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3° Encontro Nacional ABRI 2011 2011

 

Identidade, política externa e os discursos sobre história na Ucrânia

 

 

Daniel Edler

Mestrando, Instituto de Relações Internacionais / PUC-Rio

 

 


RESUMO

Diferentes leituras sobre a história de um povo são fundamentais no processo de formação da identidade nacional. Esta, por sua vez, pode ser vista como um elemento central no processo de formulação da política externa, contribuindo para a inserção internacional de um país. Nesse sentido, o artigo busca, a partir de uma abordagem construtivista crítica, entender a importância da identidade nacional para o campo da análise de política externa. A pesquisa é feita através do estudo sobre a historiografia da Ucrânia, indagando até que ponto o debate acadêmico entre as diferentes interpretações históricas contribui para o cenário político neste país. Por fim, artigo desenvolve alguns postulados de Alexander Wendt, apresentando suas contribuições para a disciplina, mas também suas limitações teóricas.

Palavras-chave: Ucrânia; Construtivismo; Rússia; História Eslava, Alexander Wendt


 

 

Identidade, política externa e os discursos sobre história na Ucrânia

"Think Ukrainian. You are a successor of Princess Olha, Volodymyr the Great and Yaroslav the Wise, who are Equal to the Apostles. History requires from you confidence and trust in Ukraine. Think Ukrainian!" - Propaganda de Viktor Yushchenko durante campanha presidencial de 2004 (Kuzio, 2005, pp. 01)

Apesar de ter se firmado no campo das relações internacionais ao longo dos últimos 20 anos, o construtivismo ainda dá seus primeiros passos na área de análise de política externa (APE). Atualmente, não são muitos os trabalhos produzidos sobre esta temática que buscam compreender a formação dos interesses e a importância da linguagem na definição de determinada postura no ambiente internacional. Isso se dá, pois o campo ainda é dominado por teóricos que elaboram estudos pautados em uma ótica liberal, que foca no papel dos diversos atores internos no processo de formulação da política externa dos países. Nesse sentido, apesar de não ser um campo cujas pesquisas são somente estadocêntricas - incluem o papel de ONGs, movimentos transnacionais, grandes empresas, entre outros -, o main-stream teórico da APE tem no Estado o principal objeto e se mantém à parte dos debates críticos mais recentes entre as teorias de relações internacionais.

Ao abordar as questões políticas concernentes ao ensino de história na Ucrânia, o artigo reforça a importância do debate acerca das identidades para a política externa. Nesse país, debates historiográficos remetem a questões políticas bastante prementes. Uma vez que sua independência foi pautada no argumento da autodeterminação, segundo o qual a nação ucraniana deveria estar calcada em um Estado autônomo, a elite política local se viu diante do imperativo de fomentar uma identidade nacional discernível da dos demais grupos eslavos, principalmente dos russos. Em uma região onde o legado histórico é altamente contestado, as "tradições nacionais" e "mitos fundadores" acabaram se tornando o foco de grande controvérsia.

O artigo está dividido da seguinte forma: na primeira seção serão apresentadas as possíveis contribuições do marco teórico construtivista para o campo da análise de política externa; na segunda seção será desenvolvido um quadro amplo do debate historiográfico vigente na Ucrânia; a terceira seção traça brevemente os paralelos da academia com a política de gabinete; por fim, na conclusão, será retomada a discussão sobre a abordagem construtivista, mas sob uma perspectiva distinta.

 

1. Construtivismo e Análise de Política Externa

As contribuições construtivistas ao campo da análise da política externa começaram a ter maior impacto com o final da Guerra Fria. Segundo Kubálková (2001), o surgimento de um mundo com uma arquitetura política mais complexa exigia ferramentas teóricas que englobassem uma série de fatores ignorados pelo Realismo Estrutural. Algumas correntes liberais, especialmente os institucionalistas, já anunciavam este movimento ao abordar questões como o constrangimento das normas em regimes internacionais. Contudo, o debate sobre o impacto da linguagem e das identidades ainda precisava ganhar espaço.

A partir do momento em que há uma busca por entender como os principais atores políticos "apresentam" as questões internacionais para o público, sendo este um elemento importante na definição da postura que será adotada, a abordagem construtivista se aproxima das contribuições cognitivistas do campo de análise da política externa. Estas duas linhas denotam grande atenção à agência e rejeitam o determinismo estrutural apresentado pelo neorealismo. No entanto, a ideia de construção social, fundamental no trabalho de Wendt, não é abordada por leituras anteriores na APE. Os cognitivistas se aproximam desta ideia ao estudar os condicionantes psicológicos de líderes e/ou o processo de aprendizado dos mesmos, mas ainda se mantém distantes dos postulados construtivistas, pois não estudam a formação de determinados significados dentro de um contexto social complexo (Checkel, 2008).

