An da XIII jorn. trab. Oct. 2012
Apresentação
Entre os dias 09 e 12 de outubro de 2012 ocorreu a XIII JT (XIII Jornada do Trabalho) em Presidente Prudente/SP, intitulada "A Irreformabilidade do Capital e os Conflitos Territoriais no Limiar do Século XXI. Os Novos Desafios da Geografia do Trabalho", organizada pelo Grupo de Pesquisa "Centro de Estudos de Geografia do Trabalho" (CEGeT), e coordenado pelo Prof. Antonio Thomaz Junior, do Departamento de Geografia da UNESP de Presidente Prudente-SP. O evento foi realizado nas dependências da Faculdade de Ciência e Tecnologia/UNESP/Presidente Prudente, sendo que contamos com o apoio do Centro de Referência e Saúde do Trabalhador (CEREST), Departamento de Geografia - Conselho de Curso de Graduação em Geografia e Programa de Pós-Graduação em Geografia, da FCT/ UNESP/Presidente Prudente.
Nesta edição do evento, buscou-se dar continuidade à expansão e consolidação da Rede CEGeT de Pesquisadores (PECER) formada por nossas organizações filiadas, situadas em várias Universidades públicas brasileiras que têm em comum centrar suas ações de pesquisa e extensão na temática do trabalho, visto, pois, por meio da dinâmica geográfica. Permeada por questões teóricas, objetos de estudo e recortes territoriais dos mais diversificados, a XIII Jornada do Trabalho, de outubro de 2012, congregou, mais uma vez, estudiosos e militantes de todo o país dedicados a analisar o trabalho, avançando na explicitação dos conflitos, resistências e alternativas que vêm se construindo em diferentes escalas frente ao avanço do sociometabolismo do capital.
Nos quatro dias de encontro, através de Grupos de Trabalho, Mesas-de-Debates e Trabalhos de Campo integrou-se pesquisadores de áreas diversas (Geografia, Sociologia, Antropologia, Direito, Serviço Social, Pedagogia, entre outros) e em diversos estágios (iniciação científica, especialistas, mestres e doutores), e também com a participação de militantes de movimentos sociais, associações e sindicatos, agentes públicos envolvidos com a temática da saúde do trabalhador, com o intuito de discutir ações possíveis que nos possibilitasse análises mais acuradas da realidade que vivemos e a delinear estratégias conjuntas de pesquisa e de mais ações no âmbito da extensão e de cursos de formação.
O número de participantes na XIII JT alcançou 200 inscritos, 90 estudantes de Graduação, 53 estudantes de Pós-Graduação e 26 professores universitários e mais 31 inscritos no credenciamento, composto por militantes e dirigentes sindicais, representantes de movimentos sociais e profissionais de instituições públicas da área de saúde do trabalhador, advogados trabalhistas e procuradores do Ministério Público do Trabalho, entre outros.
Ainda, com relação às inscrições, houve participação de pessoas de 16 estados brasileiros sendo eles: Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Sergipe, Tocantins, Acre, Piauí e São Paulo.
Essa participação de pesquisadores, militantes, juristas e demais profissionais de vários estados do Brasil dá um caráter cada vez maior para o evento, de porte nacional, o que se reflete na apresentação e publicação de trabalhos com investigações sob as múltiplas faces do mundo do trabalho, nos mais variados recortes territoriais do Brasil, conforme os anais do evento atestam.
A conferência de abertura foi proferida pelo Prof. Ricardo Antunes (UNICAMP). O professor tratou da temática do trabalho na atualidade e as suas múltiplas dimensões, acenando para a precarização estrutural do trabalho sob a vigência do modo de produção e controle do capital, enfatizando também as lutas e resistências da classe trabalhadora. Na conferência, ressaltou a importância da geografia em somar com pesquisas e debates sobre o mundo do trabalho que se apresenta na contemporaneidade na sua dimensão amplamente heterogênea, sendo que a geografia pode contribuir sobremaneira para entender quem são os sujeitos da classe trabalhadora que podem imprimir um novo curso histórico na transformação radical da sociedade do capital.
