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Print ISBN 2236-7381

3° Encontro Nacional ABRI 2011 2011

 

Análise da diplomacia chinesa: a "ascensão pacífica" e seus questionamentos

 

Analysis of chinese diplomacy: the "peaceful rise" and its questioning

 

 

Gabriela Granço do Amaral

Mestranda pelo Programa de Pós Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (PUC-SP, UNESP, UNICAMP). São Paulo - Brasil. Contato: gabii.amaral@hotmail.com

 

 


RESUMO

Para o governo da China, uma das principais premissas de sua política externa é que o esforço de desenvolvimento e de modernização do país será conduzido sem abalar as estruturas da ordem mundial, ou seja, será um processo conduzido de forma pacífica e harmoniosa, sem pretensões hegemônicas. Essas premissas foram apresentadas como estratégia nacional sob o nome de "ascensão pacífica". O termo foi lançado em 2003 por Zheng Bijian, vice-presidente do Central Committee's Central Party School, durante um Fórum sobre China nos Estados Unidos, e já em 2004 passou a fazer parte do discurso oficial chinês, sendo utilizado pelo presidente Hu Jintao e primeiro ministro Wen Jiabao. Essa expressão, contudo, foi logo substituída por "desenvolvimento pacífico", mudança que pode refletir disputas de interesses e de poder entre grupos da liderança chinesa e também uma correção das implicações da expressão anterior. Analisar as variáveis que envolvem esta estratégia de ascensão/desenvolvimento é de grande importância para a análise e a compreensão da diplomacia chinesa para o século XXI.

Palavras-chave: China, Política Externa, Ascensão Pacífica


ABSTRACT

For the government of China, a major premise of his foreign policy is the effort of development and modernization of the country will be conducted without disrupting the structures of world order, ie, a process will be conducted in a peaceful and harmonious, without pretensions hegemonic. These assumptions were presented as national strategy under the name of "peaceful rise." The term was introduced in 2003 by Zheng Bijian, vice president of the Central Committee's Central Party School, during a forum on China in the United States, and already in 2004 became part of the official discourse of Chinese, being used by President Hu Jintao and Prime Minister Wen Jiabao. This expression, however, was soon replaced by "peaceful development", which may reflect changing interests and disputes of power between groups of the Chinese leadership and also a correction of the implications of the above expression. Analyze the variables involved in this strategy of ascent / development is of great importance for the analysis and understanding of Chinese diplomacy for the twenty-first century.

Keywords: China, Foreign Policy, Pacific Rise


 

 

INTRODUÇÃO

A aproximação com os Estados Unidos no início da década de 1970 marcou o início de uma nova fase da diplomacia chinesa, com maior visibilidade no cenário internacional e uma atuação mais assertiva nas instancias internacionais, já que essa aproximação também resultou no reconhecimento da China na Organização das Nações Unidas, assumindo o lugar que era de Taiwan. A partir de então, vê-se uma China em busca da abertura econômica, desenvolvimento, modernização, que permitiram ao país tornar-se a segunda economia mundial em 2011, superando o Japão.

Diante da importância que a China possui no cenário internacional atual, entender sua política externa é o objetivo de acadêmicos, formuladores de políticas, estrategistas internacionais e outros atores das mais diversas esferas do conhecimento. Dessa forma, analisar as diretrizes que o país traçou para o século XXI seria uma maneira de compreender o caminho pelo qual a China pretende percorrer para alcançar seus objetivos.

Nesse contexto, a principal estratégia da política externa do país para o século XXI ficou conhecida como "ascensão pacífica", cujos objetivos se concentram em desenvolver-se sem abalar as estruturas da ordem vigente, ajudando outros países a buscarem o desenvolvimento, sempre preservando a paz e a sociedade harmoniosa. Em pouco tempo essa estratégia adentrou os discursos oficiais e saiu deles, causando questionamentos.

Este trabalho visa discutir a "nova diplomacia chinesa" dentro da política denominada "ascensão pacífica", abordando suas premissas e questionando seus reflexos tanto para a China quanto para os demais países. Primeiramente, se discorrerá sobre a reaproximação com os Estados Unidos e sua relevância para a história da diplomacia chinesa. Posteriormente, será feita uma análise da política da "ascensão pacífica", desde seu surgimento até a mudança de nomenclatura para "desenvolvimento pacífico". E, por fim, alguns questionamentos acerca desta estratégia serão abordados, discutindo pontos de inflexão da política externa chinesa.

