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ISBN 2236-7381 versión impresa

3° Encontro Nacional ABRI 2011 2011

 

Os custos da projeção de poder

 

 

Henrique Tavares FurtadoI; Saymon SandersonII

IMestrando em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
IIBacharel em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

 


 

RESUMO

O Conflito do Atlântico Sul de 1982, foi um marco para os estudos da teoria do realismo ofensivo de Mearsheimer sobre "O Poder parador das Águas". O distanciamento desproporcional entre os dois países beligerantes - Argentina e Reino Unido - fez com que os britânicos despendessem de muito mais esforços logísticos do que seus rivais Argentinos. Mensurando os esforços logísticos necessários para tornar o conflito exeqüível, verifica - se que, grandes extensões de águas foram um fator impeditivo, de aumento significativo dos custos, para transpor forças e suprimentos para alem mar. O propósito desse trabalho reside em fortalecer o conceito de poder parador das águas - os custos da projeção de poder por sobre grandes extensões de águas - frente a necessidade de uso de um complexo arcabouço logístico. Através deste condicionamento, objetiva-se mostrar o quão custoso pode ser a "projeção de poder" de determinado Estado. Ademais, é feita uma análise acerca da característica do "Poder Parador das Águas" enquanto dualidade pré-condição/impedimento às pretensões hegemônicas de um país.

Palavras-Chave: Poder Parador das Águas. Malvinas/ Falklands. Relações Internacionais. Realismo Ofensivo


 

 

INTRODUÇÃO

O procedimento de formulação teórica pode ser compreendido de inúmeras maneiras. É possível imaginar que seja essencialmente um exercício de criatividade (WALTZ, 1979), possua em si mesmo propósitos específicos (COX, 1986) ou ainda, que evidencie diferentes relações de poder (FOUCAULT, 2008). Sem desmerecer a discussão, o presente trabalho sugere apenas que a formulação de teorias seja entendida enquanto um esforço de compreensão de determinado aspecto da realidade, seja ela exterior e objetiva, seja fundamentalmente moldada pelo observador.

Poucas, vezes, se admitirmos essa concepção do processo de formulação teórica, categorias abstratas possuíram uma relação tão completa para com a realidade que objetivam compreender, particularmente na teoria de Relações Internacionais, quanto a idéia de J. Mearsheimer (2001) de poder parador das águas (stopping power of water). O propósito desse trabalho reside, pois, em evidenciar essa correlação entre abstração e empiria, numa tentativa de ilustrar o poder parador das águas através de acontecimentos reais, nos quais a existência de grandes corpos de água a serem transpostos apresentaram um aumento significativo nos custos de projeção de poder de determinado estado.

Para isso, serão transcritos, de forma resumida, os principais tópicos da teoria realista ofensiva de John Mearsheimer, com uma atenção especial para o conceito de poder parador das águas e para suas implicações no processo de projeção de poder, que se caracterizam como pontos cruciais no raciocínio de Mearsheimer Depois, serão analisados, do ponto de vista das operações militares, as implicações da estratégia de desembarque anfíbio, seus problemas e dificuldades intrínsecas, não como forma de ilustrar na pratica as dificuldades de projeção de poder, mas como um contraposto também teórico a tal idéia, não sendo, portanto, exemplificadas empiricamente operações de desembarque anfíbio. Por fim, será descrita a guerra de 1982 entre Argentina e Reino Unido pela soberania por sobre os territórios das Falklands/ Malvinas. Serão, sobretudo, Analisados os custos, no sentido contábil do termo, da empreitada por parte dos dois países e, uma vez contrastados, espera-se que fique claro a implicação pratica do poder parador das águas.

 

REALISMO OFENSIVO

A teoria de Mearsheimer pode ser entendida como uma espécie de anel protetor, no sentido lakatosiano (LAKATOS; MUSGRAVE, 1970), do realismo estrutural de Waltz. Praticamente todas as premissas são as mesmas, o caráter sistêmico é mantido e a noção de poder enquanto controle sobre recursos, capabilities, permanece. Vale, portanto, recapitular os princípios do neo-realismo, transcritos em cinco premissas por Mearsheimer, de modo a compreender sua variação, o realismo ofensivo.

A primeira assunção realista é a anarquia sistêmica. O ambiente no qual os estados, o jogadores do jogo que pretende compreender, é isento de relações hierárquicas, ou seja, relações de mando e subordinação legitimadas. A anarquia internacional é reforçada pelo conceito de soberania externa, segundo o qual cada estado nacional possui jurisdição (juris dictio, o ditar a lei) sobre seu, e somente seu território. O caráter Anárquico do sistema internacional, longe de representar a falta de ordem é, em si mesmo, uma forma de ordenamento. O ambiente internacional, Tal qual livros em uma estante (BULL, 2002) apresenta sinal de ordem, por mais essa ordem não possua funcionalidade, ou finalidade qualquer. A anarquia é, pois, o principio ordenador do sistema.

