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ISBN 2236-7381 versão impressa

3° Encontro Nacional ABRI 2011 2011

 

A direita cristã e a política externa norte-americana durante a administração W. Bush

 

 

Luiza Rodrigues Mateo

 


RESUMO

A chamada direita religiosa constitui um importante ator na recente história política norte-americana. A articulação de evangélicos e católicos conservadores originou uma agenda para temas como aborto, pesquisa com células-tronco, casamento gay, criacionismo, abstinência sexual, seularismo e big government, entre outros temas sensíveis e determinantes no jogo político doméstico. Conquanto a mobilização deste grupo de interesses tenha histórico de pelo menos três décadas, foi durante a administração republicana de George W. Bush que a direita cristã atingiu seu auge, quando seus membros puderam circular livremente nos corredores do poder em Washington. Além dos estreitos laços mantidos com membros do Partido Republicano, líderes da direita religiosa empreenderam reuniões a portas fechadas na Casa Branca, no Congresso e na Suprema Corte. Já na política externa, a influência da direita cristã se fez sentir pela adesão aos programas financiados pelo Office of Faith Based and Community Initiatives e em temas como o apoio a Israel, a promoção da liberdade religiosa, o combate ao ativismo ambientalista e, em alguma medida, o suporte a própria guerra ao terror, fortalecendo a popularidade da visão maniqueísta entoada oficialmente pela presidência. Na tentativa de delimitar as interfaces entre religião e política nos Estados Unidos, verificamos a composição da direita cristã e seu modus operandi, esboçando o perfil deste que é um dos alicerces da nova direita americana.

Palavras-chave: direita religiosa, política externa, Estados Unidos


 

 

[a direita religiosa] transformou o Partido Republicano, a agenda política nacional e a cristandade evangélica. Sua história esteve entrelaçada com o movimento dos direitos civis, o nascimento do Bible Belt, o realinhamento político do sul e com a política externa americana. (WILLIAMS, 2010, p.9)

A direita religiosa é um movimento de conservadores sociais cujo objetivo é a retomada da moralidade americana que, no século XX, esteve ameaçada pelo avanço do homossexualismo, feminismo e uso de entorpecentes, além do currículo evolucionista e do banimento da oração nas escolas públicas. Seu maior inimigo é o Estado secular, humanista e liberal, que deu espaço para a atual crise de valores - crescimento da promiscuidade, divórcio, índices de suicídio, eutanásia e aborto - e da família americana. (FINGUERUT, 2009, p.142)

O movimento fundamentalista que nasce na virada par a década de 1920 é uma reação ao liberalismo teológico e uma tentativa de revigorar os traços protestantes da nação. O fundamentalismo logo se torna um movimento amplo de combate ao liberalismo cultural em prol da tradição, com foco nas instituições públicas como escolas e governo. A direita cristã se fortaleceu com as tendências religiosas dos Estados Unidos ao longo do século XX: o declínio das denominações protestantes mainstream e o aumento das igrejas fundamentalistas, pentecostais, carismáticas e da Convenção Batista do Sul.

Estes conservadores religiosos atuaram enquanto sociedade civil organizada, defendendo sua agenda moral em programas de rádio e tevê, revistas e organizações pró-família. A face política desta agenda religiosa ficou por muito tempo frustrada pela indiferença dos partidos à "guerra cultural". Na década de 20, houve uma aproximação com políticos democratas em defesa da Prohibition Law (proibição da comercialização e consumo de bebidas alcoólicas).

Já na década de 40, fundamentalistas de diversas denominações e regiões do país criam a National Association of Evangelicals (NAE), passando a exercer lobby em Washington e ampliando sua agenda do plano social para o econômico e internacional. O avanço dos temas religiosos foi tributário ao alinhamento à "guerra cultural" e ao apoio a "leis de base moral" (como a proteção de radiodifusão evangélica e restrições na propaganda de álcool).

A aproximação da direita religiosa com a política republicana se deu em duas etapas. No período que vai de 1940-60, o Grand Old Party (GOP) era visto como o partido do anticomunismo e da tradição moral. Apesar de estreitados laços entre os religiosos (principalmente Billy Graham) e os presidentes Eisenhower e Nixon, a direita religiosa não influenciou amplamente a política nacional ou a organização do GOP. Neste período, as divergências internas do protestantismo americano dificultaram a expressão uníssona da direita religiosa. Fundamentalistas como Bob Jones e Jerry Falwell eram mais refratários ao alinhamento com liberais ou católicos que Graham e os evangélicos moderados da NAE.

Se a candidatura do católico John Kennedy, em 1960, logrou unificar diversas frentes do movimento religioso conservador, a vitória democrata os colocou como outsiders em Washington. Nesta década, o mote da direita cristã foi o antissecularismo e a defesa da família americana. As rápidas mudanças sociais, como a revolução sexual e a contracultura, catalisaram a reação de conservadores, que por sua vez se apegaram ao anticomunismo e às legislações sobre aborto (principalmente Roe v. Wade) e sobre direitos civis (Equal Rights Amedndment).