 

A REAPROXIMAÇÃO COM OS ESTADOS UNIDOS: UMA NOVA DIPLOMACIA CHINESA

Mesmo diante de inúmeros acontecimentos que marcaram a história durante o século XX, a década de 1970 aparece com particular destaque para a compreensão do rearranjo político das relações internacionais, responsáveis por caracterizar a atual configuração do sistema internacional. Nesse período, o mundo vivia um momento peculiar do confronto entre Estados Unidos e União Soviética conhecido como deténte, que significou uma quebra no padrão tradicional da Guerra Fria e deu início a um período de transformação do conflito.1

A importância política-estratégica conferida a este período pode ser entendida quando se analisa as variáveis disponíveis no cenário internacional que poderiam mudar a ordem vigente. Os Estados Unidos iniciaram esta década com um grande declínio de seu poderio no plano internacional, podendo-se até mesmo dizer que a pax americana havia acabado (PECEQUILO, 2005, p.190). O país vivia o desgaste da Guerra do Vietnã (1959-1975), além dos impactos da quebra do sistema de Bretton Woods (1971) e da crise do petróleo (1973); fatores que vieram a assinalar a necessidade de uma nova postura estratégica internacional que revigorasse os ânimos da nação.

Richard Nixon e Henry Kissinger, então presidente e secretário de Estado americanos, buscaram analisar quais eram as principais peças do tabuleiro internacional e desenvolver as melhores jogadas para os Estados Unidos permanecerem como líder mundial. Neste tabuleiro, as principais peças eram União Soviética, Europa Ocidental, Japão e China, e cada uma possuía seus atenuantes. Um dos principais dizia respeito à China e União Soviética, que faziam parte do bloco comunista, possuíam uma vasta fronteira em comum, mas que viviam momentos de tensão neste período, já que um possível confronto entre eles era cogitado.

Assim, temendo uma invasão soviética ao território chinês devido à chamada Doutrina Brejnev2, o que aumentaria o poder da URSS no mundo, os Estados Unidos entendem que a aproximação com a China tinha fundamental relevância para o momento. Da mesma forma, a China de Mao Zedong também percebia que a aproximação com os norte-americanos poderia trazer benefícios as suas ambições no plano internacional, bem como esfriar as tensões com a União Soviética.

Estados Unidos e China haviam rompido suas relações diplomáticas após a vitória dos comunistas na Guerra Civil chinesa de 1949 e sua entrada na Guerra da Coréia em 1950.  Para Henry Kissinger (2007, p.628), "durante muito tempo, os políticos americanos, cegos pelos seus preconceitos ideológicos, não conseguiram avaliar que a ruptura sino-soviética representava uma oportunidade estratégica para o Ocidente"3. A partir do momento que tal percepção se fez clara aos formuladores da política externa norte-americana, o país logo tratou de articular uma reaproximação, afinal, "excluir das opções diplomáticas da América um país com a dimensão da China significava que a América estava a agir internacionalmente com uma mão presa atrás das costas."(KISSINGER, p.629)

Diante da importância que os países tinham um para com o outro no contexto internacional que se vivia,

Com relativa rapidez, Estados Unidos e China retomaram suas relações diplomáticas - em 1969, as conversações foram reiniciadas; em 1971, a República Popular da China (RPC) passou a fazer parte da ONU no lugar de Taiwan; em 1972, Nixon visitou a China e foi lançado o comunicado de Xangai, seguido por outro mais complexo em 1973, finalizado, em 1979, houve o reconhecimento da RPC e desde então os Estados Unidos perseguem a 'política de uma só China' (apesar de não deixarem de apoiar Taiwan, é com a China, com a Grande China, que se desenvolveram as relações diplomáticas formais). (PECEQUILO, 2005, p.196)

A China, no período em que não manteve relações diplomáticas com os Estados Unidos, articulou sua política externa de maneira isolacionista, sutil e indireta. (KISSINGER, 2007, p.633). A real dimensão deste distanciamento só pode ser percebida à medida que o processo de reaproximação se desenvolvia. Kissinger caracteriza essa situação da seguinte maneira:

O isolamento entre América e China fora tão total que nenhuma sabia como contatar com a outra ou como encontrar um vocabulário comum para assegurar à outra que a reaproximação não pretendia ser uma armadilha. (KISSINGER, 2007, p.633)

Portanto, o que se pode inferir é que tal reaproximação tinha caráter estratégico tanto para a China quanto para os Estados Unidos. Ambos os países perceberam que, se próximos, continham o avanço da União Soviética tanto na esfera de influencia chinesa - o que era temido pelo país asiático - como na esfera global - o que não era nem um pouco interessante para a política externa norte-americana. A chamada "carta chinesa" (China card) lançada pelos americanos foi fundamental para desestabilizar os intentos soviéticos e determinantes para os rumos dos últimos anos da Guerra Fria, contribuindo para seu desfecho a favor dos norte-americanos.