A segunda premissa reside no fato dos estados possuírem capacidades militares, tal seja, serem capazes de infringir dano em outros estados. Parte importante do pensamento realista diz respeito ao medo da utilização dessa capacidade. Estados dispõe de forças que os tornam capazes de projetar poder e podem vir a fazê-lo, por mais que a justificativa para a manutenção dessas mesmas forças seja de ordem defensiva. A terceira premissa realista é a suposição da incerteza. Os estados interagem num ambiente de falta de informação ou assimetria informacional. Um estado "X" não possui, a principio, informações cruciais para o jogo internacional como aquilo que planeja o estado "Y", estado esse que possui, como visto na segunda premissa, capacidade de infringir dano a "X". O resultado é que, ao serem incapazes de realmente saberem as "intenções" dos outros estados, os jogadores devem, sempre, se preparar para o pior, ou seja, para que tais intenções sejam as piores possíveis.

Mas porque os estados devem tomar decisões com base no pior cenário possível? A resposta a essa pergunta decorre do equacionamento das três premissas acima com mais duas: O caráter racional dos estados e sua busca por sobrevivência. Quanto a racionalidade estatal, tem-se que os estados visam maximizar sua utilidade (ou preferências) agindo de acordo com um calculo prévio de custos e benefícios vis a vis outros estados. Ora, esse ator racional, quando imerso num ambiente anárquico, no qual impera a incerteza e todos os outros atores, igualmente racionais, possuem capacidade de lhe infringir dano, vai agir de forma a maximizar, em ultima instancia, sua própria sobrevivência. Isso se da porque a anarquia compele os estados a agirem por si mesmos e para si mesmos. Esse estratégia de self-help é a conseqüência da não existência de um ente supranacional que arque com a segurança de todos no sistema. "X" deve imaginar o pior de "Y" porque, num ambiente de incerteza, no qual a segurança do ator esta em jogo, tentar encontrar um ponto ótimo é por demais arriscado. Ao se preparar para um ataque de "Y"( imaginando que isso fosse o pior cenário possível), "X" estará maximizando sua utilidade, que no caso diz respeito a sua segurança, mesmo que tal ataque jamais ocorra. Ademais, pode ainda ser que esse ataque não ocorra dada preparação de "X". Onde ha incerteza, é difícil saber.

Do entendimento desse ambiente internacional hobbesiano e suas implicações para os atores racionais nele inseridos, surgem divergências quanto aos curso de ação dos Estados. O realismo "defensivo" de K. Waltz entende que a pratica do balanceamento, a formação de alianças militares para a contraposição a um estado que possua maiores capabilities é a tônica do sistema internacional e que, de alguma forma, os agentes sentem-se satisfeitos com algum nível de segurança, buscando aumentar suas capabilities até certo ponto, e não alem. Poder-se-ia argumentar que, mesmo que os Estados procurassem aumentar seu controle sobre recursos alem desse ponto de satisfação, a própria possibilidade de balanceamento por parte dos outros estados representaria um desincentivo. Para o realismo ofensivo, todavia, o balanceamento não impede que os estados busquem aumentar suas capacidades cada vez mais e, em um caso extremo, tornarem-se hegemons globais.

Mearsheimer entende que os estados assim o fariam dado que essa é a forma mais significativa de maximizar suas utilidades, ou seja, de preservar sua segurança. Se "X" e "Y" são atores racionais, que agem de acordo com um calculo custo benefício, "X" agira de modo a aumentar os custos de uma ação por parte de "Y" que o desagrade, por exemplo, uma tentativa de lhe aniquilar, de infringir dano a "X". Um modo particularmente eficiente de impor custos a essa ação seria aumentar a capacidade de "X" de resistir a tal tentativa, aumentar suas capabilities. Se levarmos esse raciocínio ao extremo, caso "X" se tornasse o mais poderoso estado do sistema, tão poderoso de modo que o segundo mais poderoso não seria capaz de lhe vencer em uma guerra convencional (MEARSHEIMER, 2001), "X" não teria deixado de se preocupar somente com "Y", mas também com "Z", "H", "W", enfim, não se sentiria ameaçado por mais nenhum estado. Tornar-se um hegemon, é a maneira mais garantida de maximizar a sobrevivência num ambiente anárquico de assimetria informacional. É de acordo com essa lógica que o realismo "ofensivo" entende a busca de poder como estratégia incessante dos estados, ao menos das grandes potencias. No que tange a política internacional, de acordo com Mearsheimer, não ha espaço para satisfação.

