenas de bilhões de dólares despejados pelo FED6 para salvar os bancos norte-americanos da crise financeira de 2008 tem encontrado destinos mais atraentes nos países emergentes, pouco contribuindo para a recuperação da economia dos EUA. Ironicamente, assim como os EUA reciclaram os capitais "encalhados" em Londres em fins do século XIX e começo do século XX, hoje são os emergentes, em especial a China, que reciclam os capitais excedentes de Wall Street.

4.2 A crise do soft power norte-americano e as visões alternativas de mundo

O poder brando de um país é um indicador subjetivo e difícil de ser mensurado, pois ainda que esteja amparado em instituições e convenções multilaterais, sua capacidade de gerar consentimento está ligado a inúmeras variáveis culturais, sociais e históricas. Não obstante, é lícito afirmar que o soft power norte-americano enfrenta desafios internos e externos.

Os desafios internos dizem respeito à postura contraditória do governo e da sociedade norte-americana em relação aos valores que fizeram deste país um símbolo na luta contra a tirania e a opressão. A década de 1990 teria visto um revigoramento do seu soft power, com a vitória na Guerra Fria, a crença no neoliberalismo como último estágio da história e sua promoção através do Consenso de Washington. Afinal, nada mais apropriado do que um "consenso" para exercer o poder brando. Assim, as operações militares lideradas pelos EUA na década de 1990, respaldadas pela comunidade internacional, seriam apenas a constatação de sua indiscutível supremacia.

Não obstante, após os atentados de 11 de setembro de 2001 a política norte-americana assumiu um caráter mais unilateral. Fiori (2008, p. 18) afirma que os EUA deixaram de ser uma hegemonia benevolente e adquiriram traços de império, ou seja, a coerção passou a prevalecer sobre o consenso. O uso da tortura na prisão de Guantánamo e a invasão do Iraque à revelia do Conselho de Segurança da ONU são exemplos de como o poder hegemônico pode desfazer-se de regras e instituições que criou em algum momento e agir contra os valores que prega. Neste caso, ao contrário do que Fiori afirma, os EUA não maximizaram poder, apenas fizeram valer sua vontade de forma mais direta e agressiva, desestabilizando ainda mais o sistema.

Quando os EUA se colocam do lado de fora do direito internacional e das instituições internacionais e renunciam à pretensão da legitimidade, o que resta é o governo pela força. Este autoritarismo global desmantela o quadro institucional internacional que os EUA contribuíram a criar ao longo das décadas (PIETERSE, 2009, p. 129).

Do ponto de vista externo, Paul Kennedy afirma em artigo para a revista Veja (edição 2193) que nas últimas décadas houve uma "redução da capacidade dos Estados Unidos de influenciar países como o Brasil, a Rússia, a China ou a Índia", ou seja, as sociedades dos países emergentes (e também as de países menos desenvolvidos) têm adotado posições cada vez mais críticas em relação aos valores defendidos pelo governo dos EUA e difundidos pela indústria cultural norte-americana.

Temas de âmbito global não são discutidos sem a presença dos emergentes. A reformulação de antigas instituições como o Conselho de Segurança da ONU e a criação de regimes internacionais ligados a mudanças climáticas ou à não proliferação de armas nucleares, por exemplo, são processos que demandam um protagonismo responsável das novas potências e concessões objetivas por parte dos países centrais. A novidade é que este rebalanceamento de funções e responsabilidades decorre de um longo e extenuante processo de negociações em diferentes tabuleiros e não da destruição provocada por uma guerra entre os dois pólos.

Portanto, os foros de negociação multilateral, seja no âmbito do comércio, segurança, meio ambiente ou outros temas, têm a urgência de reformar seus processos de tomada de decisão, diluindo o poder dos países centraisfrente à importância dos emergentes. E assim como nos caos sistêmicos do passado, os valores e convenções positivados em um contexto antigo de governança global serão questionados e reformulados até darem origem a um novo conjunto de instituições, mais sensíveis às demandas das sociedades periféricas.

4.3 A crise do hard power norte-americano e os novos centros de poder

A novidade geopolítica mais importante do atual caos sistêmico é, segundo Arrighi e Silver (2001, p. 285) a bifurcação das capacidades militares e financeiras do sistema-mundo, ou seja, ao passo que o Leste da Ásia se torna a região econômica mais dinâmica do mundo, os EUA continuam como única superpotência militar de alcance global. Para Paul Kennedy esta é a "perna" mais forte do tripé hegemônico norte-americano, pois se constitui a partir de alianças e acordos militares bilaterais em que os EUA

(...) se colocaram como o ator principal em cada uma delas e em cada região. Assim, na medida em que dependem dos EUA para sua segurança, os demais atores relevantes do sistema de alianças se relacionam prioritariamente e estão mais próximos dos EUA do que entre si, o que, se não inviabiliza, dificulta a possibilidade desses atores em montar uma aliança militar que desafie o poderio norte-americano (GARRIDO, 2009, p. 73).