O construtivismo se desenvolveu em um campo marcado por forte antagonismo teórico. As abordagens neorealistas privilegiavam elementos sistêmicos para entender o comportamento dos Estados, mas eram fortemente criticadas pelos liberais, a exemplo de Putnam (1988) e Moravcsik (1997), que buscavam apresentar a relevância do estudo dos contextos domésticos para se entender as relações internacionais. Para estes, os Estados agem, em grande parte, em função dos constrangimentos políticos internos – influência de grupos de interesse, papel do legislativo, grau de autonomia do executivo, entre outros1.

Alexander Wendt, em Social Theory of International Politics (1999), apresentou seu trabalho buscando colocar-se como uma via média, reconhecendo fatores estruturais, mas dando enorme importância à agência. Sendo o autor construtivista que mais se aproxima do main-stream teórico, ele traz uma mudança de perspectiva, saindo da análise pura de capacidades e distribuição de poderes para uma discussão sobre identidades2. Enquanto Waltz (1979) se preocupava com "o que o Estado pode fazer dada a sua posição na estrutura?", Wendt formulou uma nova pergunta: "o que o Estado quer fazer dada a forma como ele se vê em relação aos demais?". Há, portanto, um primeiro passo no desenvolvimento da ideia de co-constituição entre agente e estrutura, ou seja, "ao invés de assumir que determinado ator de política externa tem certos interesses, os construtivistas exploram a forma pela qual estes interesses são construídos através de processos de interação com um ambiente social mais amplo" (Checkel, 2008, pp.72).

Wendt avança sua contribuição teórica ao campo da APE descrevendo o que denomina "identidade corporativa", formada pela base material do Estado e pela narrativa que incide sobre esta. Assim, o autor afirma que há uma realidade anterior à construção discursiva - os atributos do Estado e seu desejo último por sobrevivência -, mas que esta só é relevante a partir do momento que os indivíduos constroem conhecimento sobre ela. Desta forma, a "identidade corporativa", responsável pela definição dos interesses, não está totalmente descolada de uma realidade objetiva. Os Estados constroem os discursos sobre interesses de diferentes formas, mas, em última análise, todos buscarão a sobrevivência física e a autonomia política.

A potencialidade da contribuição construtivista para o campo de estudos de política externa é enorme, mas até o momento esta ainda vem sendo marginalizada. O desenvolvimento de modelos analíticos, aos moldes do jogo de dois níveis de Putnam, segue a ideia de um ator racional que tem interesses pré-sociais. Desta forma, o foco acaba sendo somente no comportamento dos Estados em busca de cumprir seus objetivos e não na natureza dos mesmos, ou na forma como estes são passados para a sociedade. Apesar de os liberais avançarem no estudo sobre o arranjo dos interesses nacionais, demonstrando que estes são o resultado de uma contínua disputa política doméstica, não há no main-stream da APE uma análise mais profunda sobre como estes se constituem, sobre como os Estados sabem o que querem. É justamente esta lacuna que os teóricos construtivistas buscam preencher, já que, segundo os mesmos, "muito da política externa gira em torno de definir, e não defender, os interesses nacionais" (Finnemore, 1996, ix).

Percebe-se, portanto, que o centro das análises construtivistas não está na busca por previsão do comportamento dos atores, nem nos processos de formulação da política externa de determinado Estado, mas em um estágio anterior, na constituição das identidades e nos constrangimentos políticos gerados pela forma como uma nação se vê em relação às demais. Como visto a partir dos argumentos de Wendt, para entendermos a natureza das relações entre os países e, em última análise, o padrão que guia o sistema internacional (Hobbesiano, Lockeano, Kantiano), precisamos compreender primeiro os elementos que compõe a identidade nacional.

Nesse sentido, o estudo da história de determinado país se torna um fator político extremamente significativo, refletindo na postura externa que será adotada. A sensação de pertencimento a determinado grupo está relacionada a diversos fatores, entre eles a vivência de uma história comum. Um povo se identifica como tal muito em função de partilhar experiências e dividir uma mesma cultura. Quando a este sentimento somam-se língua e território comuns, pode-se dizer que há o desenvolvimento de uma identidade nacional (Wendt, 1999).