Entretanto, no decorrer de The Tragedy of Great Power Politics, Mearsheimer deixa claro que não houve ate os dias atuais, e é extremamente provável que não haja jamais, um hegemon global de fato. O por que? A existência de grandes corpos de água a serem transpostos no processo de projeção de poder: o poder parador das águas. Na tentativa de aumentarem suas capabilities, seu controle sobre recursos, os estados dispõe de mecanismos de trocas e de conquistas e expansão territorial. Para fazer valer seus interesses, em ultimo caso, os estados dispõe de corpos militares profissionais. O planeta terra, locus do sistema internacional, todavia, é composto de continentes separados por oceanos: imensos corpos de água. A expansão territorial, portanto, é limitada a priori ao continente no qual se situa o pretenso hegemon. Isso não quer dizer que as grandes potencias não sejam capazes de projetar poder para além mar. Isso quer dizer somente que o processo pelo qual o fazem, principalmente o desembarque anfíbio, é tão complicado e custoso que a probabilidade de que seja efetivo é muito baixa. O processo de projetar poder em sim mesmo, enfraquece o próprio poder a ser projetado. A capacidade das grandes potencias de conquistar e proteger territórios ultramarinos, portanto, é muito pequena.

Essa incapacidade teórica de hegemonia global, dada a implicação pratica de deslocar forças pelos oceanos e de utilizá-las eficientemente, repercute na hegemonia regional, ou continental, como o fim ultimo a ser buscado pelos estados. Uma vez hegemon regional, a grande potencia que conseguir "dominar" sua região começa a agir de modo a impedir que outras potencias façam o mesmo em suas respectivas regiões. O Hegemon regional torna-se necessariamente um ofshore balancer, certificando-se de que mais nenhuma potencia seja capaz de agregar capabilities a ponto de lhe ameaçar. O poder parador das águas, as dificuldades intrínsecas a projeção de poder ultra-marina, é pois, peça fundamental no raciocínio realista ofensivo.

 

A GUERRA DAS FALKLANDS/ MALVINAS

Em Abril de 1982 A junta militar que governava a Argentina, encabeçada pelo General Galtieri, punha em pratica o plano de invasão militar para a suposta "retomada" das ilhas Malvinas, a Operação Rosario. A operação consistia no desembarque anfíbio de tropas ao sul de Porto Stanley, a capital administrativa das Falklands. O contingente seria dividido em dois grupos sendo que o maior teria por objetivo a tomada do quartel general das forças britânicas (A residência do governador Sir Rex Hunt) e grupo menos deveria liberar a utilização do aeroporto da cidade, que havia sido parcialmente interditado pelas forças de resistência locais. (com uma espécie de barricada feita de barris de óleos e automóveis que impediriam o pouso de qualquer aeronave). O comando das forças Britânicas entendia que não seria possível barrar uma eventual invasão argentina, mas que, com o reforço e tempo necessários, poder-se-ia retomar as ilhas através de um contra-ataque anfíbio. A idéia, portanto, era que as forças britânicas inicialmente atacassem as forças argentinas de maneira incisiva, para lhes proporcionar o maior numero de baixas possível e, logo apos, retirarem-se, de modo a ganhar tempo para a tal retomada.

As forças argentinas possuíam mais de 800 homens e os britânicos contavam com apenas 80, 69 fuzileiros navais, 11 marinheiros e 1 ex-fuzileiro que se realistara ao saber do ocorrido (FREEDMAN, 2005). A batalha "pela" residência do governador Hunt, como era de se esperar dada a força imensamente desproporcional das tropas envolvidas, foi vencida pela força atacante, que imediatamente extraditaram o governador e voltaram suas atenções para a ilha da Geórgia do Sul, cuja defesa contava com nada mais que 22 fuzileiros, incapazes de impedir o avanço argentino.

O Estado Maior Argentino dava como pouco provável uma reação por parte da Grã Bretanha. Nesse sentido, Buenos Aires imaginava uma guerra rápida, sem muitas dificuldades e pouca resistência. A perspectiva de um conflito prolongado, em si mesma, representava um custo muito auto para o estado argentino, que passava por uma dura crise econômica (FREEDMAN, 2005). Não obstante, a realidade frustrou às especulações argentinas quando a marinha real britânica decidiu pela criação de uma força tarefa cujo objetivo seria a retomada das Falklands.