A partir da década de 1970, os conservadores religiosos lograram ampliar suas alianças e influenciar a agenda republicana. "O que mudou não foi o interesse dos evangélicos pela política, mas seu nível de comprometimento partidário." (WILLIAMS, 2010, p.2) O apoio de inúmeros fundamentalistas batistas trazidos por Falwell, pentecostais e carismáticos por Pat Robertson e da volumosa Convenção Batista do Sul foi fundamental para o estreitamento dos laços com o GOP.

Nos anos Carter, a oposição à lei fiscal para escolas particulares culminou na ampla mobilização de cristãos, que escreveram mais de 500 mil cartas-protesto. Em 1979 o pastor Jerry Falwell criou a Maioria Moral - agência de lobby evangélico que agregava, em seu debut, 300 mil membros. (FINGUERUT, 2009, p. 120-122.

Organizações da direita religiosa mobilizaram seus adeptos, encorajando-os a filiação junto ao Partido Republicano, assumindo seus escritórios locais por toda a América, e participando de eleições em todos os níveis. Eles têm sido extremamente eficazes no tratamento do processo democrático para garantir apoio máximo as suas perspectivas política e religiosa. (MARSDEN, 2008, p.16)

O tabuleiro político dos Estados Unidos na década de 80 foi influenciado pela aliança entre os neoconservadores e a direita religiosa. Os cristãos conservadores iniciaram, então, uma aproximação com o universo judeu americano, dando espaço para discursos pró-Israel, notadamente os proferidos por Falwell, e consolidando o sionismo cristão moderno.

Programas de televangelistas americanos trabalhavam com orçamentos multimilionários e atingiam diariamente 60 milhões de americanos - o que representava um quarto do eleitorado. Criada em fins da década de 50, a CBN (Christian Broadcasting Network) de Pat Robertson e seu programa "Clube dos 700" faziam sucesso estrondoso e já em 1985 atingiam um milhão de americanos, além de 60 países na África, América Central e Oriente Médio. (FINGUERUT, 2009, p.126-127) Os programas de rádio de James Dobson alcançavam, semanalmente, 5 milhões de ouvintes americanos. No final do século XX, os EUA tinham mais de 200 estações de televisão cristãs e 1.500 rádios cristãs. (MARTIN, 1999, p.71)

Os evangélicos cresceram em número e capacidade de influência. Além da presença marcante na mídia, com shows de grande audiência e livros best-sellers, fundaram escolas e universidades, como a Liberty University de Falwell, a Bob Jones University ou a Regent University de Pat Robertson. Logo ficou evidente a capacidade de mobilização evangélica, seja na arrecadação de recursos, no registro para o voto, ou na formação de quadros políticos.

A eleição de Reagan (político pessoalmente comprometido com as ideias da direita religiosa) deu aos evangélicos a influência política necessária para aumentar seu poder sobre o GOP (sobretudo no sul). A direita religiosa passava por um momento de crescimento político através dos insiders na capital. Na virada dos anos 80, surgiram doze organizações evangélicas dispostas a moldar o curso da política americana, donde se destacam o Focus on the Family (1977) de James Dobson, o Concerned Woman for America (1979) de Bev LaHaye, o Family Research Council (1982) de Gary Bauer e o Traditional Values Coalition (1980) de Lou Sheldon.

Influenciado por Ralph Reed, proeminente ativista da Assembleia de Deus, Pat Robertson cria a Coalizão Cristã a fim de trazer novos eleitores para sua campanha pela indicação no GOP em 1988. A Coalizão Cristã seguiu bastante articulada com grupos da direita americana, nos níveis local e nacional. Com 1,7 milhão de membros e 1.700 escritórios por todo o país, a organização de Robson dispôs de um dos maiores lobbies do Senado Federal. (PEREIRA, 2009, p.229)

A ideia era não somente montar uma campanha presidencial, mas construir uma duradoura plataforma política que pudesse, a partir do Partido Republicano, transformar os valores americanos, principalmente os temas da educação, família e do papel do Estado. O ativismo cristão deveria estar em prol da mudança política. Não obstante tenha conseguido arrecadar US$ 30 milhões para sua campanha, através de fiéis e telespectadores da CBN, os pouco mais de um milhão de votos (cerca de 9%) não foram suficientes para superar o então vice de Reagan, George H. W. Bush, que saiu como candidato do partido em 1988.

Os anos 90 serviriam para retomar o fôlego. A direita cristã contava, na convenção nacional do Partido Republicano de 1992, com metade dos delegados "cristãos renascidos". De fato, 40% dos candidatos apoiados pela direita cristã venceram nas eleições legislativas, aumentando o peso relativo da direita religiosa no Congresso e no GOP. (FINGUERUT, 2009, p.131)

No final do século vinte, a direita religiosa liderava pelo menos um terço dos comitês estaduais republicanos, elegendo políticos e congressistas conservadores, principalmente no Meio Oeste e no Sul, e empurrando a agenda do partido cada vez mais à direita. "Se tornou impossível, para qualquer candidato do GOP à presidência ignorar as demandas da direita cristã sobre aborto, direitos gay e outros temas sociais." (WILLIAMS, 2010, p.8.

