3, v.2Revisão judicial e seu impacto na política externa brasileira pós-1988: o STF é um novo ator em política externa?Trauma e crise de significados na articulação de identidades coletivas na política internacional author indexsubject indexsearch form
Home Pagealphabetic event listing  




Print ISBN 2236-7381

3° Encontro Nacional ABRI 2011 2011

 

O discurso autonomista vs o discurso institucionalista pragmático da política externa brasileira sobre o Mercosul

 

 

Erica Simone Almeida Resende

Erica Simone Almeida Resende é Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e Professora de Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). É colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais (PPGRI) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

 

 


RESUMO

As visões concorrentes sobre a importância do projeto mercosulino para a política externa brasileira tornaram-se mais agudas devido à chamada crise de paradigma na política externa brasileira, acentuada após a chegada de Collor de Mello à presidência. Ao invés da articulação e surgimento de uma nova orientação para a política externa brasileira, percebeu-se uma divisão em dois grupos com visões distintas: institucionalistas pragmáticos e autonomistas. As diferenças entre os dois grupos tornaram-se mais explícitas em momentos de aguda divergência entre os membros do Mercosul, mais especificamente quando os interesses nacionais de cada membro entram em conflito direto, gerando as chamadas "crises" pontuais no processo de integração regional sul-americana: as divergências entre Brasil e Argentina durante a criação da Tarifa Externa Comum (TEC) em 1994, a tentativa de golpe no Paraguai, em abril de 1996; que motivou a inclusão da cláusula democrática no Mercosul, formalizada pelo Protocolo de Ushuaia; a explosão da crise econômica argentina de 1999; as divergências em torno das negociações para a implementação do projeto da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), em 2002-2003; as reações contraditórias à solicitação formal, por parte da Venezuela, para aderir ao bloco, em 2005; a nacionalização do setor de gás na Bolívia, em 2006; e as disputa entre Uruguai e Argentina durante a chamada "guerra das papeleiras", em 2007. O objetivo desta comunicação é apresentar a macro-hipótese de nossa pesquisa e a problemática que permeia o debate sobre os múltiplos sentidos do conceito de autonomia, identificando como eles se distinguem entre si.

Palavras-chave: Política Externa Brasileira, Mercosul, Discursos, Autonomia


 

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

 

 

Referências

ASHLEY, R. "Untying the Sovereign State: A Double Reading of the Anarchy Problematique". Millennium: Journal of International Studies, v. 17, n. 2, pp. 227-262, 1988.

ASHLEY, R. "Living on Boderlines: Man, Poststructuralism, and War", pp. 259-322. In: DER DERIAN, J.; SHAPIRO, M. (Ed.). International/Intertextual Relations: Postmodern Readings in World Politics. Lexington: Lexington Books, 1989.

BUTLER, J. Gender Trouble. Feminism And The Subversion of Identity. New York: Routledge, 1990.

BUTLER, J. Bodies That Matter: On the Discursive Limits of Sex. London: Routledge, 1993.

CAMPBELL, D. "Global Inscription: How Foreign Policy Constitutes the United States". Alternatives, v. 15, n. 3, pp. 263-286, Summer, 1990.

CAMPBELL, D. Writing Security. United States Foreign Policy and the Politics of Identity. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1998 (a).

CAMPBELL, D. National Deconstruction: violence, identity, and justice in Bosnia. Minneapolis, University of Minnesota Press, 1998 (b).

DERRIDA, J. Glas. Paris: Galilée, 1974.

ESCUDÉ, Carlos. Realismo periférico: fundamentos para a nova política exterior argentina. Buenos Aires: Editorial Planeta, 1992.

FAIRCLOUGH, N. Language and Power. London: Longman, 1989.

FAIRCLOUGH, N. Critical discourse analysis: The Critical Study of Language. London: Longman, 1995.

FONSECA JR., G. A Legitmidade e Outras Questões Internacionais. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.

FOUCAULT, M. The Archaeology of Knowledge & The Discourse on Language. New York, Pantheon Books, 1972.

FOUCAULT, M. Power/Knowledge: Selected Interviews & Other Writings. New York: Pantheon, 1980.

GRAMSCI, A. Selections from the Prison Notebooks. New York: International Publishers, 1971.

HALL, S. "Signification, Representation, Ideology: Althusser and the Post-structuralist Debate". Critical Studies in Mass Communication, v. 2, n. 2, pp. 91-114, 1985.