A Formação da força tarefa provou ser problemática dada a relativa urgência e a necessidade de utilização de recursos pertencentes ao Reino Unido em outros lugares do planeta, como, por exemplo, o estreito de Gibraltar, que ainda era contestado pela Espanha, e a Ilha de Belize, contestada pela Guatemala. A falta de tempo para a preparação de uma contra-investida ocasionou sérios problemas no que diz respeito a primeira fase do desembarque anfíbio: A organização das tropas e dos maquinários nas embarcações que os transportarão, o Comodoro Clapp afirmaria que "Nos basicamente temos conseguido espremer aquilo que consideramos essencial no espaço que possuímos" (FREEDMAN, 2005, p.52, tradução livre)1, o que traria problemas sérios no momento do desembarque anfíbio, no qual é necessário grande velocidade e coordenação. Apesar dessas complicações, a Força Tarefa zarpou em direção a seu objetivo, tendo na ilha de Ascensão, a 3800 milhas das Falklands/ Malvinas, uma importante base da qual partiam as operações de retomada de Porto Stanley.

Após a resolução 502 do Conselho de Segurança das Nações Unidas definir a retirada as tropas argentinas das ilhas ocupadas no atlântico sul, as Falklands, a Geórgia do Sul e as Ilhas do Sanduíche do Sul, teve início a operação Corporate, de retomada dos territórios britânicos. A contra-investida fora concebida por meio da zona de exclusão, cujo objetivo mor era uma possível rendição argentina através de seu isolamento. Uma vez cortadas as linhas de abastecimento e comunicação da força oponente para com o continente, estes estariam mais propícios a uma rendição dada a baixa capacidade de continuarem combatendo. Ademais, era necessário, no entendimento de Londres que para desembarcar as tropas anfíbias se obtivesse o controle por sobre o ar e o mar ao redor das Falklands. A Zona de exclusão previa que "todos navios que permanecessem sobre o perímetro de 200 Milhas Náuticas (Mn) do Arquipélago das Falklands seriam considerados hostis" (SANDERSON, 2008, p. 33).

No mês de abril a Argentina ainda clamaria por ajuda na OEA, não sendo atendida dada a supremacia da resolução do conselho de segurança da ONU por sobre tratados regionais. Um Boeing das Líneas Aéreas Del Estado fora abatido por um caça britânico e, no dia 25 do mesmo mês, a Ilha da Geórgia do Sul foi retomada pelo Reino Unido após o abatimento do submarino ARA-Santa Fé, que viera reforçar as defesas argentinas na Geórgia do Sul.

Tentativas de Pacificação do conflito foram todas frustradas e o mês de maios deu continuidade às hostilidades, com "seqüências de ataques e contra-ataques dos países beligerantes" (SANDERSON, 2008, p. 35). A Força argentina sofria com as privações advindas da zona de exclusão total (falta de mantimentos, munição e equipamentos específicos como roupas impermeáveis) e ondas de bombardeio dos aviões Vulcan, que visavam deteriorar a situação ainda mais. Entretanto, o objetivo das tropas argentinas, de assegurar a defesa do arquipélago das Malvinas/ Falklands, não dependia e, de fato, não necessitava de uma postura ofensiva. Aproveitando-se das vantagens intrínsecas da defesa (CLAUSEWITZ, HOWARD et al., 1984). O comando argentino optou por adotar uma postura passiva, esperando pela iniciativa britânica. Todavia, era necessário que a marinha e a força aérea de Galtieri ainda tentassem furar o bloqueio imposto pelo oponentes, de forma a abastecer suas já debilitadas tropas. Dessa forma a força argentina se expunha a ataques e sua capacidade combatente era paulatinamente minada, até o momento do desembarque. A junta militar Argentina, especialmente o Almirante Ayara, apostaram na incapacidade do governo Thatcher manter os custos da campanha, caso ela se prolongasse ainda mais. O comando britânico acreditava que as ordem argentinas seriam de defender as Falklands a qualquer preço. Esperava-se uma defesa extremamente aguerrida.

As tropas do Reino Unido, em 21 de maio, conseguiram estabelecer a cabeça de praia na praia de San Carlos, através de um desembarque anfíbio sem grandes problemas (SANDERSON, 2008). A passividade Argentina continuou, mesmo frente a presença de tropas oponentes nas Malvinas/ Falklands. A frente Britânica avançava apesar dos ataques aéreos argentinos de 22 a 25 de maio. Ate então, As FAA (Forças Aéreas Argentinas) haviam afundado o destróier HMS- Coventry (D-118), a fragata HMS - Ardent (F184),a fragata HMS - Antelope (F170), o destróier HMS - Antrim (D18) e o navio Mercante MV - Atlantic Conveyor e infringidos danos significativos às fragatas HMS- Argonaut (F-56) , HMS- Broadsword (F-88) e ao HMS - Sheffield (D-80) (SANDERSON, 2008). Em contrapartida, Buenos Aires contavam com a perda de  cerca de 25  aeronaves de combate e com o afundamento do o cruzador ARA-General Belgrano (C-4).