Da mesma forma, a jogada norte-americana permitiu à China uma reinserção na grande diplomacia internacional, o que se pode considerar um marco na historia da política externa chinesa, sendo este apenas um primeiro passo para a sua estratégia mundial de se tornar um país desenvolvido e com grande peso internacional. Considera-se que, a partir do encontro entre Nixon e Mao, a China passou a desenvolver uma "nova diplomacia", cujas diretrizes serão abordadas a seguir.

 

A POLÍTICA EXTERNA CHINESA PARA O SÉCULO XXI: A "ASCENSÃO PACÍFICA"

Conforme observado anteriormente, a vitória da Revolução Chinesa de 1949, e sua entrada na Guerra da Coréia, fizeram com que o país se afastasse da "grande diplomacia mundial", ou seja, o país asiático ficou alheio ao cenário onde se concentravam as principais articulações diplomáticas. O distanciamento com os Estados Unidos deixou a China menos visível ao mundo. Também se pode apontar que esse distanciamento foi favorecido pelo fato da China concentrar-se em estabelecer os pilares de seu desenvolvimento interno.4

Após esse processo inicial de fortalecer o setor doméstico, a China passa a se preocupar com as questões internacionais, e nesse sentido, a década de 1970 tem particular importância para a história do país. Em 1978, Deng Xiaoping deu inicio ao processo de abertura econômica chinês, conhecido como as "Quatro Modernizações"5, que visava desenvolver os setores de defesa, agricultura, indústria e ciência e tecnologia, além de promover a chamada "Política das Portas Abertas", que se baseava em promover vínculos diplomáticos com países fora do bloco socialista, inaugurando uma nova fase para a China.

Com um novo olhar para o plano internacional, agora com objetivos mais ambiciosos, o governo chinês foi crescendo economicamente e ganhando visibilidade a ponto de se tornar a segunda maior economia mundial, ultrapassando o Japão em fevereiro de 20116. Nesse contexto, o país lançou uma expressão que demonstrava qual seria o caminho que o país iria seguir em sua política externa para o século XXI e que, segundo o governo chinês, já descrevia os passos que o país vinha dando: "ascensão pacífica".

Segundo Glaser e Medeiros, as origens intelectuais do conceito da "ascensão pacífica" estão enraizadas na evolução gradual do processo de reforma da política externa da China, há aproximadamente 25 anos7. Todavia, pode-se dizer que o país passou a se preocupar com a formulação de uma nova imagem internacional, principalmente em transmitir o caráter pacífico as ações do país, após o incidente de 1989, na Praça de Tiannamen, onde uma manifestação liderada por estudantes foi reprimida pelo Exército Popular de Libertação, gerando muitas mortes e, consequentemente, manchando a imagem da China.

Autores como Wang Jisi acreditam que a primeira aparição da idéia de "ascensão" consta no livro de Yan Xuetong, intitulado "International Environment for China's Rise", de 19988. Mas, a origem da expressão "ascensão pacífica" em seu sentido completo data de 2002, durante uma viagem de Zheng Bijian - o fundador do termo - vice-presidente do Comitê Central da Escola do Partido Central (Central Committee's Central Party School), aos Estados Unidos para participar do China Reform Forum. Esse fórum tinha como um objetivo discutir qual era a imagem norte-americana sobre a emergência da China nas relações globais. (GLASER, p.294). A preocupação chinesa para com a imagem norte-americana de si centrava-se na possibilidade de, em caso essa imagem fosse distorcida, deixar as relações sino-americanas prejudicadas e até mesmo atrapalhar a busca chinesa ao status de grande potencia mundial. Na ocasião, Zheng e sua delegação desenvolveram a idéia de "o caminho para o desenvolvimento da ascensão pacífica da China"9.

Alguns outros autores preferem referirem-se a origem da expressão como sendo em Novembro de 2003, durante o Forum de Bo'ao para a Ásia (Bo'ao Forum for Asia), como é o caso de Robert L. Suettinger10. Durante o Forum, Zheng Bijian falou a respeito do "Novo Caminho para a 'Ascensão Pacífica' da China" (New Path for China's 'Peaceful Rise), no qual explicitou as principais premissas do novo conceito. Elas se resumem em: não buscar a expansão externa; defender a paz, cooperação mútua e desenvolvimento igualitário (GLASER, p.295). Segundo Zheng Bijian,