HALL, S. "On Postmodernism and Articulation: An Interview with Stuart Hall". Journal of Communication Inquiry, v. 10, n. 2, pp. 45-60, 1986.

HANSEN, L. Security as Practice: Discourse Analysis and the Bosnian War. London: Routledge, 2006.

JACKSON, R. Writing the War on Terrorism: Language, Politics and Counterterrorism. Manchester: Manchester University Press, 2005.

JACKSON, R. "Genealogy, Ideology, and Counter-Terrorism: Writing Wars on Terrorism from Ronald Reagan to George W. Bush Jr". Studies in Language & Capitalism 1, pp. 163-193, 2006.

JAGUARIBE, Helio. "Autonomia periférica e hegemonia cêntrica". In: JAGUARIBE, H. O novo cenário internacional: conjunto de estudos. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

JESUS, D.S.V. "Da Redução da Incerteza Estratégica à Perpetuação da Exclusão: a Relevância dos Fatores Ideacionais na Análise de Política Externa". Contexto Internacional, v. 31, nº 3, setembro/dezembro, pp. 503-534, 2010.

KRASNER, Stephen D. Sovereignty. Organized Hypocrisy. Princeton: Princeton University Press, 1999.

LACLAU, E. On Populist Reason. London: Verso, 2005.

LACLAU, E.; MOUFFE, C. Hegemony and Socialist Strategy. New York: Verso, 1985.

LIMA, M.R.S. "Ejes Analíticos y Conflicto de Paradigmas em la Política Exterior brasilena". América Latina/Internacional, v. 1, nº 2, pp. 27-46, 1994.

LIMA, M.R.S. de. Decisões e Indecisões: um balanço da política externa do primeiro governo do presidente Lula. Rio de Janeiro: OPSA/IUPERJ, 2006. Disponível em: http://observatorio.iuperj.br/artigos_resenhas.php.

LYNN-DOTY, R. "Foreign Policy as Social Construction: A Post-Positivist Analysis of U.S. Counterinsurgency Policy in the Philippines". International Studies Quarterly, v. 37, pp. 297-320, 1993.

MALAMUD, A.; SCHMITTER, P. "La experiencia de integración europea y el potencial de integración del Mercosur". Desarrollo Económico, v. 46, nº 181, 2006.

MANSBACH, R.; RHODES, E. "The National State and Identity Politics: State Institutionalisation and "Markers" of National Identity". Geopolitics, v. 12, n. 3, pp. 426-458, 2007.

MARFLEET, B.G.; MILLER, C. "Failure after 1441: Bush and Chirac in the UN Security Council". Foreign Policy Analysis, v. 1, n.3, pp. 333-360, Nov., 2005.

MESSARI, N. "Identity and Foreign Policy: The Case of Islam in U.S. Foreign Policy", pp. 227-245. In: KUBALKOVA, V. (Ed.). Foreign Policy in a Constructed World. New York: Sharpe, 2001.

MOURA. G. Autonomia na Dependência. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

NABERS, D. "Filling the Void of Meaning: Identity Construction in U.S. Foreign Policy After September 11, 2001". Foreign Policy Analysis, v. 5, n. 2, pp. 191-214, 2009.

NEUMANN, I.B. Russia and the Idea of Europe: A Study in Identity and International Relations. London: Routledge, 1996 (a).

NEUMANN, I.B. "Collective Identity Formation: Self and Other in International Relations". European Journal of International Relations, v. 2, n. 2, pp. 139-174, 1996 (b).

O'REILLY, K.P. "Perceiving Rogue States: the Use of the 'Rogue State' Concept by U.S. Foreign Policy Elites". Foreign Policy Analysis, v. 3, pp. 295-315, 2007.

PINHEIRO, L. "Traídos pelo desejo: um ensaio sobre a teoria e a prática da Política Externa Brasileira contemporânea". Contexto Internacional, v.22, nº 2, jul./dez., pp. 305-335, 2000.

PINHEIRO, L. Política Externa Brasileira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

RUSSELL, R.; TOKATLIAN, J. "Globalizacíon y Autonomía: Uma Visión desde el Cone Sur". Trabalho apresentado no workshopEl Estado del Debate contemporâneo em Relaciones Internacionales. Universidad Torcuato Di Tella, Buenos Aires, 27-28 de julho de 2000.

RUSSELL, R.; TOKATLIAN, J. "De la Autonomia Antagônica a La Autonomia Relacional". PostData, n. 7, Mayo, pp. 71-92, 2001.