A batalha prosseguiu com a ocupação britânica de Cross Green,  Douglas e Mont Kent. Na medida em que se aproximavam de Porto Stanley, as opções argentinas iam se tornando escassas e Galtieri ordenou o fortalecimento das posições defensivas.As forças argentinas ainda tentaram cortar a linha de abastecimento inglesa com o ataque de aeronaves Hercules à um navio mercante oponente, sem muito sucesso. As tropas britânicas foram colecionando vitórias , preocupando-se em  tomar os high grounds, as posições estratégicas de, Mont Harriet. Mont Longdon e as Two Sisters Hills (SANDERSON, 2008). Ao final, a tomada de Wirelles Ridge por parte do segundo regimento de pára-quedistas britânicos, o 2 Para, afundou por definitivo qualquer possibilidade de uma vitoria argentina. No dia 14 de julho, mais precisamente as 20:45 GMT, o comandante argentino da resistência nas Falklands/ Malvinas assinou os termos da rendição e a campanha se deu por findada.

 

OS CUSTOS DA GUERRA

A Guerra das Falklands/ Malvinas apresentou às partes contenciosas, como qualquer conflito dessa natureza o faz, problemas de ordem logísticos. O uso da força, da capacidade de combater  para a obtenção de determinado propósito, seja ele qual for, implica não somente a disponibilização dos meios necessários para o combate (as forças combatentes, por exemplo) mas também todo um esforço no sentido de propiciar a viabilização e, acima de tudo, a manutenção da capacidade de tal força combatente continuar a combater2. Como o titulo do presente trabalho sugere, a projeção de poder implica em custos, sendo estes muitas vezes, altos demais.

Um primeiro tipo de custo fora exatamente vislumbrado na seção "3", relacionada as dificuldades intrínsecas da projeção de poder, mais especificamente através de grandes porções, ou corpos de água. As dificuldades, mesmo teóricas, de cada etapa de uma operação de desembarque anfíbio, das operações pré-desembarque ao estabelecimento da cabeça de praia, por si só poderiam corroborar, no sentido lógico, as afirmações quanto ao poder parador das águas de Mearsheimer. Não obstante, vale transportar tais abstrações para a esfera da empiria, a fim de ilustrar ainda mais todo esse esforço que se esta disposto a fazer quando se projeta o poder para além mar. Os contenciosos, no caso Argentina e Reino Unido, arcaram com custos, todavia, bem diferentes.

Isso se deu, exatamente, porque, no esforço de guerra, Argentina e Reino Unido não tiveram que transpor o mesmo grande corpo de água. O que para a Argentina representava uma distancia da ordem de 645,4 km de seu território até o arquipélago das Falklands/ Malvinas, para o Reino Unido significava o absurdo montante de 12.848,6 km (SANDERSON, 2008). Admitindo-se o poder parador das águas (ou suas implicações logísticas para a projeção de poder) como função linear das distancias representada em quilômetros (km)3 e a clausula ceteris paribus (tudo o mais constante), poder-se-ia afirmar, a titulo de ilustração, que as dificuldades para o esforço de guerra argentino,  teriam sido 19 vezes4 inferiores aquelas apresentadas pelo Reino Unido.

A luz de tamanha distância é possível compreender a importância vital da ilha de Ascensão, base do Reino Unido localizada a 6.041,6km das Falklands/ Malvinas, para o comando de guerra britânico. A distância, ou o custo de guerrear e continuar guerreando dela proveniente, ainda era muito superior para o Reino Unido do que para a Argentina, mas talvez essa redução de aproximadamente 50% na quantidade de água a ser transposta pelas forças da Grã Bretanha tenha viabilizado (mesmo que do ponto de vista político) a operação de retomada de Porto Stanley.

Entendidas as implicações de ordem geográfica, vale identificar os custos advindos, como descrito acima, do emprego dos meios pelos quais combater, geralmente transcritos enquanto forças combatentes. A Argentina contou com, desconsideradas as incongruências entre diferentes autores que tratam do assunto, uma Frota composta por 6 Corvetas; 6 Destroyers; 1 Navio de Assalto Anfíbio; 1 Navio Aeródromo; 4 Submarinos; 3 Contra Minagem e outros, totalizando o emprego de 30 navios e 3.119 homens. As FAAs (Forças Aéreas Argentinas) dispunham de 216 aeronaves (de combate e apoio) e 1.069 homens. As Forças Terrestres Argentinas, acusadas durante a campanha de uma certa complacência e passividade quando comparadas as FAAs e á Marinha (FREEDMAN, 2005) possuíam cerca de 10.000 homens a sua disposição. No total, a Argentina contava com aproximadamente 14.000 homens (SANDERSON, 2008).