1.1. Identidade nacional e política na Ucrânia

A identidade ucraniana está muito pautada na diferenciação em relação à Rússia. Os séculos sob o controle de Moscou deixaram marcas profundas que são relembradas a todo o momento por líderes nacionalistas. No que se refere às relações entre Ucrânia e Rússia, pode-se dizer que a história é mais que um elemento formador da identidade, é uma arma retórica que legitima ou não determinada prática política (Mielniczuk, 2004).

Ao analisar a reforma do programa educacional ucraniano após a independência, Janmaat (2007) encontra na prática muitas das questões levantadas pelos teóricos construtivistas. De acordo com este autor, um aspecto fundamental do novo currículo escolar é a preocupação com o tratamento do "outro", no caso, os russos. Para Janmaat, o programa ucraniano segue a mesma linha de diversas estratégias nacionalistas em outros países, tratando a relação com os russos a partir de uma imagem negativa, reproduzindo a ideia de exclusão. Os livros didáticos de história aprovados pelo governo buscam sublimar os aspectos positivos que a união com a Rússia possa ter trazido para os ucranianos e omitem os momentos em que os próprios ucranianos representaram o papel de colonizadores sobre outros povos (Janmaat, 2007).

Esta estratégia de estereotipar o "outro" a partir de análises históricas tem quatro funções para o processo de construção da identidade nacional: (1) define as fronteiras e distingue o grupo de "dentro" do grupo de "fora". O estabelecimento desta fronteira envolve mais que simplesmente estereotipar etnias e grupos minoritários, ao definir certas características como naturais aos referidos grupos (nacionais e estrangeiros), se constrói um sentido de singularidade e união à identidade nacional. (2) Reforça a hostilidade em relação a determinado grupo de estrangeiros, ao mesmo tempo em que ajuda a amainar os conflitos internos, contribuindo para a coesão nacional. (3) Cria uma justificativa bastante forte para a luta contra o opressor estrangeiro e pela consolidação do Estado-nacional independente (ponto central para a Ucrânia nos anos 90). (4) A percepção de um adversário externo, ao aumentar a necessidade de coesão interna, reduz as críticas às falhas do governo, garantindo maior longevidade à elite política nacional (Wendt, 1999).

Assim sendo, o estudo sobre as diferentes visões do passado é fundamental para se entender o debate existente acerca da própria identidade de um povo e a relação desta com a política externa. Segundo Wendt, história, mitos e símbolos são traços fundamentais da constituição de uma nação. Nesse sentido, se entendermos a identidade como um elemento central no processo de formulação da política externa, a produção de análises históricas tem um espaço bastante amplo. Apesar de historiadores positivistas afirmarem que buscam em seu trabalho uma objetividade, aproximando-se da verdade dos fatos, qualquer abordagem que influa na percepção acerca da história de um povo poderá ter consequências políticas significativas, ainda mais no caso da Ucrânia, onde o debate acadêmico é utilizado a todo instante para legitimar determinada projeção internacional.

De acordo com Friedman, "the politics of identity consists in anchoring the present in a viable past. The past is thus, constructed according to the conditions and desires of those who produce historical texts in the present" (Friedman, 1992, pp. 207). Nesse sentido, como a Ucrânia passou séculos sem um Estado-nação autônomo, sua história acabou sendo contada por outros e utilizada por estes para legitimar os próprios objetivos políticos. Não é de se admirar que o movimento de independência que obteve sucesso parcial no final de 1917 tenha sido liderado por um historiador nacionalista, Mykhailo Hrushevsky, cujo trabalho advogava pela divulgação de uma abordagem histórica que permitisse aos ucranianos contar sua "versão dos fatos". Em discursos de emancipação, a história é vista como um elemento central na "criação" de uma identidade nacional. Nesse sentido, o Estado e a elite política se tornam sujeitos da história, não apenas objetos desta (Friedman, 1992).

Ao estudar a política externa ucraniana, cabe, portanto, uma análise das diferentes abordagens acerca do passado deste povo.