Nas eleições presidenciais de 1994, a direita religiosa apoiou o peleoconservador Pat Buchanan que, com apenas 20% dos votos, perdeu as prévias republicanas para Bush pai. Ainda que a base eleitoral da direita cristã fosse grande (20% do eleitorado se dizia renascido cristão ou fundamentalista), o GOP declinou e Bill Clinton assumiu a Casa Branca. Já nestas eleições pode-se observar o poder de voto do bloco evangélico. Em 1994, 60% dos evangélicos votaram em Bush pai, assim como 70% dos frequentadores de igrejas.

Dois anos mais tarde, os republicanos e principalmente a direita cristã saíram como grandes vitoriosos das eleições congressuais. Em 1996, eles atingiram a maioria nas duas casas do Congresso, além de trinta estados. O liberalismo de Clinton reascendeu o conservadorismo religioso e político da nova direita.

Foi exitosa [...] a estratégia histórica da articulação da direita cristã ao Partido Republicano datada da década de 1980 e, da mesma forma, a instrumentalização do "nascer de novo" de Bush acabou por angariar o apoio dessa porção da sociedade civil organizada e esperançosa na obtenção de recursos e apoio governamental para a sua ação e reprodução. (PEREIRA, 2009, p.206)

Os anos 2000 seriam definitivos para a experiência da direita religiosa no poder em Washington. George W. Bush era um renascido evangélico que explorou abertamente sua fé pessoal para se comunicar com sua base eleitoral. A coalizão formada entre Reed, Dobson e Richard Land foi fundamental na mobilização do eleitorado religioso. Em 2000, 68% dos evangélicos brancos votaram em Bush, proporção que aumenta na ocasião de sua reeleição. Em 2004, 78% dos evangélicos brancos confiaram seus votos ao republicano. O ganho de poder evangélico também aparece com o aumento da bancada religiosa no Congresso, que passou de 10% em ambas as casas em 1970 para 25% em 2004. Nesta época, de um total populacional com 300 milhões nos EUA, 60 milhões se identificaram como direita religiosa. (MEAD, 2007, p.111-12.

A gestão George W. Bush foi a mais propensa a apoiar as demandas da direita cristã. O presidente era visto como o maior líder do movimento, e vários cargos em Washington foram concedidos a conservadores morais. Os resultados concretos do movimento religioso, no entanto, se mostraram diminutos. No final da administração Bush, o aborto ainda era legal e a oração na escola proibida. O público americano estava cada vez mais favorável aos direitos gay, com muitos estados aprovando uniões civis e casamentos do mesmo sexo.

Conquanto 70% dos evangélicos tivessem votado em candidatos republicanos nas eleições congressuais de 2006, preponderava uma desilusão, principalmente dos jovens, para com o GOP. Isto se deveu ao lento avanço da agenda cristã, ao desgaste do discurso da "guerra cultural" e aos escândalos pessoais envolvendo líderes da direita religiosa, como Tom DeLay.

Em 2007, apenas 40% dos jovens evangélicos se identificavam como republicanos (comparado com 55% dois anos antes). A juventude religiosa do século XXI estava preocupada com questões ambientais e sociais - como a pobreza, AIDS e tráfico de pessoas. Em suma, o estilo confrontacional de Falwell, Robertson e Dobson estava em crise. "Os conservadores evangélicos descobriram que podiam ganhar eleições, mas não mudar a cultura. Havia capturado um partido, mas falharam em recuperar a nação." (WILLIAMS, 2010, p.8.

Muitos analistas americanos diagnosticaram, com o final da administração George W. Bush, um franco declínio da direita religiosa. Os dados das eleições de 2008, entretanto, reforçam a relação entre religiosos devotos e republicanos. A escolha da conservadora pró-vida Sara Palin como vice na chapa de John McCain atraiu muitos votos evangélicos. Com a adesão de Palin, o apoio cresceu 10%. De fato, a adesão evangélica foi tão importante na campanha de McCain (constituiu 38,5% de seus votos) quanto nas campanhas de Bush em 2000 (40%) e 2004 (36%). McCain recebeu o apoio nas urnas de 73% dos evangélicos e 80% dos evangélicos brancos que iam semanalmente à igreja. (WILLIAMS, 2010, p.275)

Apesar do desgaste da imagem pública de muitas lideranças da direita religiosa e do encolhimento do poder republicano com as eleições de 2006 e 08, o GOP ainda parece ser o único caminho para conservadores religiosos que pretendem "retomar a alma da América".

 

Direita cristã e política externa

A direita cristã foi ampliando progressivamente o escopo de sua agenda e incorporando temas de política externa. Durante muito tempo, a única preocupação internacional dos conservadores religiosos foi o combate ao comunismo ateu, dentro e fora dos Estados Unidos. Na gestão Reagan, por exemplo, as forças evangélicas apoiaram a corrida armamentista e as investidas contra a União Soviética e contra movimentos de esquerda na América Central. A CBN de Robertson financiou parcela das operações anticomunistas na Nicarágua, Honduras e Guatemala.