"O fato fundamental é que nos últimos 25 anos, desde a sua reforma e abertura, a China tem delineado uma nova trajetória estratégica que não só atende às suas condições internacionais, mas também está de acordo com a maré do tempo. Este novo caminho permite a ascensão pacífica da China através de uma construção independente do socialismo com características chinesas ao participar, ao invés de isolar-se, da globalização econômica. [...] Temos enfrentado muitos testes. O povo chinês, no entanto, nunca titubeou em sua determinação de abraçar o novo caminho para a ascensão pacífica. Na China de hoje, portanto, a reforma, liberalização e desenvolvimento pacífico estão profundamente enraizados no modo de vida e na cultura, que por sua vez, criaram um ambiente seguro para o caminho estratégico da China para a ascensão pacífica. [...] De um modo geral, nas duas ou três décadas que estão por vir, ou no começo do século XXI, a Ásia irá enfrentar uma oportunidade rara na história para a ascensão pacífica, e a ascensão pacífica da China será uma parte  da asecensão pacífica da Ásia." (ZHENG, 2003, p.14,16,17)11

Há também outras explicações para o surgimento do conceito/teoria da ascensão pacífica, que não se restringem ao fato de ser uma característica do país e um caminho que já vem sendo seguido. Segundo John L. Thorthon, presidente da The Brookings Institution, a teoria da ascensão pacífica também surgiu para fazer um contra-balanço à outra teoria que abordava o tema do crescimento da China, conhecida como a "teoria da ameaça da China" (China Threat Theory)12. Na verdade, o que fica evidente é que a "ascensão pacífica" tinha como um principal objetivo desmistificar a idéia de que uma grande potência só pode emergir abalando a ordem vigente e desestabilizando o sistema, como foram os casos do Japão e Alemanha no século XX. Ou seja,

Ao promover o conceito de 'ascensão pacífica', os líderes chineses estão, de fato, reconhecendo que eles precisam evitar os tipos de políticas buscadas pelas primeiras potências ascendentes - Republica de Weimar, Japão Imperial e União Soviética - as quais foram vistas como levando a uma crise sistêmica. Eles querem convencer o mundo de que a China está preparada para fazer parte do sistema internacional sem o desestabilizar. (MOHAN, 2004, p.3700)

A idéia de "ascensão pacífica" tornou-se parte integrante da política externa chinesa quando o Premier Wen Jiabao utilizou a expressão em um discurso feito na Universidade de Harvard, já no final de sua visita aos Estados Unidos, em 10 de Dezembro de 2003. Na ocasião, Wen disse que a China era uma potência em ascensão dedicada à paz e, dessa forma, o país iria buscar desenvolver seu mercado interno, aumentando os salários de seus cidadãos; melhorando a sua qualidade de vida; além de buscar na tecnologia e ciência a solução dos problemas ambientais. Nesses ideais, segundo Wen, é que residiam a essência do caminho de ascensão pacífica e desenvolvimento da China. (SUETTINGER, 2004, p.3)

Após essa primeira aparição no discurso oficial, não tardou muito para que o conceito fosse abordado em outra ocasião. Em 26 de dezembro de 2003, durante a comemoração do 110º Aniversário de Nascimento de Mao Zedong, Hu Jintao falou sobre a "ascensão pacífica" ao abordar a temática da política externa no país. Hu disse que a China deveria insistir em tomar o caminho da ascensão pacífica; buscar, junto aos demais países, relações baseadas nos cinco princípios da coexistência pacífica; desenvolver ativamente o intercambio e a cooperação com base na igualdade e beneficio mutuo, além de contribuir com a paz da humanidade e seu desenvolvimento. (GLASER, 2007, p.298)

Os cinco princípios da coexistência pacífica a que Hu Jintao se referiu foram lançados por Zhou Enlai, um estrategista da diplomacia chinesa, pouco depois da formação da Republica Popular da China (1949). Eles consistem em: (1) respeito mútuo à soberania e integridade nacional; (2) não agressão; (3) não intervenção nos assuntos internos do país por parte de outro; (4) igualdade e benefícios recíprocos; (5) coexistência pacífica entre os Estados com sistemas sociais e ideológicos diferentes (CUNHA, 2008, p.9). Eles também são tidos como base para a teoria da ascensão pacífica, juntamente com outras cinco premissas lançadas por Wen Jiabao.