A capacidade combatente Britânica, por sua vez, sobre o comando geral do Major General Jeremy Moor, compreendia uma frota marítima de 113 navios, dentre eles 2 Porta Aviões, 8 Destroiers , 15 Fragatas , 29 Navios Tanques  e  cerca de 13.000 homens com capacidade de combater, além de uma frota auxiliar que contava com 15 esquadrões de aeronaves. Uma frota aérea de 117 aeronaves e 6.000 homens  e do contingente de 10.000 homens, aproximadamente, provenientes das forças terrestres. Ao todo, as forças do Reino Unido possuíam 29.000 homens (SANDERSON, 2008).

Quanto a capacidade de manutenção das forças combatentes (que compreende, a logística dependia do esforço aéreo e marítimo empregado pelos contenciosos ao longo da disputa. Com o a conquista do Aeroporto de Stanley, a Argentina concentrou seu esforço logístico pela via aérea, sendo assim explicada a relativa ausência de embarcações , capazes de lidarem com demandas de ordem logística, na marinha comandada por Ayala.

A diferenças na utilização da logística aérea entre Argentina e Reino Unido podem ser vislumbradas na Tabela 1. A Argentina somente se valeu da logística naval para o transporte de veículos, munições, tropas e outras cargas mais gerias, o que contabilizou 36.576 toneladas. O Reino Unido, ao contrario, utilizou em larga medida da logística marítima, tendo transportado um total de 1.147.317 toneladas, distribuídas entre equipamentos médicos (25.139 ton.), alimentos refrigerados (26.060 ton.) Cargas gerais (406.613 ton.) e combustível e água (689.505 ton.). Comparativamente, Os britânicos foram responsáveis por cerca de 97% de todo o esforço logístico por mar da guerra do Atlântico Sul. Tal resultado torna-se compreensível, uma vez que aproximadamente 56% da frota marítima do reino unido era composta por embarcações sensíveis a demandas logísticas

 

 

No que diz respeito á logística aérea, grande aposta de abastecimento por parte das forças argentinas como fora dito,  a diferença não é tão espantosa. Ainda que o esforço britânico tenha sido predominado, o ar foi de fato utilizado como meio de manutenção da capacidade de combater por parte dos argentinos.

 

 

A Argentina transportou por meio aéreo 422 ton. de tropas ( contrapostas a 0 ton. por parte do RU), 268 ton. de cargas em geral (contra 343 ton. do RU)  e 101 ton. de combustível (1.572 ton. por parte do RU, que se utilizou largamente do abastecimento Ar-Ar). O domínio britânico, mesmo que em menor escala dada a aposta argentina, também se faz presente na logística aérea. Aproximadamente 70% de todos os esforços logísticos aéreos da campanha das Falklands/ Malvinas, foi desempenhado pelas forças do Reino Unido. Se tomarmos o total de cargas movidas por ambos os meios, aéreos e terrestres temos que, novamente, cerca de 74,75% de todo o esforço logístico da Guerra das Malvinas/ Falklands foi feito pela Força Tarefa britânica.

Desse percentual do esforço logístico de manutenção das forças combatentes (74,75% no caso britânico) derivam-se os esforços correlacionados a quantidade de força empregada na seqüência de enfrentamentos e os esforços advindos dos empecilhos á própria ação logística direcionada a tal força. Empregar uma quantidade de força "X" para a obtenção de determinado propósito, possui necessidades logísticas, logicamente inferiores (menos custosas) do que aquelas advindas  do emprego de uma força, suponhamos, "X+5".

Coordenar uma viajem em família, trazendo a questão para algo mais "tangível", torna-se tão mais complicada quanto maior a família. 4 familiares, admitindo-se uma necessidade calórica diária de 2000kcal6, precisam de 8000kcal e, no que tange á movimentação, utilizam um carro popular. 8 familiares necessitam de 16000kcal e dois carros populares. 13 familiares demandariam 30000kcal e talvez sequer coubessem em 3 carros populares. Por mais que não se saiba em que medida essa correlação se da, entre determinada quantidade e suas necessidades logísticas, mediante exemplificação torna-se clara sua ocorrência.

Os esforços gerais na Guerra do Atlântico Sul, compreendidos como o emprego da força, por parte do Reino Unido foram 67,03% do total da campanha. Vimos, mesmo que superficialmente, que as forças britânicas superavam em muito as forças argentinas, 29.000 homes contra 13.000 e 113 navios contra 30. É compreensível, tendo em vista a relação descrita entre quantidade e logística, que os esforços logísticos britânicos fossem maiores que os argentinos, na medida em que aqueles empregaram uma força maior do que estes. O que não se pode entender somente com base nessa correlação (Quantidade x Logística) são as diferenças vislumbradas entre os esforços gerais de guerra, e os esforços logísticos (SANDERSON, 2008). Seria de se esperar, tudo o mais constante, que os esforços logísticos britânicos acompanhassem os esforços gerais e representassem 67,03% do total dos esforços logísticos da guerra. O observado, não obstante, é que o Reino Unido desempenhou 78,26% dos esforços logísticos da Guerra das Falklands/ Malvinas.