A Maioria Moral de Jerry Fawell, o Freedom Council de Pat Robertson e a Heritage Foundation foram alguns dos muitos grupos de direita envolvidos no Outreach Working Party on Central America da administração Reagan, elaborando propaganda e estratégia no apoio à campanha de assassinatos seletivos e outras atividades anticomunistas. (MARSDEN, 2008, p.32)

O mandato de Bush pai, em sua determinação em findar a Guerra Fria, frustrou amplamente direita religiosa. A administração Clinton, por sua vez, manteve o executivo impermeável à política religiosa que passou a trabalhar sua agenda internacional no âmbito do lobby congressual e da mídia cristã, com destaque para o tema dos cristãos perseguidos no Sudão. Nos anos 90, os conservadores ainda pressionaram contra a inclusão da China ao status comercial de "nação mais favorecida" devido aos níveis de perseguição religiosa do governo comunista chinês. Em 1998, deputados conservadores conseguiram bloquear US$18 bilhões em fundos ao FMI (Fundo Monetário Internacional) que iriam para organizações que apoiam o aborto como método de controle de natalidade.

Ainda que a direita cristã não controle nenhum think tank capaz de influir diretamente na tomada de decisão, ela está bem representada em organizações de peso como a Heritage Foundation, o Council of Foreign Relations, o Hudson Institute (onde Nina Shea dirige o Center for Religious Freedom) e o Ethics and Public Policy Center, dirigido pelo conservador Michael Cromartie.

Foi durante a administração Bush filho que a direita cristã se tornou um relevante ator da política externa americana, ocupando cargos importantes em Washington, formulando políticas públicas e representando os EUA no mundo. Como veremos adiante, a direita religiosa esteve afinada com o discurso messiânico e atitude altiva americana na expansão da democracia e combate ao terror.

O isolacionismo que deu cor à agenda internacional da direita religiosa e aos discursos de Falwell e Robertson tem origem na teologia dispensacionalista, que tentou encontrar em líderes como Hitler, Stalin ou mesmo na União Europeia a imagem do anticristo e a aproximação do fim dos tempos. O inimigo é personalizado em instituições seculares como as Nações Unidas (ONU) e a Corte Criminal Internacional. A direita cristã interferiu, por exemplo, na conduta norte-americana durante a Conferência Mundial da Mulher em Beijing, de 1995, e a Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989. (MARTIN, 1999, p.77-79)

Consoante Walter R. Mead (2007), as principais mudanças trazidas pela direita religiosa para a política externa americana seriam o grande apoio ao tema dos Direitos Humanos, o aprofundamento das relações com Israel e uma preocupação especial com o continente africano. O lobby evangélico no Capitólio contribuiu na aprovação de legislações relevantes para a política externa americana, como o International Religious Freedom Act de 1998, o Trafking Victims Portection Act de 2000, o The Sudan Peace Act de 2002 e o North Korea Human Rights Act de 2004. (HAYNES, 2008, p.75) Para termos uma ideia, durante a gestão Bush filho, o auxílio destinado à África subiu 67% e US$15 bilhões foram destinados exclusivamente ao combate da AIDS. (MEAD, 2007, p.112-13.

No plano global, os motivos que nutrem a direita cristã são os mesmos da agenda doméstica: descrença no governo secular, combates às ameaças que ferem a tradição e os valores familiares, liberdade para pregar e praticar sua religião sem restrições, e a convicção de que a globalização é o cumprimento da profecia bíblica do Armageddon. (MARTIN, 1999, p.67.

 

A direita religiosa e a administração Bush

A seleção dos membros de gabinete e da Casa Branca fez da administração George W. Bush a mais abertamente evangélica de todos os tempos. O presidente frequentemente discutia sua fé e experiência de renascimento cristão, começava cada dia no Salão Oval com uma oração e frequentava, junto a 40% de seus colegas de Casa Branca, os estudos semanais da Bíblia. (WILLIAMS, 2010, p.252)

[...] a partir do 11 de setembro, a direita cristã teve sua maior oportunidade para influenciar a política externa dos Estados Unidos. Eles tomaram estas oportunidades oferecidas pelo Partido Republicano, Congresso e administração George W. Bush, para influenciar, em termos de assistência humanitária, a condução da política norte-americana de expansão democrática, diretos humanos, ajuda externa, meio-ambiente, a questão de Israel e a guerra ao terror. (MARSDEN, 2008, p.21)

Nesta administração, a direita religiosa celebrou ganhos tangíveis - Bush assinou o Partial-Birth Abortion Act (2003), o Unborn Victms of Violence Act (2004), aumentou o financiamento para campanhas de educação sexual pela abstinência, restringiu a pesquisa com células tronco-embrionárias e deu uma ordem executiva, dias após sua posse em Washington, para estabelecer as iniciativas baseadas da fé. Além dos evangélicos que ocuparam assentos no Executivo, Bush apontou conservadores sociais para a Suprema Corte e importantes postos no exterior.