 

2. Visões sobre a História da Ucrânia – Quatro leituras do passado

Grande parte do trabalho de Taras Kuzio, importante pesquisador ucraniano, consiste da análise do significado político das diferentes versões sobre a história de seu país. De acordo com este autor, é possível identificar quatro leituras sobre o passado da Ucrânia, são elas: (1) Russófila - conhecida também como da "Rússia Imperial"; (2) Sovietófila; (3) Eslava oriental (Eastern Slav); e (4) Ucranófila. Desta forma, Kuzio identifica "escolas" distintas, que não representam necessariamente uma organização entre teóricos e pesquisadores, mas sim a reprodução de determinado grupo de ideias e interpretações em certo período histórico e região geográfica.

Algumas das principais diferenças entre estas escolas consistem em suas percepções acerca do status de Kievan Rus - "país" eslavo que controlou grandes porções de terra no leste europeu entre os séculos IX e XIV - e seu legado para os povos da região. Este é um ponto fundamental, pois três das principais nações que hoje habitam o local – ucraniana, russa e bielorrussa - tem nesta comunidade política o seu "mito fundador" (Burant, 1995). Ainda hoje, há enorme controvérsia sobre o que realmente foi Kievan Rus. Enquanto alguns historiadores afirmam que se tratava de um verdadeiro império, cuja influência política contribuiu, inclusive, para a queda do Império Bizantino, outros ignoram qualquer organização mais complexa desta comunidade, afirmando que não passava da união de diversas tribos para fins de defesa contra inimigos em comum (Wilson, 2000). Contribui para este desentendimento a falta de achados arqueológicos sobre este período. Durante anos, o governo soviético proibiu qualquer visão dissidente sobre o passado. Havendo uma história oficial, não era necessário o investimento em pesquisas de campo, consequentemente, existem poucos vestígios físicos confiáveis do surgimento de Kievan Rus.

Outro importante marco, cujo significado histórico é motivo de enorme debate, é o Tratado de Pereyslav, celebrado em 1654 entre o Czar russo e os cossacos da região. Alguns pesquisadores afirmam que este tratado celebrou a reunião de dois povos que haviam sido separados com o fim de Kievan Rus, outros defendem a visão de que o tratado foi uma união provisória entre as comunidades políticas cossacas e os russos e que visava à proteção em relação aos invasores mongóis (Wilson, 2000). De fato, após o estabelecimento do tratado, os ucranianos só foram independentes novamente por um breve período após a Primeira Guerra Mundial. Esta é, portanto, uma discussão com significado político bastante importante, pois reflete nas percepções atuais sobre a independência da Ucrânia. Se o Tratado de Pereyslav for visto como a reunião de povos que surgiram no mesmo berço, ele pode representar o caminho natural de uma nação em busca de retomar os antigos laços. No entanto, caso este tratado seja visto apenas como uma aliança militar articulada com um fim específico, os séculos nos quais os ucranianos foram mantidos sob o jugo de Moscou podem ser interpretados como um período de tirania, sendo a independência a representação da liberdade de uma nação (Kuzio, 2006).

2.1. Escolas Russófila e Sovietófila

A escola Russófila emergiu ainda no período dos Czares, no final do século XVIII, e se manteve como a principal visão acerca da história da Ucrânia até a queda do regime imperial. A Revolução Comunista proporcionou uma mudança significativa nos estudos históricos, mas esta perspectiva não sumiu por completo, reaparecendo, com algumas mudanças, no final do século XX. Atualmente, apesar de não estar restrita à Rússia – alguns pesquisadores ocidentais ainda seguem seus postulados -, esta visão só tem representatividade no imaginário coletivo russo.

Segundo esta historiografia, os ucranianos e bielorrussos só surgiram como povos autônomos após a queda de Kievan Rus, no final do século XIV, sendo algumas das tribos que buscaram proteção junto ao principado de Vladimir-Suzdal. Desta forma, os ucranianos são vistos, desde seu surgimento, como uma "nação hesitante", que busca união com os irmãos mais poderosos do norte, o que ocorreu, em 1654, com o Tratado de Pereyslav. Esta escola, portanto, apresenta uma história orgânica, na qual não há muitas distinções entre os povos eslavos da região, mas sim uma vontade, que atravessa os séculos, de união (Kuzio, 2006).

Após um longo período se mantendo como a principal visão acerca da história ucraniana, a escola da "Rússia Imperial" sucumbiu academicamente junto com o regime czarista. Um novo modelo de sociedade exigia um novo homem soviético. Assim, a partir da década de 30, o governo central de Moscou passou a ditar as regras para a produção de pesquisas sobre o tema. Com o intuito de fortalecer a união, foi posta em prática uma política de "destruição" das diferentes nacionalidades, o que favoreceria o surgimento de uma identidade única em todo o território. A trajetória do povo ucraniano foi recontada, deixando de ser vista de forma autônoma, mas sim como parte integrante da história do "grande povo soviético3".