Para o premiê chinês, as cinco premissas que estão a seguir seriam essenciais para a ascensão pacífica chinesa e seus objetivos. Segundo ele, elas consistiam em (1) aproveitar a vantagem da paz mundial para promover o desenvolvimento da China e salvaguardar a paz mundial através do desenvolvimento chinês; (2) basear-se na força da própria China e de seu trabalho independente e forte; (3) continuar a política de abertura, atuando ativamente no comércio internacional e trocas econômicas; (4) a idéia de ascensão pacífica estaria presente por várias gerações; (5) e não significaria "estar no caminho de outro país" ou "ameaçar outro país" ou ainda conseguir alcançar a ascensão às custas de uma nação em particular . Ou seja, a China não buscaria a hegemonia, mesmo depois de se tornar mais poderosa. (SUETTINGGER, 2005, p.4)

Embora o discurso/conceito/teoria sobre a "ascensão pacífica" parecesse ser a primeira estratégia concreta do governo de Hu Jintao e Wen Jiabao, caracterizando-se até como a "estratégia nacional" para a política externa, não demorou muito para que seus preceitos fossem questionados. Um primeiro sinal de que a nova estratégia já estaria sendo revisada foi dado pelo presidente Hu Jintao em 24 de abril de 2004, durante a Conferência de Bo'ao. Em seu discurso ele usou expressões como "paz e estabilidade"; "paz e tranquilidade" e "coexistência pacífica", e não mencionou "ascensão pacífica". (GLASER, 2007, p.299)

Uma primeira explicação para a ausência do termo está ligada a questão linguística. "Ascensão" no idioma chinês é entendida como juequi, que possui em seu radical jue a idéia de ruptura brusca; que "aparece de repente (ou ascende) no horizonte" (WANG,2006, p.2). Isso traz a conotação de que a China desafiaria a realidade, principalmente para aqueles países que também fazem uso dos caracteres chineses, tais como Japão e Coréia.  Como já foi observado, o que a China menos queria era seu crescimento fosse compreendido como uma ameaça, que desafiasse o sistema vigente, que quisesse alterar a ordem Mundial.

Uma segunda explicação estaria na questão de Taiwan. Como bem se sabe, a China possui relações tensas com este país, já que o considera como sendo parte de si e não um Estado independente. Nesse sentido, advogar uma "ascensão pacífica" poderia levantar falsas expectativas de que China não faria uso da força com relação a Taiwan e seu desejo por independência, caso isso fosse necessário. Para Shi Yinhonf, professor da Universidade Popular da China, a ascensão chinesa poderia ser barrada se não conseguisse manter a não independência de Taiwan. Além disso, para ele, conflitos locais militares não são contrários à idéia de ascensão pacífica e, pelo contrário, seriam mais fáceis de serem administrados quando inseridos nesse ideal. (GLASER, 2007, p.303)

Uma terceira explicação, abordada por Suettingger, é mais complexa. Para o autor, haveria uma disputa política entre Hu Jintao e Wen Jiabao em relação ao presidente da Comissão Central Militar, Jiang Zemin, e seus apoiadores. A questão envolve a elaboração de políticas, em que Hu e Wen procurariam novos conceitos para implementar, desvencilhando-se daqueles que outrora haviam sido advogados por Jiang Zemin. Isso nos dá indícios que uma possível disputa de poder interno. A retirada do termo dos discursos oficiais, estaria favorecendo o "lado" de Zemin e seus apoiadores, contrariando a intenção inicial que era de gerar um possível ciúmes da parte de Zemin em relação à nova estratégia chinesa.13

O fato é que, embora as várias explicações sobre a ausência do termo "ascensão pacífica" dos discursos oficiais, a ideia que estava intrínseca a esse discurso apenas mudou de nomenclatura para parecer menos ofensiva. Em 2005, o governo chinês lançou um documento intitulado "O caminho do desenvolvimento pacífico da China" (China's Peaceful Development Road), o qual descrevia quais seriam os principais objetivos do país para o século XXI, ou seja, o caminho que seria percorrido pela China no próximo século no que diz respeito à política externa. O documento não fala a respeito da "ascensão" chinesa, mas mantém as concepções que faziam parte dela quando lançada em 2003.

Olhando para nossa história, baseando-se na presente realidade e olhando adiante para o futuro, a China irá inabalavelmente seguir o caminho do desenvolvimento pacífico, fazendo grandes esforços para alcançar um desenvolvimento pacífico, aberto, coopertativo e harmonioso. [...] Paz, abertura, cooperação, harmonia e win-win são nossas políticas, nossas idéias, nossos princípios, nossa busca. [...] O caminho do desenvolvimento pacífico da China é um novo começou para a humanidade na busca por civilização e progresso, o caminho inevitável para a China alcançar a modernização, uma escolha séria e uma promessa solene feita pelo governo chinês e pelo povo chinês." (CHINA'S PEACEFUL DEVELOPMENT ROAD, 2005)14,15