 

 

Essa diferença de 56,52% entre os esforços argentinos e os esforços logísticos do Reino Unido talvez seja fruto dos esforços advindos dos empecilhos á própria ação logística. Como descrito, a distância entre o Reino Unido e o local do enfrentamento era 19 vezes superior a da Argentina e o mesmo local. Talvez os problemas da projeção de poder por sobre grandes corpos de água (o poder parador das águas) tenham representado, em algum grau, essa diferença de 56,52%. Afinal de contas, voltando ao exemplo da viajem em família, não basta conseguir 20.000kcal, é preciso levá-las ao "contingente" familiar. Tão maior será o esforço para transportá-las, quanto mais complicadas forem as formas de fazê-lo. 12.848,6 km de mares e oceanos a serem transpostos apresentam complicações consideráveis.

 

CONCLUSÃO

O poder parador das águas, os problemas advindos da projeção de poder através de grandes corpos de água, pode ser ilustrado, e de certa forma corroborado, através da compreensão de das operações de desembarque anfíbio, bem como das dificuldades logísticas da viabilização e manutenção de uma campanha militar para além mar. Mesmo a nível abstrato, uma operação de desembarque de tropas por via marítima em território hostil, apresentam problemas que dificilmente poderiam ser desconsiderados. As operações de pré-desembarque, que visam diminuir os custos de oportunidade e aumentar a expectativa de sucesso do desembarque anfíbio, como por exemplo a obtenção de informações ou de tentativas de plantar falsas evidencias em território oponente, são altamente arriscadas e, caso venham a dar errado, podem por toda a operação a perder.

A guerra das Malvinas/ Falklands é um dos exemplos mais ilustrativos a esse respeito. A diferença da distância entre Grã-Bretanha e Falklands e Argentina e Malvinas era da ordem de dezenove vezes. Não fosse a base de Ascensão, que diminuía a distancia em consideráveis 50% aproximadamente, talvez o Reino Unido não tivesse meios (financeiros ou políticos) pelos quais bancar a retomada de Porto Stanley. Não é de se admirar que, dadas as dificuldades advindas do poder parador das águas, os britânicos arcassem com 74,75% dos esforços logísticos totais da guerra do atlântico sul. Ate setembro de 1982, A primeira ministra britânica Margaret Thatcher estimava o custo da guerra das Falklands/ Malvinas, tanto do emprego da força, como de sua manutenção logística, em 1,19 bilhão de dólares.

O presente trabalho propõem justamente isso, o entendimento do poder parador das águas como uma espécie de custo. Se os atores forem seres racionais maximizadores de utilidade, então o a perspectiva de transpor grandes corpos de água representam um custo, tanto abstrato (dado que só elucubrações a respeito de um possível desembarque anfíbio podem fazer com que os tomadores de decisão mudem de idéia) quanto, como de fato observou Thatcher, contábil. Podemos ainda pensar um custo de oportunidade, na medida em que a projeção de poder para além mar, com todo aparato logístico para sua viabilização, perde atratividade em relação a outras opções. Caso o custo seja grande demais para as expectativas de sucesso, o tomador de decisões pode, por ventura, desistir de seu objetivo inicial.

Mas o Reino Unido não desistiu desse objetivo, muito pelo contrário, arcou com os custos representados pelo poder parador das águas, na retomada de um território que poucos acreditavam ser de alguma valia, como consta do depoimento de Samuel Johnson de 1777 :

O quê, senão a sombria e melancólica solidão, uma ilha jogada de lado pelo uso fruto humano, tempestuosa no inverno e árida no verão: uma ilha que nem sequer fora dignificada por selvagens do sul com sua habitação: onde guarnições são mantidas em tal estado que contemplam com inveja o exílio na Sibéria: da qual as despesas serão eternas, e o uso tão somente ocasional; e da qual, se a fortuna sorrir por sobre nosso labor, tornar-se-á um ninho de contrabandistas na paz, e na guerra o refúgio de futuros bucaneiros. (JHONSON apud FREEDMAN, 2007, p. 1, tradução livre) 7

Por mais romântica e exagerada que essa descrição das Falklands possa parecer, como Freedman (2007) sugere, ela ainda sim representa a percepção daquilo que estaria em jogo na Guerra do Atlântico Sul (por diversas vezes esse relato de Jhonson foi lembrado em 82). Por quê arcar com custos para assegurar uma ilha deixada de lado da utilização humana? Por quê dispor de, pelo menos, 1,19 Bilhão de Dólares, 29.000 homens e mais de 1.000.000 de toneladas de cargas transportadas por algo que nos faria invejar um exilado siberiano, por uma ilha que nem sequer os selvagens do sul julgaram dignificaram com habitações? Decorre que, no que tange a guerra das Falklands/ Malvinas, não era o arquipélago que estava em jogo.