Ocorreram mais 3 Mesas-de-Debates com os seguintes temas e participantes: 1) "As complexas tramas do trabalho e os novos desafios da geografia do trabalho para o século XXI" - Prof. Giovanni Alves (UNESP-Marília), Prof. Antonio Celso Ferreira (CEDEM- UNESP) e coordenação do Prof. Antonio Thomaz Júnior (UNESP- Presidente Prudente); 2) "Da degradação do trabalho aos impactos na saúde do trabalhador: as proximidades invisíveis de um processo destrutivo" - Maria Aparecida Rodrigues (CEREST-Presidente Prudente), Cristiano Lourenço (Procurador do Trabalho MPT-Presidente Prudente), Laerson Vidal Matias (AP-LER), Prof. Ildeberto Muniz de Almeira (UNESP-Botucatu) e coordenação do Prof. Marcelo Dornelis Carvalhal (UNESP-Ourinhos); 3) "Trabalhadores em meio a irreformabilidade do capital: intervenção do Estado e políticas públicas" - Prof3 Raquel Santos Sant'Ana (UNESP-Franca), Prof. Jorge Luiz Souto Maior (Juíz do Trabalho e professor da Faculdade de Direito da USP) e coordenação do Prof. Jorge Ramón Montenegro Gómez (UFPR).
Na Mesa 1, o debate travado esteve em torno dos desafios que a geografia pode ajudar a compreender através das suas categorias e conceitos para o debate da temática trabalho. Esse mundo do trabalho heterogêneo e fragmentado não significa necessariamente que a luta de classe tenha se extinguido na contemporaneidade. Pelo contrário, os debatedores nos apresentaram que há lutas construídas pelos trabalhadores atualmente que não necessariamente estão vinculadas ao "proletariado puro" das quais os movimentos sociais como o Occupy Wall Street nos Estados Unidos, os Precarizados (as) na Europa e os movimentos sociais do campo no Brasil, são exemplos importantes impondo novos desafios para pensarmos desde a geografia a compreensão desses movimentos sociais que protagonizam lutas e resistências frente à barbárie da sociedade do capital. A mesa nos proporcionou reflexões imprescindíveis como a necessidade de entendermos a realidade social do trabalho através das pesquisas (a práxis) e não somente nos apoiarmos apenas na teoria, ou revisões bibliográficas extremamente necessárias, mas que em si só não nos permitem avançar no entendimento de quem são os sujeitos que estão protagonizando os conflitos na contemporaneidade.
A Mesa 2, apresentou uma temática que tem ocupado as reflexões do CEGeT atualmente: o tema da saúde do trabalhador. Os convidados nos apresentaram esse assunto desde uma perspectiva crítica à sociedade do capital que tem imposto ao conjunto dos trabalhadores, nas mais diversas inserções laborais, agravos à saúde muitas vezes irreversíveis e que expressam a incompatibilidade entre o modo de produção capitalista e saúde do ser social que trabalha. A heterogeneidade da formação dos participantes dessa mesa, militantede movimento social, médico, profissional do CEREST e procurador do trabalho, nos trouxe significativa contribuição para o entendimento dessa temática no âmbito do CEGeT e da pesquisa em geografia do trabalho. A incorporação desses temas nas pesquisas do grupo certamente foi muito bem servida com a contribuição desses colegas que abordaram o assunto na mesa de discussão, proporcionando significativo avanço para as pesquisas futuras e em andamento no âmbito da RCP.
Na Mesa 3, de encerramento do evento, o debate foi aprofundado desde a temática da intervenção do Estado e das políticas públicas. Mostrou-se como no ambiente da irreformabilidade do capital os paliativos proporcionados pelas políticas públicas não são suficientes para a emancipação do trabalho frente ao metabolismo do capital, sendo que apontou-se para a imprescindibilidade da crítica radical a sociedade do capital. Os convidados encerraram o evento com um debate de altíssimo nível mostrando como é imprescindível avançarmos a crítica para além das políticas públicas, necessárias, mas que não são suficientes para a emancipação da classe trabalhadora.
Também tivemos os Trabalhos de Campo (TCs) e os Simpósios Temáticos (ST's). Os TCs que ocorreram no dia 10 de outubro, percorreram três realidades do trabalho no Pontal do Paranapanema. Por meio dos TCs a Comissão Organizadora da XIII JT propôs aos participantes a observação empírica da realidade social do trabalho, dos conflitos territoriais e dos sujeitos que estão protagonizando ações e resistências em meio ao ambiente da irreformabilidade do capital. Os três roteiros dos TCs foram: 1) visita ao Assentamento Che Guevara (Mirante do Paranapanema), onde foi possível conhecer as experiências de luta do MST, no Pontal do Paranapanema, e também ao acampamento organizado pelo MST, Dorcelina Folador (Fazenda São Domingos) no município de Sandovalina; 2) visita às duas ocupações na Fazenda Nazareth, uma sob a responsabilidade do MST (Coordenação Regional e Estadual), e outra pelo MST da Base e FERAESP; 3) visita à Usina Caeté S/A, localizada no município de Paulicéia (SP).