Fundamentalistas e evangélicos foram entusiastas do projeto de promoção da democracia pela política externa dos EUA, uma vez que a abertura política facilitou o programa missionário em países comunistas, mulçumanos ou autoritários. A direita religiosa gerou apoio popular e suporte teológico para a campanha democrática de Bush, mirando na capacidade do liberalismo político e do "american way of life" de sustentar a liberdade religiosa e, com ela, o proselitismo internacional. Ficava garantido, assim, o lugar das igrejas cristãs no "mercado religioso" de países no leste europeu, Ásia, África e Oriente Médio. (MARSDEN, 2008, p.90-112)

Neste âmbito, cabe destacar a campanha da direita religiosa pela liberdade religiosa, originada nos anos 90. Dentre outros, Nina Shea e Michael Horowitz foram os expoentes da luta pelos perseguidos cristãos no exterior, que culminou na criação do International Religious Freedom Office em 1998. Instituída a nova diretriz de direitos humanos, o Departamento de Estado se responsabilizou por monitorar e punir os governos que ferissem o livre exercício da fé. O governo americano garantiu mudanças constitucionais favoráveis ao pluralismo religioso no Vietnã, Laos, Arábia Saudita e Iraque. A direita religiosa segue preocupada com os níveis de restrição à liberdade religiosa (principalmente de cristãos) em países como China, Birmânia, Coréia do Norte, Uzbequistão, Paquistão, Irã e Sudão.

 

A direita religiosa e o combate ao terrorismo

A guerra ao terror ajudou a unificar e reavivar a direita religiosa, cimentando os laços entre o presidente Bush e o movimento. "Depois de setembro de 2001, Bush se tornou o líder de facto da direita evangélica". (WILLIAMS, 2010, p.254) Dois dias após os ataques, Jerry Falwell e Pat Robertson falaram no show televisivo "Clube dos 700" que os ataques terroristas eram consequência do julgamento de Deus sobre os pecados sexuais, aborto, humanismo secular que dominavam a América. O terrorismo era visto, pela direita religiosa, como o "novo comunismo".

O periódico evangélico Christianity Today descreveu a política externa de Bush como morality-based e faith-based. O próprio presidente teria admitido a influência da sua fé na tomada de decisão e, principalmente depois dos ataques em New York e Washington, sua linguagem esteve marcadamente influenciada pelo imaginário evangélico. Os eventos de 11 de setembro foram aludidos como um "chamado" à América contra as "forças do mal" representadas pelo terrorismo islâmico - "[...] liberdade e medo, justiça e crueldade têm estado em guerra, e nós sabemos que Deus não é neutro entre eles".

A equipe que escrevia os discursos de Bush incluía o evangélico Michael Gerson. As abundantes metáforas religiosas derivavam, também, do próprio "acervo bíblico" do presidente metodista. "Quando Bush fala, ele se coloca como um evangélico conservador e um membro da direita religiosa." (MARSEDN, 2008, p.106) O simbolismo religioso conectava liberdade e democracia aos valores ocidentais e à herança judaico-cristã na construção do excepcionalismo americano.

As invasões do Afeganistão e do Iraque foram respaldadas pelas lideranças da direita religiosa que, baseadas na escatologia fundamentalista, viam Bush como o homem escolhido por Deus para conduzir o país na derradeira batalha entre bem e mal. Visões maniqueístas colocavam Saddam Hussein como uma força das sombras, o governador da antiga Babilônia (conhecida na linguagem bíblica como lócus do mal). Quase 65% dos evangélicos apoiaram a invasão do Iraque me fevereiro de 2003. Pouco antes da empreitada, respeitados líderes evangélicos, dentre eles Richard Land e Charles Colson, escreveram uma carta a Bush pedindo pela guerra contra Saddam. (WILLIAMS, 2010, p.255)

 

A direita religiosa e o meio ambiente

O antiambientalismo da direita religiosa se nutre de três fontes: a refutação das evidências científicas do aquecimento global, a escatologia que prevê a segunda vinda de Cristo para a criação de um "novo paraíso" na Terra, e a oposição a organismos multilaterais como a ONU. Dentro do Partido Republicano, a voz da direita religiosa se une ao coro dos interesses corporativos e conservadores fiscais. As indústrias petrolífera e automobilística obtiveram o apoio de líderes como Dobson e Land para fazer lobby em Washington contra a "onda verde". Em 2002, a administração Bush rejeitou um relatório ambiental elaborado pelo Pentágono. No ano seguinte, adotou o texto do Environmental Protection Agency, que não mencionava o aquecimento global antropogênico.

Apesar da profunda ligação entre a "velha guarda" da direita religiosa e os setores industriais, evidências como desastres ambientais despertaram, na nova geração de evangélicos, a demanda pelo debate ambientalista. O vice-presidente da NAE, Rochard Cizik, tomou dianteira ao se unir ao movimento internacional Evangelical Climate Initiative e lançar o documento Climate Change: and evangelical call to action (2006), apontando o dever cristão de cuidar do planeta. Líderes da direita religiosa, como Dobson e Land, contestaram a representatividade da NAE, a legitimidade de Cizik e atuaram pelo seu afastamento. (MARSDEN, 2008, p.156-60)

Para os protestantes fundamentalistas, os desastres naturais são evidências da aproximação do retorno de Jesus para o grande julgamento. O papel do bom cristão não seria remediar o meio-ambiente, mas salvar almas. O ambientalismo seria, portanto, uma demonstração de falta de confiança em Deus, uma maquinação do anticristo e das forças de esquerda para erguer um governo mundial.