O que se pode inferir é que o governo chinês se preocupou em não dar brecha para que tanto estudiosos, quanto líderes políticos, pudessem argumentar que o país iria desestabilizar a ordem com seu crescimento. A China busca se tornar uma grande potencia, mas, de acordo com os discursos referentes a sua política externa, o fará de modo gradual, visando o desenvolvimento dos outros países concomitantemente ao seu. Além do mais, é nítida a ênfase dada a "não pretensão à hegemonia mundial", tanto no documento acima mencionado, onde se lê essa afirmação por várias vezes, quanto nos discursos que ainda abordavam a expressão da ascensão pacífica. Dessa forma, alguns questionamentos podem ser elaborados com relação à aparição do discurso/conceito/teoria da "ascensão pacífica" e sua consequente abolição dos discursos, em favor conceito de "desenvolvimento pacífico".

 

OS QUESTIONAMENTOS ACERCA DA "ASCENSÃO PACÍFICA"

O fato de a nomenclatura da estratégia nacional chinesa quanto a sua política externa ter se alterado levanta suspeitas e questionamentos. O primeiro que se pode fazer é quanto a intenção de mudança do termo "ascensão". Como se observou, a primeira vez que a expressão "ascensão pacífica" foi lançada, Zheng Bijian estava em um Forum sobre a reforma chinesa nos Estados Unidos, onde se discutia a imagem americana sobre a China. Mesmo diante das explicações referentes à problemática linguística da expressão "ascensão", é possível questionar se a principal preocupação chinesa não foi a de não levantar mais olhares para sua política externa.

Uma peculiaridade em relação ao debate sobre a "ascensão pacífica" é que este permitiu que estudiosos, não apenas chineses, pudessem se envolver com o tema. A política externa chinesa não era tema em debates acadêmicos, mas começou a ter mais repercussão após o lançamento da "ascensão pacífica como estratégia nacional". Wang Jisi discute sobre essa característica quando diz:

O que faz o discurso da heping jueqi [ascensão pacífica] interessantemente distinguível dos discursos anteriores é que é mais pertinente para os próprios interesses, intenções e políticas domésticas e internacionais da China do que como os chineses deveriam perceber seus vizinhos e o resto do mundo. O que também é interessantemente sem precedentes é o fato de que o conceito foi primeiramente adotado por líderes políticos e, então, caiu nas declarações oficiais obtendo repercussões domésticas desfavoráveis, enquanto seus iniciantes ainda eram capazes de usar o termo em publico. (WANG, 2006, p.4)

Dessa forma, pode-se perguntar se um dos intentos de mudar de "ascensão" para "desenvolvimento" não visava reduzir os holofotes com relação à política externa chinesa, principalmente para países como Estados Unidos e Japão, tornando-a menos polêmica e mais aceita, já que evitaria confrontos tanto com a hegemonia mundial quanto com o vizinho desenvolvido.

Outro possível questionamento diz respeito à essência das expressões. Autores como Wang Jisi, Bonni Glaser e Evan Medeiros, por exemplo, afirmam que a idéia de "ascensão pacífica" não foi modificada mesmo após o termo ser trocada por "desenvolvimento pacífico". Ou seja, os mesmos anseios que estavam dispostos com o conceito de ascensão ainda permanecem no conceito de desenvolvimento. Sendo assim, embora se trate de "desenvolvimento", a China estaria interessada em ascender no cenário internacional até chegar ao status de potencia.

Nesse sentido, se a essência do discurso permanece a mesma - com outras palavras - pode-se até questionar se realmente a China não anseia a hegemonia mundial, já que esse era um dos temores com o discurso da "ascensão pacífica". O fato de os chineses constantemente afirmarem que não buscam a hegemonia, faz com que se questione se isso não seria apenas uma questão de discurso, mas que na essência a realidade seja outra. Yan Xuetong afirma que, logo após a derrocada da União Soviética, a ascensão da China atraiu a atenção internacional e, aos olhos do povo chinês, o declínio da China foi um erro que deveria ser corrigido. Para o autor, a pergunta que os chineses constantemente se fazem é: "por que a China não é a número um do mundo?"16.

Logo, saber se a China quer ou não se tornar uma hegemonia é uma pesquisa que vai além da análise do discurso, mas exige uma análise das ações propriamente ditas, já que, nas palavras de Kissinger, "quase que por uma lei natural qualquer, em cada século parece emergir um país com poder, a vontade e o ímpeto intelectual e moral de moldar todo o sistema internacional de acordo com seus próprios valores"17.