Não obstante, é possível apontar novas ameaças ao hard power norte-americano. Do ponto de vista interno há os custos (financeiros e políticos) da manutenção de um poderio bélico muito superior a qualquer outra nação do mundo em tempos de crise econômica, além da crise existencial enfrentada pela OTAN7 desde o fim da Guerra Fria.

Porém, são as ameaças externas, de três naturezas distintas, que mais preocupam os policymakers. Os emergentes têm ocupado espaços geopolíticos tradicionalmente ligados aos EUA, aumentando o que Fiori (2008, p. 40) chama de "pressão competitiva ao redor do mundo". Neste sentido, o autor sugere os seguintes desafios: a política da Alemanha voltada para o Leste Europeu e Rússia (Ostpolitik), reforçando laços com estes países em detrimento da relação com a OTAN e os EUA; a busca da Rússia pela retomada de sua área de influência histórica na Ásia Central, Oriente Médio e Leste Europeu; a aproximação entre Rússia e China na Organização para Cooperação de Xangai - uma organização de cooperação política e militar cuja proposta é ser um contrapeso aos EUA e às forças da OTAN; e o crescimento da influência chinesa na Ásia e na África, que embora tenha um caráter diplomático e econômico, tende a se transformar em expansionismo militar, abalando seriamente as relações com três aliados dos EUA: Índia e Japão e Taiwan.

Dentre estes desafios, o chinês é o mais difícil. Para Henry Kissinger8, o DNA tanto dos EUA quanto da China pode gerar uma relação de rivalidade, pois ambos não têm muita experiência em cooperação de igual para igual. Segundo matéria especial da revista The Economist, os EUA procuram constantemente sinais de agressividade e não comprometimento chinês, enquanto a China busca evidências de que os EUA e seus aliados conspiram contra sua ascensão. O resultado desta tensão temperada pelo conflito na península coreana, guerra cibernética, modernização do aparato militar chinês, e apoio dos EUA a Taiwan, dificilmente se transformará em um "duelo final" (FIORI, 2008, p. 68), mas, cedo ou tarde, alterará a configuração de poder regional do Pacífico Ocidental.

O outro tipo de ameaça ao hard power dos EUA é do tipo não convencional - as chamadas "guerras assimétricas", travadas tanto fora quanto dentro de casa. Estas ameaças não decorrem da ação de Estados emergentes que, em tese, agem racionalmente, e sim de grupos não-estatais ligados a redes de terrorismo. De nada vale a superioridade militar dos EUA diante de um homem-bomba no metrô de Nova York, Londres ou Madri ou de uma emboscada nas estradas montanhosas do Afeganistão. Para Kennedy,

A guerra convencional baseada na logística perfeita, na cadeia de comando e superioridade de material bélico, a guerra ao estilo Patton, não funciona em cenários onde os tanques não rolam pelas planícies, mas se arrastam combalidos pelo Passo Khyber (KENNEDY, Revista Veja, 2010).

Há ainda um terceiro tipo de ameaça que alia a ação racional do Estado à insurreição contra o Ocidente: os programas nucleares de Irã e Coréia do Norte. A capacidade de destruição adquirida por estes países ao desenvolver armas nucleares, reduz (ou até congela) a superioridade coercitiva dos EUA, que é forçado a buscar soluções negociadas e nem sempre favoráveis aos seus interesses.

Conforme os emergentes industrializavam suas economias e máquinas de guerra em fins do século XIX, a Grã-Bretanha perdia a capacidade de coagi-los a favor de seu interesse. Com isso, a Alemanha entrou num espiral de confrontação da hegemonia britânica que levou o sistema ao caos em duas guerras mundiais. Por mais que haja um aumento da "pressão competitiva" e algum atrito com os EUA, os emergentes do século XXI (em especial a China e a Rússia) não parecem seguir o exemplo de confrontação nos moldes da Alemanha imperial e nazista. Já as guerras assimétricas, a ação de grupos terroristas e a proliferação de armas nucleares são desafios inéditos e sem solução aparente, verdadeiro beco sem saída - pelo menos por enquanto - tanto para hegemonia quanto para emergentes.

 

5 Considerações finais

A relação entre uma ordem hegemônica em crise e o surgimento de novas potências é um fenômeno presente na história moderna e contemporânea. Em muitos aspectos, os sinais que vemos hoje são raros, mas podem ser também identificados nos períodos de caos do passado, cujas guerras acabaram por reorganizar o sistema sob novas bases de governança. Em contrapartida, dentro deste pano de fundo de aparente repetição, há uma série de variáveis inéditas que constituem verdadeiro desafio para os especialistas e que podem distanciar (ou aproximar) o suposto caminho de caos e destruição.

Os EUA enfrentam hoje uma crise de seus pilares hegemônicos e, visando manter o status quo, acabam por desestabilizar ainda mais o sistema. Em contrapartida, os emergentes têm buscado invalidar muitas das instituições que mantém a antiga ordem e desempenhar um papel protagonista nas instituições de governança global que surgirão durante este processo de reorganização sistêmica. O resultado é mais instabilidade. Assim, a interação entre hegemonia e emergentes - nas mais variadas esferas - é a chave para se compreender as feições do sistema internacional que será construído nas próximas décadas.