Assim, a bancada evangélica, em ambas as casas do Congresso, ajudou o governo Bush a refrear um comprometimento com programas de controle na emissão de gases estufas, como o Protocolo de Kyoto. Este é o caso do senador republicano James Inhofe que, à frente do Environment Public Works Comitee (2003-07) demonstrou grande indiferença para com os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

 

As iniciativas baseadas da fé

Durante a administração Bush, os conservadores religiosos tiveram grande influência nas políticas públicas dos Estados Unidos. Destaca-se o Office of Faith Based and Community Initiatives criado em janeiro de 2001e considerado por muitos a recompensa pelo apoio maciço dos evangélicos nas eleições de 2000, verdadeiro patrocínio estatal para a direita cristã. Este escritório, criado no âmbito da Casa Branca, se projetou ainda sobre cinco núcleos nos ministérios da Saúde e Serviços Humanitários, Habitação e Desenvolvimento Urbano, Educação, Trabalho e Justiça.

Criou-se, assim, um mecanismo institucional que permitiu a projeção de organizações religiosas através de projetos voltados aos serviços de bem-estar social. A gestão Bush diminuiu barreiras regulatórias e aproximou a sociedade civil religiosa do governo federal, facilitando o acesso a fundos públicos de contribuintes. Somaram-se às reformas legislativas muitas campanhas para aumentar o acesso à informação e o treinamento técnico para capacitar as organizações religiosas. Após alguns anos construindo know how em casa, estas organizações (de maioria cristã) passam a atuar no exterior através do canal oficial de ajuda externa, a USAID (U.S. Agency for International Development).

A USAID administra aproximadamente US$10 bilhões anuais em programas de ajuda externa em 84 países em desenvolvimento, dos quais metade tem maioria mulçumana. Paradoxalmente, a maioria das organizações islâmicas falha na solicitação dos fundos pelas Iniciativas Baseadas na Fé. Do montante destinado aos projetos, 98% são manejados por organizações cristãs. Da mesma forma, muitas organizações seculares têm projetos negados pela USAID por defenderem, por exemplo, o aborto como uma opção para planejamento familiar e saúde reprodutiva. (MARSDEN, 2008, p.125)

Muitas organizações da direita cristã, como a Operation Blessing e a Samaritan's Purse (de Franklin Graham) receberam dezenas de milhões de dólares e, através dos projetos da USAID, puderam aumentar sua presença missionária pelo globo. (MARSDEN, 2008, p.72) Enquanto isso, os parceiros tradicionais sofreram cortes de recursos. A predileção pelas organizações religiosas é tácita e diluída nos gabinetes em Washington, sobretudo através de membros da direita cristã ocupando cadeiras importantes na USAID. (MARSDEN, 2008, p.125)

Nos anos Bush filho, a luta por corações e mentes na oposição ao terror incentivou a injeção de incríveis montantes para ajuda externa americana. De 2002 a 2004, o orçamento da USAID dobrou de US$7 bilhões para US$14 bilhões. Os gastos exclusivos com as iniciativas baseadas na fé somaram US$1,1 bilhão em 2003 US$2,15 bilhões em 2005. Estima-se que 57% das congregações religiosas americanas estejam engajadas em algum serviço social, geralmente com desenvolvimento comunitário para atender necessidades imediatas como comida, roupa e abrigo. (PEREIRA, 2009, p.218)

Apesar de formalmente renunciarem ao proselitismo, as organizações acabam invariavelmente vinculando sua formação religiosa aos serviços prestados. Há relatos de que mensagens religiosas estejam associadas ao auxílio humanitário, como caixas de mantimentos da Convenção Batista do Sul, que traziam a grafia, em árabe, do versículo 1:17 de João - "Porque a Lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo." (PEREIRA, 2009, p.227.

Na África subsaariana, condicionamentos para financiamentos e instalações médicas são importantes fronts para a evangelização. "Juntamente com assistência de saúde, os pacientes são sujeitados a versos bíblicos, mostras de "filmes de Jesus" e proselitismo dos médicos e enfermeiros." (MARSDEN, 2008, p.128-129) Muitas organizações só contratam cristãos e incentivam seus membros a converter os que recebem ajuda.

A mobilização dentro do aparato estatal é ainda complementada com dezenas de milhares de voluntários que excursionam pelo mundo para "salvar almas". São jovens americanos instruídos por seus mentores espirituais a começar negócios ou trabalhar nas áreas da saúde e educação em diversos países subdesenvolvidos. Fundamentalistas como Franklin Graham e Pat Robertson não escondem sua visão sobre o islã e apontam países mulçumanos como alvos de conversão.

 

A direita cristã nos círculos militares

A direita cristã não esteve presente somente como agente de soft power, a moldar programas de ajuda externa norte-americana, mas instalou-se no seio do aparelho militar, o Pentágono. Segundo Marsden, as campanhas de evangelização são ostensivas e muitos "renascidos cristãos" ocuparam importantes posições militares durante o governo Bush. (2008, p. 10-13.