Surgiu, portanto, a escola "sovietófila", cuja principal diferença em relação à anterior é o espaço reconhecido para as diversas nacionalidades eslavas. Segundo os teóricos desta corrente, a nação ucraniana nunca se consolidou como tal, sendo sempre uma espécie de "irmã menor" da Rússia. Os poucos momentos em que este povo experimentou a independência, a usou para se aproximar da "família eslava" e se proteger dos demais povos da região (otomanos, mongóis, cristãos não-ortodoxos e etc). Assim sendo, esta escola avança uma narrativa que fortalece os laços entre ucranianos, russos e bielorrussos, eliminando a possibilidade de construção de qualquer alteridade entre eles (Janmaat, 2007).

Esta escola é amplamente criticada por não se apoiar em evidências históricas, mas sim na imposição estratégica do governo de Moscou. No entanto, ainda assim, esta se espalhou pelo território soviético e foi a versão contata nas escolas por quase 60 anos. É compreensível, portanto, que muitos russos ainda não entendam as motivações dos políticos ucranianos para a independência nos anos 90. Seguindo a lógica sovietófila, a URSS era a representação final da união dos povos que habitavam a região e sob este Estado a nacionalidade eslava poderia se desenvolver sem preocupações com influências externas (Kuzio, 2006).

As duas correntes apresentadas são, atualmente, bastante marginalizadas na Ucrânia. No início dos anos 90, ambas ainda eram vistas como ameaças à soberania nacional, uma vez que, enquanto a tradição da Rússia imperial vê a nação ucraniana apenas como um sub-grupo étnico dos russos, ou seja, representantes de uma região dentro da grande Rússia, os sovietófilos percebem a união como o caminho natural dos dois povos. Assim sendo, concluído o processo formal de independência, era necessário que a ideia de autonomia ganhasse espaço na sociedade. Mais uma vez, motivações políticas levaram a um grande esforço para recontar o passado.

2.2. Escola Ucranófila

A escola Ucranófila surgiu no início do século XX com intelectuais nacionalistas do oeste do país. Sua relevância acadêmica no período foi bastante reduzida, porém alguns destes professores e pesquisadores conseguiram ocupar grande espaço na sociedade, sendo sua expressão máxima, a liderança de Mykhailo Hrushevskyi no movimento nacionalista de 1917. Após a independência, Hrushevskyi se tornou o primeiro presidente do novo Estado ucraniano. No entanto, este movimento logo sucumbiu às pressões de Moscou e a efervescência nacionalista encontrou seu fim. Esta escola chegou a ter aceitação nos primeiros anos do regime comunista, quando uma política de "indigenização" ainda permitia a promoção de "particularidades regionais" e a reprodução da identidade ucraniana. Contudo, após a década de 1930, publicações contendo esta versão sobre a história do país foram censuradas. A escola sobreviveu apenas através da diáspora ucraniana, principalmente nos Estados Unidos, mas não foi capaz de concorrer com a abordagem histórica soviética (Kuzio, 2005).

No final dos anos 1980, a nova onda de nacionalismo na Ucrânia recuperou o trabalho de intelectuais do início do século e deu novo fôlego para os ucranófilos4. Após a independência, esta escola ganhou ares de "versão oficial" da história nacional e foi promovida através de diversas políticas públicas.

Academicamente, a escola ucranófila consiste na revisão dos principais postulados históricos colocados até então. Segundo os pesquisadores desta corrente, a nação ucraniana já existia mesmo antes da formação do império de Kievan Rus, sendo, na verdade, a primeira nação eslava. As pesquisas de campo, viabilizadas a partir do financiamento estatal, levaram a descobertas de vestígios dos povos que habitavam a região há mais de dois mil anos. Estes vestígios, segundo os ucranófilos, pertencem a tribos que já possuíam algumas características dos ucranianos e remontam, portanto, a um passado longínquo deste povo (Wilson, 2000).