Neste contexto, a relação EUA-China parece ser o eixo determinante das relações internacionais. Este binômio, baseado na desconfiança mútua e na inexperiência em negociação "de igual para igual", apresenta interesses em comum, segundo a TheEconomist: a defesa do livre comércio, a proteção das rotas de comércio marítimo, o desejo de estabilidade na Ásia e no Oriente Médio e, acima de tudo, uma economia mundial próspera. Porém, a recente projeção de poder da China, principalmente no Leste Asiático, ora pela modernização de seu aparato militar, ora pela adesão às diversas organizações intergovernamentais ou pela simples multiplicação de redes de produção e comércio, tem relativizado os três pilares do poder norte-americano.

Além da China, as demais potências emergentes como Brasil, Índia, África do Sul e Rússia, tendem a aumentar sua influência regional e participar mais ativamente nos foros de discussão multilateral. Graças às reservas de petróleo e gás natural, arsenal atômico e "ressentimento nacional", a Rússia formaria o núcleo duro da geopolítica mundial com China e EUA (FIORI, 2008, p. 67) no tocante às questões de segurança. Já Brasil, África do Sul e Índia (conhecidos pela sigla IBAS) são democracias que lideram processos de integração regional e buscam assento permanente no Conselho de Segurança da ONU com o discurso de representarem os interesses de suas respectivas regiões. Desta forma, têm ampliado iniciativas de cooperação Sul-Sul e são considerados players de grande importância nas questões de meio-ambiente, desenvolvimento sustentável e direitos humanos.

Com a crescente interdependência complexa entre as nações, uma guerra entre hegemonia e países emergentes torna-se improvável. Assim, ao contrário de exemplos passados, a reacomodação de forças não é precipitada por uma guerra de grandes proporções, mas retardada por um longo processo de reposicionamento de forças entre hegemonia e emergentes. Dentro destas perspectivas cabe a ambos os pólos lidar ainda com problemas inéditos e decorrentes da mesma interdependência (NYE, 2009, p.318-331): a proliferação de armas de destruição em massa, guerras cibernéticas, mudanças climáticas, pandemias e terrorismo. Portanto, novos ou velhos, os fenômenos que darão a matiz do começo do século XXI podem ser resumidos em uma palavra: transição.

 

Referências bibliográficas

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1. São as obras: O Longo Século XX (1996); Caos e Governabilidade no Moderno Sistema Mundial (2001) e Adam Smith em Pequim (2008).
2. Existem dois tipos de sistema-mundo: a economia-mundo e o império mundo. Este tem como característica principal a centralização política sobre territórios economicamente integrados. Cada região especializa-se na parte da cadeia de produção que mais convém aos interesses do centro político, perfazendo assim um único sistema econômico de centro-periferia mantido pela força da burocracia e do exército. A economia-mundo também apresenta uma economia complexa e integrada, mas composta por unidades políticas autônomas, ou seja, sociedades culturalmente diferentes e politicamente autônomas tornam-se interdependentes graças às relações econômicas que as une (Arienti & Filomeno, 2007, p. 104). O sistema-mundo moderno consiste na economia-mundo capitalista, que surgiu na Europa em fins da Idade Média e foi difundida para o resto do mundo através de expansões territoriais e empresariais encabeçadas por hegemonias mundiais.
3. Fonte: Hendler, Bruno; Reis, Rafael P. O Modelo arrighiano e o "novo" caos: limites e possibilidades. apresentado no IV Colóquio Brasileiro em Economia Política do Sistema-Mundo.
4. Tanto Amsterdã (ao longo do século XVIII) quanto Londres (a partir da década de 1870) tornaram-se o epicentro de expansões financeiras - que prenunciavam o declínio de sua supremacia. Na primeira, o excesso de capital decorreu do sucesso alcançado pelas companhias de comércio, verdadeiras "máquinas de acumulação de poder e capital" da Holanda. Na segunda, a expansão financeira decorreu dos anos de expansão material impulsionada pela divisão internacional do trabalho, "amarrada" às indústrias inglesas que, dispondo de acesso privilegiado a recursos naturais e mercados consumidores, fizeram da Grã-Bretanha o grande centro de acumulação do século XIX. Fonte: Hendler, Bruno; Reis, Rafael P. O Modelo arrighiano e o "novo" caos: limites e possibilidades. Artigo apresentado no IV Colóquio Brasileiro em Economia Política do Sistema-Mundo.
5. As instituições criadas em Bretton-Woods são: o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BIRD), e o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT).
6. Sigla que significa Federal Reserve System - o Banco Central dos Estados Unidos.
7. Organização do Tratado do Atlântico Norte.
8. A special report on China's place in the world. Matéria publicada na revista The Economist, em 2 de dezembro de 2010.