Taiwan é outro fator de inflexão. Conforme observado ao longo deste trabalho, Taiwan foi um dos motivos pelos quais o termo "ascensão pacífica" foi alterado. Nesse sentido, levando-se mais uma vez em consideração de que a mudança dos termos não implicou uma real mudança nas estratégias chinesas, pensar que a China poderia fazer o uso da força contra a independência de Taiwan faz com que a política externa chinesa seja questionada quanto ao seu verdadeiro pacifismo. Afinal, se a proposta é que os países que se relacionam com a China tenham ganhos próprios e se desenvolvam (win-win policy), como ficariam as relações com Taiwan?

Portanto, há mais questões com relação à "ascensão pacífica" do que respostas. Mesmo que o governo chinês altere suas nomenclaturas políticas, a política externa chinesa para o século XXI tem muito a ser analisado e questionado.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A década de 1970 foi determinante para a história da China. Nesse período o país reestabeleceu as relações diplomáticas com os Estados Unidos, que haviam sido rompidas desde a formação da República Popular da China, em 1949. Isso permitiu que o país galgasse maior visibilidade no cenário internacional e passasse a exercer maior influencia, já que, depois disso, tomou seu lugar no Conselho de Segurança da ONU, que pertencia a Taiwan. Concomitante a esse processo, a China também procurou dar novos rumos a sua economia, começando um processo de abertura em 1978, o qual foi responsável para que o país chegasse a ser a segunda maior economia mundial em 2011, superando o Japão.

Devido a sua maior participação internacional, o tema da política externa chinesa ganhou espaço no meio acadêmico, pela necessidade de entender o "fenômeno China", seja para aprender lições, seja para evitar problemas. Nesse sentido, depois do incidente na praça de Tiananmen, em 1989, o país procurou trazer uma nova imagem ao mundo, agora de paz e estabilidade. O governo lançou a expressão "ascensão pacífica", em 2003, como sendo a estratégia nacional para a política externa e segurança do governo de Hu Jintao e Wen Jiabao. Por meio deste discurso/conceito/teoria, o país se comprometia em não abalar a ordem vigente com seu crescimento, buscar manter a paz mundial, buscar o desenvolvimento próprio e ajudar os demais países nesse mesmo caminho. Essa estratégia, todavia, com esse nome, teve pouco tempo de vida.

Em 2005, o governo lançou um documento que falava da estratégia chinesa como sendo "desenvolvimento pacífico", e a "ascensão" não mais foi abordada. A mudança do termo, entretanto, não mudava a essência dos objetivos da China, apenas evitava problemas relacionados a conotação de ameaça que a palavra ascensão poderia trazer.

Todavia, a China continua a ascender. E isso não mudou com a troca de nomenclatura. Diante disso, ainda tem-se muito que se questionar sobre a diplomacia da "ascensão pacífica" chinesa, já que essa é a essência de sua política externa. Pontos de tensão, como Taiwan, ainda podem colocar em xeque as premissas chinesas de paz e harmonia, e desviar um pouco o caminho chinês.

A diplomacia chinesa tornou-se mais assertiva após a aproximação com os Estados Unidos e as ações do país estão cada vez mais presentes na África e América do Sul, principalmente. Isso evidencia que a política externa tende a se diversificar, ganhar parceiros econômicos, ampliar sua influencia política e alcançar patamares cada vez mais elevados. Nessas condições, o discurso da não pretensão hegemônica, também presente dentro da política de "desenvolvimento pacífico", pode ser foco de questionamentos, tal qual foi o da "ascensão pacífica". Cabe àqueles que têm acompanhado o decurso da política externa chinesa estarem atentos as articulações da diplomacia do país para identificar os pontos em que o discurso condiz ou não com a realidade.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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PECEQUILO, C. S. A política externa dos Estados Unidos. Editora da UFRGS. 2ª edição. Porto Alegre, 2005.

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THORTON, J.L. China's Peaceful Rise: Speeches of Zheng Bijian 1997-2004. Disponível em: http://www.brookings.edu/fp/events/20050616bijianlunch.pdf

WANG, Jisi. "Peaceful Rise": a discourse in China. Pekin University. 2006. Disponível em: http://www2.lse.ac.uk/newsAndMedia/news/archives/2006/Wang_Jisi.aspx

YAN, X.  The rise of China in Chinese eyes. Journal of Contemporary China. Vol. 10. 2001. p.33-39. Disponível em: http://blog.hiddenharmonies.org/wp-content/uploads/2010/02/yxt.pdf

 

 