Indo além, esta escola afirma que com o fim de Kievan Rus, o centro político da região não passou para Vladimir-Suzdal, mas sim para Galícia-Volyna, reino mais próximo da Polônia e da Áustria. Posteriormente, esse reino se dividiu entre o Império polonês-lituano e o Hetmanato da Ucrânia, comunidade política cossaca. Desta forma, ao invés de estar ligada à Rússia, a nação ucraniana habitava outras regiões, onde desfrutava de bastante autonomia. Já no século XVII, bastante enfraquecido por invasões estrangeiras, o Hetmanato cossaco buscou auxílio do Czar russo, celebrando o Tratado de Pereyslav. Este, segundo os ucranófilos, mencionava apenas uma união estratégica que pudesse combater militarmente outros povos. No entanto, os cossacos teriam sido traídos pela Rússia, perdendo sua independência poucos anos depois da celebração do tratado (Wilson, 2000).

Esta versão da história da Ucrânia subverte a noção de que os russos seriam os "irmãos mais velhos" do povo eslavo, cabendo este posto aos ucranianos. De fato, como afirmou o ex-ministro da educação, Vasyl Kremen, "it is illogical the ‘elder brother’ be based in Moscow, a city that only held its 800th anniversary in 1997, while Kyiv, in contrast, held its 1,500th anniversary in 1982, making it nearly twice as old as Moscow" (Kremen apud Kuzio, 2005, pp. 412). Além disso, há a afirmação da ideia de que a união com os russos nada tinha de natural e que esta se deu não por uma busca dos ucranianos, mas sim pela traição do Czar. Nesse sentido, a independência de 1991 seria um passo lógico, levando uma nação forte a retomar os rumos de sua própria história.

O sistema educacional ucraniano é dominado por esta versão. Os novos livros didáticos apresentam apenas esta leitura da história do país, reproduzindo a ideia de uma grande e antiga nação, capaz de suportar séculos de tirania russa. No entanto, o debate sobre a história ultrapassa os muros das escolas e influencia a vida cotidiana do país. Os feriados, símbolos nacionais, monumentos e a própria moeda remetem a uma era de ouro do povo, quando Kievan Rus, um proto-Estado ucraniano, expandiu seu poder por um largo território, servindo de berço para diversas tribos eslavas.

2.3. Escola dos "Eslavos orientais"

Atualmente, os ucranófilos são contestados pela comunidade acadêmica dos "Eslavos orientais". Ao contrário das demais, esta escola não encontra coesão pelas suas análises dos fatos em si, mas sim a partir das críticas à falta de objetividade das demais. Ao invés de reafirmar a subordinação dos ucranianos aos russos, busca-se demonstrar a existência de diversos povos com culturas e identidades diferentes, reconhecendo a singularidade, autonomia e o espaço de cada um deles (Kuzio, 2005).

Os pesquisadores desta escola se colocam entre as interpretações dos ucranófilos e dos russófilos, buscando romper com a perspectiva de que o legado do império Kievan Rus foi apoderado por outras comunidades políticas. Esta posição mais "moderada" é o resultado da ligação das regiões leste e sul da Ucrânia com a Rússia. A população destes locais tem laços com as duas nações e representa um arranjo identitário capaz de unir de forma "harmoniosa" características de ambas. A revisão historiográfica levada adiante por esta escola reflete um pouco da convivência de espaços nacionais distintos e apresenta uma síntese das versões mais radicais.

A principal distinção entre os "eslavos orientais" e as demais escolas se dá na interpretação acerca do peso político de Kievan Rus. Os "eslavos orientais" são muito mais comedidos em suas análises, afirmando que Kievan Rus era somente uma união intermitente entre diversas tribos que habitavam a região. Estas teriam línguas, tradições e instituições distintas, guardando poucas características em comum. Assim sendo, esta escola não vê em Kievan Rus o surgimento do povo ucraniano ou do povo eslavo, mas sim uma comunidade política fraca e pouco cobiçada pelos vizinhos. Desta forma, seria impossível definir a existência de um "irmão mais velho", ou de uma "nação hesitante". (Wilson, 2000).

Mais uma vez, é possível traçar elos claros entre esta visão histórica e a política ucraniana atual5. Os candidatos que buscam apoio nas regiões leste e sul da Ucrânia costumam se apresentar como pontes entre os russos e a Europa ocidental. Segundo Leonid Kuchma, ex-presidente e político ligado às regiões mencionadas, a Ucrânia não deveria mais se colocar como uma nação entre europeus e russos, formando assim um Estado-tampão (buffer-state), mas sim como uma nação que une os povos eslavos ao resto da Europa (Janmaat, 2005).