ROMERO, José Luiz. Las ideas políticas em la Argentina. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 1992.

SARAIVA, M.G. "O segundo mandato de Lula e a política externa: poucas novidades". Carta Internacional, v. 2, nº 1, março, pp. 22-24, 2007.

SARAIVA, M.G. "A diplomacia brasileira e as visões sobre a inserção externa do Brasil: institucionalistas pragmáticos x autonomistas". Mural Internacional, Ano I, nº 1, pp. 45-52, 2010.

SHAPIRO, M. The Politics of Representation: Writing Practices in Biography, Photography, and Policy Analysis. Madison: The University of Wisconsin Press, 1988.

TICKNER, Arlene. Los estudios internacionales en América Latina.¿Subordinación intelectual o pensamiento emancipatorio? Bogotá: Universidad de los Andes/Alfaomega Colombiana, 2002.

TICKNER, Arlene. "Seeing IR differently: notes from the Third World". Millennium, v. 32, n.2, pp. 295-324, 2003.

VAN DIJK, T. Prejudice in discourse: an analysis of ethnic prejudice in cognition and conversation. Amsterdam: J. Benjamins, 1984.

VIGEVANI, T. et alli. The role of regional integration for Brazil: universalism, sovereignty, autonomy and elites. Trabalho apresentado na 7th International CISS/ISA Millenium Conference, Buçaco, Portugal, 14-16 de junho de 2007.

WALKER, R.B.J. "Security, Sovereignty, and the Challenge of World Politics". Alternatives, v. 15, n. 1, pp. 3-28, 1990.

WALKER, R.B.J. Inside/Outside: International Relations as a Political Theory. Cambridge: Cambridge University Press, 1993.

WEBER, C. "Performative States". Millennium, v. 27, n. 1, pp. 77-95, 1998.

WELDES, J. "Constructing National Interests". European Journal of International Relations, v. 2, n.3, pp. 275-318, 1996.

WODAK, R. Language, power and ideology. Studies in political discourse. Amsterdam: Benjamins, 1989.

WALTZ, Kenneth. Theory of Inernational Politics. New York: Random House, 1979.

 

 

1. Também conhecidos como "liberais", os institucionalistas pragmáticos priorizam o apoio do Brasil a regimes internacionais e sua participação mais ativa em fóruns multilaterais, porém motivados por uma estratégia pragmática. Como exemplos, citamos Celso Lafer e Luiz Felipe Lampreia.
2. Também conhecidos como "nacionalistas" por compartilharem uma visão desenvolvimentista, são motivados por suas crenças sobre a necessidade de uma maior autonomia brasileira, razão pela qual defendem um crescente protagonismo do país na política internacional. Como exemplos, citamos Celso Amorim, Samuel Pinheiro Guimarães, Marco Aurélio Garcia e Rubens Barbosa.
3. O conceito de discurso aqui empregado não deve ser confundido com o de ideias, pois que o primeiro incorpora elementos igualmente materiais e ideacionais, ao contrário do segundo.
4. Para Judith Butler (1990), trata-se do processo da "performance" da identidade pelo discurso.
5. Ver Fairclough (1995).
6. Destacamos Van Dijk (1984), Laclau e Mouffe (1985), Fairclough (1989) e Wodak (1989).
7. Ver Jackson (2005), Lynn-Doty (1993), Marfleet e Miller (2005), Nabers (2009), O'Reilly (2007) e Weldes (1996).
8. A produção brasileira sobre a dimensão discursiva da integração regional e da política externa brasileira é muito reduzida. Os estudos que mais se aproximam de nossa proposta são os que reconhecem a importância das idéias e da cognição em geral, como as obras de Vigevani et al. (2007), Saraiva (2007) e Jesus (2010). Todavia, eles não foram capazes de integrar, dentro de uma mesma problemática, política externa brasileira, integração regional, política comparada, análise de discursos e questões de identidade nacional.
9. O postulado atribuído a Derrida (1974, p. 158) de que "não existe nada fora do texto" é muitas vezes interpretado incorretamente, como rejeição da existência do mundo material.
10. Sobre essa ruptura, ver Tickner (2003).
11. Para Puig (1980), a ausência de uma identidade autonomista teria sido uma das razões que levaram ao fracasso das tentativas anteriores integração regional na América Latina, sobretudo as das décadas de 1950 e 1960.
12. Para Russel e Tokatlian (2001), o debate da autonomia foi um fenômeno notadamente mais sul-americano do que latino-americano.