Os STs ocorreram no dia 11 de outubro, sendo que foi a primeira experiência com essa atividade na programação da JT. A proposta do Simpósio tem origem na necessidade de termos um momento, na Jornada, para a socialização do acúmulo das pesquisas realizadas no Grupo de Pesquisa e das experiências no que se refere às nossas perspectivas teóricas e práticas. Portanto, não é um espaço de diálogo, não é apresentação de trabalho e também não é uma mesa-redonda. Mas sim uma proposta de compartilhar um conjunto de resultados das pesquisas, e de dúvidas, que foram sendo acumulados ao longo das trajetórias, tanto individuais quanto do Grupo. A ideia é priorizamos a discussão em alguns elementos que nos permitam pensar e/ou repensar os limites teóricos de compreensão da realidade social do trabalho e da classe trabalhadora, as quais são refeitas com base nas atuações dos movimentos sociais, organizações sindicais e dos próprios trabalhadores.
Diante do marco teórico assumido pela Rede CEGeT de Pesquisadores, a proposta então é discutir/entender, a partir dos resultados das nossas pesquisas, que o conflito social, em suas várias formas de manifestação não se expressa apenas no formato capital x trabalho, mas envolve outras formas de dominação/controle de classe, dos processos que envolvem o trabalho ou o trabalhador do campo e da cidade sob as diversas formas de relações de produção e de trabalho.
A operacionalização do simpósio deu-se considerando contribuições parciais de cada um dos provocadores que se fundamentaram nos argumentos pautados nos referenciais teóricos e, sobretudo metodológicos de cada um dos eixos. Sendo, pois, esses caminhos norteados a partir do que temos entendido das nossas pesquisas e com base nisso o andamento das ações de futuro, os novos projetos etc. Houve um entendimento entre os provocadores de tal maneira que foi oferecido previamente para os participantes de cada eixo uma proposta de trabalho. De antemão prevemos que todos nós devemos nos sentir em plena convergência de pensamentos e de questionamentos.
Para contemplar os temas das pesquisas desenvolvidas na RCP organizamos o Simpósio em dois eixos, nos quais os pesquisadores/provocadores envolvidos apresentaram/ encaminharam a discussão. Eixos de discussão:
1) Conflito pelo acesso à terra e a água e agroecologia:
Composição: Marcelo Rodrigues Mendonça e Jorge Ramón Montenegro Gomez
2) Degradação do trabalho e saúde ambiental no campo e na cidade:
Composição: Antonio Thomaz Junior, Marcelo Dornelis Carvalhal e Fernando Mendonça Heck
Além de todas essas atividades, tivemos também a apresentação de trabalhos em cinco Grupos de Trabalho (GTs), dos quais, após a realização do evento e publicação dos anais, foram selecionados via parecer os textos com resultados mais relevantes e que apresentavam resultados de pesquisas mais consolidados, para integrar essa publicação do Scielo Proceedings.
Os artigos, focados na temática do trabalho, nas suas múltiplas inserções laborais, abordando as mais variadas realidades sociais do trabalho através da leitura geográfica, certamente contribuem para que nossa avaliação seja de um saldo muito positivo com relação ao evento. Os artigos apresentam resultados de pesquisa que abordam os mais variados sujeitos sociais do trabalho (proletários, operários, camponeses, pescadores, etc.), e os conflitos que estes protagonizam nos mais variados recortes territoriais dentro do território brasileiro.
Certamente, a qualidade dos textos apresentados na XIII Jornada, contribuirá cada vez mais para que avancemos coletivamente na construção de uma Geografia do Trabalho, que hoje através de nossa rede de pesquisadores e orientandos alcançam todos os biomas brasileiros o que se apresenta também via os artigos selecionados para essa publicação, pois as investigações sob o enfoque do trabalho na Geografia alcançam múltiplos recortes de pesquisa no Brasil todo.
Boa leitura!
Antonio Thomaz Junior
Coordenador do CEGeT
Coordenador Geral da XIII JT