1. "A détente trouxe concepções inovadoras que sinalizaram um momento diferenciado nas relações internacionais norte-americanas" (PECEQUILO, 2005, p.191) Para entender melhor este período, ver: PECEQUILO, C. S. A evolução da contenção: novas e velhas tradições. In_ A política externa dos Estados Unidos. Editora da UFRGS. 2ª edição. Porto Alegre, 2005. Páginas 189-201.
2. A doutrina Brejnev também é conhecida como a Doutrina da Soberania Limitada. Seu principal foco era a defesa da união entre os países e partidos socialistas, visando o alinhamento a Moscou. Na prática, ela acabou restringindo a independência dos partidos comunistas em todo o mundo, o que causava desconforto da China em relação a essa situação. ALMENDRA, M. Formação Européia, 1989-1991. Centro de Investigação e Análise em Relações Internacionais (CIARI). Disponível em: http://www.ciari.org/investigacao/formacao_europeia.pdf
3. KISSINGER, Henry. Diplomacia. Editora Gradiva. 3ª Edição. Lisboa, 2007. Pg.628.
4. Quando Mao Zedong assumiu o poder da China, em 1949, o país se encontrava com uma economia falida, por conta da guerra civil pela qual passara; as taxas de inflação eram crescentes; a agricultura se encontrava em estado de colapso. Diante disso, o governo central concentrou seus esforços em garantir o bem-estar e a segurança nacional, estabelecer uma base industrial forte e desenvolver os setores de defesa e tecnologia. Para saber mais, ver: AMARAL, G.C.G. Compreendendo as raízes do crescimento econômico chinês: uma anatomia das State-Owned Enterprises (SOEs). Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/58124454/Compreendendo-as-raizes-do-crescimento-economico-chines-uma-anatomia-das-State-Owned-Enterprises-SOEs Assim, Mao Zedong dedicou-se mais aos problemas que enfrentava no âmbito interno e não se preocupou com o distanciamento diplomático que vivia concomitantemente a esse processo.
5. A idéia das "Quatro Modernizações" foi lançada por Zhou Enlai em 1964, durante o Third National People's Congress, e após a morte de Mao Zedong, em setembro de 1976, foi retomada por Deng Xiaoping.
6. BBC. China passa Japão e é a 2ª maior economia mundial. 14/02/2011. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/02/110214_china_japao_economia_rw.shtml
7. GLASER, B. S. and Medeiros, E. S. The Changing Ecology of Foreign Policy-Making in China: The Ascension and Demise of the Theory of "Peaceful Rise". The China Quarterly, 190, June 2007, p.291-310.
8. WANG, Jisi. "Peaceful Rise": a discourse in China. Pekin University. Disponível em: http://www2.lse.ac.uk/newsAndMedia/news/archives/2006/Wang_Jisi.aspx
9. O termo foi traduzido de "the development path of China's peaceful rise" ou em chines "Zhongguo heping jueqi de fazhan daolu". Encontrado em: GLASER, B. S. and Medeiros, E. S. The Changing Ecology of Foreign Policy-Making in China: The Ascension and Demise of the Theory of "Peaceful Rise". The China Quarterly, 190, June 2007, p.294
10. SUETTINGGER, R.L. The Rise and Descent of "Peaceful Rise". China Leadershio Monitor. Número 12. 2005. Disponível em: http://weblog.leidenuniv.nl/media/blogs/76061/kijkennaardepers/archives/zheng%20bijian.pdf
11. Os pronunciamentos de Zheng Bijian encontram-se em: THORTON, J.L. China's Peaceful Rise: Speeches of Zheng Bijian 1997-2004. Disponível em: http://www.brookings.edu/fp/events/20050616bijianlunch.pdf
12. THORTON, J.L. China's Peaceful Rise: Speeches of Zheng Bijian 1997-2004. Disponível em: http://www.brookings.edu/fp/events/20050616bijianlunch.pdf
13. SUETTINGGER, R.L. The Rise and Descent of "Peaceful Rise". China Leadershio Monitor. Número 12. 2005. P.8. Disponível em: http://weblog.leidenuniv.nl/media/blogs/76061/kijkennaardepers/archives/zheng%20bijian.pdf
14. A política denominada win-win refere-se a idéia de que as relações chinesas visam que tanto o país saia com benefícios quanto àqueles com os quais a China se relaciona. Ou seja, ambos os lados ganham. O verbo ganhar em inglês é to win.
15. CHINA'S PEACEFUL DEVELOPMENT ROAD. 2005. Disponível em: http://www.china.org.cn/english/features/book/152684.htm
16. YAN, X. The rise of China in Chinese eyes. Journal of Contemporary China. Vol. 10. 2001. p.33-34.
17. KISSINGER, Henry. Diplomacia. Editora Gradiva. 3ª Edição. Lisboa, 2007. Pg.11.