 

3. História e Política

Passados 20 anos da independência da Ucrânia, pode-se dizer que as escolas sovietófilas e russófilas foram quase banidas do mundo acadêmico no país. O debate historiográfico atual se concentra nas críticas dos "eslavos orientais" à versão nacionalista dos ucranófilos. A influência política neste debate é enorme e chega, em alguns momentos, à censura por parte do governo em relação a determinadas publicações. Além disso, a distribuição da verba para projetos de pesquisa é feita seguindo parâmetros marcadamente políticos e não acadêmicos. O ex-ministro Vasyl Kremen defende esta prática afirmando que a promoção de uma literatura ucranófila é fundamental para a consolidação do Estado ucraniano e para a projeção internacional do país, uma vez que "myths and ideologies take upon themselves a serious meaning by creating a basis for the consolidation of the nation, the formation of its cultural and political life" (Kremen apud Kuzio, 2005, pp. 412).

A partir da afirmação de Kremen, é possível entender o caráter político do programa nacional de educação, formulado em 1993, onde há uma seção dedicada especificamente ao ensino de história. Neste documento, intitulado "Educação – Ucrânia do século XXI", o governo afirma que as escolas devem estar voltadas para "a national orientation which proceeds from the indivisibility of education from national foundations, the organic unity with national history and folk traditions, and the preservation and enrichment of the culture of the Ukrainian people" (Governo da Ucrânia apud Wanner, 1995, pp. 4).

O impacto que a compreensão histórica tem na sociedade atual e na relação dos ucranianos com as minorias nacionais é bastante evidente. Apesar de mais de 50% da população ucraniana ter no russo sua língua materna, esta é ensinada nas escolas como uma disciplina de "língua estrangeira", com o mesmo status do Inglês ou Francês. Além disso, a literatura em russo, apesar de, em muitos casos, ter sido produzida por escritores ucranianos durante o passado de união, também é vista como influência estrangeira e, portanto, tem um espaço restrito nas escolas (Janmaat, 2005).

Após a "Revolução Laranja", em 2004, a preocupação com a forma de se contar a história nacional aumentou. O governo Yushchenko criou uma comissão, ligada ao ministério da educação, mas também supervisionada pelo parlamento, responsável por evitar a "falsificação histórica". Por seus contornos políticos, a criação desta comissão foi bastante criticada pela comunidade acadêmica, levando muitos, inclusive, a traçarem semelhança entre esta prática e a imposição doutrinária da época soviética. Contudo, é notável que em 2006, dois anos após a aprovação da comissão, tenha sido realizada pela própria academia de ciências da Ucrânia, com grande colaboração de historiadores russos, um seminário com o título "Liberdade pela História". A partir deste, a academia visava a recuperar seu caráter científico e afastar-se do debate político/partidário contemporâneo. Neste, grandes pesquisadores ucranianos e russos corroboraram a visão de que "a comunidade acadêmica deve procurar sempre novas interpretações sobre a história, mas estas não devem ser pautadas por agendas políticas conjunturais, o que leva apenas a entendimentos distorcidos dos fatos". (Zubov apud Kurilla, 2010, pp. 5).

 

Conclusão: O espaço da História e as limitações de Wendt

Ao representar um elemento central no processo de formação da identidade nacional, a produção acadêmica acerca da história de um país torna-se um ato de política externa. Abre-se, portanto, uma área de pesquisa e produção de conhecimento totalmente nova e amplia-se a agenda do campo de APE. Nesse sentido, pode-se dizer que, ao abordar as diferentes visões acerca do legado histórico de Kievan Rus e as práticas educacionais na Ucrânia, este artigo apresenta também um estudo sobre a política externa ucraniana.

Por fim, é fundamental ressaltar que há controvérsias importantes entre os teóricos construtivistas, o que faz desta abordagem também um espaço de debate contínuo. Wendt afirma que a análise dos discursos deve ganhar um espaço central na literatura de política externa, mas que a linguagem está pautada em uma base material. Assim sendo, ao assumir que há um interesse natural, uma realidade objetiva (os Estados lutam por sobrevivência), este autor alinha-se ao instrumental metodológico positivista e abre um canal de diálogo com a literatura vigente no campo. Este argumento constitui a ponte que Wendt apresenta entre as abordagens do main-stream da APE, principalmente o liberalismo, com as abordagens construtivistas. No entanto, é também o ponto nevrálgico da crítica a sua obra.