Na política, seja em qualquer dimensão, gestos, ações e tomadas de decisão possuem interpretações que são sinalizadas aos demais agentes do sistema, ou de determinada arena. Não defender o território das Falklands/ Malvinas, sinalizaria ao resto do mundo, que o Reino Unido não se indispõem por eventuais desafios à sua soberania. Ir a Guerra do Atlântico Sul, ao contrario, e dispor de uma força significativa para retomar Porto Stanley, sinalizou que o mesmo Reino Unido não mede esforços para manter aquilo que por "direito" é seu. Talvez o custo contábil da Guerra das Falklands/ Malvinas para o Reino Unido tenha sido alto, mas o custo político de não tê-lo feio poderia ser imensurável. Como os britânicos se posicionariam frente a novos aliados uma vez que sequer foram capazes de retaliar danos a suas próprias concessões? Uma eventual deserção britânica da Guerra do Atlântico Sul transformaria a ação Argentina num exemplo a ser seguido por todos os estado que possuíssem pendências com o Reino Unido.

Isso nos leva a pensar em um possível caráter dual do poder parador das águas de Mearsheimer. A passo que representa um empecilho, ou impedimento, á hegemonia global por parte das grandes potências, este também as compeli, as obriga a pagar os custos a fim de continuarem a serem os únicos hegemons regionais do globo, situação que maximiza sua utilidade. Se os estados, atores racionais utilitários, vislumbram os ganhos de poder relativos como forma de maximizar sua segurança, como segundo Mearsheimer eles de fato fazem, então o poder parador das águas representa um custo com o qual precisam arcar, para certificarem-se que a distribuição de cababilities lhes seja favorável. O que impede o estado de maximizar sua utilidade (ser o hegemon global) é justamente aquilo que traz o custo com o qual tem de arcar para sua satisfação (ser o único hegemon regional).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CLAUSEWITZ, C. V.; HOWARD, M. E.; PARET, P. On war. Rev. Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1984. xii, 732 p.

COX, R. W. Social forces, states and world orders: beyond international relations theory. Millenium: Journal of international studies, v. vol. 10, n. 2, 1986.

FOUCAULT, M. A Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2008. 295p.

FREEDMAN, L. The official history of the Falklands campaign. London [etc.]: Routledge, 2005.

______. The official history of the Falklands Campaign. Rev. and updated. London: Routledge, 2007.

LAKATOS, I.; MUSGRAVE, A. Criticism and the growth of knowledge. Cambridge [Eng.]: Cambridge University Press, 1970. viii, 282 p.

MEARSHEIMER, J. J. The tragedy of Great Power politics. New York: Norton, 2001. xvi, 555 p.

SANDERSON, S. O Poder parador da água:estudo de caso a partir da guerra do atlântico sul de 1982. 2008. 77f. Monografia (Graduação). Relações Internacionais, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte.

WALTZ, K. N. Theory of international politics. Reading, Mass.: Addison-Wesley Pub. Co., 1979. 251 p.

 

 

1. We have basically manage to squeeze what we considered essential into the given space.
2. Agradeço especialmente ao Professor Dr. Eugenio Pacelli Lazzarotti Diniz Costa por ter me proporcionado a compreensão dessa particularidade tão cara aos fenômenos associados ao conflito.
3. Esse exercício consiste meramente num esforço de ilustração das diferenças entre o que um mesmo conceito, o poder parador das águas, representaria para Argentina e Reino Unido e, de certa maneiro, um por quê de seus custos terem sido diferentes. Sob nenhum aspecto ouso afirmar qualquer tipo de lei quanto as dificuldades inerentes a transposição de grandes corpos de água.
4. Ver Anexo A, p. 25.
5. Quantidades descritas em toneladas.
6. Excluindo quaisquer diferenciações advindas de variações na faixa etária.
7. What, but a bleak and gloomy solitude, an island thrown aside from human use, stormy in winter, and barren in summer: an island which not even southern savages have dignified with habitation: where a garrison must be kept in a state that contemplates with envy the exiles of Siberia: of which the expence will be perpetual, and the use only occasional; and which, if fortune smiles upon our labour, may become a nest of smugglers in peace, and in war the refuge of future buccaneers.