Em 2006, um vídeo produzido pela organização evangélica conservadora Christian Embassy mostra oficiais de alta patente, em uniforme militar, exaltando sua religiosidade. Uma série de escândalos e investigações nas Academias do Exército, Marinha e Forças Armadas revela uma cultura militar abertamente religiosa e um ambiente que encoraja a evangelização dos novatos.

Investigações a partir de denúncias do Instituto Militar da Virgínia, da Academia da Força Aérea, Academia Naval em Annapolis . West Point, entre 2004 e 2009 revelam grande pressão sobre os cadetes e aspirantes da marinha para que se convertam ao cristianismo evangélico. A Fundação Militar Liberdade Religiosa recebeu mais de quinhentas reclamações de preconceito religioso por mês. (MARSDEN, 2009, p. 12)

A influência da direita cristã também se estende aos campos de batalha do Afeganistão e do Iraque. Ao longo dos últimos anos, os evangélicos conservadores assumiram quase sessenta por cento dos postos de capelania militar. Na cidade de Najaf, um capelão americano ofereceu aos soldados a possibilidade de nadar na piscina em troca de sua conversão e batismo. Mesmo em serviço, os soldados recebem mídias com os cultos em suas igrejas nos EUA, e nos alojamentos eles atendem a atividades religiosas, realizam reuniões para ler a Bíblia e rezar.

Estes eventos, que permeiam muitas atividades internacionais americanas, nos mostram como a recente influência que grupos religiosos organizados, dos quais destacamos a direita cristã, misturam imperativos teológicos e doutrinários com projetos políticos, moldando a construção do interesse estadunidense.

 

O Lobby de Israel

Em seu artigo seminal, Walt e Mearsheimer (2006, p.43-73) definem a relação entre Estados Unidos e Israel como central para a política norte-americana no Oriente Médio. A atuação do Lobby de Israel constrói a percepção de que os interesses estratégicos entre os dois Estados são idênticos, e de que os valores compartilhados fazem da relação americana-israelense a "mais especial de todas" e uma "relação de família da política internacional".

Os Estados Unidos direcionaram um quinto de sua ajuda externa a Israel, em soma de US$3 bilhões anuais. O parceiro especial é brindado com a transferência financeira em parcela única no início do ano fiscal, sem necessidade de prestar contas e afrouxamento das condicionantes para gastos militares. O montante global em ajuda externa a Israel chega perto de US$ 200 bilhões. (MARSDEN, 2008, p.177)

O apoio diplomático permanente se revela pelos vetos americanos a causas prejudiciais a Tel Aviv no Conselho de Segurança da ONU. Muitos seriam os canais de expressão da política pró-israelense, direcionada pela frouxa coalizão de indivíduos e organizações que compõe o lobby. Dentre estes se destacam o American-Israel Public Affairs Committee (Aipac), o Washington Institute for Near Est Policy (Winep), neoconservadores, cristãos evangélicos e sionistas cristãos.

Diversos meios de influência envolvem pressão sobre o Congresso, a mobilização de eleitores e financiamento de candidatos pró-Israel, atuação em campi universitários, think tanks, controle da opinião pública, coordenação com lideranças em Tel Aviv e pronta resposta (através, por exemplo, de campanhas de redação de cartas) às críticas em relação a Israel. A influência do Aipac no Executivo, por exemplo, se deve ao peso do eleitorado judeu e de suas doações em campanhas presidenciais. O levantamento de fundos da comunidade judaica pode somar 60% do orçamento de ambos os partidos.

Segundo Daniel Pipes, o conflito árabe-israelense tem grande peso eleitoral e ajuda a definir ideologicamente os partidos. Ao final da Guerra Fria, a simpatia republicana por Israel aumentou, e a causa palestina ficou isolada como uma bandeira das esquerdas. O panorama é ilustrado pelos 72% dos republicanos, e apenas 47% dos democratas, simpatizantes da causa israelense. (PIPES, 2006)

Foi durante a administração Bush filho que membros do Lobby israelense assumiram postos altos na equipe governamental, donde se destacam Elliot Abrams (diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional para assuntos do Oriente Próximo e Norte da África), John Bolton (subsecretário para controle de armas e segurança internacional), Douglas Feith (subsecretário de defesa), "Scooter" Libby (assessor do vice-presidente Dick Cheney para questões de segurança nacional), Richard Perle (presidente do Conselho de Política de Defesa) e Paul Wolfowitz (subsecretário do Departamento de Defesa e posteriormente presidente do Banco Mundial). (WALT e MEARSHEIMER, 2006, p.63)

A direita cristã tem se tornado o grupo que dá maior suporte à causa israelense nos Estados Unidos, perdendo espaço até mesmo para a comunidade judaica do país. Se fizermos um levantamento dos nomes que sustentam o sionismo cristão, encontraremos o vice Cheney, John Bolton (embaixador norte-americano na ONU) e Wolfowitz. No Congresso, os defensores da política especial para o parceiro judeu são os deputados Dick Armey, Tom Delay, Bill Frist e Rick Santorum.