Steve Smith (2001) afirma que Wendt reduz a abrangência das análises construtivistas ao aceitar certos interesses naturais e avançar uma proposta que o aproxima das correntes mais tradicionais. Para Smith, Wendt seria, inclusive, bastante incongruente. Há, em Wendt, uma permanente tensão entre a busca por uma teoria holista e idealista (no sentido de levar em consideração o papel das ideias), e a afirmação de que "o mundo é independente da mente e da linguagem do observador individual; teorias científicas maduras tipicamente se referem a este mundo, mesmo quando ele não é diretamente observável" (Wendt apud Smith, p.47).  Como unir uma metodologia que prima pela separação entre sujeito e objeto, entre a realidade objetiva e a imagem que se faz dela, a uma abordagem que visa a entender o papel das ideias na formulação da política externa? Indo além, como pode existir uma premissa de realidade construída a partir das interações sociais intersubjetivas se a mente e a linguagem do indivíduo não interessam metodologicamente?

Paul Kowert (2001) oferece uma chave de leitura um pouco diferente sobre o impacto do construtivismo nas análises de política externa. De acordo com este autor, é fundamental resgatar o debate sobre valores nas correntes teóricas de relações internacionais. Kowert afirma que mesmo os positivistas tem claras predileções normativas, mas estas já foram de certa forma internalizadas. Nesse sentido, a busca por segurança e prosperidade, ao contrário do que realistas e neoliberais colocam, não é natural.

Cedendo em diversas premissas teóricas, Wendt realmente conseguiu abrir um canal de diálogo, o que favoreceu a construção do paradigma construtivista ao redor de suas concepções. Contudo, algumas contribuições que esta corrente poderia oferecer ao campo da análise de política externa acabaram sendo muito reduzidas, mantendo-se marginalizadas. Desta forma, é importante lembrar que autores como Onuf e Kratochwil, defendem uma abordagem distinta e marcadamente pós-positivista. Considerando fatores como o papel primordial da linguagem, esta "dissidência" abre um verdadeiro espaço para o debate sobre agência e percepções, tornado-se uma abordagem com ferramentas bastante interessantes para o estudo de política externa.

 

Bibliografia

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III Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais - 20-22 Julho de 2011 – São Paulo/SP.

 

 

1. Cabe ressaltar que os liberais não ignoram a relevância do nível sistêmico, mas unem a este as características domésticas. É justamente com o intuito de unir estas duas visões que Putnam desenvolve o seu modelo do jogo de dois níveis.
2. Definidas de forma sucinta como "o meio pelo qual líderes nacionais e cidadãos comuns traduzem o reconhecimento de semelhança e diferença em postulados ontológicos sobre relações internacionais" (Kowert, 2001, pp. 277).
3. Durante o período do regime soviético, o controle sobre o conteúdo de livros didáticos era tido como uma questão política estratégica, principalmente na Ucrânia e em Belarus. Em livros de história deste período era comum ver passagens como a seguinte: "Eastern slav people had always possessed an eternal longing for unity. A single Rus nationality, language, and culture gave rise to the concept and feeling of unity that has been maintained by the people of our country throughout the ages" (Solchanyk apud Kuzio, 2006, pp. 419).
4. Pouco antes do fim da URSS, professores ucranófilos já começavam a encontrar mais espaço para a promoção de suas ideias. No entanto, na Ucrânia visões críticas à escola sovietófila ainda eram proibidas. Em Ukraine: A History (sem tradução para o português), de 1988, o pesquisador ucraniano Orest Subtelny, residente no Canadá, conseguiu pela primeira vez que uma publicação sobre o assunto ganhasse espaço. Esta obra foi publicada originalmente em inglês, recebendo cópias para o ucraniano em 1991, poucos dias antes da independência, e para o russo em 1994. O livro de Subtelny, por representar um estudo recente sobre a história da Ucrânia com uma visão nacionalista bastante forte, se tornou leitura obrigatória no sistema educacional e nas forças armadas ucranianas (Janmaat, 2005).
5. Representantes desta escola ganharam espaço no governo durante o mandato de Kuchma. Foi neste período que um de seus maiores expoentes, o pesquisador Petro Tolochko, foi nomeado diretor da Academia Nacional de Ciências do Instituto de Arqueologia. Poucos dias depois, Stanislav Kulchytsky, outro importante historiador desta corrente, foi indicado para o instituto de história da mesma academia. Apesar de reconhecerem a capacidade intelectual de ambos os pesquisadores, estas indicações tiveram uma motivação política bastante evidente. Tolochko, também deputado, apoiara o presidente na campanha pela reeleição, em 1998 (Janmaat, 2005).