No púlpito das igrejas e na mídia religiosa, destacam-se Falwell, Robertson e Reed como lideranças pró-Israel. A operacionalização do Lobby israelense pela direita cristã vai da organização de caravanas de turismo religioso à Terra Santa ao financiamento de assentamentos na faixa de Gaza e à defesa da transferência da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém, a "capital indivisível" de Israel.

O fundamento do chamado sionismo cristão reside na escatologia fundamentalista admitida pela direita religiosa, que coloca Israel no centro do cumprimento da profecia bíblica da segunda vinda de Jesus Cristo à Terra, no final dos tempos. (MARSDEN, 2008, p. 184) Esta tese é conhecida como pós-milenarismo e tem origem na interpretação literal do Primeiro Testamento, sustentando o retorno do messias acontecerá somente quando os judeus estiverem reunidos na Terra Santa. Característica do fundamentalismo americano, o sionismo cristão defende o apoio cego e irrestrito a Israel, pois assim os Estados Unidos estariam "apressando" a virada apocalíptica.

É importante salientar que nem todos os membros da direita cristã são sionistas cristãos. Uma pequena minoria defende que a igreja ocupou o lugar de Israel na aliança com Deus, outros defendem a conversão dos judeus ao cristianismo. Os sionistas cristãos creem na ligação eterna de Deus com o povo judeu, motivo pelo qual os Estados Unidos devem proteger a Terra Santa e os descendentes de Abraão. Para o pastor John Hagee, com o renascimento de Israel em 1948 e a unificação de Jerusalém em 1967, o retorno de Cristo é iminente. Assim como Tim e Bev LaHayne, James Dobson e Tony Perkins, todos líderes da direita cristã, Hagee é um comunicador de massas e sua opinião é endossada por 25 milhões de evangélicos norte-americanos. (MARSDEN, 2008, p.182-86)

 

Considerações Finais

O breve texto objetivou descrever o histórico de atuação da direta religiosa ao longo do século vinte até seu auge durante o governo George W. Bush. Organizações como a Maioria Moral, a Coalizão Crista e a Convenção Batista do Sul conquistaram crescente influência na política americana, na medida em que estiveram associadas a líderes carismáticos, meios de comunicação de massas e, sobretudo, à mensagem religiosa interiorizada por grande parte da população.

Devido à sua capacidade de somar fundos, financiar campanhas e mobilizar a população para o voto, a direita religiosa ganhou poder e conseguiu se instalar no seio do Partido Republicano. Ali, muitas vezes foi instrumentalizada em tempos de eleição. Todavia, no longo prazo o debate da "guerra cultural" se mostrou um grande divisor de águas na política americana. Apesar de conquistas tímidas frente ao avanço do liberalismo social, a direita religiosa seguiu articulando seus temas: a favor da família e da oração nas escolas, contra o aborto e o casamento gay.

Nos anos Bush os evangélicos ocuparam importantes assentos no governo, apoiando o tom missionário do presidente e a "relação especial" com Israel, influindo nas políticas públicas para o meio ambiente, direitos humanos e ajuda externa. O imaginário evangélico que perpassou a campanha antiterror e a promoção democrática foi orquestrado pelo então líder da direita religiosa americana, o próprio George W. Bush. A América era representada como uma nação especial atendendo a um chamado, uma "cidade sobre a colina" nas relações internacionais. Futuras reflexões poderão averiguar o destino da direita religiosa que, apesar de encolhida ao final da gestão Bush, seguiu relevante na eleição de 2008 e em sua associação com novos grupos da direita americana, como o Tea Party.

 

Bibliografia

FINGUERUT, Ariel. Formação, crescimento e apogeu da direita cristã nos Estados Unidos. In: SILVA, Carlos Eduardo Lins da (org). Uma nação com alma de Igreja: religiosidade e políticas públicas nos EUA. São Paulo: Paz e Terra, 2009.

HAYNES. Jeffrey. Religion and Human Rights Culture in America. Review of Faith & International Affairs, summer 2008, p.73-81.

MARSDEN, Lee. For God's sake: the Christian Right and US foreign policy. New York: Zed Books, 2008.

________. Civil Religion and US Foreign Policy. Revista NURES, n. 14, jan/abril 2009.

MARTIN, William. The Christian Right and American Foreign Policy. Foreign Policy, n.114, p.66-80, 1999.

MEAD, Walter R. País de Deus? Política Externa, São Paulo, v. 15, n. 3, p. 103-130, 2006/2007.

MEARSHEIMER, John; WALT, Stephen. O Lobby de Israel. Novos Estudos Cebrap, n.76, nov. 2006, p.43-73.

PEREIRA, Paulo José dos Reis. A influência da religiosidade sobre as políticas públicas no governo Bush. In: SILVA, Carlos Eduardo Lins da (org). Uma nação com alma de Igreja: religiosidade e políticas públicas nos EUA. São Paulo: Paz e Terra, 2009.

PIPES, Daniel. Democrats, Republicans and Israel. New York Sun, 26 de maio 2006.

WILLIAMS, Daniel K. God's own party: the making of the Christian Right. New York: Oxford University Press, 2010.